quinta-feira, 31 de maio de 2012

Gays no mundo palestino-israelense

Por Espiritualidade Inclusiva


Muitos nos têm perguntado sobre a diferença em ser gay no mundo ocidental e em ser gay no mundo judeu-islâmico-cristão, em Israel e na Palestina. Dois artigos recentemente publicados em http://operamundi.uol.com.br relatam exatamente o que se quer saber.

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Não é fácil ser gay em nenhum lugar do mundo, diz ex-líder de ONG para lésbicas palestinas

Rauda Morcos ressalta que os muçulmanos não são melhores ou piores no trato com a comunidade gay



Palestina, mulher e homossexual. Rauda Morcos carrega um triplo estigma em um país cercado de controvérsias. Apesar de não estar mais à frente da Aswat, a primeira organização para as lésbicas palestinas em Israel, ela deixou uma grande marca na organização. Hoje Rauda dedica-se plenamente à Mantiqitna, uma rede social de ativistas no Oriente Médio formada por membros de destaque do movimento gay na região.

Cofundadora da Aswat, ela é a primeira palestina a assumir publicamente sua homossexualidade. Segundo Rauda, os desafios encontrados pelos homosexuais são bastante semelhantes, independentemente da localização geográfica. "Se me dizem que, por causa da crença, os muçulmanos são menos tolerantes com a homossexualidade, eu lhes direi o mesmo. Veja o Papa! O maior dirigente religioso do mundo não só não reconhece os homossexuais, como os condena", sublinha.

Rauda conversou com Opera Mundi sobre a organização que deu tanto apoio a uma das comunidades mais desprotegidas em Israel.

Opera Mundi: Como surgiu a ideia de criar uma organização para lésbicas palestinas?

Rauda Morcos: A Aswat começou em 2001 como um grupo de e-mails, para compartilhar ideias, projetos e ajudar umas às outras, porque não havia nenhum lugar ao qual recorrer naquela ocasião. Depois de algum tempo, decidimos organizar uma reunião para nos conhecermos. Em 2003, tivemos nosso primeiro encontro, cerca de nove mulheres que hoje formam o núcleo da organização. Depois de várias reuniões, nos demos conta da importância de atender adequadamente a comunidade lésbica palestina e decidimos nos organizar. O problema, então, foi que nenhuma tinha a menor ideia sobre como seria isso e nem sequer chegávamos a um acordo sobre como fazê-lo. Decidimos que o melhor na época era que alguma organização nos acolhesse, e entramos em contato com Kayan, uma organização feminista em Haifa que nos deu um escritório e o material necessário para começar.

Fui eleita coordenadora. A verdade, não vou mentir, é que eu não tinha ideia de como começar, estava totalmente perdida. A Kayan nos ajudou muito. Comecei a escrever nossa visão do projeto, objetivo, atividades e entrei em contato com organizações feministas e de lésbicas, até que em 2004 conseguimos nosso primeiro fundo do Global Women Fund e Mama Cash. Na ocasião, tínhamos o mesmo objetivo que temos hoje, o de alcançar a população palestina, assim como a israelense e internacional. Queremos prosperar como grupo. Aqui, já somos 15, e queremos ajudar os 10% da população gay palestina.

Estatisticamente, 10% de toda população é homossexual, e, naturalmente, os palestinos não seriam diferentes.

OM: É mais difícil ser homossexual em uma sociedade muçulmana, sobretudo quando se é mulher?

RM: (suspiro) Não acho que seja fácil ser gay em nenhuma parte do mundo, é sempre igual. Os ocidentais associam ser árabe a ser primitivo, ou seja, homofóbico. A maior parte das sociedades do mundo é patriarcal e isso significa que são homofóbicas. Costumo usar George W. Bush [ex-presidente dos Estados Unidos] como exemplo, um homem que dirigiu um dos países mais influentes do mundo. Para mim, é um dos homens mais racistas, machistas e homofóbicos que existem e era o presidente daquela que se supõe a superpotência do mundo ocidental.

Muitos países europeus não têm nenhuma organização para lésbicas. E na União Europeia, sabe quantas pessoas são assassinadas por ano por serem homossexuais? Centenas, todos os anos, só por serem gays. Mas as pessoas não querem saber, preferem continuar pensando em São Francisco, a capital gay dos Estados Unidos e em como são liberais e progressistas.

Até mesmo em Amsterdã há ataques contra homossexuais, enquanto se supõe que lá a mente seja mais aberta... Portanto, quando me perguntam isso, tenho que dizer que não acredito que dependa do local de nascimento, no Ocidente ou no Oriente, nem da religião. Tudo depende do uso que se dá à religião. Se me dizem que, por nossa crença, os muçulmanos são menos tolerantes com a homossexualidade, eu lhes direi o mesmo. Veja o Papa! O maior dirigente religioso do mundo não só não reconhece os homossexuais, como os condena.

Odeio que o Ocidente nos julgue por nossa religião, porque sei que utilizam isso como uma arma contra nós. Além disso, o modo de vida ocidental não significa nada para mim, não me atrai, e, ao menos na Aswat, não queria imitá-lo. Não teríamos sido bem sucedidas se pretendêssemos atingir nosso povo com os mesmos métodos. Cada país tem que encontrar um método para seu contexto cultural.

OM: Você foi a primeira mulher a dizer que era gay abertamente. Como foi “sair do armário”?

RM: Uau! Eu tinha certeza de que não podia ser homossexual na minha comunidade. Principalmente pela imagem que eu havia formado sobre isso, graças ao estereótipo dos meios de comunicação. Eu também, como palestina, ouvia a mídia falar do meu povo, e foi duro também porque eu era a primeira que fazia algo do tipo, a pioneira, e quando não há precedentes, é sempre mais difícil. Não tinha ideia de qual seria o resultado, mas a verdade é que sempre fui muito independente, até que finalmente resolvi me assumir.

Quando finalmente o tornei público, preciso dizer que me senti totalmente nua. De repente, todos me olhavam e me analisavam na rua, sem nenhuma vergonha. Foi difícil, claro, mas passado um tempo, me dei conta de que isso era na realidade muito bom, porque recebi todo tipo de respostas, desde as pessoas ao meu redor até pessoas que eu não conhecia e que me abordavam na rua. Com isso, finalmente as pessoas se atreveram a se aproximar de mim para perguntar tudo o que antes só pensavam, suspeitavam ou cochichavam.

Alguns me paravam na rua para me perguntar por que eu era lésbica, esclarecer dúvidas ou até expressar seu desagrado. No começo me senti um pouco oprimida, mas finalmente me dei conta do bem que é poder ter essa interação e falar abertamente. Até a minha avó, de 85 anos, me abordou e perguntou: “o que é isso que falam de você, que é uma Elisabetta? Me disseram que é algo muito ruim”. (Neste momento, Rauda começa a rir, jogando a cabeça para trás, e me explica que, em árabe, lésbica é lesbit e que sua avó nem sequer conhecia a palavra).

Achei realmente engraçado, alguém abordou a minha avó e disse a ela que eu era lesbit, e a pobre mulher nem sequer entendeu a palavra, ainda menos o conceito. Mas o que mais me surpreendeu foi a reação quando expliquei à ela o que é uma lésbica. Me disse: “Ah! Então não é tão ruim. Às vezes é melhor não se casar”. Se não tivéssemos esses estereótipos sobre os homossexuais, tenho certeza que todos reagiriam como a minha avó, que nunca ouviu falar sobre isso, nem viu na televisão.

A mesma coisa aconteceu com os meus pais. No começo foi um escândalo, até que me sentei com eles para falar sobre isso e pude explicar com calma. Deixou de ser um problema. Quando se vê a questão de outra maneira e tem a chance de explicar e se expressar abertamente, ela deixa de ser um problema, não tem que ser ampliada.

OM: Em relação ao tema da ocupação palestina, a Aswat tem algum ponto de vista?

RM: Acreditamos que tudo é político, nossa nacionalidade e nosso gênero, isso é o que somos. Não temos nenhuma agenda nem qualquer opinião política sobre isso, a não ser que afete a comunidade homossexual de alguma forma. A Aswat enquanto grupo não tem afiliação nem opinião política, logo, cada membro tem a sua própria opinião sobre isso.

Se há uma manifestação pela ocupação, o muro ou os direitos do povo palestino, que seja patrocinada por alguma organização de mulheres, nós estaremos lá para apoiá-las, mas nunca daremos início a nenhum evento desse tipo.

No verão passado, houve um grande alvoroço porque queriam celebrar a Parada Gay em Jerusalém, e nós fomos contra. Muita gente nos disse que isso significava perder uma oportunidade, mas acreditamos que não se pode celebrar este tipo de evento em um país em guerra, onde muitos grupos de outros países nem sequer poderiam passar devido à política de Israel. Além disso, no verão passado, tínhamos como sócia a organização lésbica libanesa Hellem, e decidimos apoiá-la durante a Guerra do Líbano.

OM: Quais são os principais objetivos da Aswat?

RM: Ajudar as lésbicas da nossa comunidade, mostrar que não estão sozinhas, que não é algo estranho nem desprezível ser gay e conscientizar a população sobre a homossexualidade. Em suma, gerar uma reação positiva sobre isso. Também organizamos reuniões mensais às quais todos podem comparecer, no norte de Israel, em Nazaré, e no sul. Hoje, ajudamos cerca de 30 mulheres e oferecemos cursos o ano todo, assim como publicações trimestrais em árabe sobre o que fazemos aqui. Temos um disk-ajuda 24 horas por dia.

Acredito que nossa luta é parte da luta internacional pelos nossos direitos e é muito importante conhecer as nossas diferenças assim como o que nos une. Também acredito fortemente que juntos podemos fazer um mundo muito melhor.

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Jerusalém: o desafio de ser gay na cidade "sagrada"

Apesar de reunir uma pluralidade de crenças e estilos de vida, a intolerância contra homossexuais ainda é grande


Uma terra de contrastes. Ao mesmo tempo em que Jerusalém é considerada sagrada por três religiões monoteístas – o cristianismo, o judaísmo e o islamismo – e reúne símbolos e pessoas tão diferentes entre si, é também terreno sinuoso para a manifestação de direitos civis. A cidade abriga uma comunidade homossexual vibrante, mas que frequentemente é alvo das camadas mais conservadoras.

Em Jerusalém, há apenas um bar gay e a realização da Parada do Orgulho Gay foi um direito conquistado após muito esforço. Ela reuniu quatro mil pessoas em 2011, que exigiram a aprovação de uma legislação que proteja os homossexuais em Israel. Indignados com o desfile, grupos de judeus ortodoxos protestaram em diversos pontos da cidade, controlados por cerca de mil policiais espalhados por Jerusalém - alguns chegaram a agredir os participantes do evento. Em junho daquele ano, a marcha em Tel Aviv conseguiu reunir 70 mil pessoas.

“Embora não existam tantos homossexuais quanto em Tel Aviv, todos os anos Jerusalém atrai milhares de ativistas gays para participar da marcha, para mostrar que, mesmo que os religiosos nos considerem ‘sujos’, esta é nossa cidade também”, comenta A.S. um membro da comunidade homossexual da cidade.

Apesar das diversas ameaças de morte que recebem ano após ano durante a parada, a marcha anual se supera cada vez mais em termos de assistência e organização. “A diferença entre a nossa marcha anual e a de Tel Aviv e outras partes do mundo é que, em Jerusalém, adquire também um significado de luta pelos nossos direitos e contra o ódio que uma ampla maioria da população de Jerusalém sente por nós”, acrescenta Natalie V., uma belga que desembarcou em Jerusalém há cinco anos.

Natalie, que há cinco anos namora uma mulher israelense, é prova da dualidade do estado de Israel em relação à homossexualidade. Embora Israel seja um país democrático, o judaísmo ortodoxo interfere em muitos assuntos civis, incluindo os casamentos. Em Israel, é impossível realizar um casamento civil, mesmo entre heterossexuais. No entanto, em uma distorção, estão permitidas as uniões homossexuais, inclusive se uma delas for estrangeira, como é o caso de Natalie.

“É curioso que isto seja possível em um país onde predomina tanto a religião. Eu quero deixar claro que em Jerusalém e Israel, até o momento, não tive nenhum problema por andar de mãos dadas com a minha namorada, nem por darmos um beijo”, diz. “No entanto, trabalho com uma família ortodoxa judia e não comentei nada sobre a minha orientação sexual em quase quatro anos", conta Natalie.

Ultraortodoxos caminhando ao lado de uma mulher muçulmana usando o véu e uma menina de minissaia logo atrás são cenas comuns nas ruas de Jerusalém. E é nessa heterogeneidade que, no final, reside uma espécie de acordo tácito de não agressão. Embora, às vezes, essa bolha possa estourar, como aconteceu durante a Parada do Orgulho Gay de 2005, quando um judeu ultraortodoxo esfaqueou vários participantes. Atentado pior aconteceu à comunidade gay de Tel Aviv, quando uma bomba matou duas pessoas e feriu uma. O culpado, um colono da Cisjordânia, afirmou que os homossexuais são “animais”.

Portanto, apesar da mescla aparentemente suave entre religiosos e seculares em Jerusalém, assim como no resto do país, uma tensão soterrada pulsa abaixo da superfície. “Aqui, em geral, como os gays não carregam um cartaz dizendo ‘sou gay’, não há tantos problemas, mas também você não vai dar um beijo em outro homem em Mea Shearim (o bairro ultraortodoxo), não queremos provocá-los em seu bairro”, diz Adam.

Segundo ele, porém, o resto da cidade é de todos. O bar Mikve, antes conhecido como Shushan, na rua Shushan, foi o primeiro voltado para o público gay a ser aberto na cidade. O lugar está vivendo uma nova era dourada depois de permanecer fechado durante muitos anos devido às pressões dos ortodoxos. Durante toda a semana há festas para clientes homossexuais e as segundas-feiras são exclusivas das drag queens.

“Em Jerusalém, não há muitas festas nem lugares para dançar, por isso sempre aparecem heterossexuais. Na cidade, todos nos conhecemos e amigos de todas as orientações sexuais se juntam a nós. Estamos misturados”, conta com um sorriso Daniel R., empresário.

A empresa encarregada de organizar as festas, Unibra, garante que é um sucesso, que atrai dezenas de pessoas a semana toda, embora as festas drag sejam as preferidas. “As pessoas querem se divertir, já estão cansadas de se esconder, mas infelizmente nesta cidade não há lugares para onde sair à noite”, lamenta a Unibra.

Palestinos

Para os membros da comunidade homossexual palestina os desafios são ainda maiores. “Para eles é mais difícil, pois vem de uma sociedade mais conservadora, em que a homossexualidade é punida ou humilhada em público. Por isso, a última coisa que querem é fazer uma declaração pública de que são gays, sejam homens ou mulheres”, explica Adam.

A organização para palestinos homossexuais em Israel Al Qaws organiza eventos para os palestinos e ajuda a criar uma rede de apoio e conscientização entre a comunidade árabe. Uma vez por mês organiza uma festa para que os gays e lésbicas palestinos que vivem em Israel possam se conhecer.

“Mesmo que os palestinos que vivem em Israel contem com os mesmos direitos que os cidadãos judeus, muitas vezes há racismo e incompreensão em relação aos gays palestinos”, comenta um porta-voz da Al Qaws. “Há também muita incompreensão por parte da comunidade internacional, que se foca na ocupação israelense. Além disso, a opinião da comunidade palestina pesa demais. Dessa forma, não podemos esperar que eles saiam do armário como no Ocidente.”

Às vezes, Israel chega a acolher como refugiados os palestinos homossexuais que correm risco de morte ou que tenham recebido ameaças, embora não seja algo tão frequente. Enquanto isso, em Jerusalém, continua a luta para que a comunidade religiosa aceite aos homossexuais, se não como iguais, como cidadãos com os mesmos direitos de todos.

“Este é o nosso objetivo. Não queremos nem mais nem menos do que têm os demais e poder passear tranquilamente de mãos dadas, sem ter medo que nos façam sentir inferiores, nem ter a nossa Parada do Orgulho Gay cercada por centenas de policiais”, diz Adam.

Para mostrar que, embora nem sempre venha à tona, o ódio contra os gays corre solto em Jerusalém, em 2006 foi a homofobia que uniu representantes das três religiões monoteístas para protestar contra a marcha gay daquele ano. “É uma pena. Poderiam ter se unido para protestar contra outras coisas mais importantes”, lamenta Adam.

[Notícia] Movimento Espiritualidade Inclusiva recebido pela Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual no RS

Por Espiritualidade Inclusiva

(Paulo Stekel, coordenador geral do Movimento Espiritualidade Inclusiva e Fábulo Nascimento da Rosa, Coordenador Estadual de Diversidade Sexual, durante reunião em Porto Alegre - RS)

Ontem à tarde (30 de maio), o coordenador geral do Movimento Espiritualidade Inclusiva, o músico, escritor e jornalista Paulo Stekel, foi recebido pelo coordenador Fábulo Nascimento da Rosa, que está desde 2011 à frente da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual, uma coordenadoria recente mais muito ativa, ligada à também recente Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos pelo atual governo gaúcho.

O objetivo de Stekel com a reunião foi o de apresentar ao Estado do RS, através da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual, o recém criado Movimento Espiritualidade Inclusiva, suas propostas, ações e princípios. Ao mesmo tempo, Fábulo apresentou o intenso trabalho já desenvolvido pela Coordenadoria em tão pouco tempo, seja em parceira com o poder público ou com ONGs LGBTs: Programa Rio Grande Sem Homofobia, Disque Direitos Humanos 100, capacitação de servidores da educação em mais de 40 municípios sobre os temas diversidade sexual e bullying homofóbico, garantia do nome social para travestis e transexuais, dia estadual de enfrentamento a homofobia (17 de maio), Conferência Estadual LGBT, dignidade às travestis no sistema prisional, 1º encontro de gestores municipais LGBT, etc.


No caso do Programa Rio Grande Sem Homofobia, criado pela Secretaria de Estado da Justiça e dos Direitos Humanos para promover a cidadania e a diversidade, este consiste numa série de ações para dar um fim ao ódio, preconceito, discriminação, agressões e assassinatos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis ou transexuais. O Programa entende que a manifestação de identidade sexual, afetividade ou desejo não pode ser um direito exclusivo de heterossexuais, porque diz respeito ao bem-estar das pessoas. O Programa também inicia uma grande discussão para garantir a aprovação de leis que contribuam para que a população LGBT tenha os mesmos direitos, oportunidades e reconhecimento que os demais cidadãos e cidadãs têm garantidos.

Objetivando a visibilidade e a promoção da cidadania LGBT, a Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos, juntamente com a Coordenadoria, é parceira das atividades que promovam a livre orientação sexual e a cultura LGBT do RS. Por isso, o Movimento Espiritualidade Inclusiva, tendo se apresentado formalmente, passa agora a ser conhecido da Coordenadoria e a integrar o conjunto das força LGBT de combate ao preconceito e da promoção da cidadania plena para esta comunidade tão atacada por fundamentalistas e fanáticos de todo gênero.

Stekel demonstrou o quanto é importante, além de combater a homofobia em geral, dar uma atenção especial à homofobia religiosa, que parece estar se alastrando pelo país, incitada por líderes religiosos irresponsáveis e mal-intencionados, pouco ou nada preocupados com a dignidade da vida humana. Enfatizou que os objetivos do Movimento Espiritualidade Inclusiva são: confrontar a homofobia, em especial a homofobia religiosa; apoiar e dar visibilidade às iniciativas inclusivas dentro das diversas denominações religiosas no Brasil; fortalecer o laicismo de Estado, evitando assim que corra o risco de ser engolido por ações de origem religiosa que atentem contra os direitos humanos e os direitos LGBT em particular.

Em contrapartida, o Movimento Espiritualidade Inclusiva, que é apartidário e defende os direitos de todas as crenças, dos LGBT e dos que não possuem religião alguma, se comprometeu a apoiar as ações de políticas públicas no RS em prol da comunidade LGBT em todas as suas instâncias.


É mais uma parceria de sucesso que se inicia!

segunda-feira, 28 de maio de 2012

[Participe] Enquete para a Comunidade LGBT: “Você é feliz?”

Por Espiritualidade Inclusiva


Um de nossos leitores e apoiadores do blogue e do Movimento Espiritualidade Inclusiva nos fez uma sugestão muito boa que resolvemos implantar imediatamente: realizar uma enquete entre os LGBT brasileiros sobre o quanto se consideram pessoas felizes, seja no âmbito geral, seja em setores da vida como família, sociedade, país, trabalho e casamento.

A proposta é ficar com a enquete no ar do dia de hoje, 28 de maio, até o dia 29 de junho. O resultado da mesma será apresentado no blogue do Movimento Espiritualidade Inclusiva no dia 02 de julho.


As perguntas

1 – Você, sendo parte da comunidade LGBT, se considera uma pessoa feliz? ( ) sim ( ) não – justifique:

2 – Você, sendo parte da comunidade LGBT, se considera uma pessoa feliz quando o assunto é você e sua família? ( ) sim ( ) não – justifique:


3 – Você, sendo parte da comunidade LGBT, se considera uma pessoa feliz quando o assunto é você e a sociedade em que vive? ( ) sim ( ) não – justifique:


4 – Você, sendo parte da comunidade LGBT, se considera uma pessoa feliz quando o assunto é você e o país em que vive? ( ) sim ( ) não – justifique:


5 – Você, sendo parte da comunidade LGBT, se considera uma pessoa feliz quando o assunto é você e seu trabalho (se não tiver trabalho atualmente, considere os que já teve ou o que pensa disso no âmbito geral)? ( ) sim ( ) não – justifique:


6 – Você, sendo parte da comunidade LGBT, se considera uma pessoa feliz quando o assunto é seu casamento com alguém do mesmo sexo (independente do status de sua relação atual e de ter ou não uma relação afetiva)? ( ) sim ( ) não – justifique:


Quem pode responder

Todas as pessoas que fazem parte do que chamamos de Comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, etc.), independente de serem assumidas, parcialmente assumidas ou não-assumidas.


Como enviar as respostas

Qualquer LGBT pode responder às seis perguntas da enquete, desde que não seja “anônimo”. Os nomes dos participantes da enquete não serão revelados em nenhum momento, mas também não aceitaremos respostas anônimas para evitar que pessoas mal-intencionadas burlem a pesquisa ou a usem em favor de grupos anti-LGBT. Para isso, junto com as respostas o participante deve enviar seu nome e email. Serão descartadas respostas incompletas (sem respostas às seis perguntas) e respostas contraditórias que evidenciem burla ou tentativa de prejudicar a pesquisa.

As respostas podem ser enviadas pelos seguintes canais:

1 – Por email diretamente a espiritualidadeinclusiva@gmail.com

2 – Pela rede social Facebook através de mensagem no perfil do Movimento Espiritualidade Inclusiva: http://www.facebook.com/movimentoespiritualidadeinclusiva

3 – No mural do perfil do Espiritualidade Inclusiva no Facebook (o participante que optar por este meio não se importa que seu nome apareça publicamente para os amigos do perfil): http://www.facebook.com/movimentoespiritualidadeinclusiva

4 – Nos comentários da postagem sobre a enquete no blogue http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com (neste caso o participante também não se importa que seu nome apareça publicamente para os leitores do blogue, já que não aceitaremos respostas de usuários “anônimos”)


Então, pessoal, vamos repassar esta enquete a todos os nossos amigos, conhecidos e contatos de email ou em redes sociais que sejam LGBT. Qual a consequência disso? Simples: ao final da enquete vamos conhecer melhor o que pensam, o que sentem e o que desejam as pessoas da comunidade LGBT brasileira, o que vai nortear melhor as ações do Movimento LGBT como um todo, e do Movimento Espiritualidade Inclusiva em especial.


Dúvidas podem ser remetidas a nosso email espiritualidadeinclusiva@gmail.com

[Eventos] Plenária e Cine LGBT em Canoas - RS

Por Espiritualidade Inclusiva


O Movimento Espiritualidade Inclusiva, como já foi esclarecido em nosso blogue, apoia integralmente as atividades da Coordenadoria de Políticas de Diversidade (Canoas – RS). Hoje, o atual coordenador, Luiz Antonio Vieira Inda, enviou-nos para divulgação um convite com duas atividades promovidas pela Coordenadoria em conjunto com a ONG Parceiros da Diversidade envolvendo a comunidade LGBT: uma plenária para debater as atividades relacionadas a este público no município (parada livre e semana da diversidade) e o Cine LGBT na 28ª Feira do Livro de Canoas (confira programação em http://feiradolivrocanoas.blogspot.com.br).

Convocamos todos os nossos apoiadores e a comunidade LGBT em geral para se fazer presente nestes eventos, para que o protagonismo LGBT aumente, principalmente quando se trata de definir atividades e políticas públicas para nossa comunidade, já que a omissão sempre dá espaço para pessoas que, estando desconectadas de nossa realidade, venham a definir o que é bom para nós sob uma perspectiva não-LGBT e por vezes anti-LGBT!

O Movimento Espiritualidade Inclusiva se fará presente de modo oficial nestes eventos, através de nosso coordenador geral, Paulo Stekel.

Abaixo, o convite que recebemos, com os detalhes.

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CONVITE:

Caros Amigos e Amigas,

A promoção da dignidade e dos direitos humanos é um direito de todos. O acesso à justiça mediante o combate à discriminação, a geração de oportunidades, o respeito e a inclusão social existe para qualquer classificação de “ser humano”, independente de raça, cor, crença, etnia, orientação sexual ou qualquer outra forma de manifestação. Todos nós temos direitos, mas sabemos, que nem sempre, eles chegam a todos.

Focando e procurando manter sempre em pauta questões, que hoje já estão em rede nacional, em especial a questão da Homofobia, a Coordenadoria de Políticas de Diversidade procura trabalhar em conjunto com os setores organizados da sociedade civil, consolidando a participação dos movimentos sociais e do poder público nas mais diversas ações de manifestações pela garantia dos direitos e do respeito de todas as formas de expressão. Nesse sentido, juntamente com a ONG Parceiros da Diversidade, vem através deste convidar você para participar da:

“Plenária LGBT”

Quando: Segunda Feira, 04 de Junho de 2012.

Horário: 18h às 21h.

Onde: Auditório da Biblioteca Pública Municipal João Palma da Silva, Rua Ipiranga, 105, Centro, Canoas.

Por quê: para que possamos buscar a tão sonhada excelência nas manifestações e buscar implementações reais de políticas públicas, com a efetiva busca pelos direitos e respeito.

Objetivo Principal: iniciar a organização do principal evento de manifestação LGBT do município de Canoas, ou seja, a IV Parada Livre, que acontecerá no dia 11 de novembro e a 1ª Semana da Diversidade de Canoas.

OBS: Gostaríamos neste mesmo informativo de convidá-lo(a) para participar do:

“CINE LGBT” na 28° Feira do Livro de Canoas

08 de junho (sexta-feira), às 19h30min, na Praça da Bandeira.

Curta Metragem: Eu e o Cara da Piscina (RS/2010), Direção: William Mayer.

Filme: Do Começo ao Fim (Brasil/2009), Direção: Aluízio Abranches.


Após as exibições, debate com o Diretor Willian Mayer, Sandro Ka (Grupo SOMOS) e Paulo Stekel (Movimento Espiritualidade Inclusiva).

PREFEITURA MUNICIPAL DE CANOAS

COORDENADORIA MUNICIPAL DE POLÍTICAS DE DIVERSIDADE

(51) 3428-5323 ou (51) 3476-5336

terça-feira, 22 de maio de 2012

[Notícia] Famoso psiquiatra pede desculpas por estudo sobre "cura" para LGBTs

Por Benedict Carey (jornalista do The New York Times. Tradução: George El Khouri Andolfato – link original http://mundo.gay1.com.br/2012/05/famoso-psiquiatra-pede-desculpas-por.html)

(Dr. Robert L. Spitzer)

O fato foi simplesmente que ele fez tudo errado, e ao final de uma longa e revolucionária carreira, não importava com quanta frequência estivesse certo, o quão poderoso tinha sido ou o que isso significaria para seu legado.

O Dr. Robert L. Spitzer, considerado por alguns como o pai da psiquiatria moderna, que completa 80 anos nesta semana, acordou recentemente às 4 horas da madrugada ciente de que tinha que fazer algo que não é natural para ele.

Ele se esforçou e andou cambaleando no escuro. Sua mesa parecia impossivelmente distante; Spitzer sofre de mal de Parkinson e tem dificuldade para caminhar, se sentar e até mesmo manter sua cabeça ereta.

A palavra que ele às vezes usa para descrever essas limitações –patéticas– é a mesma que empregou por décadas como um machado, para atacar ideias tolas, teorias vazias e estudos sem valor.

Agora, ali estava ele diante de seu computador, pronto para se retratar de um estudo que realizou, uma investigação mal concebida de 2003 que apoiava o uso da chamada terapia reparativa para “cura” da homossexualidade, voltada para pessoas fortemente motivadas a mudar.

O que dizer? A questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo estava sacudindo novamente a política nacional. O Legislativo da Califórnia estava debatendo um projeto de lei proibindo a terapia como sendo perigosa. Um jornalista de revista que se submeteu à terapia na adolescência, o visitou recentemente em sua casa, para explicar quão miseravelmente desorientadora foi a experiência.

E ele soube posteriormente que um relatório da Organização Mundial de Saúde, divulgado na quinta-feira (17), considera a terapia “uma séria ameaça à saúde e bem-estar –até mesmo à vida– das pessoas afetadas”.

Os dedos de Spitzer tremiam sobre as teclas, não confiáveis, como se sufocassem com as palavras. E então estava feito: uma breve carta a ser publicada neste mês, na mesma revista onde o estudo original apareceu.

“Eu acredito que devo desculpas à comunidade gay”, conclui o texto.

Perturbador da paz

A ideia de estudar a terapia reparadora foi toda de Spitzer, dizem aqueles que o conhecem, um esforço de uma ortodoxia que ele mesmo ajudou a estabelecer.

No final dos anos 90 como hoje, o establishment psiquiátrico considerava a terapia sem valor. Poucos terapeutas consideravam a homossexualidade uma desordem.

Nem sempre foi assim. Até os anos 70, o manual de diagnóstico do campo classificava a homossexualidade como uma doença, a chamando de “transtorno de personalidade sociopática”. Muitos terapeutas ofereciam tratamento, incluindo os analistas freudianos que dominavam o campo na época.

Ativistas LGBTs fizeram objeção furiosamente e, em 1970, um ano após os protestos de Stonewall para impedir as batidas policiais em um bar de Nova York, um grupo de manifestantes dos direitos LGBT confrontou um encontro de terapeutas comportamentais em Nova York para discutir o assunto. O encontro foi encerrado, mas não antes de um jovem professor da Universidade de Columbia sentar-se com os manifestantes para ouvir seus argumentos.

“Eu sempre fui atraído por controvérsia e o que eu ouvi fazia sentido”, disse Spitzer, em uma entrevista em sua casa na semana passada. “E eu comecei a pensar, bem, se é uma desordem mental, então o que a faz assim?”

Ele comparou a homossexualidade com outras condições definidas como transtornos, tais como depressão e dependência de álcool, e viu imediatamente que as últimas causavam angústia acentuada e dano, enquanto a homossexualidade frequentemente não.

Ele também viu uma oportunidade de fazer algo a respeito. Spitzer era na época membro de um comitê da Associação Americana de Psiquiatria, que estava ajudando a atualizar o manual de diagnóstico da área, e organizou prontamente um simpósio para discutir o lugar da homossexualidade.

A iniciativa provocou uma série de debates amargos, colocando Spitzer contra dois importantes psiquiatras influentes que não cediam. No final, a associação psiquiátrica ficou ao lado de Spitzer em 1973, decidindo remover a homossexualidade de seu manual e substituí-la pela alternativa dele, “transtorno de orientação sexual”, para identificar as pessoas cuja orientação sexual, lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual ou hétero, lhes causava angústia.

Apesar da linguagem arcana, a homossexualidade não era mais um “transtorno”. Spitzer conseguiu um avanço nos direitos civis em tempo recorde.

“Eu não diria que Robert Spitzer se tornou um nome popular entre o movimento LGBT mais amplo, mas a retirada da homossexualidade foi amplamente celebrada como uma vitória”, disse Ronald Bayer, do Centro para História e Ética da Saúde Pública, em Columbia. “‘Não Mais Doente’ foi a manchete em alguns jornais gays.”

Em parte como resultado, Spitzer se encarregou da tarefa de atualizar o manual de diagnóstico. Juntamente com uma colega, a dra. Janet Williams, atualmente sua esposa, ele deu início ao trabalho. A um ponto ainda não amplamente apreciado, seu pensamento sobre essa única questão –a homossexualidade– provocou uma reconsideração mais ampla sobre o que é doença mental, sobre onde traçar a linha entre normal e não.

O novo manual, um calhamaço de 567 páginas lançado em 1980, se transformou em um best seller improvável, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior. Ele estabeleceu instantaneamente o padrão para futuros manuais psiquiátricos e elevou seu principal arquiteto, então próximo dos 50 anos, ao pináculo de seu campo.

Ele era o protetor do livro, parte diretor, parte embaixador e parte clérigo intratável, rosnando ao telefone para cientistas, jornalistas e autores de políticas que considerava equivocados. Ele assumiu o papel como se tivesse nascido para ele, disseram colegas, ajudando a trazer ordem para um canto historicamente caótico da ciência.

Mas o poder tem seu próprio tipo de confinamento. Spitzer ainda podia perturbar a paz, mas não mais pelos flancos, como um rebelde. Agora ele era o establishment. E no final dos anos 90, disseram amigos, ele permanecia tão inquieto como sempre, ávido em contestar as suposições comuns.

Foi quando se deparou com outro grupo de manifestantes, no encontro anual da associação psiquiátrica em 1999: os autodescritos ex-gays. Como os manifestantes LGBTs em 1973, eles também se sentiam ultrajados por a psiquiatria estar negando a experiência deles –e qualquer terapia que pudesse ajudar.

A terapia reparativa

A terapia reparativa, às vezes chamada de terapia de “conversão” ou “reorientação sexual”, é enraizada na ideia de Freud de que as pessoas nascem bissexuais e podem se mover ao longo de um contínuo de um extremo ao outro. Alguns terapeutas nunca abandonaram a teoria e um dos principais rivais de Spitzer no debate de 1973, o dr. Charles W. Socarides, fundou uma organização chamada Associação Nacional para Pesquisa e Terapia da Homossexualidade (Narth, na sigla em inglês), no sul da Califórnia, para promovê-la.

Em 1998, a Narth formou alianças com grupos de defesa socialmente conservadores e juntos eles iniciaram uma campanha agressiva, publicando anúncios de página inteira em grandes jornais para divulgar histórias de sucesso.

“Pessoas com uma visão de mundo compartilhada basicamente se uniram e criaram seu próprio grupo de especialistas, para oferecer visões alternativas de políticas”, disse o dr. Jack Drescher, psiquiatra em Nova York e coeditor de “Ex-Gay Research: Analyzing the Spitzer Study and Its Relation to Science, Religion, Politics, and Culture”.

Para Spitzer, a pergunta científica no mínimo valia a pena ser feita: qual era o efeito da terapia, se é que havia algum? Estudos anteriores tinham sido tendenciosos e inconclusivos.

“As pessoas me diziam na época: ‘Bob, você vai arruinar sua carreira, não faça isso’”, disse Spitzer. “Mas eu não me sentia vulnerável.”

Ele recrutou 200 homens e mulheres, dos centros que realizavam a terapia, incluindo o Exodus International, com sede na Flórida, e da Narth. Ele entrevistou cada um profundamente por telefone, perguntando sobre seus impulsos sexuais, sentimentos, comportamentos antes e depois da terapia, classificando as respostas em uma escala.

Spitzer então comparou os resultados de seu questionário, antes e depois da terapia. “A maioria dos participantes relatou mudança de uma orientação predominante ou exclusivamente homossexual antes da terapia, para uma orientação predominante ou exclusivamente heterossexual no ano passado”, concluiu seu estudo.

O estudo –apresentado em um encontro de psiquiatria em 2001, antes da publicação– tornou-se imediatamente uma sensação e grupos de ex-gays o apontaram como evidência sólida de seu caso. Afinal aquele era Spitzer, o homem que sozinho removeu a homossexualidade do manual de transtornos mentais. Ninguém poderia acusá-lo de tendencioso.

Mas líderes LGBTs o acusaram de traição e tinham suas razões.

O estudo apresentava problemas sérios. Ele se baseava no que as pessoas se lembravam de sentir anos antes –uma lembrança às vezes vaga. Ele incluía alguns defensores ex-gays, que eram politicamente ativos. E não testava uma terapia em particular; apenas metade dos participantes se tratou com terapeutas, enquanto outros trabalharam com conselheiros pastorais ou em grupos independentes de estudos da Bíblia.

Vários colegas tentaram impedir o estudo e pediram para que ele não o publicasse, disse Spitzer.

Mas altamente empenhado após todo o trabalho, ele recorreu a um amigo e ex-colaborador, o dr. Kenneth J. Zucker, psicólogo-chefe do Centro para Vício e Saúde Mental, em Toronto, e editor do “Archives of Sexual Behavior”, outra revista influente.

“Eu conhecia o Bob e a qualidade do seu trabalho, e concordei em publicá-lo”, disse Zucker em uma entrevista na semana passada.

O artigo não passou pelo habitual processo de revisão por pares, no qual especialistas anônimos avaliam o artigo antes da publicação.

“Mas eu lhe disse que o faria apenas se também publicasse os comentários de resposta de outros cientistas para acompanhar o estudo", disse Zucker.

Esses comentários, com poucas exceções, foram impiedosos. Um citou o Código de Nuremberg de ética para condenar o estudo não apenas como falho, mas também moralmente errado.

“Nós tememos as repercussões desse estudo, incluindo o aumento do sofrimento, do preconceito e da discriminação”, concluiu um grupo de 15 pesquisadores do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, do qual Spitzer era afiliado.

Spitzer não deixou implícito no estudo que ser homossexual era uma opção, ou que era possível para qualquer um que quisesse mudar fazê-lo com terapia. Mas isso não impediu grupos socialmente conservadores de citarem o estudo em apoio a esses pontos, segundo Wayne Besen, diretor executivo da Truth Wins Out, uma organização sem fins lucrativos que combate o preconceito contra LGBTs.

Em uma ocasião, um político da Finlândia apresentou o estudo no Parlamento para argumentar contra as uniões civis, segundo Drescher.

“Precisa ser dito que quando este estudo foi mal utilizado para fins políticos, para dizer que os gays deviam ser curados –como ocorreu muitas vezes. Bob respondia imediatamente, para corrigir as percepções equivocadas”, disse Drescher, que é gay.

Mas Spitzer não conseguiu controlar a forma como seu estudo era interpretado por cada um e não conseguiu apagar o maior erro científico de todos, claramente atacado em muitos dos comentários: simplesmente perguntar para as pessoas se elas mudaram não é evidência de mudança real. As pessoas mentem, para si mesmas e para os outros. Elas mudam continuamente suas histórias, para atender suas necessidades e humores.

Resumindo, segundo quase qualquer medição, o estudo fracassou no teste do rigor científico que o próprio Spitzer foi tão importante em exigir por muitos anos.

“Ao ler esses comentários, eu sabia que era um problema, um grande problema, e um que eu não podia responder”, disse Spitzer. “Como você sabe que alguém realmente mudou?”

Reconhecimento

Foram necessários 11 anos para ele reconhecer publicamente.

Inicialmente ele se agarrou à ideia de que o estudo era exploratório, uma tentativa de levar os cientistas a pensarem duas vezes antes de descartar uma terapia de cara. Então ele se refugiou na posição de que o estudo se concentrava menos na eficácia da terapia e mais em como as pessoas tratadas com ele descreviam mudanças na orientação sexual.

“Não é um pergunta muito interessante”, ele disse. “Mas por muito tempo eu pensei que talvez não tivesse que enfrentar o problema maior, sobre a medição da mudança.”

Após se aposentar em 2003, ele permaneceu ativo em muitas frentes, mas o estudo da terapia reparativa permaneceu um elemento importante das guerras culturais e um arrependimento pessoal que não o deixava em paz. Os sintomas de Parkinson pioraram no ano passado, o esgotando física e mentalmente, tornando ainda mais difícil para ele lutar contra as dores do remorso.

E, em um dia em março, Spitzer recebeu um visitante. Gabriel Arana, um jornalista da revista “The American Prospect”, entrevistou Spitzer sobre o estudo sobre terapia reparativa. Aquela não era uma entrevista qualquer; Arana se submeteu à terapia reparativa na adolescência e o terapeuta dele recrutou o jovem para o estudo de Spitzer (Arana não participou).

“Eu perguntei a ele sobre todos os seus críticos e ele disse: ‘Eu acho que eles estão certos’”, disse Arana, que escreveu sobre suas próprias experiências no mês passado. Arana disse que a terapia reparativa acabou adiando sua autoaceitação e lhe induziu a pensamentos de suicídio. “Mas na época que fui recrutado para o estudo de Spitzer, eu era considerado uma história de sucesso. Eu teria dito que estava fazendo progressos.”

Aquilo foi o que faltava. O estudo que na época parecia uma mera nota de rodapé em uma grande vida estava se transformando em um capítulo. E precisava de um final apropriado –uma forte correção, diretamente por seu autor, não por um jornalista ou colega.

Um esboço da carta já vazou online e foi divulgado.

“Você sabe, é o único arrependimento que tenho; o único profissional”, disse Spitzer sobre o estudo, perto do final de uma longa entrevista. “E eu acho que, na história da psiquiatria, eu não creio que tenha visto um cientista escrever uma carta dizendo que os dados estavam lá, mas foram interpretados erroneamente. Que tenha admitido isso e pedido desculpas aos seus leitores.”

Ele desviou o olhar e então voltou de novo, com seus olhos grandes cheios de emoção. “Isso é alguma coisa, você não acha?”

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Movimento Espiritualidade Inclusiva em processo de instalação de coordenadorias estaduais e municipais – cadastre-se!


Após meses de muito trabalho e de uma ótima repercussão, o Movimento Espiritualidade Inclusiva antecipa a entrada numa segunda fase, exatamente pelo desejo de muitos de nossos apoiadores.

Pretendemos, a partir de junho, começar a instalação das coordenações estaduais e municipais do movimento em todo o Brasil. Já temos candidatos a coordenadores em 3 cidades do RS e em mais dois estados brasileiros.

Quem pode participar do Movimento Espiritualidade Inclusiva

Você está interessado em ser um coordenador estadual ou municipal? Então, basta encaixar-se no pré-requisito abaixo:

Ser LGBT ou Simpatizante, militante do movimento LGBT ou não, que defenda o Estado Laico e, por isso, reconheça os direitos de todas as religiões e espiritualidades, desde que respeitando os direitos humanos e os direitos LGBT; estar disposto a denunciar a homofobia religiosa onde ela se encontre e dar visibilidade aos atos inclusivos por parte de religiões/crenças, sejam elas naturalmente inclusivas ou não.

IMPORTANTE: apesar do movimento se chamar “Espiritualidade Inclusiva”, aceitamos como candidatos pessoas declaradamente ateias, uma vez que os ateus humanistas tem sido nossos maiores apoiadores até aqui, mantido um debate saudável e até contribuindo com artigos para nosso blogue. O verdadeiro ateu humanista defende o Estado Laico e a liberdade e, portanto, não quer destruir nenhuma religião, mas assegurar os direitos de todas, incluindo o seu direito de ser ateu. Desta forma, religiosos e ateus podem trabalhar unidos em prol do Estado Laico de fato.

MUITO IMPORTANTE: Ser gay ou não ser gay é irrelevante para o candidato a coordenador ou para quem venha a frequentar os grupos de encontro municipais se ele preenche os requisitos pautados acima. Nossa principal proposta é o reconhecimento da naturalidade da diversidade de orientações sexuais pelas religiões/espiritualidades e não o estabelecimento de uma “espiritualidade gay” aos moldes de um “gueto espiritual”, algo contraproducente, em nossa opinião. Ou seja, qualquer pessoa afinada com a proposta do movimento pode participar. O movimento também não fará distinções entre gays e não-gays, pois acredita que os rótulos mais afastam que aproximam as pessoas. Ser inclusivo significa não rotular para evitar que se venha a excluir o que está fora do rótulo. Então, qualquer um que não tenha preconceito quanto à diversidade de orientação sexual e que defenda o Estado Laico, seja religioso, agnóstico ou ateu, é bem-vindo ao Movimento Espiritualidade Inclusiva.

Apenas para situar: o Movimento Espiritualidade Inclusiva é um movimento social sem registro e ainda sem verbas, afinado com a agenda LGBT internacional e a Declaração dos Direitos do Homem, de natureza não-partidária e que não defende uma religião em particular em detrimento das demais, que vai se organizar em coordenadorias com caráter consultivo e deliberativo. Como nosso país é enorme, poderemos trocar muitas informações e pautar atividades e decisões através da internet, fazendo encontros físicos sempre que possível. O movimento não remunera seus coordenadores, pois o trabalho de todos os seus membros é feito de forma voluntária. Assim, os custos de atividades e espaços para encontros deverão ser rateados entre os membros da região onde se realizam ou parte deles buscados na forma de apoios públicos e/ou privados, sem que isso venha a interferir na neutralidade do movimento no campo religioso, político e econômico.

Atividades do Movimento Espiritualidade Inclusiva

Nossas atividades, seja no nível de Coordenadoria Nacional, das Coordenadorias Estaduais ou dos Grupos de Encontro serão, a partir daqui, de três naturezas:

1ª – Produção de material teórico para efeitos práticos: artigos, debates, ensaios, teses, etc. Tudo isso deve ser compartilhado em nosso blogue oficial para acesso de toda a sociedade e para melhorar a argumentação da comunidade LGBT. Todos aqueles que possuem o dom da palavra e da escrita são chamados a contribuir com o movimento.

2ª – Compartilhamento de experiências a respeito de inclusão, homofobia, descobrir-se LGBT, assumir-se, anseios espirituais, etc. Este compartilhamento pode ocorrer por escrito e publicado no blogue oficial na forma de relato e também durante as reuniões dos Grupos de Encontro, seminários municipais, regionais ou estaduais e outros eventos que venham a ser organizados.

3ª – Ações próprias ou em caráter de apoio do tipo organização de ou participação em palestras, seminários, encontros, intervenções, protestos, passeatas, auxílio a LGBTs em situação de perigo ou conflito de natureza religiosa, engajamento em políticas públicas ou campanhas do terceiro setor (ONGs LGBTs ou não) que tenham afinidade com as propostas do movimento, etc.

Como participar ativamente do Movimento Espiritualidade Inclusiva

Se você gostou da ideia e deseja candidatar-se, já pode agilizar algumas coisas:

1º - Ler as postagens do nosso blogue, em especial as primeiras, pois definem os objetivos do movimento e o que realmente é Espiritualidade Inclusiva (montaremos uma cartilha com elas e isso vai melhorar todo o processo de informação);

2º - Enviar para espiritualidadeinclusiva@gmail.com seus dados cadastrais e o endereço de um email ativo para o qual possamos futuramente (se seu nome for confirmado como coordenador) enviar um convite para postar diretamente no nosso blogue as notícias e atividades referentes ao que chamaríamos de Coordenadoria (âmbito estadual) e Grupo de Encontro (âmbito municipal).

3º - Contatar as pessoas que possam se interessar pela ideia em sua região, formando um primeiro núcleo de interessados.



Qualquer dúvida, estamos à inteira disposição de todos.


Fraternalmente,

Paulo Stekel



(coordenador geral do Movimento Espiritualidade Inclusiva)


[Dia Internacional de Combate à Homofobia] Confrontando a Homofobia Religiosa

Por Paulo Stekel


“Não se vive apenas de esperança, mas sem esperança não vale a pena viver.” (Harvey Milk)

“Sempre que a moralidade se baseia na teologia, sempre que o correto se torna dependente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser justificadas e estabelecidas.” (Ludwig Feuerbach)

Quantas formas de homofobia existem? Muitas. Uma para cada mente pensante... Cada um expressa seu preconceito de uma maneira particularmente vil e criativa. Os homofóbicos de carteirinha buscam todos os subterfúgios possíveis para destilar veneno contra a comunidade LGBT sem parecerem estar fazendo o óbvio: rebaixando seres humano a uma categoria inferior unicamente por causa de sua orientação sexual.

Hoje, 17 de maio, é o Dia Internacional de Combate à Homofobia. É um dia de luta, mais do que de comemoração. O status da homofobia varia de lugar para lugar, de país para país, mas no final das contas, tem sempre a mesma motivação: o medo do diferente, a intolerância com o que parece “fugir” da norma que se pretende ser a ideal e estatisticamente maioria. Nem mesmo a Ciência pode confirmar isso, uma vez que já foram identificados comportamentos sexuais diversos em muitas espécies animais, especialmente em mamíferos.

No dia 17 de maio de 1990 a OMS (Organização Mundial da Saúde) finalmente deixou de incluir a homossexualidade no rol dos transtornos mentais, retirando-a da lista de doenças internacionais. Hoje, no âmbito dos direitos humanos internacionais e da Ciência não somos mais chamados de “doentes”, “mentalmente perturbados” ou “pervertidos”, entre outros “elogios”. Contudo, a homofobia persiste e continua fazendo vítimas, especialmente no Brasil, agora a sexta economia mundial, mas também o país onde mais se assassina homossexuais no planeta, superando de longe os países islâmicos mais radicais, como o Irã, por exemplo. A Bahia parece ser o estado mais homofóbico do Brasil, mas o preconceito violento se mostra em toda a nação.

Dentro desta conta não podemos desconsiderar o potencial violento de uma forma específica de homofobia que parece estar fomentando, direta ou indiretamente, um aumento significativo do ódio contra a comunidade LGBT: a homofobia religiosa.

A homofobia religiosa é um tipo de fundamentalismo religioso no qual o vilão, o sujeito pecador, o próprio demônio, é o diferente, o diverso, o LGBT! Através de textos religiosos (Bíblia, Torah, Alcorão, etc.) e não por evidências científicas, o homofóbico religioso pretende demonstrar o caráter não-natural das orientações não exclusivamente heterossexuais, lançando, a partir daí, uma série de argumentos para manter a comunidade LGBT no gueto da invisibilidade, no limbo dos não-direitos e no inferno da própria existência.

Para o terapeuta norte-americano James Guay, a homofobia religiosa: “É uma forma de opressão utilizada por algumas pessoas e instituições religiosas para motivar pessoas a mudar sua orientação ou comportamento sexual. Em sua forma mais extrema, a homofobia religiosa pode contribuir para aumentar as taxas de suicídio, depressão, ansiedade, dificuldades com a intimidade, auto-ódio, a polarização das famílias e comunidades, e motivação para tentar mudar a orientação sexual.”

Para entendermos como a homofobia religiosa funciona, listemos apenas algumas ações promovidas por seus partidários intolerantes:

- Discursos abertamente preconceituosos e demonizantes em rede nacional valendo-se da mídia, internet, jornais, TV, emails, etc.

- “Exorcismos” hilários para retirar o “demônio do homossexualismo”, produtos de puro charlatanismo que ocorre sob a vista grossa do Judiciário e do Poder Público. Mais que assédio moral, um crime bárbaro!

- Terapias de reversão de orientação sexual, já comprovadamente contraproducentes, constituindo-se numa verdadeira auto-flagelação comparável aos métodos nazistas.

- Campanhas caluniosas com o objetivo de inserir um medo generalizado na população heterossexual de que os gays venham a constituir um verdadeiro “império”, ameaçando a reprodução e a existência das famílias (como se gays não viessem de famílias heterossexuais ou fossem filhos de chocadeira).

- Tentativas e lobby político no sentido de impedir a conquista ou mesmo de retirar direitos da comunidade LGBT, pretendendo que o comportamento não-heterossexual fique restrito à vida privada, sem reconhecimento jurídico e, assim, sem quaisquer consequências jurídicas naturalmente atribuídas a qualquer família heterossexual.

Casos de suicídio motivados por homofobia religiosa não são isolados. O problema, na verdade, é global. Em maio de 2011, a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, declarou: “Em última análise, a homofobia e a transfobia não são diferentes do sexismo, da misoginia, do racismo ou da xenofobia. Mas enquanto essas últimas formas de preconceito são universalmente condenadas pelos governos, a homofobia e a transfobia são muitas vezes negligenciadas. A história nos mostra o terrível preço humano da discriminação e do preconceito. Ninguém tem o direito de tratar um grupo de pessoas como sendo de menor valor, menos merecedores ou menos dignos de respeito.”

Este ano temos eleições municipais. É o momento de exigirmos de todos os candidatos a prefeito e vereador um posicionamento quanto à questão da homofobia e dos direitos humanos LGBT, independentemente do partido ao qual estejam ligados. Da mesma forma, é crucial que venhamos a exigir destes candidatos um posicionamento quanto à homofobia religiosa, que tem sido um agravante substancial no ódio irracional de alguns setores da sociedade contra os homossexuais. Por fim, devemos exigir deles uma atitude de ratificação do Estado Laico, sob pena do o vermos ameaçado por “talibãs cristãos” da pior espécie, que manipulam a sociedade e a jogam contra a comunidade LGBT sem qualquer arrependimento, utilizando Deus como escudo, algoz e cúmplice! Isso é inadmissível num país laico. A religião, que é uma instância particular que cada cidadão decide professar ou não, jamais pode se sobrepor num estado laico às demandas de toda a sociedade, interferindo com sua particularidade dogmática na vida de todos os cidadãos de uma nação. Isso é ilógico, medieval e desumano! Vamos combater esta tendência com todas as nossas forças no campo das ideias, da argumentação, do direito, da lei e da política social.

Celebremos mais um Dia Internacional de Combate à Homofobia lutando muito, avançando sempre, sem recuar, sem olhar para trás, mas cuidando de nossas próprias vidas, pois elas correm perigo a todo instante...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

[Tradução] A Bíblia na verdade diz “com varão de tua família não te deitarás”

Por Ocio Gay (entrevista publicada originalmente em espanhol em http://www.ociogay.com/2012/05/03/la-biblia-en-realidad-dice-con-varon-de-tu-familia-no-te-acostaras e traduzida por Paulo Stekel)

(O polêmico e irreverente teólogo dinamarquês Renato Lings)

Nós conversamos com o tradutor e teólogo Renato Lings, autor de "Bíblia e Homossexualidade".

Com seu tom calmo e grande senso de humor, o autor dinamarquês explica durante sua visita a Madri que, depois de muitos anos de estudo, "A Bíblia" é para ele uma amiga, não uma fonte de medo, como muitos querem considerar. Doutor em teologia, tradutor de hebraico, grego e espanhol, Lings tem feito do estudo de textos sagrados com relação à homossexualidade uma de suas principais ocupações. Acaba de publicar “Bíblia e homossexualidade - erraram os tradutores?”, onde resume que os problemas da Igreja com os homossexuais são realmente uma questão de um "Lost in Translation" medieval.

- A partir da disseminação gradual do Cristianismo pelo Império Romano vem a necessidade de disponibilizar a totalidade dos escritos bíblicos em latim. Em resposta a essa demanda aparece a Vulgata em cerca de 400 d. C. É esta a origem dos males da homossexualidade para a Igreja?

- A Vulgata é importante sob vários pontos de vista: primeiro, porque a tradução é executada por um personagem muito importante para a Igreja Romana, Jerônimo, e em segundo lugar porque é a primeira versão que tem todos os livros da Bíblia em latim. Em grande parte, revisa as traduções existentes, mas também traduziu outras partes. Ele pensou que seria fácil traduzir da Septuaginta, que é a tradução para o grego antigo, mas percebeu que já naquele tempo teve muitos erros e não podia ser confiável, motivo pelo qual estudou hebraico e assim traduziu o Antigo Testamento também. Isso exigiu um grande esforço. Dito isto, convém notar que, devido à uniformidade que estava adquirindo a Igreja Romana, esta foi se impondo como a única versão da "Bíblia", ou seja, até que finalmente se tornou a verdade. Esta versão deu cor aos capítulos mais controversos.

Conforme avançava a Igreja, esta foi se fechando mais no latim e se perdeu completamente o grego e o hebraico, a ponto de, na Idade Média, o latim ter se tornado a língua de Jesus Cristo. Isso é problemático por várias razões, mas principalmente porque durante a Idade Média entre as correntes teológicas havia muita tendência ao ascetismo, à renúncia de prazeres carnais, estabelecendo-se assim os vícios, incluindo a sodomia.

- Na verdade, você aponta que a “sodomia” não aparece como termo até o século XI.

- De fato. Antes havia o vício da sodomia, mas não havia uma definição única do que isso significava. Havia uma variedade de definições, mas tinha a ver com a vida sexual das pessoas, já que em ambientes eclesiásticos ao fazer o voto de castidade não havia espaço para as relações sexuais.

Então rolou como uma bola de neve o perigo que são as relações homoeróticas, pois as heterossexuais não são mais um problema ao se entrar no mosteiro. Muitos interpretaram, então, o desejo homoerótico que sentiam como sendo uma inspiração demoníaca, pois, não entendiam que depois de entregar corpo e alma a Deus lhes surgiriam fantasias eróticas e sonhos com parceiros da comunidade.

- Outra das análises mais abrangentes que você faz no livro é sobre a famosa frase do Levítico: "Com varão não te deitarás" que na verdade é "com varão não terás repousos [lit. “jazer para relações sexuais”] de mulheres."

- Eu tenho minhas dúvidas, por várias razões. Praticamente toda a literatura que está incluída no que chamamos de "Antigo Testamento", que eu prefiro chamar de "A Bíblia hebraica", tem um alto nível de refinamento literário. Eu não acho que esses textos correspondem a mentes retrógradas em questões de antropologia. Por isso, é curioso que, no caso de "Levítico" há tantos séculos haja um debate sobre o que significa. A proibição de relações homoeróticas com base neste livro não aparece até o século IV D.C.; antes não há nenhum registro de que tenha sido interpretado nesse sentido, pelo menos no Cristianismo, porque no Judaísmo há todavia mais literatura sobre o assunto.

Como pode um versículo de uma linha e meia gerar tanto debate? Alguns acreditam que se fala da penetração anal, e dentro dessa tendência, há divergências, pois existem alguns que acreditam que o que é proibido é o contato do sêmen com fezes, outros dizem que se trata de proteger a procriação e evitar qualquer dispersão de sêmen em outro vaso que não seja a vagina. Uma terceira teoria diz que o que é censurado é a parte ativa da relação homoerótica, isto é, não deves penetrar a outro homem analmente. A quarta, porém, acredita que se refere à parte passiva: você não deve se comportar como uma mulher na frente de um homem deixando-se penetrar.

Eu sugiro uma quinta interpretação que não tem nada a ver com a penetração anal, e que já foi sugerida por David Stewart: a do incesto. Praticamente todo o capítulo em que isto está escrito, o 18, fala do incesto entre homem e mulher. Ele acha que esta proibição também se estende entre dois homens da mesma família. Mas, como é um texto altamente sofisticado continua a gerar debate. Eu tive que ir até o capítulo 20 para perceber que este versículo reaparece junto com outros que proíbem o incesto, com a pena de morte incluída. Acho interessante este achado porque também existe na tradição hitita uma proibição incestuosa deste tipo, expressa sem rodeios. Como existem muitos paralelos entre as passagens da "Bíblia", com outras tradições antigas do Oriente Médio, eu duvido que haja um povo tão radicalmente separados dos outros.

Há outra razão para pensar que o incesto, da segunda parte ("repousos de mulher") é difícil de interpretar, porque ele usa um vocabulário elaborado. A primeira parte diz: "com varão não te deitarás", não "com um homem" e isso é importante porque não se trata de dois sinônimos. "Varão" também inclui os jovens que não chegam a "homens", e os idosos. A segunda é fundamental, e grande parte da Igreja decidiu que queria dizer "com nenhum". E eu me pergunto, se todo o capítulo é destinado à família porque esta parte não? Também sempre se refere a "varões israelitas", não a todos do mundo. E também especifica "mulher", não "fêmea". David Stewart, de quem sigo a pista, define que a palavra "repousos" só aparece uma vez mais nesta parte da Bíblia hebraica e no segundo caso, está no livro de "Gênesis", onde Jacó fala para seu filho mais velho Ruben, que cometeu um ato de incesto com uma das esposas deste. Ele diz "Foste até os repousos de teu pai", o que reforça a minha teoria do incesto porque o "repouso" no singular ocorre com mais freqüência.

- Também “Sodoma” surge sob outro prisma depois de sua análise.

- Lhe dediquei sete anos, apesar de que só tem um capítulo e meio. Eu me sinto muito em paz porque eu o trabalhei de cima para baixo e de fora para dentro. Todos os profetas do Antigo Testamento, que eram testemunhas oculares que falavam hebraico e estão imersos na sua cultura, utilizam "Sodoma e Gomorra" como uma metáfora.

- Se algo fica depois de se ler o livro é a sensação de que se tem interpretado os textos sagrados a partir da literalidade absoluta, mesmo quando se fala em metáforas.

- Somos muito mais fundamentalistas que os antigos; nós tomamos a "Bíblia" ao pé da letra, enquanto que eles sabiam como interpretar os símbolos. Produziam um discurso altamente desenvolvido no literário e no teológico. Bem, os profetas usam o mito de Sodoma e Gomorra em contextos de injustiça social, se referem à raiva que sentem quando os poderosos maltratam os pobres, especialmente Isaías e Ezequiel (que critica por meio disso a idolatria dos israelitas que se lançam a adorar outros deuses). Não se referem a questões sexuais. Isso me deu a dica de que algo não sabíamos sobre esse texto, e continuamos prisioneiros da tradição medieval. É mais convincente a investigação a partir da perspectiva dos profetas, porque é mais fiel ao contexto original.

- "Para a pessoa cristã o essencial é seguir a Cristo e não ser influenciada pelas pressões do ambiente social" você afirma, baseando-se em São Paulo: "Busco eu agora persuadir os homens ou a Deus? Se, todavia, tentasse agradar aos homens já não seria servo de Cristo". Isto tem sido completamente esquecido, e mais, às vezes a igreja é quem exerce a pressão social.
- Até mesmo, às vezes, forçando a seguir a igreja mais do que a Cristo.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Respondendo ao artigo “É possível falar em uma espiritualidade inclusiva?”

Por Paulo Stekel [resposta ao artigo intitulado “É possível falar em uma espiritualidade inclusiva?”, publicado em http://evolucaolgbt.blogspot.com.br/2012/05/e-possivel-falar-em-uma-espiritualidade.html e citando nosso artigo anterior “Você é espiritualista e... homofóbico? (uma pergunta para os amigos de verdade)” - ver http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/05/voce-e-espiritualista-e-homofobico-uma.html]


Dois dias após ter escrito o artigo “Você é espiritualista e... homofóbico? (uma pergunta para os amigos de verdade)”, que se tornou um dos mais polêmicos do blogue Espiritualidade Inclusiva, encontramos um artigo que o cita no blogue Evolução LGBT. Não é um artigo ofensivo nem mal-intencionado. Pelo contrário, julgamos muito salutar para o debate sobre o tema, e por isso achamos útil responder a alguns dos questionamentos e argumentos do artigo do blogue amigo. Os argumentos ali mostram que ainda não está claro para alguns o verdadeiro conceito e a proposta de uma “Espiritualidade Inclusiva”. Cabe-nos, então, lançar mais luz sobre o assunto.

O texto que nos cita inicia assim: “Este brilhante texto trata sobre como linhas esotéricas como Maçonaria, florais, Sociedade Teosófica etc travestem-se de espiritualmente elevadas, mas perpetuam visões extremamente negativas e preconceituosas sobre LGBTs.”

É importante esclarecer que não são tais “linhas esotéricas” (algumas nem são “esotéricas”) que se travestem de espiritualmente elevadas, mas seus praticantes equivocados, que deixam sua homofobia particular manchar propostas espirituais que deveriam incluir a todos naturalmente. No caso da Sociedade Teosófica, não há uma só linha contra gays nos textos mais antigos de Blavatsky, Besant e Leadbeater (este, aliás, foi acusado de ser homossexual e este falatório persiste até hoje nos círculos internos da Sociedade Teosófica). Então, a homofobia reinante entre os líderes atuais desta sociedade espiritualista é fruto de sua própria ignorância, como pude confirmar pessoalmente ao trabalhar em Brasília, onde fica a sede nacional, no ano de 2005.

Em seguida, o texto afirma que “Há textos 'teosóficos' que dizem que gays têm perispírito deformado!” Só se for em textos de autores modernos, textos estes que, sinceramente, desconheço. Entre os textos dos fundadores do pensamento teosófico não há nada a respeito. O fato de um livro referir-se à teosofia não significa ser escrito por um membro da Sociedade Teosófica e muito menos refletir os princípios ali ensinados, todos baseados nas obras mais antigas.

Mais adiante: “Portanto, vemos que essas ordens esotéricas não são tão iluminadas quanto se pensam, principalmente porque seu conhecimento esotérico é baseado em puro achismo e crendice e não absorveu o que a academia e a ciência – a psicanálise, a sociologia, a biologia etc – já produziram sobre a homossexualidade e sua presença no meio natural. A ciência inclusive já articulou a homossexualidade com o darwinismo e ainda vemos babacas dessas “ordens” esotéricas acusando os LGBTs de antinaturais.”

Concordo com este argumento. Está mais do que na hora das religiões e “espiritualidades” incorporarem as descobertas das Ciências – biológicas e humanas – a suas visões de mundo, se querem aproximar-se um pouco mais da realidade do mundo atual. O Dalai Lama, representante do Budismo Tibetano, afirmou várias vezes que o Budismo não é radical e que, se um ensinamento budista for contradito peremptoriamente por comprovações científicas, deve-se seguir a Ciência e não a religião, já que o Buda pregou que cada um fosse o seu próprio Mestre e só aceitasse aquilo que pudesse ser comprovado. Falta apenas a Ciência dar mais dados sobre a naturalidade da homossexualidade no mundo animal para que isso possa ser considerado de modo mais firme.

“Lutar por uma espiritualidade inclusiva implica em reforçar que há os 'normais' – homens e mulheres heterossexuais – e que estes devem, por 'bondade', tolerar e/ ou incluir LGBTs em sua presença nos lugares de espiritualidade. (…) Ou seja, reforça a oposição entre “nós” e “eles”.”

Desculpe o autor do artigo, mas há uma confusão no que tange ao conceito e proposta da Espiritualidade Inclusiva. Ela não diz que os heterossexuais são os “normais” e os LGBT os “não-normais” ou “anormais”. Ela diz que heterossexuais e não-heterossexuais são IGUAIS perante a natureza material e espiritual e, por isso, ninguém pode ser excluído de uma possibilidade de desenvolvimento em direção ao transcendente e de autoconhecimento em direção a uma felicidade plena. Também não reforçamos a ideia de “tolerância”, mas de reconhecimento do outro como parte de uma diversidade natural, ainda que desconhecida ou deliberadamente ignorada pela maioria. Aceitar, reconhecer, valorizar, sim! Mas, simplesmente “tolerar”, não é a atitude mais eficaz.

Além disso, o Movimento Espiritualidade Inclusiva não propõe que os heterossexuais incluam os LGBT em seus “lugares de espiritualidade”. Temos que ser nossos próprios protagonistas. Não dependemos, não precisamos e não queremos “bondade” de ninguém. Queremos apenas o reconhecimento de um fato: o de sermos iguais em direitos, ainda que diversos na manifestação. Assim, não reforçamos oposição alguma, mas buscamos a integração.

“A ideia de espiritualidade inclusiva, com todo respeito aos que a defendem, reforçam nossa alteridade e o paradigma vigente. E ainda vem reforçar a ideia de que devemos ser incluídos quase como que por um favor. Ela não muda necessariamente padrões de pensamento. O maior exemplo disso é a Ordem Rosa-cruz AMORC que “aceita” pessoas homo-afetiva, mas não lhes dá nenhum ritual de casamento. Isso mostra que aceitar ou tolerar a presença de alguém em alguma instituição é bem diferente de INCLUIR ESSE ALGUÉM NA ENGRENAGEM DO SISTEMA.”

Não reforçamos o paradigma vigente. Pelo contrário, ao buscar o reconhecimento da naturalidade dos LGBT, reforçamos a ideia de que todos participamos do mesmo mundo, da mesma vida e dos mesmos direitos, sejam os materiais, biológicos, sociais ou espirituais. Ninguém depende de “favor” para ser incluído. Não os heterossexuais que nos incluem. Somos nós, os LGBT, que argumentamos já estar incluídos pela natureza por conta do princípio da naturalidade da diversidade de orientações sexuais.

O fato de organizações de cunho esotérico-religioso-espiritual não darem plenitude aos LGBT que são seus membros é apenas prova do não-reconhecimento deste princípio. Cabe a nós demonstrarmos isto através de nossas argumentações e movimentos como o Espiritualidade Inclusiva. A sociedade funciona mais em camadas sobrepostas e em intercessão do que através de engrenagens. Preconceitos se sobrepõem em variados graus nos indivíduos, nas associações e nas organizações em geral, mas nunca na mesma intensidade. Por isso, igrejas protestantes em alguns países celebram casamentos gays enquanto lojas maçônicas e grupos rosa-cruzes não o fazem. É contraditório? Dependendo do ponto de vista, se fizermos juízo de valor de que é mais “elevado”, talvez. Se não analisarmos por este prisma, é apenas constatação do reconhecimento da naturalidade LGBT por uns e permanência na ignorância por outros.

“É importante lembrar que a espiritualidade inclusiva pode tanto significar uma espiritualidade desenvolvida por LGBTs para LGBTs como também uma luta dentro das espiritualidades tradicionais para que sejamos incluídos. Em ambos os casos teremos problemas nela.”

Nós não entendemos o Movimento Espiritualidade Inclusiva como uma espiritualidade desenvolvida por LGBTs para LGBTs. Isso seria outra coisa, que nos EUA se chama de “Espiritualidade Queer”, e sobre a qual já escrevemos por aqui. Nossa proposta é um movimento laico e não religioso apoiado por todos, indistintamente, LGBTs ou não. Não doutrina, não professa dogmas e não é uma crença. É uma proposta. Por isso, creio que os problemas sugeridos não se apliquem neste caso. Não podemos confundir Espiritualidade Inclusiva com Espiritualidade Gay! Uma “espiritualidade gay” pode, sim, ser considerada uma exclusão, não uma inclusão. Isso não nos interessa. Já há muita exclusão para criarmos mais uma. Incluir = reconhecer a naturalidade = seguir adiante em congregação.

“A meu ver, uma espiritualidade só será realmente inclusiva quando mudar certos paradigmas vigentes sem essa coisa de “tolerância”. E para tal, é preciso trazer à tona certas noções teológicas perdidas se realmente quisermos alguma inserção no campo da espiritualidade.”

Então, já estamos neste caminhos, pois propomos, sim, uma mudança de paradigmas, e não temos essa coisa de “tolerância”. A mudança que propomos é sair da exclusão para o reconhecimento da naturalidade da expressão LGBT, o que resolve muitos conflitos.

“Portanto, creio que a ideia de espiritualidade inclusiva não dá conta de uma necessária mudança de paradigmas na humanidade, embora tal iniciativa seja louvável.

Para tal, é preciso mudar os seus fundamentos ontológicos, acabando com essa dicotomia héteros x homos (que precisam ser incluídos ou tolerados). É preciso mostrar a humanidade como um todo para que as pessoas sejam vistas fundamentalmente como pessoas.”

No final das contas, é exatamente isto o que propomos com o termo “inclusão”. Nada a ver com “bondade” ou “tolerância” de héteros para com homossexuais, mas sim, o reconhecimento de que todos somos fundamentalmente iguais em direitos, em expectativas e em anseios de vida, independente da orientação sexual. Quem entende a Espiritualidade Inclusiva de outra forma é que está equivocado!

“Espero sinceramente que as pessoas tomem essas críticas como construtivas e não as encarem como um ataque. O ideal seria construirmos uma perspectiva coletiva.”

Com certeza. O Movimento não é isolado. Senão, não seria um movimento, não é mesmo? Todo o movimento busca uma perspectiva coletiva, seja em escala menor – em um grupo – ou no todo da sociedade. E, nós, buscamos isso no todo. Queremos o todo e não uma parte. Caso contrário, a cidadania plena para LGBTs nunca será conquistada.

“Naturalmente não devemos impor tal mudança de paradigma a ninguém. Antes, devemos sugeri-la de forma amável e inicialmente mudar por nós mesmos. É preciso que nós acreditemos nisso firmemente e que mudemos a visão que temos sobre nós mesmos.”

Plenamente de acordo. E, em nossos artigos plurais, de vários autores (gays e héteros), temos feito esta lição de casa. Os comentários e a ressonância do que postamos aqui no blogue em toda a Internet mostra que estamos no caminho certo.

“Não quero que ninguém faça o favor de me 'incluir', principalmente achando que meu perispírito é distorcido. Quero eu próprio LGBT fornecer minhas respostas ao mundo.”

Assim deve ser. Apenas os LGBT podem dizer ao mundo como se sentem, o que esperam e o que desejam para si. E, no final, o que desejam não é nada além daquilo que qualquer ser humano deseja: felicidade, cidadania plena e direitos iguais.

“É possível falarmos em espiritualidade inclusiva quando assumirmos nós próprios LGBTs o processo de criar discursos sobre nós mesmos. Criar conceitos e noções é TAMBÉM um exercício de PODER e não somente de uma 'neutra' espiritualidade. Quando alguém cria conceitos e noções sobre nós, esse alguém passa a ter poder sobre nós.”

Não é o nosso caso. Nosso material postado vem de vários autores, a maioria da comunidade LGBT, e não pretendemos criar conceitos e noções sobre os LGBT, apesar do coordenador geral do movimento também pertencer a esta comunidade. O que buscamos é apresentar o panorama geral da relação espiritualidade/religiosidade e LGBTs. Ao apresentar este relação, agimos como “repórteres” do processo, e não como “conceituadores”. Em um segundo momento, fomentamos o debate para que a própria comunidade LGBT livremente possa ir criando seus conceitos e noções conforme a necessidade.

Importante deixar claro mais uma vez: o Movimento Espiritualidade Inclusiva é um movimento social laico, sem ligação com qualquer denominação religiosa, sem apologia a alguma religião em detrimento das demais e que busca incitar o debate sobre a inclusão através do reconhecimento da naturalidade das diversas orientações não-heterossexuais. Os autores dos artigos, em sua maioria religiosos, podem sim, falar abertamente de suas crenças espirituais pessoais, mas o movimento em si é laico, neutro quanto a princípios religiosos, reportando-se unicamente ao princípio do Estado Laico e à Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Que este debate salutar produza muitos frutos nesta luta em prol de todos os seres humanos – pois, ao lutar por um grupo, o LGBT, estamos reforçando os direitos de toda a humanidade e preservando sua identidade, diversidade e variedade.