quarta-feira, 14 de novembro de 2012

2012 - o ano em que o mundo acabará. Mesmo!


Por Marcelo Moraes Caetano

Stanley Kubrick ficou famoso por “2001, uma odisseia no espaço”, seu filme antológico com um quê de apocalíptico, tântrico, alucinatório, profético.

O homem sempre teve afeição pela previsão do futuro. Todas as religiões, sem nenhuma exceção (das que eu conheço no mundo, naturalmente), possuem profetas, vates, leitores do futuro.

Os maias e os egípcios, segundo está na mais alta voga comentar agora, previram o fim do planeta Terra no ano 2012, com uma precisão – ao que consta – assustadoramente milimétrica, chegando a dizer, segundo os mais vorazes defensores do vaticínio maia-egípcio, além do ano 2012, também o mês, o dia, a hora e os segundos em que o armagedon teria lugar.

Profetas e profecias à parte, farei algo mais simples: ao invés de olhar para a frente e tentar dizer o futuro, olharei para trás, e profetizarei, no passado, o fim do mundo.

O mundo que todas as pessoas com pelo menos dez anos de idade viram já acabou, e veio acabando não num grande e abrupto apocalipse de dimensões dantescas, mas em sub-reptícias e homeopáticas hecatombes nossas de cada dia.

2001 – ei-lo de novo – foi o “marco zero” do povo americano, por exemplo. O atentado às torres gêmeas, no entanto, não foi, como alguns propalam, o início do fim, mas, inversamente, foi a comprovação da fragilidade do neo-império romano que vinha ruindo há décadas. A onipotência estadunidense, assim como outrora fora a do Senatus Populus Que Romanus, o SPQR, nome oficial do império de Júlio César, Calígula, Nero, Constantino et alii, tal onipotência, nos dois casos, “como tudo o que começa, um dia chega ao fim”, no famoso aforismo de Tales, da Escola de Mileto.

Esse é o conceito de “entropia”, segundo o qual, repito, “tudo aquilo que nasce deve morrer”. Não é diferente com as nações e os impérios. Sou professor de filosofia grega, filologia e gramática. Muitos alunos, nas universidades, me perguntam por que a grande Grécia Ático-Jônica, ou Grécia Clássica, acabou. Eu respondo sempre: por uma razão muito simples. Assim como ela nasceu, do mesmo modo teve de morrer. A entropia não é privilégio ou exclusividade dos corpos biológicos; ela também está presente nas corporações (a literatura de Administração me confirma), nas instituições, nos países, nos planetas, no próprio universo, se ele realmente teve um início, algo de que os astrofísicos ainda não têm muita certeza.

A crise do “2001”, o “11 de setembro”, não foi o início do fim, digo mais uma vez. E faço isso porque, se retrocedermos – não muito, não é preciso – veremos que a derrocada da economia estadunidense se deu quando um certo continente (Europa) resolveu unificar sua moeda (para atual desespero dos mais fracos, e até dos mais fortes, que se viram esmagados pelo desequilíbrio monetário); unificada a moeda, algo que nem assustou tanto a superpotência norte-americana, um certo Sadam Hussein resolveu vender petróleo para a Europa – até aí, nenhuma novidade -, mas – eis o início da vertiginosa queda americana – esse tal senhor Hussein vendeu o “precioso líquido”, o “ouro negro”, o “sangue do planeta” (e todos esses epítetos hilariantes do petróleo), enfim, Sadam decidiu-se a vender o petróleo para os europeus EM EURO!

Paralisia em Wall Street. Dois muros caíram. O muro de Berlim e o muro da “wall” (“parede” ou “muro”, em inglês) street... Comunismo e capitalismo, dois sistemas baseados em totalitarismos (um, do dinheiro; o outro, do Estado) caíram, “coincidentemente”, juntos em uníssono, entoando a mesma cantilena fúnebre.

A venda do petróleo em euro tornou a moeda norte-americana vulnerável porque comprovou o que o Fort Knox só nos fazia suspeitar: o dólar não tinha lastro. Era papel inócuo. Folhas ao vento.

Não foi por outra razão que Bush não pôde descansar, certamente pressionado pelos especuladores da economia da época, enquanto não teve, literalmente, a cabeça de Hussein, fingindo que estava procurando armas químicas, nucleares, de quasares, magnetares, pulsares, supernovas e outras tantas de mera ficção científica que, até hoje, não foram encontradas. Simplesmente porque não existiam. Procurá-las foi um pretexto para caçar a cabeça do homem que arrancou a maquiagem do dólar a marretadas.

Quero dizer algo muito simples, para cujo preâmbulo me vali da nação estadunidense: o mundo já acabou. O mundo como o conhecíamos em 2000 acabou completamente. É outro totalmente distinto.

Ainda nas plagas dos E.U.A., ora cantando as merecidas loas de um povo, afinal, com História de democracia e conquistas importantes, a chefia da Casa Branca ser exercida por um homem negro descendente de médio-orientais é uma façanha que nenhum Kubrick ousaria colocar em seus roteiros mirabolantes.

Além disso, vários líderes de grandes potências, como o Brasil e a Alemanha, são mulheres. Precisamos reconhecer que Tatcher foi uma precursora nesse quesito.

“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão” – gritou Antônio Conselheiro na pena magistral do nosso Euclides da Cunha, em 1902, no seu épico “Os sertões”. Pois essa reviravolta já ocorreu.

Além dos negros e das mulheres, por tantos e tantos séculos ultrajados, outros grupos ganharam voz e vez. O povo do Oriente Médio repudiou seus ditadores e os tirou de cena. Os homossexuais no mundo inteiro vêm, pouco a pouco, rasgando livros fundamentalistas X, Y ou Z e fazendo valer seus direitos de cidadãos que se consubstanciam nos seus deveres de cidadãos. Voltamos, pois, à era napoleônica, à era da lei civil laica. Ela está gritando cada vez mais alto, e cada vez angariando mais pessoas de bom senso que não aceitam que um cidadão tenha sua vida íntima remexida como se o Estado, a igreja ou o que quer que seja possuísse o condão, a vara de Armida de cobrar impostos iguais, mas dar direitos diferentes.

Victor Hugo e Castro Alves sentiriam náuseas.

Napoleão falou, quando estava em Santa Helena: “De todos os meus feitos, o que mais será útil à humanidade será o meu código civil”. Por isso o código civil recebe o codinome de “código Napoleão”. O corso estava certo: é preciso dar aos cidadãos a força da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e não tratar pessoas de modo diferente pelo que elas fazem entre quatro paredes.

Sempre que se toca nesse assunto surge a antiga litania: "Mas e a liberdade de expressão?" Queridíssimos, Adolph Hitler teve liberdade de expressão, em nome do Estado, e evocando as forças do Asgard, para trucidar judeus, homossexuais, testemunhas de Jeová, ciganos e deficientes. Essa liberdade de expressão é legítima? Estava escrita na lei (as leis de Nuremberg), portanto era respaldada por um "direito" positivo ao gosto de Kelsen. Mas pergunto de novo: foi uma liberdade de expressão legítima? Queremos ou devemos repetir um erro tão grosseiro incorrendo na mesma exata estupidez de forjar uma pretensa liberdade de expressão que não passa de eufemismo para autoritarismo, insanidade, loucura e demência?

Bem, bem, bem, mas, para desespero das ortodoxias fundamentalistas e dementes supracitadas, o mundo já está enxergando isto: "gente é para brilhar", como canta o belo baiano Caetano Veloso. Os que são contra negros, mulheres ou homossexuais, por exemplo, são vistos, pela maioria da população global, como tiranossauros rex, como seres jurássicos, como subprodutos de uma comédia mal-ajambrada e de um simulacro de um dogma esmaecido pela ferrugem da estupidez.

Hoje, a maioria de nós não é mais manipulada pela mídia, impressa ou televisiva ou radiofônica. Temos acesso às informações VERDADEIRAS pelas redes sociais, pelos Wikileaks, sediada na forte Suécia – viva a Suécia do meu queridíssimo Carl Philip Edmund Bertil Bernadotte! Hoje, sabemos o que queremos saber. Se quisermos saber as verdades, sabê-las-emos. Hoje, não ficamos mais como navios a bel-prazer dos ventos que a mídia de outrora quisesse soprar. Hoje, fazemos nossos próprios Zéfiros, e sopramos para onde queremos. A mídia, inversamente do que acontecia há cerca de 10 anos, hoje se curva a nós, que de “espectadores” não temos muito a não ser o velho “título”. Somos agentes. Viemos, vimos, vencemos. Derrubamos a mídia com um belo “V”, de vingança, naturalmente...

Essas mudanças de que falei não são perfunctórias, superficiais. Pelo contrário: são profundas, se enraízam no cerne da questão de que o mundo que conhecíamos há 10 anos, o “marco zero”, o “2001” de Kubrick e de Bin Laden, aquele mundo acabou. O mundo acabou e muita gente não percebeu.

Os maias e os egípcios teriam dito que o mundo acabaria em 2012. Eles foram incrivelmente precisos, erraram por poucos anos. Talvez nem tenham errado. Com a mudança do calendário juliano para o gregoriano, muitas datas foram alteradas. Ademais, o ano lunar possui 13 meses, e não 12, e os maias se baseavam no ano lunar, então, seus cálculos são diferentes. Os egípcios usavam o calendário solar, de 12 meses exatos, de 30 dias exatamente cada um. Os hebreus, que nos legaram nosso atual calendário, usavam uma mescla dos dois calendários, o chamado calendário lunissolar, de 12 meses com 28, 30 ou 31 dias, e, a cada 4 anos, havendo a necessidade do ajuste de um mês com 29 dias (aliás, o povo hebreu também tem uma profecia na Torá: “A mil chegarás, de dois mil não passarás”).

Enfim, não passamos de 2000. O “2001”, tão emblemático, foi o fim do mundo, mas um fim lento...

Como gostamos de dar datas específicas aos acontecimentos, do mesmo modo que gostamos tanto de profetizar o futuro (e o passado...), que o dia 31 de dezembro de 2012 seja considerado como histórico. Que seja “2012: o ano em que o mundo acabou”. O mundo azinhavrado acabou. Jaz inerte e e incônscio.

O mundo novo que nós próprios fomos construindo (e tenho muito orgulho, modéstia à parte, da minha geração, que não teve vergonha de pintar a cara e derrubar onipotentes presidentes, igualar direitos), esse mundo que nós fizemos é um mundo novo. Não um “admirável mundo novo”, nem um “big brother” de “1984” de George Orwell. Embora seja um pouco disso também.

Mas entre perdas e ganhos, houve mais ganhos. Um mundo em que a mente e o raciocínio claro e justo estão finalmente vencendo o obscurantismo de livros velhos e mofados. Um mundo em que as pessoas estão vendo que o dinheiro é relativo e não compra as hipotecas estadunidenses especulativas e falaciosas, assim como não compra o que há de fundamental na vida: amizade, amor, fraternidade e ternura.

Um mundo em que as pessoas não têm vergonha de dizer “eu te amo”. Eu, pelo menos, escuto e falo essa frase diariamente, com pessoas diferentes envolvidas no meu diálogo. E creio que eu não seja o único. E creio, ainda, que quem não escuta e não fala não sabe o que está perdendo.

O mundo acabou. Viva o fim daquele mundo arranhado por milênios de descomunicação! Graças a nós! Viva o ser humano e todas as espécies benéficas que convivem conosco nesta nave-mãe que nos adotou e que singra o universo conosco numa linda odisseia no espaço!

Vivam os seres humanos que com brio e destemor fazem acabar o mundo das angústias e ausências de diálogos para fazer nascer a flor: do impossível chão.