Blogue do Movimento Espiritualidade Inclusiva. Artigos sobre visão inclusiva nas diversas formas de espiritualidade; denúncias de preconceito religioso e fundamentalista contra LGBTs; dicas de blogues, sites, filmes e documentários; tradução de artigos; divulgação de eventos LGBT e os inclusivos; notícias do mundo LGBT; decisões legislativas e debates políticos relativos aos direitos LGBT; temas culturais relevantes. Contato: espiritualidadeinclusiva@gmail.com
Mostrando postagens com marcador direitos humanos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador direitos humanos. Mostrar todas as postagens
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Carta Aberta da RENACI-LGBT ao Povo Brasileiro contra Marco Feliciano
Por RENACI-LGBT (A RENACI/LGBT – Rede Nacional pela Cidadania LGBT, um coletivo nacional de militantes LGBT independentes, divulga Carta Aberta à população Brasileira rechaçando mais uma vez o Deputado Pastor Marco Feliciano - PSC/SP. Postado originalmente em http://atos420.blogspot.com.br/2013/04/carta-aberta-ao-povo-brasileiro.html)
Carta Aberta ao Povo Brasileiro
O Brasil vive um momento especialmente doloroso.
Assistimos boquiabertos e em espírito de luta a um ataque sem tréguas e sistemático aos Direitos Humanos em nosso país. Direitos Humanos dizem respeito a todos nós, nossos familiares, nossos pais, nossos filhos, vizinhos, amigos, transeuntes na rua, desconhecidos; ao rapaz engraçado da padaria, à moça educada da farmácia, ao simpático cobrador de ônibus, ao padre de nossa paróquia, ao pastor de nossa igreja evangélica ali na rua de trás, à mãe de santo que benze nossos afilhados quando estão de bucho virado, ao senhor que mal fala o português, ao que fala muito bem a nossa língua e por qualquer pessoa que possa passar por nossa cabeça.
2013, Brasil: O Pastor Marco Feliciano (PSC – SP) assume a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e utilizando-se da fácil penetração que obtém entre as massas começa a produzir um crescente levante contra as liberdades religiosas e individuais no Brasil. Se na Nigéria e em diversos outros países onde existem uma minoria cristã a intolerância religiosa já dizimou milhares de vidas, por aqui a coisa poderá ficar igual ou pior do que nos países sem predominância cristã.
Não, não estamos exagerando. A morte de Pais de Santo e fechamento de Terreiros de Umbanda e Candomblé é incentivada por Marco Feliciano. Em vídeos amplamente divulgados na Internet, ele diz: "Profetizo o sepultamento dos pais de santo. Profetizo o fechamento dos terreiros de macumba." Não contente, ele ataca também a Igreja Católica : "Eu conheço o Deus de Paulo (São Paulo). Não é o Deus dessa religião morta e fajuta em que você está. Se há algum católico entre nós aqui, o que eu duvido muito, mas, se tiver, deixa eu explicar uma coisa. Primeiro: você não pode sentir aquilo que nós sentimos sem experimentar o Deus que nós sentimos. 'Não, pastor, não, pastor, mas eu sou carismático. Eu até aprendi a falar em línguas, colocaram uma fita no rádio e eu decorei.' Esse avivamento é o avivamento de Satanás”.
Marco Feliciano vai mais longe, ele ataca mulheres, negros, homossexuais, católicos, políticos que verdadeiramente lutam pelos Direitos Humanos e qualquer pessoa que não partilhe de sua crença evangélica. Ataca artistas como John Lennon, Mamonas Assassinas e Caetano Veloso.
Desta forma, Marco Feliciano põe em xeque todas as grandes conquistas sociais dos últimos 60 anos. Com um pensamento opressor ele estimula o machismo, o racismo, a homofobia e a misoginia (ódio à mulher) e divide o Brasil em dois grupos: De um lado, armados com versículos bíblicos fora do contexto histórico em que foram apresentados, ficam os que acatam calados seus desmandos contra o segundo grupo que é composto por minorias que já são fragilizadas por inúmeras injustiças históricas ocorridas de forma criminosa e que lentamente tem conseguido seus direitos de forma dolorosa e suada, conquistas alcançadas através de muito suor, sangue e lágrimas.
Além disto, no âmbito político, Feliciano tem abusado de mentiras na tentativa de jogar seus fiéis contra o movimento que deseja vê-lo fora da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Sua assessoria tem lançados vídeos e frases fraudulentas a Deputados que são contrários às suas bizarrices. Uma das vítimas é o Deputado Federal Jean Wyllys, que tem sido caluniado com frequência, e a ele são atribuídas frases que apoiariam a pedofilia e o ódio ao cristianismo. Em uma delas, Feliciano diz que Jean Wyllys defendeu a pedofilia na Radio CBN o que foi prontamente desmentido pelo Grupo em sua página oficial na Rede Social Facebook. Ele também agride fisicamente, através de seguranças e da Polícia Legislativa, manifestantes que se colocam contra ele nas reuniões da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
E por tudo o exposto, através desta, viemos em tom de denúncia e suplica ao Povo Brasileiro que entre nesta luta conosco contra Marco Feliciano e a Ditadura Fundamentalista que ele deseja implantar no Brasil.
Na tentativa de criminalizar o movimento, Feliciano usa de artifícios fajutos para jogar a população evangélica e cristã contra nós inresignados brasileiros. Não somos contra qualquer religião, nosso movimento é pluralista, agrega todas as religiões e crenças, bem como todas as identidades de gênero e orientações sexuais. Existem diversos praticantes do cristianismo entre nós!
Outras ações de cunho Fundamentalista estão sendo tomadas no sentido de calar e tolher os Direitos Humanos de quem não compartilha das ideias desse setor evangélico sectário. A Bancada Fundamentalista da Câmara dos Deputados propôs proposta de emenda constitucional, que está em tramitação na casa, permitindo que Igrejas contestem a constitucionalidade de Projetos de Lei aprovados no Congresso Nacional junto ao Superior Tribunal Federal; há outra proposta de emenda à Constituição que subordinará as decisões do STF sobre constitucionalidade de leis a um aval do Congresso, assim, caso uma Lei que vá contra os desejos fundamentalistas sejam vistas como constitucionais pelo STF e que a Bancada Fundamentalista não deseje que ela seja válida, poderá retornar ao Congresso e ser derrubada. Isto torna-se um perigo real se lembrarmos que a Bancada Fundamentalista barra todo e qualquer projeto de lei ou ato normativo que protejam os mais básicos direitos das pessoas LGBTs, tais como a criminalização da homofobia e transfobia, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, parceiro como dependente do INSS, direitos sexuais e reprodutivos da mulher, direito de religiões minoritárias, prevenção às DST/AIDS, educação contra a homofobia e transfobia junto a jovens e crianças, entre outros projetos de relevantes para a igualdade entre todos os brasileiros e brasileiras, independentemente de sexo, gênero, orientação sexual, identidade de gênero, raça, condição social, religião, origem. Além de perniciosos no que diz sobre Direitos Humanos, estes projetos atacam diretamente a independência assegurada ao Judiciário por meio da histórica e clássica regra da separação três poderes no Brasil.
Não desejamos que seja tolhido nosso direito de escutar a música que desejarmos, de torcer pelo time que amamos. Queremos continuar a tomar nossa cerveja nos fins de semana, depois de muitos dias de trabalho. Desejamos poder ir ao culto religioso que acalente nossos corações sem medo. Queremos amar as pessoas e casar com quem desejarmos sem o medo de sermos mortos ali na esquina. Quero poder cumprimentar a benzedeira que cuida de nossas mazelas, quero saber que ainda teremos cultura indígena no Brasil. Não desejamos que se ofendam por sua cor, raça, sexo, religião, orientação sexual, gosto musical, identidade de gênero ou qualquer outro quesito. Somos todos iguais perante a Lei e não pode haver divisão de classes entre melhores e piores. Marco Feliciano não deseja isto, ele deseja uma Ditadura Religiosa e Fundamentalista no Brasil.
Não somos o movimento LGBT, como ele quer fazer crer. Aliás, também somos o movimento LGBT, mas, somos também homens, somos mulheres, somos negros, somos brancos, somos católicos, somos evangélicos, somos budistas, somos harekrishnas, somos umbandistas, somos candomblecistas, somos ciganos, somos trabalhadores, somos estudantes, somos heterossexuais, somos homossexuais, somos bissexuais, somos transexuais, somos travestis, somos assexuados, somos férteis, somos inférteis, somos corintianos, somos palmeirenses, somos vascaínos, somos flamenguistas, somos atleticanos, somos crianças, somos adolescentes, somos idosos, somos desempregados, somos gordos, somos magros, somos soropositivos, somos deficientes, somos brasileiros, somos estrangeiros, somos você! Somos iguais a você!
Somos um Brasil contra o Fundamentalismo de qualquer religião. E não desejamos ver nenhum massacre como os que estão acontecendo em países não-cristãos! Não queremos esta reprodução.
O Brasil é o país do futuro e por isto é o país do amor e da tolerância! Junte-se a nós!
RENACI–LGBT Rede Nacional Pela Cidadania LGBT
Marcadores:
cidadania,
cidadania LGBT,
comissão de direitos humanos,
direitos gays,
direitos humanos,
direitos LGBT,
Marco Feliciano,
RENACI-LGBT,
repúdio
quinta-feira, 7 de março de 2013
Protesto contra a permanência de Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos
Por Espiritualidade Inclusiva e demais organizadores do protesto
Quando: Sábado, 09 de
março
Horário: 14h
Onde: Parque da
Redenção (junto aos arcos do parque), Porto Alegre - RS
Protesto pacífico em
prol dos Direitos Humanos no Brasil e contra a permanência do
Deputado Pastor Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da
Câmara dos Deputados.
Vamos ir de preto,
pintem a cara se quiserem, usem vendas, tragam cartazes (por favor,
sem ofensas e palavras de baixo calão, sejam inteligentes), apitos,
panelas...usem a criatividade!
Nos encontraremos às
14h nos Arcos da Redenção, sairemos dali as 14h30 e caminharemos
pela avenida principal da Redenção, ida e volta.
Lembrando que este é
um protesto pacífico, que visa demonstrar nossa insatisfação, sem
agressões, ofensas e estas coisas, pessoal.
Com sua postura
fundamentalista, o Deputado Marco Feliciano tem atacado a vários
setores da sociedade brasileira que sofrem com a discriminação
diária: negros, mulheres, LGBT, religiões não-cristãs, etc.
Então, é um dever moral de todos os prejudicados com a presença
deste fanático na presidência da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara, repudiarem através de um protesto pacífico, mas veemente,
a sua manutenção neste cargo tão importante para aqueles que lutam
pela igualdade de direitos. Não se omita! Junte-se a nós!
Pessoas e organizações
que estão encabeçando e apoiando o protesto:
Jéferson Mathes;
Movimento
Espiritualidade Inclusiva (através de seu Coordenador Geral, Paulo
Stekel);
Ordem Walonom;
Grupo SOMOS;
Grupo SOMOS;
(Vá se somando a nós!)
sexta-feira, 1 de março de 2013
Imediata destituição do Pr. Marco Feliciano da Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal
Por Espiritualidade Inclusiva
Assine já!!!!
ASSINE A PETIÇÃO:
Assine já!!!!
[Comentário racista do Dep. Pastor Marco Feliciano feito no microblog Twitter tempos atrás]
ASSINE A PETIÇÃO:
Pedimos aos Senhores Deputados Federais que destituam da presidência da Comissão de Direitos Humanos, o Pr. Marco Feliciano (Partido Social Cristão; leia-se Assembléia de Deus), conhecido por comentários racistas e homofóbicos, além de não respeitar as religiões de matriz africana. É inaceitável que a comissão fique nas mãos de alguém que irá lutar contra qualquer avanço em direção ao reconhecimento dos direitos humanos no Brasil, uma matéria ainda tão frágil em nosso país. Para se ter um paralelo, imaginemos que países autoritários comandassem o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. Ao designar o Pr. Marco Feliciano para essa posição, os demais parlamentares realizam um ato que contraria a lógica ou o bom senso.
Assinar agora:
Por que isto é importante:
Em razão da comissão ficar com sua finalidade real engessada.
Informe-se mais:
Para saber mais sobre o pensamento homofóbico de Marco Feliciano, acesse em nosso blogue os artigos de Paulo Stekel rebatendo-o em duas ocasiões:
Marcadores:
2013,
avaaz,
deputados homofóbicos,
direitos humanos,
direitos LGBT,
homofobia,
homofobia religiosa,
LGBT,
Marco Feliciano,
paulo stekel,
petição,
racismo
domingo, 24 de fevereiro de 2013
A renúncia do Papa Bento XVI e os Direitos Humanos: onde estamos e para onde iremos?
Por Luciano Freitas Filho (publicado originalmente em http://www.psb40.org.br/art_det.asp?det=315)
A notícia da renúncia do Papa Bento XVI, a ser oficializada no próximo dia 28 de fevereiro, é de causar estranheza e nos pega de surpresa em plena folia com o Rei Momo, com os Pierrots e as Colombinas. Essa “saída de cena” intriga e provoca reflexões não somente nos católicos, mas também em todas as pessoas ao redor. Sejam quais forem os reais motivos que levaram o líder máximo da Igreja Católica a abdicar do Pontificado, essa renúncia implica em novas possibilidades para as sociedades que, embora laicas, se movem em torno dos preceitos e costumes do Catolicismo.
Justiça seja feita, por mais que tenha certa antipatia e discorde quase que plenamente dos valores difundidos nos discursos e práticas do atual Papa, tiro meu chapéu e aplaudo sua atitude em deixar a vaidade de lado e abdicar do poder. Abrir mão de poder é algo que é fácil no discurso, mas difícil na prática para qualquer que seja a pessoa e sua classe social. Reconhecer a hora de sair e abrir mão do poder tem um gosto amargo de fel .
Por outro lado, mesmo o aplaudindo, considero essa saída um alívio para a Diversidade e os Direitos Humanos, tendo em vista que Bento XVI é uma liderança polêmica, pouco simpática à emancipação da mulher, ao ser e estar dos LGBT, do atuar firmemente na defesa da recuperação dos países africanos ou no combate à exploração dos trabalhadores. Eis um líder que se afasta bastante de uma evangelização progressista que prima pela liberdade das pessoas de serem e estarem enquanto diferentes, do olhar para as pessoas para além do julgar, mas primordialmente colaborar com elas na perspectiva de seu bem-estar e uma vida no e para o amor. Não há como evitar estabelecer um paralelo entre o referido líder e demais líderes Católicos, a ver como exemplo o Papa João Paulo II, Dom Helder Câmara, entre outros. O Bento XVI de longe é um evangelizador carismático como os supracitados, líderes que entoaram o coro de um Catolicismo da libertação.
A notícia em questão nos traz certa esperança de que aquele que está por vir, o sucessor deste, traga aos Cristãos discursos que provoquem reais mudanças sociais. Para além de cultos e discursos “iluminados”, é preciso que o Vaticano mova seus fieis em prol das práticas que agreguem, que consigam ir além do julgar o certo e o errado, o moral e o imoral, porém que apontem uma ética que guie para a felicidade e o amor ao próximo, como é recorrente nas práticas de muitos setores da própria Igreja Católica, de muitos líderes e fieis cristãos. De nada adianta o Conclave quebrar padrões ao eleger uma Papa negro, latino ou oriental, se as práticas e os discursos do próximo eleito persistirem conservadoras, opressoras ou estimulando preconceitos. Desse modo, mudaremos o corpo, mas o espírito de longe será santo.
O que se espera dos Cardeais é o enxergar dos novos caminhos e desafios apresentados pelo Século XXI para a evangelização , um pregar que motive e desperte nas pessoas razões para crer na Palavra com uma fé inabalável, uma fé que se materialize na prática e cotidiano dessas pessoas. É preciso eleger um Papa que seja o porta-voz de propostas e caminhos igualmente para aqueles Ateus ou não Católicos, para que esses passem a não somente respeitar a Igreja Católica, mas também a concordar e simpatizar com ela, colaborar, mesmo que de fora, cooperar com um discurso que garanta a liberdade, a igualdade e uma real fraternidade.
Sobre o autor
Luciano Freitas Filho é Secretário Nacional LGBT do PSB.
Marcadores:
ativismo LGBT,
catolicismo,
cristianismo,
direitos humanos,
diversidade,
LGBT,
Luciano Freitas Filho,
opinião,
Papa Bento XVI,
renúncia do Papa
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Os gays de Ahmadinejad
Por Paulo Stekel
“Não há gays no
Irã!” Esta teria sido a frase dita pelo presidente do Irã,
Mahmoud Ahmadinejad, em setembro de 2007, nos EUA, e que desde
então tem causado tanto protesto por parte do Movimento LGBT e pelos
defensores dos Direitos Humanos. Mas, o que exatamente ele disse na
ocasião? Ele disse (ver fonte):
“No Irã, nós não temos homossexuais COMO em seu país. No Irã,
nós não temos este fenômeno; eu nem sei quem lhes disse que o
temos.”
Leiamos as palavras
originais (ver fonte):
“In Iran we don't have homosexuals like in
your country. In Iran we do not have this phenomenon, I don't know
who has told you that we have it.”
Fica claro que
Ahmadinejad quis dizer que no Irã não há homossexuais “da
mesma maneira” (like) que no Ocidente. Ele se referia a toda
a visibilidade LGBT ocidental, ao orgulho e à dignidade da pessoa
gay, do “ser gay”, algo que, definitivamente, o Irã não possui.
Em certa medida, ele disse a verdade: não há gays visíveis,
pleiteando direitos e se reunindo em grupos porque são todos
assassinados por seu regime totalitário! Assim, os gays lá
existentes – e, existem, sim! - estão todos acuados, trancafiados
no armário, com medo da morte. Estes são os gays de Ahmadinejad:
uma comunidade inteira sem reconhecimento, sem existência, sem
cidadania, sem direitos, sem expressão, sem felicidade, mesmo sendo
cerca de 10% da sociedade iraniana – neste país de 75 milhões de
habitantes, os LGBT são cerca de 7,5 milhões.
Ahmadinejad é
conhecido por sua negação do Holocausto judeu, mas promove um
verdadeiro holocausto gay – um “homocausto”, nas
palavras de Luiz Mott – em seu país. E, bem aos olhos da
ONU e das organizações internacionais de defesa dos Direitos
Humanos. A coisa é muito mais séria do que se imagina! Fora isso,
ele ainda afirma mentirosamente que há direitos humanos no Irã, que
seu povo é muito feliz e livre para expressar o que pensa. Balela! O
mesmo discurso de outra ditadura, a Chinesa, para ludibriar os
organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos.
Mas, ninguém mais se
engana! Salvo alguns poucos marxistas-leninistas dinossauros de uma
época utópica que ainda defendem regimes como o da China, Cuba e
Irã (todos profundamente homofóbicos), a maior parte da humanidade
esclarecida percebe a manipulação e a mentira destes regimes. O que
há nestes países é ditadura com todas as letras, e os LGBT ali não
têm voz nem vez! Não se trata de uma crítica ao Comunismo ou ao
Islamismo, mas o reconhecimento de que nestes países nem sequer o
regime é comunista ou republicanismo islamita. São governos
corruptos e assassinos. O Capitalismo não é melhor, pois a
corrupção também é evidente em muitas democracias capitalistas.
Não estamos tratando de preferência política, mas de defesa da
vida, de defesa da dignidade humana e de direitos LGBT.
Aliás, há poucos
dias, em Nova Iorque, durante uma entrevista para a CNN, Ahmadinejad
voltou a ser polêmico ao dizer que apoiar gays é coisa de
capitalistas de linha dura, que não se importam com os autênticos
valores humanos (ver fonte).
“Autênticos valores humanos”? Por acaso, nós, gays, não somos
seres humanos? Não temos valores? E, valores autênticos? Quanto
discurso nazistoide embasado numa visão religiosa medieval e cruel
contra as minorias, mulheres e os de fora da fé (os “infieis”)!
E, associar apoio à causa LGBT ao Capitalismo é de uma boçalidade
sem tamanho. É fazer dos gays um joguete para atingir o regime
capitalista ocidental sem se importar com a dignidade das pessoas. É
isso que ensina o Islamismo? Tenho certeza de que a imensa maioria da
comunidade islâmica brasileira discorda! Tenho todo o respeito pelas
religiões em geral, e pelo Islamismo em particular, mas não posso
concordar de forma alguma com a redução da dignidade e do valor da
vida humana por conta das diversas orientações sexuais possíveis,
algo natural, não anormal, já que 10 a 20% da humanidade manifesta
desde a terna idade comportamentos não-heteronormativos. Se a quase
totalidade dos livros sagrados não percebeu essa naturalidade,
devemos aceitar passivamente ou devemos contra-argumentar, buscando a
correção do erro, lutando pelo que temos defendido através do
Movimento Espiritualidade Inclusiva – a Inclusão?
Ahmadinejad
chamou a homossexualidade de comportamento “muito desagradável”
e proibido por “todos os profetas de todas as religiões e todas
as fés”. Sim, ser gay sempre é muito desagradável para
pessoas que guardam preconceitos hediondos. Mas, ele está errado!
Nem todas as religiões proibiram as relações homossexuais. As
religiões de matriz africana tratam a questão com bastante
naturalidade; as diversas escolas budistas, ainda que apresentem
situações pontuais de preconceito, não possuem proibições à
sexualidade LGBT; as práticas neo-pagãs são mais abertas ao
assunto. E, mesmo que todas as religiões proibissem a
homossexualidade, não significaria que estivessem corretas. Apenas
evidenciaria que a ignorância é geral no meio religioso.
No final, a grande
batalha a ser vencida é a conquista do reconhecimento da
naturalidade das diversas orientações sexuais possíveis para um
ser humano, de modo que isso interfira definitivamente na
obtenção da cidadania plena, do direito igualitário e da inclusão
no meio religioso-espiritual.
Na mesma entrevista à
CNN, Ahmadinejad ridicularizou os políticos que apoiam os
LGBT “apenas para ganhar quatro ou cinco votos a mais”.
Também os ridicularizamos, mas com outras intenções, pois sabemos
que muitos políticos no mundo ocidental – e, no Brasil, há
centenas deles – passam anos atacando gays ou se eximindo de
apoiá-los, mas em períodos eleitorais surgem do nada como baluartes
dos direitos LGBT e da diversidade. Isso, realmente, é deplorável.
Devemos aprender a identificá-los, denunciá-los, não votar neles e
defenestrá-los de uma vez por todas da política através da mais
poderosa arma que temos: o voto!
Para Ahmadinejad,
as pessoas “viram homossexuais” e não nascem assim. Não
é o que a experiência tem demonstrado. Ora, 100% dos gays e
lésbicas nascem de um homem e de uma mulher. A maioria esmagadora
destes pais é heterossexual e educa seus filhos com suas referências
heterossexuais. Nenhum pai heterossexual educa seu filho para ser
homossexual. Então, como 10% da humanidade é homossexual? Todos nós
já vimos crianças de tenríssima idade apresentando sinais de uma
sexualidade diversa da heterossexual, com uma orientação diferente
da maioria dos seus iguais de gênero. E, isso não é incentivado
pelos pais heterossexuais. Pelo contrário, frequentemente isso é
motivo de agressividade parental para com o filho LGBT.
O que acontece no mundo
islâmico, em maior ou menor grau, é um patrulhamento moral intenso
das mulheres, das crianças e das pessoas que pareçam não
encaixar-se no modelo “santo” pregado pelas escrituras. Isso, em
muitos casos, acaba oprimindo as mulheres, inferiorizando-as e
causando enorme depressão e infelicidade, por causa do medo
constante da falsa acusação de adultério que possa redundar em
apedrejamento. As crianças são tratadas como continuadoras de um
sistema predeterminado de opressão (masculina) e submissão
(feminina). Quem discorda, só tem duas opções: ou foge, ou aguenta
as consequências da lei, que consegue forçar a barra mesmo em
locais onde a sharia (a lei islâmica) não é oficial.
O que sobra para gays,
lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais? A morte certa! A
única exceção no Irã é o caso dos transexuais, aos quais se
permite uma vida um pouco menos humilhante, uma vez que as cirurgias
de adequação de gênero são permitidas naquele país. O motivo
disto é muito simples: o machismo fundamentalista iraniano prefere
ver um homem “convertendo-se” oficialmente em mulher, passando a
obedecer às regras para mulheres (podendo, inclusive, casar-se
normalmente com um homem), do que vê-lo continuar um homem
fisicamente, e ver este manter relações com outro homem.
Ahmadinejad
defendeu hipocritamente em sua entrevista a resolução dos males da
humanidade e a promoção da liberdade e dignidade humanas. Mas,
declarou que tal liberdade não pode ser aplicada aos homossexuais
porque “a homossexualidade cessa a procriação”. Ora
essa, quem disse que os LGBT são estéreis???? Mais uma vez o
fundamentalismo generalizante tentando amedrontar a humanidade com o
“mal gay”.
Ahmadinejad tem
tanto medo dos gays de seu país que os nega até a morte... ou
antes, os nega PELA pena de morte... E, os clérigos muçulmanos
iranianos são os maiores responsáveis por esta chacina chamada de
“ordenamento divino”, que tem a capacidade de condenar ao
enforcamento meninos de 12 anos acusados de homossexualidade, e cuja
única prova é o fato de terem sido encontrados vestindo calções
curtos... A bestialidade humana que mata nossas crianças em nome de
um Deus – que se existe, deve estar muito irado – aumenta a cada
dia neste mundo caótico e tão carente de amor, compreensão,
compaixão e aceitação do outro.
Vamos aproveitar para
refletir o quanto nós, aqui no Brasil, também estamos sendo cruéis
com pessoas por conta de sua orientação sexual, de seu gênero e de
sua identidade sexual. O verdadeiro valor da vida humana está sendo
esquecido em nome de supostos princípios religiosos arcaicos e
medievais, por pessoas de alma embrutecida que se auto-intitulam
arautos de Deus, mas que nada mais são que os mensageiros do Mal na
Terra...
sábado, 25 de fevereiro de 2012
[Notícia] "A Homofobia me machuca” ou mais uma história real de homofobia familiar fundamentalista no Brasil
Por Paulo Stekel
“Campos, seu caso é de polícia. Se a polícia não lhe protege, é caso do Ministério Público. Enquanto este volta do Carnaval, talvez devesse ausentar-se de casa, ir para algum amigo (considerando que é maior de idade) e ir até as últimas instâncias para ter sua dignidade e direitos básicos preservados. Será que não há por aqui algum advogado da região disposto a pegar seu caso agora mesmo???? Sem contar, Gustavo Campos, que o que seu irmão pastor faz é tortura, um crime inafiançável e hediondo! Tortura em nome de Deus! Que bizarro e cruel!” [este foi o comentário que fizemos na ocasião]
“Como eu prometi, estou aqui no carro com o povo da CELLOS Contagem que estão me apoiando como vocês não imaginam. Estou correndo atrás não só dos meus direitos como dos de todos nós, pois como eu disse, vocês foram fortes por mim e agora eu serei forte, por que vocês me deram forças, mas eu não serei forte só por mim, por que quando eu sair desta, também ajudarei, não deixarei que vocês cheguem ao ponto de tentar fazer merda com vocês mesmos, por que vocês são perfeitos, estamos nessas juntos e não vamos desistir ok? Eu estou super bem, e vamos vencer, por que por mais repercussão que isso tenha tomado, não se trata apenas de direitos dos gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transsexuais, etc, se trata do SEU e do MEU direito por ser HUMANO, porque somos iguais e somos perfeitos, porque ELE sonhou com a gente exatamente do jeito que a gente é antes de nós nascermos. É, somos perfeitos. Eu amo vocês.”
(foto postada por Gustavo Campos no Facebook e mostrando as marcas deixadas pela agressão do irmão pastor pentecostal - É isso o que Deus quer?)
Na tarde de ontem fui
surpreendido por uma postagem no Facebook que me deixou bastante
sensibilizado. Na quinta-feira (23/fev) um jovem estudante gay de 18
anos da cidade de Contagem – MG decidiu utilizar a rede social para
desabafar com seus contatos sobre as agressões homofóbicas que tem
sofrido por parte de seu irmão, que é pastor evangélico. As
agressões chegam ao ponto de ser físicas!
O rapaz agredido, que
se chama Gustavo Campos, descreveu na postagem o que lhe ocorre com
frequência:
“Olá, tenho 18 anos,
nasci em Belo Horizonte e vivo em Contagem - MG, a algum tempo sempre
venho sofrendo agressões por ódio ao homossexualismo e repressão
religiosa em minha casa, principalmente pelo meu irmão mais velho
(Pastor Pentecostal), que é o culpado pelas agressões,
pois ele me agride e eu
posso até ser agredido de novo e muito mais por isso, mas estou
cansado, desesperado e perdido, dessa vez resolvi postar e tentar
chamar a atenção pra ver se alguma autoridade pode tomar
providencias disso, por que já deu polícia militar aqui e não foi
só uma vez, mas não adianta de nada, sempre me apelidam como
"boiola", "viado", coisas do gênero, e ainda ao
invés de aplicar a lei que era o certo a fazer, ficam pregando sobre
Jesus Cristo e sobre Religião. Não aguento mais, está acontecendo
muita coisa e não sei como fazer, não quero tentar desistir da
minha vida novamente, pois eu quero lutar não só por mim mas por
todos as outras pessoas que estão sofrendo algo do
tipo ou muito pior. Nos ajude. Seja humano, compartilhe esta imagem
para ajudar esse problema a ser resolvido.”
No texto, o rapaz deixa
claro que já pensou em desistir da própria vida por conta da
opressão homofóbica que sofre. Uma das fotos do perfil dele deixa
evidente a opressão sofrida (veja abaixo).
Isso é bastante comum
em casos de homofobia familiar, especialmente naqueles em que uma
homofobia religiosa está incluída. A junção de ambas as formas de
homofobia na cabeça de um adolescente é algo incrivelmente
angustiante e coloca a pessoa numa situação limite semelhante à da
tortura, da prisão, do sequestro e da guerra.
Assim que o rapaz
postou seu desabafo no Facebook, uma chuva de comentários solidários
e com propostas de ajuda começou a aparecer na rede social. Eis os
trechos de alguns:
“Não desista nunca
de você, da sua felicidade!”
“Considero um absurdo
isso! Vc é uma pessoa incrível, de uma inteligência ímpar e vc
sabe que gosto muito de vc! Isso que ele fez envergonha o reino de
Deus, não é assim que verdadeiros cristãos agem!”
“Nós deveríamos
subir uma tag no twitter e junto postar o link pro seu relato. Assim,
mais gente ficaria sabendo, é importante que esse tipo de coisa não
passe em branco, precisamos pressionar esses nossos políticos
escrotos a aprovarem leis a nosso favor.”
“Campos, seu caso é de polícia. Se a polícia não lhe protege, é caso do Ministério Público. Enquanto este volta do Carnaval, talvez devesse ausentar-se de casa, ir para algum amigo (considerando que é maior de idade) e ir até as últimas instâncias para ter sua dignidade e direitos básicos preservados. Será que não há por aqui algum advogado da região disposto a pegar seu caso agora mesmo???? Sem contar, Gustavo Campos, que o que seu irmão pastor faz é tortura, um crime inafiançável e hediondo! Tortura em nome de Deus! Que bizarro e cruel!” [este foi o comentário que fizemos na ocasião]
“É a marcha da
Extrema-Direita. Em breve, organizações como a Ku-Klux-Klan vão
proliferar no Brasil. Que se cuidem gays, mulheres indefesas e
negros....Temos que estancar esta onda logo.”
“A Polícia Civil de
Minas inaugurou dia 20 de outubro passado um núcleo de atendimento
para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, na Rua
Paracatu, Bairro Barro Preto, Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
Essas pessoas vão contar com proteção formal da polícia por meio
do Núcleo de Atendimento e Cidadania à População LGBT (NAC), que
receberá denúncias de violência e discriminação.”
“Gustavo, perguntei a
uma amiga defensora pública em SP se caberia você procurar a
defensoria da sua região, e ela me respondeu o seguinte: 'O ideal
era ele procurar o MP [Ministério Público] (por causa da parte
criminal). Acredito que lá ele terá um atendimento adequado. Aqui
em SP temos na Defensoria um núcleo que cuida da questão da
discriminação, mas a atuação é na esfera cível. Lá em MG não
sei como funciona.'”
“Procura o Carlos
Magno do CELLOS de BH ele pode te ajudar ! E, está próximo!!!”
“Gustavo, já
compartilhei a imagem em vários grupos. Eu fiquei revoltado com o
que eu li aí - ignorância em nome de deus, fanatismo religioso
puro. Mas por mais difícil que seja, vai ficar melhor. Não desista
de você, da sua vida.”
Na sexta-feira à noite
(24/fev), militantes do CELLOS (Centro de Luta pela Livre Orientação
Sexual) de Contagem - MG (ver site) e de Belo Horizonte - MG (ver site) foram até a casa do rapaz agredido, o
retiraram de lá, e o levaram em segurança, conforme relatado num
comentário da postagem original:
“A mensagem da
Dalcira Ferrão que participou da ação: 'Bom dia, pessoal! Gente,
ontem por volta de 21:30h, eu e militantes do CELLOS-Contagem e
CELLOS-MG, fomos à casa do rapaz e o buscamos para levá-lo para um
lugar seguro. Conversamos um pouco com o pai dele. Quando estávamos
saindo o irmão dele, que é pastor evangélico, chegou bastante
alterado. Pra evitar um confronto direto nos retiramos. Cheguei em
casa por volta de 01h da manhã. Hoje providenciaremos a denúncia
formalizada do caso e tentaremos uma abordagem e sensibilização
junto à família. Gustavo está bem, mais tranquilo. Está muito
emocionado com toda a nossa mobilização e carinho. Está ciente que
não está só nessa luta por um mundo sem homofobia!!!'”
Após a ação do
CELLOS, o próprio
Gustavo retornou ao Facebook e agradeceu a todos pela solidariedade e
ajuda, relatando como está agora:
“Poxa, ontem mais
cedo eu estava chorando por desespero, e agora realmente estou
chorando de alegria por ver o verdadeiro apoio de todos vocês. Vocês
são fantásticos. Boa noite pessoal.”
“Para todos aqueles
que se preocuparam comigo, saibam que estou bem e protegido, tanto
fisicamente como psicologicamente, estou bem comigo mesmo mas ainda
sei que a nossa luta não acabou. Vocês me ajudaram a não desistir.
Vocês lutaram por mim, agora eu lutarei por vocês. Vocês foram
corajosos por mim, agora eu serei corajoso por vocês. Estamos todos
juntos nessa e somos uma verdadeira família. Adoro vocês. Beijos
beijos, até amanhã pessoal, darei mais notícias a todos vocês.”
“Olá Pessoal, em
primeiro lugar estou aqui para agradecer o apoio de todo mundo que
ajudou, pois acredite, foi muito importante, todos os grupos, sites,
o pessoal querendo entrevistar, as notícias, likes, comentários,
compartilhamentos, pessoas do país e de fora do país, muito
obrigado mesmo. Em segundo lugar para dizer que estou bem, chegaram a
minha casa antes que eu pudesse fazer alguma besteira comigo mesmo,
estão me apoiando em tudo, totalmente, me acolheram de uma forma
fantástica. Obrigado Grupo Cellos Contagem.”
“Como eu prometi, estou aqui no carro com o povo da CELLOS Contagem que estão me apoiando como vocês não imaginam. Estou correndo atrás não só dos meus direitos como dos de todos nós, pois como eu disse, vocês foram fortes por mim e agora eu serei forte, por que vocês me deram forças, mas eu não serei forte só por mim, por que quando eu sair desta, também ajudarei, não deixarei que vocês cheguem ao ponto de tentar fazer merda com vocês mesmos, por que vocês são perfeitos, estamos nessas juntos e não vamos desistir ok? Eu estou super bem, e vamos vencer, por que por mais repercussão que isso tenha tomado, não se trata apenas de direitos dos gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transsexuais, etc, se trata do SEU e do MEU direito por ser HUMANO, porque somos iguais e somos perfeitos, porque ELE sonhou com a gente exatamente do jeito que a gente é antes de nós nascermos. É, somos perfeitos. Eu amo vocês.”
O caso de Gustavo foi
denunciado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência
da República e está sendo acompanhado pelo Conselho Nacional LGBT.
A princípio, uma
história que poderia ser ainda mais trágica, agora com um final
feliz! Mas, fico pensando em quantos Gustavos existem por este Brasil
sofrendo exatamente as mesmas dores, agressões, torturas, padecendo
sob a hipocrisia fundamentalista dos que se consideram preferidos por
Deus. Se fôssemos considerar como válidas as justificativas
“divinas” (injustificáveis) destes pastores bandidos incitadores
do ódio para suas atitudes, teríamos que colocar Deus
definitivamente no banco dos réus, como co-autor dos crimes ou, pelo
menos, como omisso e conivente pelos atos de seus fiéis. Mas,
sabemos que Deus não tem nada a ver com isso! São os homens que
mancham a humanidade com seus atos insanos e cruéis. Como não têm
a coragem de assumir sua vilania, precisam dividir com Deus a culpa
de sua bandidagem que fere, mata e trucida seres humanos apenas por
conta do modo como nasceram ou decidiram viver. Isso não é
religião, é crime, e dos piores, seja no reino humano ou no Reino
dos Céus!
Que o caso de Gustavo,
que continuaremos acompanhando, sirva como exemplo para ambos os
lados: para os oprimidos, que sirva de encorajamento para irem aos
órgãos de defesa (polícia, Ministério Público, organizações
LGBT) e levarem tudo a juízo conforme a lei; para os opressores, que
sirva de aviso de que a comunidade LGBT brasileira não está mais
assistindo passivamente seus membros serem dizimados diariamente por
arremedos de seres humanos travestidos de arautos do Senhor, de
defensores da família e de reguladores do que seja a “normalidade
da Natureza”!
Gustavo, parabéns por
sua coragem! Você é um exemplo a ser seguido por todos os jovens
adolescentes que, como você, padecem em mãos diabólicas que se
apresentam como angelicais. Se há um Deus, certamente ele sabe quem
eles são e lhes dará seu verdadeiro e merecido quinhão na hora
certa...
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
[Notícia] O exemplo da Coordenadoria de Diversidade em Canoas – RS
Por Paulo Stekel
No dia de ontem, 16 de
janeiro, na qualidade de editor do blogue e idealizador do Movimento
“Espiritualidade Inclusiva” (sim, já somos um movimento, e
ele está crescendo diariamente!), fomos a uma reunião na
Coordenadoria de Políticas de Diversidade, ligada diretamente
ao Gabinete do Prefeito de Canoas – RS, o Sr. Jairo Jorge.
A reunião teve por
objetivo apresentarmos ao responsável pela Coordenadoria, o sr.
Paulo Rogério Ambieda (Paulinho de Odé) [ver foto abaixo], a nossa proposta
como Movimento Espiritualidade Inclusiva e como podemos
trabalhar em parceria com a Coordenadoria e as ações da Prefeitura
de Canoas em prol da diversidade de orientação sexual, do diálogo
inter-religioso e da visão inclusiva.
(Paulo Rogério Ambieda, o Paulinho de Odé, à frente da Coordenadoria de Políticas de Diversidade em Canoas - RS)
Inicialmente, o sr.
Paulinho de Odé apresentou o trabalho desenvolvido pela
Coordenadoria e revelou que esta é a primeira Coordenadoria de
Políticas de Diversidade com status de secretaria do Estado do Rio
Grande do Sul e, muito provavelmente, uma das únicas com esse status
no Brasil inteiro. Foi criada na atual administração com a missão
de promover a dignidade, garantir os direitos humanos e o acesso à
justiça, mediante o combate à discriminação e a proteção aos
grupos vulneráveis com geração de oportunidades e inclusão
social. Ela tem poder de voto em ações do executivo que possam
interferir na parcela dos cidadãos relacionados às políticas da
Coordenadoria. Na verdade, esta foi a primeira Coordenadoria de
Diversidades de uma Prefeitura no RS. A Coordenadoria de Diversidade
de Canoas tem um caráter bem mais político-social que
político-partidário, já que o objetivo é chegar a todas as
camadas da sociedade e cumprir seus vários objetivos, definidos
pelos focos principais de ação:
- Diálogo
inter-religioso (vários eventos de diálogo entre as religiões
já foram realizados, especialmente entre as religiões de matriz
africana e as correntes do Cristianismo, frequentemente envolvidas em
ações discriminatórias contra os africanistas);
- Inclusão das
religiões historicamente excluídas (estas religiões são a
umbanda, o candomblé – e correntes similares, e o espiritismo –
várias ações de inclusão destas religiões no meio social,
cultural e educacional);
- Diversidade de
orientação sexual (ações no campo da saúde, segurança e
cultura – a Coordenadoria já realizou três Paradas Livres, sendo
que a Parada de Canoas já é a terceira maior do RS e,
provavelmente, a mais bem organizada de todas – a ideia é que a
partir deste ano venha a ser a maior parada do RS – realização de
palestras em empresas, seminários e encontros regionais, alertando
sobre os riscos e prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis);
- Diversidade
cultural (apoio a ONGs com propostas de inclusão social, ações
de promoção da diversidade cultural em comunidades carentes);
- Diversidade étnica
(trabalhada basicamente nos terreiros africanistas, onde se pode
encontrar a maior diversidade étnica convivendo harmonicamente no
Brasil).
Para o Coordenador,
Paulinho de Odé, que já participou de vários movimentos LGBT no
RS, a homofobia começa dentro da família (agressões, expulsão de
casa) e depois vem a estender-se à escola (bullying
homofóbico, evasão escolar). Segundo ele, a Coordenadoria de
Diversidade é uma ferramenta do movimento social. Ele defende o
protagonismo compartilhado entre o poder público e o movimento da
diversidade.
Numa conversa muito
agradável que durou cerca de duas horas, o Coordenador revelou-nos
as dificuldades em trabalhar a inclusão da diversidade de orientação
sexual entre alguns grupos religiosos mais fundamentalistas.
Realmente, esta é uma das tarefas mais difíceis de se realizar
quando um dos lados não está disposto a dialogar e a inserir-se no
todo da sociedade de um modo pleno. Contudo, a impressão que tivemos
ao vermos a equipe da Coordenadoria, foi a mais positiva possível.
Entre os parceiros da Coordenadoria estão sacerdotes africanistas e
integrantes de movimentos ligados à Igreja Católica. É um trabalho
louvável e necessário que deveria ser multiplicado pelo Brasil
todo.
Segundo dados da
Secretaria Municipal de Segurança e Cidadania, o índice de
violência contra os LGBT teve uma diminuição considerável desde a
implantação da Coordenadoria de Diversidade.
Ao final da reunião,
tivemos o compromisso de apoio por parte da Coordenadoria de
Políticas de Diversidade ao Movimento Espiritualidade Inclusiva.
Desta forma, teremos participação em atividades realizadas pela
Coordenadoria no Fórum Social Temático em Canoas, que se realizará
entre 25 e 29 de janeiro. Além disso, o coordenador colocou a nossa
disposição o espaço físico da Coordenadoria para realizarmos
reuniões e propormos atividades e novas ações, numa parceria que
será claramente de um enorme sucesso.
Para saber mais sobre a
Coordenadoria de Políticas de Diversidade de Canoas – RS, acesse:
http://www.canoas.rs.gov.br/site/departamento/index/id/44
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
A demonização dos gays nas Igrejas Neo-pentecostais – o exemplo da IURD
Por Paulo Stekel
Neste terceiro dia de
2012, já nas primeiras horas, deparei-me com um vídeo espúrio em
um canal da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), comandada pelo
Bispo Edir Macedo (o mesmo que em vídeo conhecidíssimo na Internet
ensina seus pastores a tirar o máximo de dinheiro das pessoas sob a
falsa noção do dízimo como deflagrador da prosperidade enviada por
Deus). O vídeo em questão é um trecho de programa de TV da IURD em
que o Bispo Clodomir chama uma rapaz que padecia do “mal do
homossexualismo”, como diz o vídeo. Através de uma teatralidade
de quinta categoria, durante mais de dez minutos os Bispos Clodomir,
Edir Macedo e uma catrefa de asseclas fanáticos tentam expulsar o
“demônio do homossexualismo” de um rapaz de nome Leandro.
Primeiramente, vejamos
o vídeo inteiro e continuemos depois nossas considerações:
Este Leandro é gay
mesmo ou um péssimo ator? Em minha opinião, é alguém pago para
fazer este teatro todo! O Bispo Clodomir pergunta quem o colocou
nessa “vida de homossexualismo” e o rapaz responde:
“recebi trabalho”. Um trabalho do vizinho que o queria
“como homem”. O trabalho teria sido feito por um terreiro
numa encruzilhada, numa sexta-feira. Eis aqui um duplo preconceito:
homofobia e discriminação religiosa contra os africanistas. Além
de considerar a homossexualidade como advindo de demônios, afirma
que eles são mandados contra as pessoas por “pais-de-santo”.
Fico admirado como o Bispo Edir Macedo e seus “atores” ainda
estejam fora das grades. São charlatões evidentes, todos sabemos
disso!
Quando os bispos e a
catrefa fanática começam a orar para expulsar o “demônio do
homossexualismo”, o Bispo Macedo diz que “o terreiro vai
fechar, todos os terreiros”, porque têm impedido o rapaz e
todos como ele de “buscar a Deus”. Por ser gay ele estaria
sendo impedido de buscar a Deus? Como, se Deus o criou assim???
Em seguida, vem a maior
pérola fundamentalista. O Bispo Macedo diz que “homossexualismo,
lesbianismo, prostituição tem origem no Inferno”. Então,
gays são pessoas infernais? Ele ainda diz: “Demônio do
homossexualismo (…) maldito. Se tiver AIDS também é queimado!”
Ele ainda pensa que AIDS é doença de gays?
Depois que o suposto
“demônio gay” sai do rapaz, o Bispo Macedo pergunta como ele
está. Ao responder que está bem, o Bispo ainda solta outra pérola:
“Agora você tá falando grosso!” O que? Para ele todo o
homossexual masculino fala fino, quer ser ou parecer mulher?
(Sinceramente, a voz do rapaz continuou a mesma ao final!...rsrs.)
Este vídeo, que
repostamos em nosso canal no youtube – acessem
http://www.youtube.com/Espiritualinclusiva
–, antes que venha a ser deletado pela IURD em seu próprio canal,
é apenas um dos muitos exemplos em vídeo das atrocidades
apresentadas por esta Igreja que nada mais é que um caça-níqueis
muito bem sucedido. Outras igrejas neo-pentecostais (Assembleia de
Deus, Quadrangular, etc.) também atacam os gays e os praticantes de
outras religiões (especialmente espíritas, africanistas,
umbandistas) com argumentos baixos, mas a IURD se supera na
teatralidade da coisa. Antigamente, chegaram a cunhar as expressões
“pai-de-encosto” e “mãe-de-encosto” para se referir aos
Babalorixás e às Ialorixás do africanismo, numa clara intenção
de denegrir a imagem destes religiosos que não têm nada de
demoníaco, pois são apenas os sacerdotes de uma outra religião que
não a cristã. Da mesma forma, gays não são demônios nem são
gays por estarem possuídos, mas são simplesmente uma outra via de
orientação da complexa sexualidade e afetividade humana. E, não só
humana, já que a homossexualidade foi encontrada em cerca de 450
espécies animais!
A figura do topo deste
artigo demonstra bem como fundamentalistas neo-pentecostais percebem
um homossexual: uma mistura de Hellboy com Barbie... O imaginário
evangélico sobre os gays é medieval e muito vil, covarde e sem
escrúpulos. Os gays são vistos por estas pessoas do mesmo modo
demonizado que eram vistos na Idade Média os praticantes dos cultos
pagãos (bruxas), os epilépticos, os nascidos com deficiência ou
sinais no corpo, os cientistas inovadores (Galileu, Giordano Bruno),
as mulheres não-submissas e os artistas que abandonavam os cânones
aprovados pela Igreja de Roma. O que pretendem? Um retorno à Idade
Média? Querem que adoremos um Deus caricato, moldado à moda do
carrasco, que não parece ter qualquer consideração pela
diversidade que ele mesmo teria criado? Não. Este Deus não existe!
O que existem são profetas auto-declarados de um Deus que de amor
paternal nada possui, um Deus deuteronômico vingativo e
preconceituoso que exige fé cega para franquear uma salvação que
não virá, pois sem amor ao próximo e sem obras realmente bondosas
ninguém pode dizer que é salvo. Quando fanáticos desta estirpe
apartam seres humanos de si por não os compreenderem, não estão
cumprindo Palavra alguma, pois, todos sabem, a Palavra de Deus é uma
só: AMOR!
Há poucos dias o
deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) afirmou em uma entrevista que
os religiosos “são livres para dizer no púlpito de suas
igrejas que a homossexualidade é pecado”. Mas, o que não se
pode admitir, segundo ele, o uso de concessões públicas de rádio e
TV para “demonizar e desumanizar uma comunidade inteira, como é
a comunidade homossexual”. Na verdade, mesmo no púlpito das
igrejas afirmar isso é complicado, pois no caso de haver gays
assistindo o culto, estes podem se sentir diminuídos como seres
humanos, e mesmo assim têm o direito constitucional de qualquer
outro cidadão de estar ali dentro! Apenas um estado verdadeiramente
laico pode mediar este conflito... e, não é o caso do Brasil! Onde
está a lei para punir aqueles que pregam a “cura” de gays, sejam
psicólogos ou pastores? Onde está a lei para punir os agressores
nazistoides de gays pelo Brasil inteiro?
Há pastores que dizem
que nem todos os gays são endemoniados. Para estes, alguns o são
por simples “escolha”, outros, por causa de um “processo de
aprendizado” durante a infância. Aprendizado? Mas, até onde
sabemos, qualquer família heterossexual só apresenta um processo de
aprendizado para seus filhos: o heterossexual! Então, como poderia
um processo heterossexual ser o responsável por filhos gays? Não é!
A homossexualidade, ainda que não totalmente entendida pela Ciência,
é – e, considero isso ponto pacífico – nada mais que parte do
complexo processo de sexualidade e afetividade humana e, quiçá, dos
mamíferos! É, neste sentido, natural, por ser encontrada na
Natureza, e não apenas na humana. Se é natural, deve ser estudada,
compreendida, e não demonizada. Para os crentes, se é natural,
devem entender que foi criada por Deus e, se há algum culpado pela
homossexualidade incomodar alguns “varões” e “varoas”
remidos e auto-declarados salvos, este culpado é o próprio Deus!
Entendam-se com Ele, pois, oh salvos em Cristo, e deixem os gays
viverem em paz, terem seus direitos fundamentais garantidos e
colocarem em prática o maior dos mandamentos: amar!
Quando penso que num
país como o Brasil o racismo e a discriminação por religião são
impedidos por lei, mas a discriminação de homossexuais (por vezes
aberta, nos meios de comunicação, quando não associada a violência
física e assassinatos) claudica em tentativas mornas ou frustradas
de legislação específica, me recordo do fim da Segunda Guerra
Mundial, quando as leis anti-semíticas do regime hitlerista na
Alemanha foram abolidas, mas as leis anti-homossexuais nazistas só
foram suprimidas após a década de 1960, tendo muitos gays presos em
campos de concentração sido obrigados pelos aliados, após o fim do
Reich, a terminar suas penas, enquanto todos os judeus foram
completamente libertados... receberam indenizações... mas os
homossexuais continuaram recebendo privação de liberdade.
Comparativamente, no Brasil, afirmar-se em público que os judeus
assassinaram Jesus Cristo por não o terem reconhecido como o Messias
é discriminação prevista em lei, mas dizer que gays são possuídos
por demônios é apenas “liberdade de expressão” e “liberdade
religiosa”.
Cada vez mais tenho a
certeza de que as mentes vis deste mundo se aproveitam das brechas
legislativas e sociais para destilar seu ódio contra o que não lhes
agrada ou que escapa a seu entendimento limitado do que seja a vida,
a liberdade, a comunidade e, principalmente, a espiritualidade.
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
O que é “Espiritualidade Inclusiva”
Por Paulo Stekel
A espiritualidade inclusiva (em inglês, inclusive spirituality) só pode ser definida após deixarmos claro o significado dos dois termos relacionados: espiritualidade e inclusão.
Espiritualidade é uma dimensão do ser que traduz, conforme as diversas crenças, religiões e filosofias religiosas, o modo de viver e agir típico de alguém que busca a plenitude da sua relação com o transcendental. Ainda que nas diversas religiões essa dimensão possua suas nuanças, podemos dizer que a espiritualidade “traduz uma dimensão do homem, enquanto é visto como ser naturalmente religioso, que constitui, de modo temático ou implícito, a sua mais profunda essência e aspiração” (George Brown, em Spirituality: history and perspectives).
O termo inclusivo vem de Inclusão, o ato de incluir, compreender ou encerrar.
Então, espiritualidade inclusiva é uma espiritualidade que inclui. Inclui o que? Inclui todos, independentemente de sexo, gênero, classe social, raça, etnia, tendência política e orientação sexual. Uma espiritualidade inclusiva não demoniza ninguém; não vê o sexo como algo sujo, mas divino; não vê um gênero como superior a outro; não privilegia classes sociais; não reconhece “raças superiores”, mas apenas uma raça: a humana; não denigre a imagem ou os valores de qualquer etnia; não tem preconceito com relação a tendências políticas; não exclui pessoas por causa de sua orientação sexual... Ou seja, é uma espiritualidade afinada com a Declaração Universal dos Direitos do Homem no seu significado mais profundo.
Enquanto a religião, no seu aspecto formal, institucionalizado, é um sistema fechado, dogmático e de diálogo unilateral, a espiritualidade é algo subjetivo que transcende os limites da religião formal, sendo esta sim, aberta ao diálogo e viva, no sentido de que está conectada ao homem em movimento no mundo, biológica e socialmente.
Há algumas décadas que pesquisadores internacionais têm estudado o caso de pessoas que se consideram “espirituais”, mas não “religiosas”. Alguns inserem essa ideia no conceito de “nova espiritualidade”, mas, a mais das vezes, se trata simplesmente de alguém que manifesta uma “espiritualidade inclusiva”, ou seja, baseada no interior e sem rótulos, e não na religião exterior, que é um rótulo em si. A verdadeira intenção por trás da espiritualidade inclusiva é unir as pessoas, o que tem muito a ver com o que a palavra “religião” significa: “reunir”. Espiritualidade inclusiva é reunir corpo e alma, crenças e valores, razão e paixão, espiritualidade e religião. Assim, você não tem nem que escolher entre espiritualidade e religião, bastando ser você mesmo, amando incondicionalmente e vivendo além dos rótulos.
A espiritualidade inclusiva respeita e considera todas as tradições, religiosas ou não, inclusive a ciência, bem como a Sabedoria Antiga, todas as linguagens e metáforas humanas. A espiritualidade inclusiva é Universal, humanista, e é a visão daqueles que buscam um despertar transcendental fora dos rótulos da religião formal, ainda que sejam membros praticantes de alguma. O importante é que estes não confundem os rótulos com a realidade... Afinal, a espiritualidade é um aspecto significativo e integral da vida humana, e, reconhecendo-se o espírito inato de cada pessoa, deve-se reconhecer também que existem caminhos diversos para nutrir o espírito humano. A espiritualidade inclusiva reconhece que a espécie humana está dentro da grande comunidade da vida. Não há caminhos certos ou errados, ou melhores, mas apenas diferentes, outras maneiras.
Uma abordagem espiritual inclusiva considera que todos os homens nascem ou são criados iguais, dotados de direitos inalienáveis pertencentes a todos. Ainda que abrace a conexão inevitável entre o Transcendente (Deus, Consciência Suprema, Buda, etc.) e o Estado, distingue Deus da Igreja, o Sagrado do Profano, especialmente para fins de governo. Isso, porque cada um busca seu caminho para o Transcendente, ou mesmo caminho algum... E, isto está em seu direito inalienável oriundo do fato de alguém simplesmente ter nascido e estar vivo, em pé de igualdade com qualquer outro ser vivo.
Isso é difícil de compreender quando se sente a verdade de modo tão apaixonado que ela acaba por excluir os que não a sentem, sendo estes considerados “os não-salvos”. Então, o fanatismo (a visão estreita e fechada, baseada no temor, violentamente proselitista e “demonizante” do diferente, uma espiritualidade compartimentada, fragmentada) se instala e os fundamentos são vistos de forma absoluta num mundo de coisas relativas – eis a origem do moderno conceito de “fundamentalismo”.
Nesse contexto, é possível ser gay e ter uma vida “espiritual” quando as religiões, em sua maioria, condenam a homossexualidade? É possível que se aceitem as várias direções da sexualidade sem recair em argumentos fragmentados do que seja essa sexualidade? Dentro da esfera limitada das religiões formais – umas mais, outras menos –, provavelmente não. Mas, na esfera da espiritualidade inclusiva, algo bem distinto da religião, com certeza, sim. Isso, porque a espiritualidade é a percepção da existência de experiências além do plano concreto, transpessoais, a sensação interna de algo além dos sentidos ordinários. Quando criamos uma instituição que categoriza a espiritualidade chegamos à religião, que, então, encapsula e limita a interpretação de nossas percepções, padronizando e generalizando a experiência. Seja o indivíduo negro, branco, homem, mulher, baixo, alto, gay, heterossexual ou bissexual, ninguém deixa de ser um indivíduo, completo. A questão é como viver essa plenitude, como não aumentar a ilusão da separação. Para isso, temos que aprender a escutar nosso próprio coração.
Então, é claro que um gay também precisa ter uma vida espiritual. Sua compreensão espiritual do mundo o fará entender que é possível amar alguém do mesmo sexo, alguém com quem não será possível reproduzir nos padrões biológicos da maioria, mas que esse também não é o único objetivo do amor. Se fosse, como ficaria a situação dos casais heterossexuais estéreis? Não poderiam amar-se por não poderem reproduzir?
Pode parecer forte, mas a afirmação de que as religiões institucionalizadas não podem trazer uma vivência plena e gratificante para a espiritualidade gay se aplica também à espiritualidade não-gay. Ou seja, um caminho linear, pré-definido, normatizado, não faz bem a nenhum ser humano, gay ou não. Afinal, a alma humana não se encaixa em moldes pré-definidos, seja pela religião ou pela ciência. Cada alma é única, não segue um padrão absoluto, ainda que existam semelhanças entre as almas. Então, o que homossexuais precisam é de uma espiritualidade inclusiva, em consonância com as suas verdades internas.
De qualquer forma, já há “Igrejas Inclusivas” em vários países, todas procurando preencher a lacuna espiritual na vida gay, lacuna esta criada pela exclusão milenar causada pelas religiões institucionalizadas. Elas não consideram a homossexualidade como uma doença a ser cura, e representantes de algumas delas provavelmente escreverão neste blogue no futuro, assim como religiosos inclusivos de outras fés, como budistas, hinduístas, judeus, muçulmanos, católicos, representantes da “nova espiritualidade”, etc.
Nosso blogue conterá vários tipos de postagens: artigos enfatizando a visão inclusiva nas diversas formas de espiritualidade; artigos denunciando o preconceito religioso e fundamentalista contra a diversidade de orientação sexual; dicas de blogues, sites, filmes e documentários sobre temas pertinentes; tradução de artigos internacionais importantes; divulgação de eventos LGBT, especialmente os de caráter inclusivo; artigos permitindo o contraditório e o direito de resposta, quando cabível ou mandado por força legal; notícias do mundo LGBT pertinentes; decisões legislativas e debates políticos relativos aos direitos LGBT em geral, conforme sua relevância e pertinência no tocante aos propósitos do blogue; temas culturais relevantes.
Considerando que nosso blogue será público, e para não ser reclassificado como inadequado para menores, não conterá nem admitirá postagens com conteúdo pornográfico explícito, conteúdo racista, neonazista, fundamentalista, preconceituoso, incitador de violência ou discurso de ódio. Colaboradores do blogue que não seguirem estas recomendações poderão ter seu direito a postagem revogados pelo administrador. Pedidos de revisão de materiais inadequados postados no blogue podem ser feitos por qualquer pessoa diretamente ao email espiritualidadeinclusiva@gmail.com
Marcadores:
direitos gays,
direitos humanos,
espiritualidade,
espiritualidade inclusiva,
fundamentalismo,
gay,
GLBT,
homossexualidade,
LGBT,
religião
Assinar:
Postagens (Atom)