Por Paulo Stekel
Nestes últimos meses,
em especial em novembro e dezembro, estive um tanto afastado das
atividades do Movimento Espiritualidade Inclusiva e, mais ainda, das
atualizações do blogue. O motivo foi familiar, já que perdi um
irmão muito querido em uma tragédia. Depois disso, alguns ajustes
foram necessários, o que me tomou mais tempo, sem contar a
assimilação do que ocorreu. A morte, por mais que saibamos ser a
única coisa certa após o nascimento, sempre desestabiliza a todos
nós em alguma medida.
A propósito, a
homofobia – discreta ou declarada – também tem a propriedade de
desestabilizar qualquer um, por mais firme que alguém esteja em sua
identidade e dignidade. Vejo isso a todo o tempo com meus amigos e
amigas da comunidade LGBT, e mesmo na própria pele pude sentir isso
ultimamente...
O processo do “ser
gay” passa por várias fases: o descobrir-se, o aceitar-se, o
identificar-se e o sentir-se digno, apesar do preconceito da
sociedade. Cada pessoa LGBT passa por estas fases de um modo muito
particular, e muita gente nunca chega à última.
A descoberta tem a ver
com comparações de si mesmo e de seus desejos e sensações com os
de outras pessoas do mesmo sexo. A aceitação tem a ver com um não
poder mais negar a si mesmo que algo diferente da maioria acontece. A
identificação com outros semelhantes ajuda a gerar a identidade
“gay”, não padronizada, mas peculiar, ainda que LGBT na
essência. A dignidade, por fim, tem a ver com o entendimento de que
se é um ser humano como qualquer outro, não se justificando aceitar
qualquer tipo de discriminação.
Passei por mais um
teste desta última fase nas últimas semanas. Percebi a sutileza
guardada pela homofobia familiar, instigada por doutrinas diabólicas
de fundamentalistas evangélicos. O mais interessante é que, em
todos os casos, o indivíduo gay é considerado impuro, sujo,
pecaminoso, mas seu dinheiro é aceito de muito bom grado...
Hipocrisia infernal! Nas famílias, em geral, por saber-se
naturalmente o quanto os filhos gays cuidam de seus pais com
responsabilidade, muitos se aproveitam disso e, nas horas mais
graves, somem-se os filhos heterossexuais e restam apenas os gays
para garantir a dignidade aos pais. Dignidade, aliás, que a estes
filhos mesmos é negada... Não há nada de divino nesta relação de
interesse. Por isso, a abomino e a desmantelo colocando todos os
pingos nos “is” e exigindo minha dignidade por direito. Parece
estar funcionando... mas ainda resta o peso da discriminação, que
podemos sentir nas palavras não ditas e nos desvios calculados...
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No dia 13 de dezembro
nosso blogue completou seu primeiro ano, bem como o próprio
Movimento Espiritualidade Inclusiva. Fizemos muita coisa neste tempo.
Vamos a uma pequena retrospectiva:
Em janeiro, tivemos
duas atividades inseridas no Fórum Social Temático, uma em Porto
Alegre e outra em Canoas, no RS (ver:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/01/evento-palestra-sobre-espiritualidade.html).
Em fevereiro, fomos os
primeiros a noticiar um caso de homofobia em Minas Gerais, e nosso
artigo foi reproduzido por várias mídias LGBT de lá (ver:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/02/homofobia-me-machuca-ou-mais-uma.html).
Em março, o Movimento
Espiritualidade Inclusiva participou da 1ª Marcha das Mulheres em
Eldorado do Sul – RS (ver:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/03/evento-palestra-de-espiritualidade.html).
Em maio, o Movimento
Espiritualidade Inclusiva entrou em processo de instalação de
coordenadorias estaduais e municipais; participou como debatedor no
Cine LGBT na 28ª Feira do Livro de Canoas – RS; foi recebido pelo
representante da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual, uma
coordenadoria recente ligada à Secretaria da Justiça e dos Direitos
Humanos e criada pelo atual governo gaúcho (ver:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/05/noticia-movimento-espiritualidade.html).
Em junho foi criado o
primeiro Grupo de Encontro do RS (ver:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/06/evento-primeiro-grupo-de-encontro-no-rs.html).
Em agosto, o jornalista
e coordenador do Movimento Espiritualidade Inclusiva, Paulo Stekel,
debateu o tema “Saúde Espiritual da Pessoa LGBT através da
Inclusão”, dentro da 8ª Semana do Orgulho de Ser, no auditório
da Faculdade Santo Agostinho (Teresina – Piauí) – ver:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/08/saude-espiritual-religiao-e-cidadania.html.
Em setembro, foi criado
o Grupo de Encontro em Porto Alegre – RS (ver:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/09/evento-participe-do-primeiro-grupo-de.html).
Em dezembro, o
Movimento foi uma das três entidades da sociedade civil envolvidas
na organização da 4ª Parada Livre de Canoas.
Em 2013, queremos
continuar ampliando o número de Grupos de Encontro e o ativismo
pró-LGBT, especialmente através de ações de enfrentamento da
homofobia religiosa, que parece ter aumentado consideravelmente em
2012.
Um de nossos objetivos
para o próximo ano é o lançamento de um livro sobre
Espiritualidade Inclusiva, aliás, o primeiro sobre o assunto em
Língua Portuguesa. Aguardem!
Outro objetivo
importante, é a realização do 1° Seminário de Espiritualidade
Inclusiva, que ocorrerá provavelmente em Porto Alegre – RS, mas
ainda sem data definida.
Então, só nos resta
dizer que estamos de volta e... Feliz Ano Novo a todos e a todas!!!!
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