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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Nova Espiritualidade: A Homossexualidade


Por “Jesus Cristo” (mensagem canalizada através de Pamela Kribbe – ver www.jeshua.net)


Nota de Espiritualidade Inclusiva: Há algum tempo pessoas nos têm indagado sobre a opinião dos praticantes da “Nova Espiritualidade” a respeito da homossexualidade. A “Nova Espiritualidade” tem a ver com práticas dissociadas das grandes religiões históricas e inclui crenças como Teosofia, Ufologia, Canalização, Grande Fraternidade Branca, Consciências Índigo, além da prática de muitas terapias holísticas (Reiki, Florais, Apometria, Cromoterapia, etc). Realmente, há pouco material vindo destas fontes sobre a homossexualidade e, quando aparecem, geralmente guardam algum tipo de preconceito: ou a homossexualidade é entendida como “carma” de vidas passadas, ou como uma inadequação ao se nascer em um gênero diferente do vivido em encarnações recentes, ou disfunções nos chacras. Tudo preconceito puro e desconhecimento da realidade homossexual e, antes ainda, da realidade da sexualidade humana. O texto abaixo reproduzido é uma rara exceção. Apresenta a homossexualidade como natural e critica o preconceito, não a pessoa homossexual. É uma “canalização” (channeling), uma mensagem de tipo mediúnico recebida por uma canalizadora (médium) que vive na Holanda. Independente de acreditarmos ou não na origem espiritual da mensagem, o que é importante enaltecer é seu teor inclusivo, propósito principal do nosso blogue e do Movimento Espiritualidade Inclusiva.

A mensagem:

Meus amados Filhos,

Não há nada de errado com a homossexualidade. A homossexualidade é perfeitamente respeitável; a forma em que ela vem sendo retratada por várias tradições religiosas, como pecaminosa e prejudicial, origina-se do medo e do preconceito. Não há nada de errado em se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo. Na verdade, a preferência pelo mesmo sexo ou pelo outro sexo não é tão fixa e rigidamente dividida como muitas pessoas pensam. Você pode ser heterossexual e, ao mesmo tempo, ser atraído por pessoas do seu próprio sexo. Você pode sentir uma conexão de alma que transcende a forma física. Em outras palavras: você pode ser heterossexual no geral, mas sentir-se atraído por alguém do mesmo sexo porque existe uma conexão profunda no nível da alma. Existe uma escala móvel entre heterossexualidade e homossexualidade, e não uma fronteira fixa.

Do ponto de vista espiritual, o que importa nos relacionamentos sexuais é como um se conecta com o outro de alma para alma. Sempre que existe uma conexão profunda, marcada por uma parceria verdadeira e respeito mútuo, o fato do relacionamento entre homem-mulher, homem-homem ou mulher-mulher realmente não importa.

É lógico que é importante para o mundo se você é homossexual. Em muitos lugares ao redor do mundo ainda existe preconceito e hostilidade contra a homossexualidade. Muitas almas que encarnam como homossexuais são bastante corajosas, porque sabem que enfrentarão a questão da marginalização, de ser diferente dos outros e ter que lidar com hostilidade e incompreensão. A alma pode ter decidido conscientemente passar por essa experiência para enfrentar e superar a dor emocional de ser rejeitada e, com isto, tornar-se forte e independente, ou para elevar a consciência na Terra, fazendo as pessoas refletirem sobre as definições tradicionais mesquinhas e limitadas sobre a identidade sexual. Os homens homossexuais, por exemplo, podem mostrar como de ser do sexo masculino pode facilmente combinar com ser sensível e artístico. Homens e mulheres homossexuais encorajam as pessoas a pensarem de modo diferente sobre o que significa ser do sexo masculino ou feminino.

Para os homossexuais que se sentem dilacerados e em conflito sobre sua natureza sexual, eu diria:

Não julgue o seu modo natural de sentir; respeite sua natureza e sinta-se livre para ser quem você é. Seja fiel a si mesmo, não se esconda. Outras pessoas podem aprender alguma coisa com você. Cônjuges ou pais, que se sentem chocados e ofendidos quando você lhes conta sobre a sua natureza, serão tocados, de alguma forma, pela sua coragem e honestidade, mesmo que não demonstrem isso abertamente. A verdade sempre liberta as pessoas. Ao permanecer fiel a si mesmo, você se curará e será uma luz para os outros.

JESUS CRISTO


Mensagem de Jesus Cristo, através de Pamela Kribbe.

© Pamela Kribbe 2011

Tradução de Vera Corrêa veracorrea46@ig.com.br

Direitos Autorais Pamela Kribbe - A permissão é concedida para cópia e distribuição deste artigo na condição de que o endereço www.jeshua.net , esteja incluído como recurso e que ele seja distribuído livremente. E-mail: aurelia@jeshua.net


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Desconstruindo as ideias do livro de cabeceira dos fundamentalistas religiosos


Por Leandro Colling (cfe. publicado originalmente em http://www.ibahia.com/a/blogs/sexualidade/2012/08/30/desconstruindo-as-ideias-do-livro-de-cabeceira-dos-fundamentalistas-religiosos/)


Depois de uns dias de férias, retomaremos o nosso blog. Meu texto de hoje é longo e irá tratar sobre o livro A estratégia – o plano dos homossexuais para transformar a sociedade, recentemente publicado no Brasil pela editora Central Gospel Ltda, de autoria do reverendo norte-americano Louis P. Sheldon.

Tive que ler o livro a pedido do Conselho Nacional LGBT, do qual faço parte. Para quem não sabe, o Conselho foi criado no final do governo Lula e implantado no início do governo Dilma para elaborar e acompanhar as políticas públicas para a população LGBT. Elaborei um parecer do livro para o Conselho, que será enviado para que a Procuradoria Geral da República avalie se a obra viola a legislação brasileira em vigor e, com base nisso, tome as providências cabíveis.

O texto que posto aqui não é igual ao que o Conselho irá publicar em breve, pois foi adaptado para o nosso blog. O conteúdo, basicamente, é o mesmo. O livro A estratégia revela porque estamos vendo hoje no Brasil uma grande articulação de determinados fundamentalistas religiosos para tentar barrar o avanço de direitos e cidadania plena para a população LGBT. Você verá aqui como este livro tem servido para fomentar o ódio, a discriminação, a intolerância para com qualquer pessoa que não viva dentro de um conjunto bem rígido de normas.

O reverendo Louis P. Sheldon, autor do livro A estratégia – o plano dos homossexuais para transformar a sociedade, tem o explícito objetivo de convocar os religiosos do mundo para lutarem contra os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais ou qualquer outra pessoa que não viva dentro de um modelo muito restrito de heterossexualidade, que pressupõe, por exemplo, o sexo apenas depois do casamento;

Para tentar atingir o seu objetivo, Sheldon recorre a algumas controversas ideias religiosas, distorce uma série de dados e, principalmente, mente sobre outra série de evidências históricas, amplamente estudadas e conhecidas pela sociedade. Tudo isso é feito para atingir o seu grande objetivo, explícito já na página 6 do texto. Diz ele: “(…) não são apenas os terroristas estrangeiros que devemos temer hoje. Os radicais mais perigosos que ameaçam nosso estilo de vida são aqueles que vivem entre nós (…) e você pode ter certeza de que eles nos destruirão se não tomarmos medidas para derrotar o movimento radical deles agora”;

Sheldon, em vários momentos, defende que a homossexualidade não é “natural e normal”. Cita, inclusive, alguns estudos acadêmicos que tentaram descobrir o “gene gay”. Para Sheldon, uma vez que ainda não se descobriu uma causa genética para a homossexualidade, os LGBT não são normais e, por isso, devem ser curados e não devem ter direitos. Ele defende, inclusive, na página 28, que a homossexualidade volte a ser considerada uma doença. Na página 251 defende que a homossexualidade seja tratada e na página 114 revela que ele próprio já realizou “terapias recuperadoras” em sua igreja nos Estados Unidos.

Como todos sabem, no dia 17 de maio de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou o “homossexualismo” da lista internacional de doenças. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia emitiu a resolução 01/1999, que proíbe qualquer psicólogo realizar algum tratamento para reverter a homossexualidade de algum paciente[1].

Realmente, os estudiosos da sexualidade ainda não chegaram a um consenso sobre se existe ou não algum componente genético que interfira ou gere a orientação sexual homossexual. Mas isso jamais pode ser uma razão para defender a patologização, a violência e o ódio para com os LGBT. Os/as estudiosos/as não possuem respostas “genéticas” para a homossexualidade, mas oferecem muitas outras respostas sobre como as pessoas, ao longo de suas vidas, passam a ter determinada orientação sexual e determinada identidade de gênero.

Os estudos[2] apontam que existem diversas orientações sexuais e identidades de gênero com as quais uma pessoa pode vir a se identificar. Nesse processo de identificação não existe apenas um fator ou ator social que influencia as pessoas. Trata-se de um complexo processo de identificação. Portanto, qualquer orientação ou identidade é legítima. A heterossexualidade é tão legítima quanto a homossexualidade, a bissexualidade ou a travestilidade. Todas são formas de vivenciar as múltiplas sexualidades e os gêneros.

Por isso, se a pergunta é qual a causa da homossexualidade, deveríamos também nos perguntar, como já fazia Freud, quais as causas da heterossexualidade. Assim como não existe consenso sobre a existência de um “gene gay”, também não existe um “gene heterossexual” e nem por isso os heterossexuais devem deixar de ser respeitados. Ou seja, o que efetivamente sabemos, e o livro de Sheldon é mais uma prova empírica disso, é que determinados setores da sociedade exigem que todas as pessoas devem ser heterossexuais. Por isso, a heterossexualidade é que se torna uma norma que todos devem seguir, que todos são obrigados a seguir;

Para Sheldon, os LGBT são um risco à sociedade porque desejam “destruir a família”. Ao acionar o ideal de família nuclear burguesa (pai, mãe, filhos), Sheldon novamente distorce evidências históricas amplamente estudadas por pesquisadores/as do mundo inteiro[3]. O que dizem esses estudos?

1. A família, tal qual concebe Sheldon, é também fruto de um longo processo histórico. Nem sempre existiu essa configuração familiar defendida por Sheldon. Basta lembrar da existência dos clãs, que são anteriores às famílias de hoje, e dos casamentos arranjados, nos quais as noivas eram escolhidas pelos pais do noivo.

2. As pessoas pobres, em especial as brasileiras, sabem muito bem que esse ideal de família defendido por Sheldon é tipicamente burguês. Nossas famílias são construídas em uma ampla diversidade de combinações, com filhos/as sendo criados/as por avós, tios, vizinhos, amigos, ou com apenas a presença da mãe[4].

Ou seja, ao defender apenas um tipo de constituição familiar, Sheldon, na verdade, atenta contra boa parte das constituições familiares que existem em nossa sociedade, disseminando o seu ódio para além da população LGBT;

3) Sheldon diz: “desde a época de Adão e Eva, as sociedades civilizadas entendem que a família consiste em uma mãe, um pai e os filhos”. Ora, além de exigir que todos acreditem na existência de Adão e Eva, Sheldon ignora que nem sempre o homem viveu em chamadas “sociedades civilizadas” tais como as conhecemos hoje. Trata-se de um pensamento tipicamente criacionista, que mente sobre dados e evidências históricas amplamente estudadas por pesquisadores do mundo, que demonstram que, ao longo da sua história, a humanidade passou por momentos de “barbárie” e com vários tipos de arranjos familiares;

4) Muitos LGBT, ao contrário do que diz Sheldon, gostam tanto dessa constituição familiar que desejam constituir uma, mas dentro de uma perspectiva ampliada, um pouco diferente. Tanto isso é verdade que o Supremo Tribunal Federal reconheceu, em 5 de maio 2011, a união estável entre pessoas do mesmo sexo. O STF entendeu que o artigo 3º, inciso IV, da Constituição Federal, veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de sua orientação sexual.

Ou seja, ao contrário do que apregoa Sheldon, a civilização nunca teve como base apenas um tipo de configuração familiar, mas uma ampla variedade de configurações familiares e de conjugalidades. Novamente fica explícito o quanto o pensamento de Sheldon se configura em um atentado à diversidade da sociedade como um todo, e não apenas contra a população LGBT;

Para provocar o ódio para com a população LGBT, Sheldon defende que os homossexuais disseminam o que ele chama de uma “cultura de morte” ou “estilo de morte” e não “estilo de vida”. Para ele, a Aids, as demais doenças sexualmente transmissíveis, a depressão e até o número de suicídios de jovens homossexuais comprovariam a sua “tese”. Para isso, ele usa de uma série de dados estatísticos que informam que o vírus HIV e os suicídios atingem mais os LGBT do que os heterossexuais, em especial os monogâmicos.

Para Sheldon, os homossexuais é que são culpados por serem vítimas da Aids e por cometerem suicídios. Trata-se de mais uma leitura absurdamente equivocada, intencionalmente distorcida para pregar o ódio. O que os movimentos sociais e os estudos mais respeitados informam é que a Aids vitimou e ainda vitima mais a população LGBT porque, entre várias outras razões, governos conservadores como o de Ronald Reagan, que Sheldon tanto elogia, não realizaram rapidamente ações de combate à disseminação do vírus HIV porque, inicialmente, ele estava atingindo mais os homossexuais.

Esse dado histórico, motivado pela homofobia institucional de um governo, é solenemente ignorado por Sheldon. Foi por causa disso que um movimento social como o ACTUP, que Sheldon desonestamente critica, precisou realizar ações de desobediência civil para chamar a atenção da sociedade americana sobre o que estava acontecendo naquele momento nos EUA[5]. Até os cientistas políticos mais liberais defendem a legitimidade da desobediência civil em determinados momentos dentro de uma democracia[6]. Além disso, em nenhum momento Sheldon considera que os suicídios dos LGBT são motivados pelo fato dos heterossexuais radicais não aceitarem a diversidade sexual e de gênero existente em nossa sociedade. Ou seja, dentro da perspectiva de Sheldon, os LGBT se contaminam e se matam porque querem.

Em determinado momento, ele inclusive cita que alguns gays transam sem o uso do preservativo, o que seria prova de que os homossexuais desejam se contaminar. Ainda que existam alguns gays que resistem ao uso de preservativos, o que falta dizer é que não são apenas determinados LGBT que não usam preservativos, mas também milhares de heterossexuais fazem o mesmo e não são considerados, por causa disso, disseminadores de uma “cultura de morte”.

Além disso, Sheldon liga sempre a pedofilia com a homossexualidade, como se essa prática, considerada criminosa, não fosse encontrada entre a população heterossexual.

Outra ideia recorrente no livro ataca toda e qualquer ação nas escolas e universidades que vise o respeito à diversidade sexual e de gênero. Sheldon diz que estas ações teriam o objetivo de ensinar os estudantes a serem homossexuais (página 12) e de promover a homossexualidade. Diz que as universidades “estão tomadas por uma epidemia da diversidade” (página 176).

Trata-se de mais uma leitura equivocada, com a evidente intenção de disseminar o ódio homofóbico. O que os movimentos sociais e educadores defendem é que a escola seja um local onde se ensine o respeito à diversidade[7]. Os estudos acadêmicos, já desenvolvidos em vários lugares do mundo e que, nos últimos anos, têm crescido muito nas universidades brasileiras, mesmo com perspectivas metodológicas e teóricas distintas, são enfáticos ao defender que todas as orientações sexuais e todos os gêneros são legítimos e construídos também culturalmente.

Muitos desses estudos[8] desmentem outra ideia de Sheldon, a de que o comportamento homossexual foi proibido em toda a história da humanidade (página 251). Há dezenas de reconhecidos estudos, todos solenemente ignorados por Sheldon, que relatam que o sexo entre pessoas do mesmo sexo nem sempre foi considerado algo problemático em outros períodos históricos e sociedades. O que estes estudos apontam é que a partir do século 19 é que a homossexualidade passa a ser patologizada e criminalizada, através de uma impressionante sintonia entre igreja, Estado e cientistas.

O simples fato de promover estudos como esses e incentivar o debate para o respeito à diversidade é entendido por Sheldon como proselitismo gay. Historicamente, o que ocorreu e ainda ocorre é que as famílias, as escolas e a sociedade em geral ensinam, de forma coercitiva e autoritária, que todos sejam heterossexuais. Se existe alguma promoção em curso, há séculos, é em relação à heterossexualidade e não em relação à homossexualidade.

Em vários trechos, Sheldon ataca o Estado Laico. Na página 89, defende explicitamente um Estado com religião. Diz que “a separação entre Igreja e Estado é uma mentira”, mas defende que o Estado não interfira na religião e que os professores deveriam ter liberdade de ensinar religião aos seus estudantes.

No final do livro, ele conclama as pessoas a se unirem contra o Estado Laico (página 222). Trata-se, portanto, de uma ideia que atenta para um princípio base do sistema democrático. A separação entre a religião e o Estado permitiu que a diversidade religiosa fosse respeitada, o que possibilitou o fim de muitos e sangrentos conflitos. Portanto, a ideia de Sheldon representa um atentado ao Estado Democrático de Direito e a todas as denominações religiosas que não compactuam com as suas leituras fundamentalistas.

Portanto, suas ideias, como podemos ver, tentam acabar com outras expressões da diversidade existentes em nossa sociedade. Sheldon, por exemplo, além de atacar todas as pessoas que vivem em famílias diferentes da nuclear burguesa, vincula a decadência da sociedade com as conquistas das mulheres (página 39), ataca os adeptos do “amor livre” (página 69) e, ao tratar de promiscuidade, diz que as jovens usam roupas muito curtas e estimulam os homens (página 190). Por fim, ainda critica duramente os negros “de esquerda” (página 224) que defendem os direitos de LGBT.

Em vários momentos Sheldon diz que o livro que mais inspira os homossexuais é Minha luta, de Hitler. Como é de conhecimento público, um dos principais objetivos dos nazistas era o de aniquilar todas as pessoas diferentes, que não fossem brancas, tidas como saudáveis, fortes e heterossexuais. Centenas de homossexuais foram assassinados pelos nazistas. Ou seja, como poderiam os LGBT ter como fonte de inspiração um livro de Hitler? Por sinal, um livro proibido de circular por incitar o ódio antissemita. É exatamente a produção do ódio o que Sheldon faz em relação aos milhares de LGBTs existentes no mundo.

Sobre o autor



Leandro Colling, gaúcho atualmente residindo em Salvador (BA), é Professor da UFBA, coordenador do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS) e Presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (Abeh - gestão 2011 - 2012).



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[1] Ver em  http://pol.org.br/legislacao/pdf/resolucao1999_1.pdf

[2] Ver, por exemplo: BUTLER, Judith. Problemas de gênero – feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008; LOURO, Guacira Lopes. (org.). O corpo educado – Pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

[3] Ver, por exemplo, os clássicos ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do estado. 15ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, e LEVI-STRAUSS, CLAUDE, As estruturas elementares do parentesco. Rio de Janeiro: Vozes.

[4] Ver dados do IBGE em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=774

[5] Sobre esse tema, ler MISKOLCI, Richard.  “A Teoria Queer e a Sociologia”, em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222009000100008

[6] Ler, por exemplo, RAWLS, John. O liberalismo político. São Paulo: Editora Ática, 2000.

[7] Ler, por exemplo, LOURO, Guacira Lopes et al. (orgs). Corpo, Gênero e Sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003

[8] Ver, por exemplo, FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. São Paulo: Graal, 2005.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Destruindo sofismas cristãos

Por Andrea Freitas Foltz (publicado originalmente em http://andreafreitas.wordpress.com/category/destruindo-sofismas-cristaos)

A Bíblia nunca poderia ser divina; isto percebemos quando a lemos e fazemos a separação do que os seus escritores expressaram durante aquela época para a realidade em que vivemos. Os autores bíblicos eram ignorantes a respeito de inúmeros assuntos e isto inclui também a homossexualidade. Sem firme fundamentação nos seus argumentos sobre a sexualidade humana, os cristãos acabam por reduzir os textos usados contra a homossexualidade a referências “mal-interpretadas” ou mal-induzidas por seus líderes!

A cultura dos hebreus era machista e até hoje continua a ser no meio cristão. Vemos através de suas teorias a respeito de seu deus que se “apresentava” como um ser masculinizado [Gn 32.24,28] e que criou outros seres [anjos] também masculinizados [Gn 18.2; 32.24] – segundo suas “aparições”. Por que o Criador não se deu ao trabalho de criar um ser celestial sequer com característica feminina? Seria ele também preconceituoso? Machista?

O homem era o centro das atenções do deus hebreu, com um corte no pênis [prepúcio] simbolizando uma aliança entre a criatura-macho e o criador masculinizado [Gn 17.10-14]. Tudo isso contribuiu para que a condição da homossexualidade, fosse encarada como aberração e abominação, como eles bem pregam por aí!

Durante toda a existência do cristianismo, os cristãos que se opõem aos direitos dos gays e lésbicas citam frequentemente Gênesis 19 (a história de Sodoma) para repudiarem a homossexualidade e todos aqueles que nascem sob essa condição. Tal interpretação mostra até que ponto o preconceito e a homofobia deformam e camuflam a verdadeira causa da destruição dessas cidades nos relatos bíblicos.

A verdade é que tanto no Antigo como no Novo Testamento, o “pecado” de Sodoma nunca foi entendido como homossexualidade. Ao contrário, era egoísmo, orgulho, descaso perante pobres e da falta de hospitalidade para com os estrangeiros; pois no contexto do deserto, a recusa de hospedar os estrangeiros poderia significar a morte. Confira: Ezequiel 16.49-50.

Inúmeros teólogos cristãos e autores sérios de artigos que abordam a questão da homossexualidade afirmam isso:

1 - Walter Wink – professor do Seminário Teológico, Doutor em Teologia (Th.D) do Union Theological Seminary de Nova York;

2 - Theodore W. Jennings – professor-assistente no Chicago Theological Seminary;

3 - John B. Cobb Jr. – Professor Emérito de teologia e co-diretor do Centro de Estudos sobre Processo da Faculdade de Teologia de Claremont, Califórnia;

4 - James B. Nelson – professor de ética cristã no United Theological Seminary em New Brighton e Minnesota;

5 - Robert K. Johnston – Ph.D., professor de Teologia e Cultura no Seminário Teológico Fuller, em Pasadena – Califórnia… Dentre outros!

A Verdade que liberta

Segundo Nelson (2008), os estudos bíblicos contemporâneos indicam com suficiente persuasão que o tema principal da história e a preocupação do escritor [Moisés, ou seja lá quem escreveu] não era a atividade homossexual, mas a violação da justiça social rudimentar e das antigas normas hebraicas de hospitalidade. O pecado de Sodoma foi a quebra das leis de hospitalidade e justiça.

Relembremos ainda que era prática comum no Oriente Médio, na época, submeter os inimigos do sexo masculino capturados ao estupro anal. A prática significava domínio e desprezo. À medida que a atividade homossexual expressava ódio e desprezo – particularmente nas sociedades que davam grande importância à dignidade masculina – era natural que essa atividade fosse sumariamente rejeitada.

Fazendo-se justiça ao texto, é difícil considerar a narrativa sobre Sodoma como julgamento sobre todas as atividades homossexuais, uma vez que estava em jogo o estupro homossexual, esse sim, condenado. Para uma melhor compreensão do que seria o “estupro homossexual”, é o mesmo que acontece hoje em nossos presídios. Alguns presos [heterossexuais] indignados com criminosos julgados como pedófilos ou estupradores, fazem “justiça” própria submetendo o acusado à vergonha de ser molestado sexualmente; dando-lhe a mesma paga pelo crime cometido.

Segundo Wink, “o pecado dos sodomitas era o rapto homossexual perpetrado por heterossexuais com a intenção de humilhar os estrangeiros ao tratá-los “como mulheres”, desmasculinizando-os” (2008, p. 9). E o mesmo acontece em Juízes 19.21 – acrescenta ele. “Os casos brutais de estupro praticados por bandos em nada correspondem à questão da legitimidade ou não das consentidas expressões de amor entre adultos do mesmo sexo” (Ibid, p.9).

Em Dt 23.17-18, Wink lamenta que em algumas versões – especificamente a King James – o termo usado como “sodomita”, na verdade se refere a um “garanhão” heterossexual envolvido com os ritos cananeus de fertilidade infiltrados no culto judaico. Veja o uso do termo em questão por outras traduções:

- Bíblia Católica – Versão dos Monges de Maredsous [1958]: omite tanto “prostituto” como “sodomita”;

- Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas [1986]: também usa o termo “prostitutos” tanto para homens como para mulheres.

- Bíblia na Linguagem de Hoje [1988]: “refere-se tanto a homens e mulheres como “praticantes de prostituição”;

- Bíblia de Jerusalém [1995]: usou o termo “prostituto sagrado”;

- Bíblia Plenitude [2002]: traduziu como “sodomita”, seguindo o exemplo da King James;

- Traduções de João Ferreira de Almeida:

a) Revista e Atualizada [1992]: usou o termo “Sodomita”;
b) Revista e Corrigida [1995]: usou o termo “Sodomita”.

Segundo Johnston (2008), tanto o texto de Dt 23.17-19 como I Rs 14.24 e II Rs 23.7, que parecem referir-se a “prostitutos sagrados” masculinos, trata-se na verdade, de tradução errada da palavra hebraica qadesh. A raiz da palavra significa “sagrado” e se refere ao contexto dos que trabalhavam em templos não-judaicos. Enquanto a forma feminina, qadesh(ah) descrevia deveres sexuais, o vocábulo masculino aplicava-se a sacerdotes com outras funções no culto.

Perceberam aí a malícia dos tradutores cristãos que interpretam tais passagens como lhes convém?

NOTA: Ao contrário do que os pastores pregam por aí nas igrejas, a prostituição na Bíblia era natural e não era considerada pecaminosa, pois servia até para salvaguardar a virgindade de muitas mulheres solteiras e o direito de propriedade dos maridos. Em Gênesis 38.12-19, vemos Tamar disfarçando-se de prostituta para seduzir e transar com Judá; Em Josué 2.1, vemos que dois espias enviados por Josué ao chegarem em Jericó, não procuraram outro lugar para “pousar” senão a casa da prostituta Raabe; e em Juízes 16.1, vemos Sansão – um homem escolhido por Jeová – transando também com uma prostituta. Em lugar nenhum do Velho Testamento lemos explicitamente a proibição de relações sexuais antes do casamento; pelo contrário, no livro de Cantares encontramos relatos de uma relação amorosa proibida e acima de tudo pedófila! Ainda de acordo com Wink (2008,p.p.14-15), “a poligamia era vivida tanto no Velho como no Novo Testamento e continuou a ser praticada esporadicamente no judaísmo até alguns séculos depois do período do Novo Testamento; isso pode-se saber por meio do Mishnah e do Talmude”! Confira também em I Tm 3.2,12 e Tt 1.6.

Quanto a I Coríntios 6.9 e I Timóteo 1.10, Wink também afirma categoricamente que “não é claro que referem-se a parceiros “ativos” ou “passivos” em relações homossexuais ou prostitutos do sexo masculino homossexuais ou heterossexuais. Não se sabe se era apenas homossexualidade, promiscuidade ou sexo por dinheiro.” (Ibid,p.10)

Mas e quanto aos outros versículos? O que realmente dizem sobre a homossexualidade? Quais as interpretações corretas? Vamos tecer algumas considerações acerca deles:

a) Levítico 18.22 e 20.13 diz que é abominação um homem deitar-se com outro homem e ordena que tais homens sejam mortos. Tal ato foi abominado pelos hebreus por diversas “razões”:

I – O conhecimento hebraico pré-científico entendia que o sêmen continha a totalidade da vida que iria nascer. Sem conhecer óvulos nem ovulação, os hebreus achavam que a mulher fornecia apenas o espaço para a incubação. Quando o derramar do sêmen fugia do propósito de procriação, como coito interrompido, masturbação masculina e atos homossexuais, era considerado abominação – semelhante ao aborto ou assassinato. Ao contrário do homem, não havia qualquer proibição desses atos entre mulheres, deixando claro o patriarcalismo da cultura hebraica.

II – A recusa de Onan de engravidar sua cunhada viúva, praticando o coito interrompido, foi interpretada por Moisés como séria violação do decreto divino a ponto dele ser [supostamente] morto por Javé [Gn 38.1-11].

b) Romanos 1.26-27 referem-se a eles como “praticantes de imoralidades”. O que enquadra praticamente a toda a humanidade, pois qual desses cristãos propagadores de tal Palavra que não peca? Não há diferença alguma entre um pecado e outros citados por Paulo. Isto só prova que de “pecado” ele não entendia nem dos dele!

O Livro de Levítico

O livro de Levítico – de acordo com a tradição – foi escrito por Moisés e lida muito com assuntos relacionados à pureza, santidade de Deus e a santidade na vida cotidiana dos hebreus. Foi o primeiro livro a ser ensinado para as crianças na educação judaica. Os “sábios” judeus decidiram que suas crianças deveriam ser educadas sobre a santidade de Deus e a responsabilidade de viver uma vida “santa”.

Mas Levítico está longe de conter o verdadeiro significado de pureza e santidade! A “santidade” exigida e vivida nele não passa simplesmente da imperfeita e imperiosa vontade do homem – Moisés! Não sabemos como um livro escrito há milhares de anos, com um conteúdo machista e absurdamente desumano, pode servir de base na educação de crianças!

Talvez o que é/foi passado para essas crianças seja o mesmo conteúdo que é passado nas igrejas cristãs de hoje; ou seja, o que o torna desumano e insano é camuflado com a mensagem de pureza e santidade de Deus.

Não precisa ser um bom observador para perceber que os versículos mais citados pelos cristãos hoje [do livro de Levítico] são aqueles que condenam a homossexualidade. Esses… Eles têm na ponta da língua! Porém, os mesmos cristãos, de um modo geral, sabem reter muito bem o que lhes convém nesse livro e descartar o que não lhes interessa. A exemplo disso vemos:

I – Nudez natural: A nudez natural, típica do Éden, era condenada pelos escritores do judaísmo – Moisés, Ezequiel, Isaías e Samuel – até no âmbito da família: Lv 18.6-19; Ez 22.10; II Sm 6.20; 10.4; Is 20.2-4 e 47.3). Era crime um filho ver a nudez do pai: Gn 9.20-27.

Todavia, não mais se cobra tal conduta entre os atuais cristãos. Pelo contrário, existem relatos de pais cristãos que tomam até banho junto aos seus filhos [homens]. Estão estes pais cometendo algum pecado? Claro que não! Quem se importa com tamanha bobagem?

II – Relações sexuais no período menstrual: A lei de Levítico proibia relações sexuais nos sete dias do período menstrual [cfr. 15.18-24], considerando o praticante “imundo”. Depois, Moisés achando que estava sendo benevolente com tais “transgressores”, resolveu executá-los: Lv 18.19. Até a própria mulher, mesmo não tendo relações sexuais, era considerada imunda no período menstrual!

Pergunta: Quais casais cristãos que saem confessando terem relações sexuais no período menstrual da mulher? Quem se importa com a intimidade “alheia” de casais heterossexuais?

III – O fluxo seminal do homem: As pessoas que tocassem no sêmen eram consideradas “impuro-imundas” e tinham que ser lançadas fora do arraial, inclusive o próprio homem, caso ejaculasse durante o sono [polução noturna]: Lv 15.2,16-18; 22.4; Nm 5.2.

Pergunta: Quais dos adolescentes [meninos] ou até mesmo homens são considerados “imundos” nas igrejas cristãs de hoje; até por praticarem a masturbação, o que consideramos natural para o desenvolvimento sexual? É verdade que em algumas igrejas ainda se prega que a masturbação é um pecado, porém não impede que tais adolescentes/homens a pratiquem e nem os exclui da congregação; até porque é praticamente impossível monitorá-los!

Até que ponto as proibições de Levítico devem ser aceitas pela consciência cristã ou de outros? A não ser que aceitemos todas as proibições desse livro, deveria haver alguma razão para estabelecer discriminações.

Creio que esses três itens são suficientes para uma boa compreensão da omissão e descarte dessas passagens pelos chamados “cristãos” da atualidade. Não vamos entrar em outras “proibições” de Moisés a não ser nestas de caráter sexual.

Jesus e a Homossexualidade

A homossexualidade nunca é mencionada nas narrativas do ministério de Jesus nos quatro evangelhos; e isso tem sido um “espinho” no calcanhar dos cristãos homofóbicos – a exemplo do Silas Malafaia – que tentam usar a Bíblia como arma para condenar homossexuais e subjugá-los a uma ditadura cristã.

Segundo os evangelhos, sempre que Jesus mencionou Sodoma, identificou o pecado da cidade como negação de hospitalidade aos estrangeiros. Como exemplo disso, lemos no livro de Luca que Jesus critica as cidades que evitavam hospedar os discípulos: “Digo-vos que naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade” [10.12]. Não há uma passagem sequer em que Jesus tenha feito alusão aos homossexuais como “malditos”. Pelo contrário, Cristo falou contra muitas coisas: divórcio, falta de amor ao próximo, pena de morte… Mas não falou absolutamente NADA contra a homossexualidade.

Há quem diga que Jesus ao proferir as palavras contidas no livro de Mateus, capítulo 19 e versículo 5, ele tenha deixado claro que o “homem nasceu para a mulher” e vice-versa. Mas isso não deixa de ser mais uma tentativa de condenar a homossexualidade através das palavras do Cristo. No mesmo capítulo Jesus tratou de vários temas como: divórcio, relações sexuais ilícitas, casamento e por fim sobre a condição dos Eunucos.

Como naquela época a palavra “homossexual” não tinha sido empregada para homens que sentiam atração pelo próprio sexo, talvez o termo “eunuco” tenha sido aplicado pelo Cristo aos homossexuais também… Quem sabe? Ao contrário de Paulo – que espero estar à destra do diabo no inferno – Jesus não usou em momento algum a palavra “sodomitas”.

Mas a questão é que os cristãos têm afirmado que através da fé em Jesus os homossexuais podem “achar a cura” para sua condição sexual. O que não é verdade!

Vamos tomar, por exemplo, a condição dos eunucos tanto no Velho como no Novo Testamento. Durante séculos os eunucos foram proibidos de entrar na congregação [ou templo] por causa do seu “defeito” nos testículos (Deuteronômio 23.1).

Estranho o deus de Moisés que operou tantos milagres como criar o homem do barro (Gn 2.7), de uma costela masculina, formar uma mulher perfeita (Gn 2.21-22), abrir o mar vermelho (Ex 14.21), destruir grandes muralhas (Js 6.20) e curar leproso (II Rs 5.14), não teve misericórdia de um simples eunuco e assim restaurar seus testículos, tornando-o digno de entrar no templo. Antes preferiu condená-lo à exclusão!

E não há um registro sequer nos quatro evangelhos em que Jesus tenha restaurado testículos e funções sexuais de algum eunuco, tornando-o apto ao casamento. Alguém se habilita a mostrar?

Escrituras de Paulo

Para podermos interpretar o capítulo de Romanos referente à homossexualidade é preciso primeiro conhecer quem foi seu escritor, o que pensava e como agia segundo a sua ignorância!

Paulo considerava a homossexualidade tão contrária à natureza quanto o uso de cabelo comprido pelos homens: confira Rm 1.26 e 1º Co 2.14.

Embora a descrição de Paulo em Rm 1 não se aplique a homossexuais que não são idólatras nem praticam atos lascivos e nem mesmo se engajam em atos contrários à sua orientação sexual, ainda considero uma afronta da parte dele à liberdade de qualquer ser humano de fazer o que bem quiser da sua vida! Por que o “apóstolo” não citou os atos de pedofilia praticados pelos heróis bíblicos no passado?

O “apóstolo” menciona perversões particulares da prática homossexual de acordo a sua interpretação da Lei (I Tm 1) e do “reino de seu deus” (I Co 6); porém vemos que apesar de muitos acreditarem que tal apóstolo foi inspirado pelo espírito santo, ele não tinha conhecimento sobre orientação sexual e tampouco sobre o reino de seu deus. De acordo com o Novo Testamento, Jesus era o próprio Deus em carne e proprietário do reino celestial, porém em nenhum dos evangelhos lemos sobre a proibição de Cristo feita aos homossexuais de entrar no seu reino; mas Paulo contrariando a seu próprio “Senhor”, ousou fazê-lo.

Não é claro se o termo usado por Paulo em tais passagens referem-se a parceiros “ativos” e “passivos” em relações homossexuais ou a prostitutos do sexo masculino homossexuais ou heterossexuais. Não se sabe se a questão era apenas homossexualidade ou promiscuidade e sexo por dinheiro. O que se sabe – hoje – é que o tal apóstolo julgava-se inspirado por seu deus ao ponto de escrever suas “asneiras” sem ao menos imaginar que a ciência avançaria e chegaria ao ponto de contradizer seus argumentos.

Ainda em Rm 1.28-32, Paulo situa a homossexualidade no centro de seu argumento com a função de ilustrar de que maneira a idolatria nos leva a comportamentos contrários à natureza; ou seja, desvio da ordem estabelecida por seu deus na criação. Para ele, seu deus criou o homem para a mulher e vice-versa; considerando assim a homossexualidade um desvio da intenção de seu deus na criação do homem e da mulher.

Porém, notem que nos dias atuais, principalmente nas igrejas cristãs, quantos heterossexuais [inclusive pastores] se enquadram nesta lista de vícios elaborada pelo apóstolo:

a) Injustiça – Inúmeros cristãos cometem injustiças dentro e fora da igreja;

b) Malícia – 100% dos heterossexuais que estão nas igrejas são maliciosos;

c) Avareza – Inúmeros pastores [ricos] são avarentos;

d) Invejosos – Quem poderá dizer que nunca invejou algo na vida?

e) Homicidas – Inúmeros heterossexuais estão cumprindo pena por homicídio;

f) Contenda – Isto é o que mais acontece no seio da igreja.

g) Dolo – É a arte mais usada pelos chamados pastores de ovelhas. O próprio Paulo foi um dos que cometeu “dolo” [II Co. 12.16]. Quem se habilita dizer o lugar que o deus dele o colocou: céu ou inferno?

h) Malignidade – Segundo a bíblia, até o próprio cristo era mal [Mc 10.17-27]. O seus seguidores escapariam do mesmo destino?

i) Difamadores – A bíblia está cheia de exemplos de difamações praticadas pelos santos homens heterossexuais de Javé;

j) Caluniadores – idem itens b e f;

l) Soberba – Assista um pronunciamento de Malafaia e depois tire suas conclusões.

E muito mais: presunção, desobediência, insensatez, perfídia, etc.

Todos esses itens são praticados por heterossexuais dentro e fora das igrejas cristãs, mas injustamente são direcionados em forma de acusações pelos próprios cristãos apenas aos homossexuais. Entretanto, para a vergonha de tais cristãos homofóbicos, vemos que a crítica de Paulo era contra os que, se sentindo livres desses vícios passavam a julgar os outros que praticavam: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.” (Rm 2.1) Pelo menos aqui o falso apóstolo pareceu misericordioso e justo!

Como o próprio Cobb Jr. diz: “Seria bom que todos os que condenam a homossexualidade e assim se auto-justificam, lessem com atenção do versículo 27 do primeiro capítulo de Romanos até o capítulo 2.1. Se o fizerem, a Igreja será um lugar bem diferente do que é agora.” (Cobb Jr, p. 45)

Conclusão

Ralph Blair (1972, p.24) convictamente afirma que jamais algum homossexual foi curado. “Não existe nenhuma evidência da mudança de orientação de homossexuais para a heterossexualidade nem por meio de terapia nem de conversão cristã ou de orações”. Blair é um psicoterapeuta americano, fundador da Comunidade Homossexual Centro de Orientação, em Nova York. Em 1975, fundou Evangélicos Preocupados, Inc. (ou CE), uma rede de gays e lésbicas cristãos evangélicos e amigos. Então, com que base os cristãos afirmam e até fazem questão de expor pessoas que alegam ter sido curadas da homossexualidade? A única base que percebemos em suas afirmações é o que eles chamam de “fé”. Daí eu afirmo: Sem fé é impossível aceitar a condição homossexual!

Ainda as escritoras e pesquisadoras Letha Scanzoni e Virginia Ramsey Mollenkott, acreditam que a Bíblia claramente condena certos tipos de práticas homossexuais como o estupro coletivo cometido na narração de Sodoma; porém silencia sobre a “ideia de orientação homossexual pela vida inteira”. (Scanzoni e Mollenkott, Is the Homosexual my Neighbor? Pp. 111,71,72). É claro que muitos destes autores, à exemplo de Scanzoni e Mollenkott, ainda apresentam alguma consideração pelos escritos bíblicos, mas isso fica por conta da crença deles, o que não é o nosso caso que procuramos “enxergar” tais escrituras de uma forma crítica e livre de crenças.

A verdade é que o deus hebreu tinha/tem paixão por sua principal criação. Um Ser Supremo que cria primeiro o homem; exige um sinal [corte no pênis – prepúcio] como aliança entre criatura-masculinizada e criador-masculinizado; que tem um espírito que fecunda mulher; que encarna em forma de homem; que não toca em mulheres durante sua vida terrena, não cumprindo assim a própria lei natural estabelecida por Ele mesmo que é “casar” e “procriar”… Não pode de maneira alguma abominar os homossexuais pela condição estabelecida por Ele mesmo! E, provavelmente o próprio Paulo sabia disso, pois seguiu os mesmos passos de seu “senhor” não casando, não tocando em mulheres, oferecendo seu prepúcio ao seu deus e condenando os homossexuais ao inferno!

Já tinha lido sobre humanos oferecerem seus filhos aos seus deuses, mas oferecerem o prepúcio a Javé… Éca! O que o deus hebreu fez com tantos prepúcios? Implantou nos seus anjos?

Quanto a história de Sodoma, resta-nos saber – se possível for – o que Ló fazia numa cidade onde os cristãos atuais a consideram como “cidade de homossexuais”? O que teria levado Ló a ir morar em Sodoma? Pregação do “Evangelho”? Por que hospedaram a Ló e sua família? Por que nunca abusaram de Ló sexualmente? Por que Ló permitiu que suas filhas se tornassem noivas dos “sodomitas”?

Creio que essas perguntas só poderão ser respondidas pelos nossos acusadores – os cristãos – que recebem o espírito santo no corpo, revelando assim todas as “coisas ocultas”!

Temos que encarar a Bíblia e seus relatos como um livro de lendas, contos e mitos, que com o passar dos séculos vai se tornando obsoleto e desqualificado para ensinar, instruir, conduzir e até julgar os seres humanos! É claro que existem fatos históricos contidos nela, mas isso podemos encarar como um simples registro de uma raça que viveu no passado e que continua a manter viva a sua “história”, mesmo que seja através do preconceito!

REFERÊNCIAS:

A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 1995, 7ª Impressão.

A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada. Ed. 1992. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1992.

A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida. Ed. 1995. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

Bíblia Católica dos Monges de Maredsous. São Paulo – SP: Ave Maria, 1958.

Bíblia de Estudo Plenitude. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

BLAIR, Ralph. Etiological and Treatment Literature on Homosexuality (New York: Homosexual Community Counseling Center, 1972).

WINK, Walter; NELSON, James B.; JENNINGS, Theodore W.; COBB JR. B. John; JOHNSTON, Robert K. Homossexualidade Perspectivas Cristãs. Tradução de Jaci Maraschin. São Paulo: Fonte Editorial, 2008


Sobre a autora


Andrea Freitas Foltz (“A Profetisa”) é filha de pais brasileiros, com descendência alemã. Advogada, mas atuando como escritora, é casada e tem um filho, Andrew. Sua formação religiosa era evangélica, mas abandonou a crença quando percebeu que no meio em que vivia (a igreja) havia pessoas que diziam ser algo e no íntimo eram outra coisa. O pseudônimo “A Profetisa” foi criado por ela em resposta aos ataques de muitos “cristãos fanáticos” contra a classe homossexual. Desde então, vive para combater o comportamento homofóbico e os absurdos pregados pelos chamados “seguidores de Cristo” contra os homossexuais. A estes, dedica todo o seu amor, carinho e luta através do blogue http://andreafreitas.wordpress.com .