Por Andrea Freitas
Foltz (publicado originalmente em
http://andreafreitas.wordpress.com/category/destruindo-sofismas-cristaos)
A Bíblia nunca poderia
ser divina; isto percebemos quando a lemos e fazemos a separação do
que os seus escritores expressaram durante aquela época para a
realidade em que vivemos. Os autores bíblicos eram ignorantes a
respeito de inúmeros assuntos e isto inclui também a
homossexualidade. Sem firme fundamentação nos seus argumentos sobre
a sexualidade humana, os cristãos acabam por reduzir os textos
usados contra a homossexualidade a referências “mal-interpretadas”
ou mal-induzidas por seus líderes!
A cultura dos hebreus
era machista e até hoje continua a ser no meio cristão. Vemos
através de suas teorias a respeito de seu deus que se “apresentava”
como um ser masculinizado [Gn 32.24,28] e que criou outros seres
[anjos] também masculinizados [Gn 18.2; 32.24] – segundo suas
“aparições”. Por que o Criador não se deu ao trabalho de
criar um ser celestial sequer com característica feminina? Seria ele
também preconceituoso? Machista?
O homem era o centro
das atenções do deus hebreu, com um corte no pênis [prepúcio]
simbolizando uma aliança entre a criatura-macho e o criador
masculinizado [Gn 17.10-14]. Tudo isso contribuiu para que a condição
da homossexualidade, fosse encarada como aberração e abominação,
como eles bem pregam por aí!
Durante toda a
existência do cristianismo, os cristãos que se opõem aos direitos
dos gays e lésbicas citam frequentemente Gênesis 19 (a história de
Sodoma) para repudiarem a homossexualidade e todos aqueles que nascem
sob essa condição. Tal interpretação mostra até que ponto o
preconceito e a homofobia deformam e camuflam a verdadeira causa da
destruição dessas cidades nos relatos bíblicos.
A verdade é que tanto
no Antigo como no Novo Testamento, o “pecado” de Sodoma nunca foi
entendido como homossexualidade. Ao contrário, era egoísmo,
orgulho, descaso perante pobres e da falta de hospitalidade para com
os estrangeiros; pois no contexto do deserto, a recusa de hospedar os
estrangeiros poderia significar a morte. Confira: Ezequiel 16.49-50.
Inúmeros teólogos
cristãos e autores sérios de artigos que abordam a questão da
homossexualidade afirmam isso:
1 - Walter Wink –
professor do Seminário Teológico, Doutor em Teologia (Th.D) do
Union Theological Seminary de Nova York;
2 - Theodore W.
Jennings – professor-assistente no Chicago Theological Seminary;
3 - John B. Cobb Jr. –
Professor Emérito de teologia e co-diretor do Centro de Estudos
sobre Processo da Faculdade de Teologia de Claremont, Califórnia;
4 - James B. Nelson –
professor de ética cristã no United Theological Seminary em New
Brighton e Minnesota;
5 - Robert K. Johnston
– Ph.D., professor de Teologia e Cultura no Seminário Teológico
Fuller, em Pasadena – Califórnia… Dentre outros!
A Verdade que liberta
Segundo Nelson (2008),
os estudos bíblicos contemporâneos indicam com suficiente persuasão
que o tema principal da história e a preocupação do escritor
[Moisés, ou seja lá quem escreveu] não era a atividade
homossexual, mas a violação da justiça social rudimentar e das
antigas normas hebraicas de hospitalidade. O pecado de Sodoma foi a
quebra das leis de hospitalidade e justiça.
Relembremos ainda que
era prática comum no Oriente Médio, na época, submeter os
inimigos do sexo masculino capturados ao estupro anal. A prática
significava domínio e desprezo. À medida que a atividade
homossexual expressava ódio e desprezo – particularmente nas
sociedades que davam grande importância à dignidade masculina –
era natural que essa atividade fosse sumariamente rejeitada.
Fazendo-se justiça ao
texto, é difícil considerar a narrativa sobre Sodoma como
julgamento sobre todas as atividades homossexuais, uma vez que estava
em jogo o estupro homossexual, esse sim, condenado. Para uma melhor
compreensão do que seria o “estupro homossexual”, é o mesmo que
acontece hoje em nossos presídios. Alguns presos [heterossexuais]
indignados com criminosos julgados como pedófilos ou estupradores,
fazem “justiça” própria submetendo o acusado à vergonha de ser
molestado sexualmente; dando-lhe a mesma paga pelo crime cometido.
Segundo Wink, “o
pecado dos sodomitas era o rapto homossexual perpetrado por
heterossexuais com a intenção de humilhar os estrangeiros ao
tratá-los “como mulheres”, desmasculinizando-os” (2008, p. 9).
E o mesmo acontece em Juízes 19.21 – acrescenta ele. “Os casos
brutais de estupro praticados por bandos em nada correspondem à
questão da legitimidade ou não das consentidas expressões de amor
entre adultos do mesmo sexo” (Ibid, p.9).
Em Dt 23.17-18, Wink
lamenta que em algumas versões – especificamente a King James –
o termo usado como “sodomita”, na verdade se refere a um
“garanhão” heterossexual envolvido com os ritos cananeus de
fertilidade infiltrados no culto judaico. Veja o uso do termo em
questão por outras traduções:
- Bíblia Católica –
Versão dos Monges de Maredsous [1958]: omite tanto “prostituto”
como “sodomita”;
- Tradução do Novo
Mundo das Escrituras Sagradas [1986]: também usa o termo
“prostitutos” tanto para homens como para mulheres.
- Bíblia na Linguagem
de Hoje [1988]: “refere-se tanto a homens e mulheres como
“praticantes de prostituição”;
- Bíblia de Jerusalém
[1995]: usou o termo “prostituto sagrado”;
- Bíblia Plenitude
[2002]: traduziu como “sodomita”, seguindo o exemplo da King
James;
- Traduções de João
Ferreira de Almeida:
a) Revista e Atualizada
[1992]: usou o termo “Sodomita”;
b) Revista e Corrigida
[1995]: usou o termo “Sodomita”.
Segundo Johnston
(2008), tanto o texto de Dt 23.17-19 como I Rs 14.24 e II Rs 23.7,
que parecem referir-se a “prostitutos sagrados” masculinos,
trata-se na verdade, de tradução errada da palavra hebraica qadesh.
A raiz da palavra significa “sagrado” e se refere ao contexto dos
que trabalhavam em templos não-judaicos. Enquanto a forma feminina,
qadesh(ah) descrevia deveres sexuais, o vocábulo masculino
aplicava-se a sacerdotes com outras funções no culto.
Perceberam aí a
malícia dos tradutores cristãos que interpretam tais passagens como
lhes convém?
NOTA: Ao contrário do
que os pastores pregam por aí nas igrejas, a prostituição na
Bíblia era natural e não era considerada pecaminosa, pois servia
até para salvaguardar a virgindade de muitas mulheres solteiras e o
direito de propriedade dos maridos. Em Gênesis 38.12-19, vemos Tamar
disfarçando-se de prostituta para seduzir e transar com Judá; Em
Josué 2.1, vemos que dois espias enviados por Josué ao chegarem em
Jericó, não procuraram outro lugar para “pousar” senão a casa
da prostituta Raabe; e em Juízes 16.1, vemos Sansão – um homem
escolhido por Jeová – transando também com uma prostituta. Em
lugar nenhum do Velho Testamento lemos explicitamente a proibição
de relações sexuais antes do casamento; pelo contrário, no livro
de Cantares encontramos relatos de uma relação amorosa proibida e
acima de tudo pedófila! Ainda de acordo com Wink (2008,p.p.14-15),
“a poligamia era vivida tanto no Velho como no Novo Testamento e
continuou a ser praticada esporadicamente no judaísmo até alguns
séculos depois do período do Novo Testamento; isso pode-se saber
por meio do Mishnah e do Talmude”! Confira também em I Tm 3.2,12 e
Tt 1.6.
Quanto a I Coríntios
6.9 e I Timóteo 1.10, Wink também afirma categoricamente que “não
é claro que referem-se a parceiros “ativos” ou “passivos” em
relações homossexuais ou prostitutos do sexo masculino homossexuais
ou heterossexuais. Não se sabe se era apenas homossexualidade,
promiscuidade ou sexo por dinheiro.” (Ibid,p.10)
Mas e quanto aos outros
versículos? O que realmente dizem sobre a homossexualidade? Quais as
interpretações corretas? Vamos tecer algumas considerações acerca
deles:
a) Levítico 18.22 e
20.13 diz que é abominação um homem deitar-se com outro homem e
ordena que tais homens sejam mortos. Tal ato foi abominado pelos
hebreus por diversas “razões”:
I – O conhecimento
hebraico pré-científico entendia que o sêmen continha a totalidade
da vida que iria nascer. Sem conhecer óvulos nem ovulação, os
hebreus achavam que a mulher fornecia apenas o espaço para a
incubação. Quando o derramar do sêmen fugia do propósito de
procriação, como coito interrompido, masturbação masculina e atos
homossexuais, era considerado abominação – semelhante ao aborto
ou assassinato. Ao contrário do homem, não havia qualquer proibição
desses atos entre mulheres, deixando claro o patriarcalismo da
cultura hebraica.
II – A recusa de Onan
de engravidar sua cunhada viúva, praticando o coito interrompido,
foi interpretada por Moisés como séria violação do decreto divino
a ponto dele ser [supostamente] morto por Javé [Gn 38.1-11].
b) Romanos 1.26-27
referem-se a eles como “praticantes de imoralidades”. O que
enquadra praticamente a toda a humanidade, pois qual desses cristãos
propagadores de tal Palavra que não peca? Não há diferença alguma
entre um pecado e outros citados por Paulo. Isto só prova que de
“pecado” ele não entendia nem dos dele!
O Livro de Levítico
O livro de Levítico –
de acordo com a tradição – foi escrito por Moisés e lida muito
com assuntos relacionados à pureza, santidade de Deus e a santidade
na vida cotidiana dos hebreus. Foi o primeiro livro a ser ensinado
para as crianças na educação judaica. Os “sábios” judeus
decidiram que suas crianças deveriam ser educadas sobre a santidade
de Deus e a responsabilidade de viver uma vida “santa”.
Mas Levítico está
longe de conter o verdadeiro significado de pureza e santidade! A
“santidade” exigida e vivida nele não passa simplesmente da
imperfeita e imperiosa vontade do homem – Moisés! Não sabemos
como um livro escrito há milhares de anos, com um conteúdo machista
e absurdamente desumano, pode servir de base na educação de
crianças!
Talvez o que é/foi
passado para essas crianças seja o mesmo conteúdo que é passado
nas igrejas cristãs de hoje; ou seja, o que o torna desumano e
insano é camuflado com a mensagem de pureza e santidade de Deus.
Não precisa ser um bom
observador para perceber que os versículos mais citados pelos
cristãos hoje [do livro de Levítico] são aqueles que condenam a
homossexualidade. Esses… Eles têm na ponta da língua! Porém, os
mesmos cristãos, de um modo geral, sabem reter muito bem o que lhes
convém nesse livro e descartar o que não lhes interessa. A exemplo
disso vemos:
I – Nudez natural: A
nudez natural, típica do Éden, era condenada pelos escritores do
judaísmo – Moisés, Ezequiel, Isaías e Samuel – até no âmbito
da família: Lv 18.6-19; Ez 22.10; II Sm 6.20; 10.4; Is 20.2-4 e
47.3). Era crime um filho ver a nudez do pai: Gn 9.20-27.
Todavia, não mais se
cobra tal conduta entre os atuais cristãos. Pelo contrário, existem
relatos de pais cristãos que tomam até banho junto aos seus filhos
[homens]. Estão estes pais cometendo algum pecado? Claro que não!
Quem se importa com tamanha bobagem?
II – Relações
sexuais no período menstrual: A lei de Levítico proibia relações
sexuais nos sete dias do período menstrual [cfr. 15.18-24],
considerando o praticante “imundo”. Depois, Moisés achando que
estava sendo benevolente com tais “transgressores”, resolveu
executá-los: Lv 18.19. Até a própria mulher, mesmo não tendo
relações sexuais, era considerada imunda no período menstrual!
Pergunta: Quais casais
cristãos que saem confessando terem relações sexuais no período
menstrual da mulher? Quem se importa com a intimidade “alheia” de
casais heterossexuais?
III – O fluxo seminal
do homem: As pessoas que tocassem no sêmen eram consideradas
“impuro-imundas” e tinham que ser lançadas fora do arraial,
inclusive o próprio homem, caso ejaculasse durante o sono [polução
noturna]: Lv 15.2,16-18; 22.4; Nm 5.2.
Pergunta: Quais dos
adolescentes [meninos] ou até mesmo homens são considerados
“imundos” nas igrejas cristãs de hoje; até por praticarem a
masturbação, o que consideramos natural para o desenvolvimento
sexual? É verdade que em algumas igrejas ainda se prega que a
masturbação é um pecado, porém não impede que tais
adolescentes/homens a pratiquem e nem os exclui da congregação; até
porque é praticamente impossível monitorá-los!
Até que ponto as
proibições de Levítico devem ser aceitas pela consciência cristã
ou de outros? A não ser que aceitemos todas as proibições desse
livro, deveria haver alguma razão para estabelecer discriminações.
Creio que esses três
itens são suficientes para uma boa compreensão da omissão e
descarte dessas passagens pelos chamados “cristãos” da
atualidade. Não vamos entrar em outras “proibições” de Moisés
a não ser nestas de caráter sexual.
Jesus e a
Homossexualidade
A homossexualidade
nunca é mencionada nas narrativas do ministério de Jesus nos quatro
evangelhos; e isso tem sido um “espinho” no calcanhar dos
cristãos homofóbicos – a exemplo do Silas Malafaia – que tentam
usar a Bíblia como arma para condenar homossexuais e subjugá-los a
uma ditadura cristã.
Segundo os evangelhos,
sempre que Jesus mencionou Sodoma, identificou o pecado da cidade
como negação de hospitalidade aos estrangeiros. Como exemplo disso,
lemos no livro de Luca que Jesus critica as cidades que evitavam
hospedar os discípulos: “Digo-vos que naquele dia haverá menos
rigor para Sodoma do que para aquela cidade” [10.12]. Não há uma
passagem sequer em que Jesus tenha feito alusão aos homossexuais
como “malditos”. Pelo contrário, Cristo falou contra muitas
coisas: divórcio, falta de amor ao próximo, pena de morte… Mas
não falou absolutamente NADA contra a homossexualidade.
Há quem diga que Jesus
ao proferir as palavras contidas no livro de Mateus, capítulo 19 e
versículo 5, ele tenha deixado claro que o “homem nasceu para a
mulher” e vice-versa. Mas isso não deixa de ser mais uma tentativa
de condenar a homossexualidade através das palavras do Cristo. No
mesmo capítulo Jesus tratou de vários temas como: divórcio,
relações sexuais ilícitas, casamento e por fim sobre a condição
dos Eunucos.
Como naquela época a
palavra “homossexual” não tinha sido empregada para homens que
sentiam atração pelo próprio sexo, talvez o termo “eunuco”
tenha sido aplicado pelo Cristo aos homossexuais também… Quem
sabe? Ao contrário de Paulo – que espero estar à destra do
diabo no inferno – Jesus não usou em momento algum a
palavra “sodomitas”.
Mas a questão é que
os cristãos têm afirmado que através da fé em Jesus os
homossexuais podem “achar a cura” para sua condição sexual. O
que não é verdade!
Vamos tomar, por
exemplo, a condição dos eunucos tanto no Velho como no Novo
Testamento. Durante séculos os eunucos foram proibidos de entrar na
congregação [ou templo] por causa do seu “defeito” nos
testículos (Deuteronômio 23.1).
Estranho o deus de
Moisés que operou tantos milagres como criar o homem do barro (Gn
2.7), de uma costela masculina, formar uma mulher perfeita (Gn
2.21-22), abrir o mar vermelho (Ex 14.21), destruir grandes muralhas
(Js 6.20) e curar leproso (II Rs 5.14), não teve misericórdia de um
simples eunuco e assim restaurar seus testículos, tornando-o digno
de entrar no templo. Antes preferiu condená-lo à exclusão!
E não há um registro
sequer nos quatro evangelhos em que Jesus tenha restaurado testículos
e funções sexuais de algum eunuco, tornando-o apto ao casamento.
Alguém se habilita a mostrar?
Escrituras de Paulo
Para podermos
interpretar o capítulo de Romanos referente à homossexualidade é
preciso primeiro conhecer quem foi seu escritor, o que pensava e como
agia segundo a sua ignorância!
Paulo considerava a
homossexualidade tão contrária à natureza quanto o uso de cabelo
comprido pelos homens: confira Rm 1.26 e 1º Co 2.14.
Embora a descrição de
Paulo em Rm 1 não se aplique a homossexuais que não são idólatras
nem praticam atos lascivos e nem mesmo se engajam em atos contrários
à sua orientação sexual, ainda considero uma afronta da parte dele
à liberdade de qualquer ser humano de fazer o que bem quiser da sua
vida! Por que o “apóstolo” não citou os atos de pedofilia
praticados pelos heróis bíblicos no passado?
O “apóstolo”
menciona perversões particulares da prática homossexual de acordo a
sua interpretação da Lei (I Tm 1) e do “reino de seu deus” (I
Co 6); porém vemos que apesar de muitos acreditarem que tal apóstolo
foi inspirado pelo espírito santo, ele não tinha conhecimento sobre
orientação sexual e tampouco sobre o reino de seu deus. De acordo
com o Novo Testamento, Jesus era o próprio Deus em carne e
proprietário do reino celestial, porém em nenhum dos evangelhos
lemos sobre a proibição de Cristo feita aos homossexuais de entrar
no seu reino; mas Paulo contrariando a seu próprio “Senhor”,
ousou fazê-lo.
Não é claro se o
termo usado por Paulo em tais passagens referem-se a parceiros
“ativos” e “passivos” em relações homossexuais ou a
prostitutos do sexo masculino homossexuais ou heterossexuais. Não se
sabe se a questão era apenas homossexualidade ou promiscuidade e
sexo por dinheiro. O que se sabe – hoje – é que o tal apóstolo
julgava-se inspirado por seu deus ao ponto de escrever suas
“asneiras” sem ao menos imaginar que a ciência avançaria e
chegaria ao ponto de contradizer seus argumentos.
Ainda em Rm 1.28-32,
Paulo situa a homossexualidade no centro de seu argumento com a
função de ilustrar de que maneira a idolatria nos leva a
comportamentos contrários à natureza; ou seja, desvio da ordem
estabelecida por seu deus na criação. Para ele, seu deus criou o
homem para a mulher e vice-versa; considerando assim a
homossexualidade um desvio da intenção de seu deus na criação do
homem e da mulher.
Porém, notem que nos
dias atuais, principalmente nas igrejas cristãs, quantos
heterossexuais [inclusive pastores] se enquadram nesta lista de
vícios elaborada pelo apóstolo:
a) Injustiça –
Inúmeros cristãos cometem injustiças dentro e fora da igreja;
b) Malícia – 100%
dos heterossexuais que estão nas igrejas são maliciosos;
c) Avareza – Inúmeros
pastores [ricos] são avarentos;
d) Invejosos – Quem
poderá dizer que nunca invejou algo na vida?
e) Homicidas –
Inúmeros heterossexuais estão cumprindo pena por homicídio;
f) Contenda – Isto é
o que mais acontece no seio da igreja.
g) Dolo – É a arte
mais usada pelos chamados pastores de ovelhas. O próprio Paulo foi
um dos que cometeu “dolo” [II Co. 12.16]. Quem se habilita dizer
o lugar que o deus dele o colocou: céu ou inferno?
h) Malignidade –
Segundo a bíblia, até o próprio cristo era mal [Mc 10.17-27]. O
seus seguidores escapariam do mesmo destino?
i) Difamadores – A
bíblia está cheia de exemplos de difamações praticadas pelos
santos homens heterossexuais de Javé;
j) Caluniadores –
idem itens b e f;
l) Soberba – Assista
um pronunciamento de Malafaia e depois tire suas conclusões.
E muito mais:
presunção, desobediência, insensatez, perfídia, etc.
Todos esses itens são
praticados por heterossexuais dentro e fora das igrejas cristãs, mas
injustamente são direcionados em forma de acusações pelos próprios
cristãos apenas aos homossexuais. Entretanto, para a vergonha de
tais cristãos homofóbicos, vemos que a crítica de Paulo era contra
os que, se sentindo livres desses vícios passavam a julgar os outros
que praticavam: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando
julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti
mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.”
(Rm 2.1) Pelo menos aqui o falso apóstolo pareceu misericordioso e
justo!
Como o próprio Cobb
Jr. diz: “Seria bom que todos os que condenam a homossexualidade e
assim se auto-justificam, lessem com atenção do versículo 27 do
primeiro capítulo de Romanos até o capítulo 2.1. Se o fizerem, a
Igreja será um lugar bem diferente do que é agora.” (Cobb Jr, p.
45)
Conclusão
Ralph Blair (1972,
p.24) convictamente afirma que jamais algum homossexual foi curado.
“Não existe nenhuma evidência da mudança de orientação de
homossexuais para a heterossexualidade nem por meio de terapia nem de
conversão cristã ou de orações”. Blair é um psicoterapeuta
americano, fundador da Comunidade Homossexual Centro de Orientação,
em Nova York. Em 1975, fundou Evangélicos Preocupados, Inc. (ou CE),
uma rede de gays e lésbicas cristãos evangélicos e
amigos. Então, com que base os cristãos afirmam e até fazem questão
de expor pessoas que alegam ter sido curadas da homossexualidade? A
única base que percebemos em suas afirmações é o que eles chamam
de “fé”. Daí eu afirmo: Sem fé é impossível aceitar a
condição homossexual!
Ainda as escritoras e
pesquisadoras Letha Scanzoni e Virginia Ramsey Mollenkott, acreditam
que a Bíblia claramente condena certos tipos de práticas
homossexuais como o estupro coletivo cometido na narração de
Sodoma; porém silencia sobre a “ideia de orientação homossexual
pela vida inteira”. (Scanzoni e Mollenkott, Is the Homosexual my
Neighbor? Pp. 111,71,72). É claro que muitos destes autores, à
exemplo de Scanzoni e Mollenkott, ainda apresentam alguma
consideração pelos escritos bíblicos, mas isso fica por conta da
crença deles, o que não é o nosso caso que procuramos “enxergar”
tais escrituras de uma forma crítica e livre de crenças.
A verdade é que o deus
hebreu tinha/tem paixão por sua principal criação. Um Ser Supremo
que cria primeiro o homem; exige um sinal [corte no pênis –
prepúcio] como aliança entre criatura-masculinizada e
criador-masculinizado; que tem um espírito que fecunda mulher; que
encarna em forma de homem; que não toca em mulheres durante sua vida
terrena, não cumprindo assim a própria lei natural estabelecida por
Ele mesmo que é “casar” e “procriar”… Não pode de maneira
alguma abominar os homossexuais pela condição estabelecida por Ele
mesmo! E, provavelmente o próprio Paulo sabia disso, pois seguiu os
mesmos passos de seu “senhor” não casando, não tocando em
mulheres, oferecendo seu prepúcio ao seu deus e condenando os
homossexuais ao inferno!
Já tinha lido sobre
humanos oferecerem seus filhos aos seus deuses, mas oferecerem o
prepúcio a Javé… Éca! O que o deus hebreu fez com tantos
prepúcios? Implantou nos seus anjos?
Quanto a história de
Sodoma, resta-nos saber – se possível for – o que Ló fazia numa
cidade onde os cristãos atuais a consideram como “cidade de
homossexuais”? O que teria levado Ló a ir morar em Sodoma?
Pregação do “Evangelho”? Por que hospedaram a Ló e sua
família? Por que nunca abusaram de Ló sexualmente? Por que Ló
permitiu que suas filhas se tornassem noivas dos “sodomitas”?
Creio que essas
perguntas só poderão ser respondidas pelos nossos acusadores – os
cristãos – que recebem o espírito santo no corpo, revelando assim
todas as “coisas ocultas”!
Temos que encarar a
Bíblia e seus relatos como um livro de lendas, contos e mitos, que
com o passar dos séculos vai se tornando obsoleto e desqualificado
para ensinar, instruir, conduzir e até julgar os seres humanos! É
claro que existem fatos históricos contidos nela, mas isso podemos
encarar como um simples registro de uma raça que viveu no passado e
que continua a manter viva a sua “história”, mesmo que seja
através do preconceito!
REFERÊNCIAS:
A BÍBLIA DE JERUSALÉM.
São Paulo: Paulus, 1995, 7ª Impressão.
A Bíblia Sagrada.
Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e
Atualizada. Ed. 1992. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1992.
A Bíblia Sagrada.
Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e
Corrigida. Ed. 1995. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.
Bíblia Católica dos
Monges de Maredsous. São Paulo – SP: Ave Maria, 1958.
Bíblia de Estudo
Plenitude. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
BLAIR, Ralph.
Etiological and Treatment Literature on Homosexuality (New York:
Homosexual Community Counseling Center, 1972).
WINK, Walter; NELSON,
James B.; JENNINGS, Theodore W.; COBB JR. B. John; JOHNSTON, Robert
K. Homossexualidade Perspectivas Cristãs. Tradução de Jaci
Maraschin. São Paulo: Fonte Editorial, 2008
Sobre a autora
Andrea Freitas Foltz
(“A Profetisa”) é filha de pais brasileiros, com descendência
alemã. Advogada, mas atuando como escritora, é casada e tem um
filho, Andrew. Sua formação religiosa era evangélica, mas
abandonou a crença quando percebeu que no meio em que vivia (a
igreja) havia pessoas que diziam ser algo e no íntimo eram outra
coisa. O pseudônimo “A Profetisa” foi criado por ela em resposta
aos ataques de muitos “cristãos fanáticos” contra a classe
homossexual. Desde então, vive para combater o comportamento
homofóbico e os absurdos pregados pelos chamados “seguidores de
Cristo” contra os homossexuais. A estes, dedica todo o seu amor,
carinho e luta através do blogue http://andreafreitas.wordpress.com
.