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quinta-feira, 18 de abril de 2013

[Documentário] O Mesmo Amor

Por Espiritualidade Inclusiva

A pedidos, apresentamos aqui o vídeo-documentário "O Mesmo Amor", que mostra o trabalho realizado no Brasil pelas Igrejas Inclusivas.

O vídeo-documentário "O Mesmo Amor" foi produzido por quatro pessoas em parceria com a produtora Firehouse Media. "O Mesmo Amor" aborda a temática da homossexualidade dentro da religião, focando na existência de igrejas cristãs inclusivas. Os produtores Luiza Judice, Mariane Galacini, Ligia Dumit e Paulo do Valle são formados em Jornalismo pela PUC-Campinas e o vídeo é resultado de um projeto de conclusão de curso, produzido, gravado e editado de forma totalmente independente (e com o conteúdo bastante autoral).

 "Em tempos de Felicianos, Malafaias, Bolsonaros e a intolerância (ou ignorância/desconhecimento) de grande parcela da população, acreditamos que o tema do documentário incita a reflexão, repensa a tolerância e proporciona discussões por outro viés do assunto." [Palavras de Luiza Judice, uma das produtoras do vídeo]


O MESMO AMOR [documentário]:

 

http://www.youtube.com/watch?v=KzXmnrG7-Fk

O documentário "O Mesmo Amor" é um retrato da relação de homossexuais com a religião a partir da história de vida de personagens que encontraram, dentro de um ambiente religioso que acolhe a diversidade, conforto e realização com a própria fé. O projeto tem como foco a Igreja Cristã Evangelho Para Todos, uma das primeiras igrejas cristãs do Brasil a pregar a Teologia Inclusiva.

Parabéns aos produtores pela iniciativa!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

[Editorial] Ser Gay: o peso da discriminação


Por Paulo Stekel


Nestes últimos meses, em especial em novembro e dezembro, estive um tanto afastado das atividades do Movimento Espiritualidade Inclusiva e, mais ainda, das atualizações do blogue. O motivo foi familiar, já que perdi um irmão muito querido em uma tragédia. Depois disso, alguns ajustes foram necessários, o que me tomou mais tempo, sem contar a assimilação do que ocorreu. A morte, por mais que saibamos ser a única coisa certa após o nascimento, sempre desestabiliza a todos nós em alguma medida.

A propósito, a homofobia – discreta ou declarada – também tem a propriedade de desestabilizar qualquer um, por mais firme que alguém esteja em sua identidade e dignidade. Vejo isso a todo o tempo com meus amigos e amigas da comunidade LGBT, e mesmo na própria pele pude sentir isso ultimamente...

O processo do “ser gay” passa por várias fases: o descobrir-se, o aceitar-se, o identificar-se e o sentir-se digno, apesar do preconceito da sociedade. Cada pessoa LGBT passa por estas fases de um modo muito particular, e muita gente nunca chega à última.

A descoberta tem a ver com comparações de si mesmo e de seus desejos e sensações com os de outras pessoas do mesmo sexo. A aceitação tem a ver com um não poder mais negar a si mesmo que algo diferente da maioria acontece. A identificação com outros semelhantes ajuda a gerar a identidade “gay”, não padronizada, mas peculiar, ainda que LGBT na essência. A dignidade, por fim, tem a ver com o entendimento de que se é um ser humano como qualquer outro, não se justificando aceitar qualquer tipo de discriminação.

Passei por mais um teste desta última fase nas últimas semanas. Percebi a sutileza guardada pela homofobia familiar, instigada por doutrinas diabólicas de fundamentalistas evangélicos. O mais interessante é que, em todos os casos, o indivíduo gay é considerado impuro, sujo, pecaminoso, mas seu dinheiro é aceito de muito bom grado... Hipocrisia infernal! Nas famílias, em geral, por saber-se naturalmente o quanto os filhos gays cuidam de seus pais com responsabilidade, muitos se aproveitam disso e, nas horas mais graves, somem-se os filhos heterossexuais e restam apenas os gays para garantir a dignidade aos pais. Dignidade, aliás, que a estes filhos mesmos é negada... Não há nada de divino nesta relação de interesse. Por isso, a abomino e a desmantelo colocando todos os pingos nos “is” e exigindo minha dignidade por direito. Parece estar funcionando... mas ainda resta o peso da discriminação, que podemos sentir nas palavras não ditas e nos desvios calculados...

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No dia 13 de dezembro nosso blogue completou seu primeiro ano, bem como o próprio Movimento Espiritualidade Inclusiva. Fizemos muita coisa neste tempo. Vamos a uma pequena retrospectiva:

Em janeiro, tivemos duas atividades inseridas no Fórum Social Temático, uma em Porto Alegre e outra em Canoas, no RS (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/01/evento-palestra-sobre-espiritualidade.html).

Em fevereiro, fomos os primeiros a noticiar um caso de homofobia em Minas Gerais, e nosso artigo foi reproduzido por várias mídias LGBT de lá (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/02/homofobia-me-machuca-ou-mais-uma.html).

Em março, o Movimento Espiritualidade Inclusiva participou da 1ª Marcha das Mulheres em Eldorado do Sul – RS (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/03/evento-palestra-de-espiritualidade.html).

Em maio, o Movimento Espiritualidade Inclusiva entrou em processo de instalação de coordenadorias estaduais e municipais; participou como debatedor no Cine LGBT na 28ª Feira do Livro de Canoas – RS; foi recebido pelo representante da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual, uma coordenadoria recente ligada à Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos e criada pelo atual governo gaúcho (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/05/noticia-movimento-espiritualidade.html).


Em agosto, o jornalista e coordenador do Movimento Espiritualidade Inclusiva, Paulo Stekel, debateu o tema “Saúde Espiritual da Pessoa LGBT através da Inclusão”, dentro da 8ª Semana do Orgulho de Ser, no auditório da Faculdade Santo Agostinho (Teresina – Piauí) – ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/08/saude-espiritual-religiao-e-cidadania.html.

Em setembro, foi criado o Grupo de Encontro em Porto Alegre – RS (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/09/evento-participe-do-primeiro-grupo-de.html).

Em dezembro, o Movimento foi uma das três entidades da sociedade civil envolvidas na organização da 4ª Parada Livre de Canoas.

Em 2013, queremos continuar ampliando o número de Grupos de Encontro e o ativismo pró-LGBT, especialmente através de ações de enfrentamento da homofobia religiosa, que parece ter aumentado consideravelmente em 2012.

Um de nossos objetivos para o próximo ano é o lançamento de um livro sobre Espiritualidade Inclusiva, aliás, o primeiro sobre o assunto em Língua Portuguesa. Aguardem!

Outro objetivo importante, é a realização do 1° Seminário de Espiritualidade Inclusiva, que ocorrerá provavelmente em Porto Alegre – RS, mas ainda sem data definida.

Então, só nos resta dizer que estamos de volta e... Feliz Ano Novo a todos e a todas!!!!


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Nova Espiritualidade: A Homossexualidade


Por “Jesus Cristo” (mensagem canalizada através de Pamela Kribbe – ver www.jeshua.net)


Nota de Espiritualidade Inclusiva: Há algum tempo pessoas nos têm indagado sobre a opinião dos praticantes da “Nova Espiritualidade” a respeito da homossexualidade. A “Nova Espiritualidade” tem a ver com práticas dissociadas das grandes religiões históricas e inclui crenças como Teosofia, Ufologia, Canalização, Grande Fraternidade Branca, Consciências Índigo, além da prática de muitas terapias holísticas (Reiki, Florais, Apometria, Cromoterapia, etc). Realmente, há pouco material vindo destas fontes sobre a homossexualidade e, quando aparecem, geralmente guardam algum tipo de preconceito: ou a homossexualidade é entendida como “carma” de vidas passadas, ou como uma inadequação ao se nascer em um gênero diferente do vivido em encarnações recentes, ou disfunções nos chacras. Tudo preconceito puro e desconhecimento da realidade homossexual e, antes ainda, da realidade da sexualidade humana. O texto abaixo reproduzido é uma rara exceção. Apresenta a homossexualidade como natural e critica o preconceito, não a pessoa homossexual. É uma “canalização” (channeling), uma mensagem de tipo mediúnico recebida por uma canalizadora (médium) que vive na Holanda. Independente de acreditarmos ou não na origem espiritual da mensagem, o que é importante enaltecer é seu teor inclusivo, propósito principal do nosso blogue e do Movimento Espiritualidade Inclusiva.

A mensagem:

Meus amados Filhos,

Não há nada de errado com a homossexualidade. A homossexualidade é perfeitamente respeitável; a forma em que ela vem sendo retratada por várias tradições religiosas, como pecaminosa e prejudicial, origina-se do medo e do preconceito. Não há nada de errado em se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo. Na verdade, a preferência pelo mesmo sexo ou pelo outro sexo não é tão fixa e rigidamente dividida como muitas pessoas pensam. Você pode ser heterossexual e, ao mesmo tempo, ser atraído por pessoas do seu próprio sexo. Você pode sentir uma conexão de alma que transcende a forma física. Em outras palavras: você pode ser heterossexual no geral, mas sentir-se atraído por alguém do mesmo sexo porque existe uma conexão profunda no nível da alma. Existe uma escala móvel entre heterossexualidade e homossexualidade, e não uma fronteira fixa.

Do ponto de vista espiritual, o que importa nos relacionamentos sexuais é como um se conecta com o outro de alma para alma. Sempre que existe uma conexão profunda, marcada por uma parceria verdadeira e respeito mútuo, o fato do relacionamento entre homem-mulher, homem-homem ou mulher-mulher realmente não importa.

É lógico que é importante para o mundo se você é homossexual. Em muitos lugares ao redor do mundo ainda existe preconceito e hostilidade contra a homossexualidade. Muitas almas que encarnam como homossexuais são bastante corajosas, porque sabem que enfrentarão a questão da marginalização, de ser diferente dos outros e ter que lidar com hostilidade e incompreensão. A alma pode ter decidido conscientemente passar por essa experiência para enfrentar e superar a dor emocional de ser rejeitada e, com isto, tornar-se forte e independente, ou para elevar a consciência na Terra, fazendo as pessoas refletirem sobre as definições tradicionais mesquinhas e limitadas sobre a identidade sexual. Os homens homossexuais, por exemplo, podem mostrar como de ser do sexo masculino pode facilmente combinar com ser sensível e artístico. Homens e mulheres homossexuais encorajam as pessoas a pensarem de modo diferente sobre o que significa ser do sexo masculino ou feminino.

Para os homossexuais que se sentem dilacerados e em conflito sobre sua natureza sexual, eu diria:

Não julgue o seu modo natural de sentir; respeite sua natureza e sinta-se livre para ser quem você é. Seja fiel a si mesmo, não se esconda. Outras pessoas podem aprender alguma coisa com você. Cônjuges ou pais, que se sentem chocados e ofendidos quando você lhes conta sobre a sua natureza, serão tocados, de alguma forma, pela sua coragem e honestidade, mesmo que não demonstrem isso abertamente. A verdade sempre liberta as pessoas. Ao permanecer fiel a si mesmo, você se curará e será uma luz para os outros.

JESUS CRISTO


Mensagem de Jesus Cristo, através de Pamela Kribbe.

© Pamela Kribbe 2011

Tradução de Vera Corrêa veracorrea46@ig.com.br

Direitos Autorais Pamela Kribbe - A permissão é concedida para cópia e distribuição deste artigo na condição de que o endereço www.jeshua.net , esteja incluído como recurso e que ele seja distribuído livremente. E-mail: aurelia@jeshua.net


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Inclusão na Espiritualidade


Por Jéferson Cristian Guterres de Carvalho


Recebi um desafio de compartilhar neste espaço uma difícil, mas não impossível missão: espiritualidade inclusiva. Sim, digo difícil por que somos hipócritas ao dizer que adoramos um Deus que une os povos e ama a todos e a todas sem distinção de classe social, etnia, sexualidade ou religiosidade, mas continuamos “inundados” em pré-conceitos que atravessaram o tempo desde a era medieval na Europa e vêm em pleno século XXI em uma sociedade que se diz mais politizada e compreensiva. Fico imaginando a indignação de Deus ao enviar seu filho à Terra, entregando seu corpo e sangue por nós para que não maltratássemos o próximo e a próxima, e de repente vemos nos noticiários pessoas assassinadas por falsos movimentos ideológicos porque sua orientação sexual era diferentes destes. Quando penso em espiritualidade, melhor, quando a vivencio em meu dia-a-dia, vejo um mundo onde a felicidade é para todos e todas e onde ninguém critica o modo de pensar ou agir de cada um e cada uma.

Vivemos em um país que foi construído por diversas nacionalidades, tendo uma incrível e bela miscigenação que constitui um povo de múltipla beleza. E, como podemos ter esta riqueza genética em nosso povo e continuar matando uns aos outros, ou umas às outras, por coloração de pele ou modo de agir? Acredito que no início dos tempos, ou melhor, na pré-história, quando o(a) primata que deu origem à primeira espécie humana em nosso planeta, por não ter uma racionalidade como temos nos dias de hoje, provavelmente não compreendia que a ação sexual deveria ser hétero, a deve ter consumado com seres de mesmo sexo, e para eles e elas isso era normal. Temos também exemplos durante nossa história de autoridades políticas gregas, romanas, egípcias, e demais períodos em que se consumava o ato sexual com pessoas do mesmo sexo e não era considerado alguma agressão a moral e bons costumes, valores este criados por uma sociedade, ou melhor, por um governo que temia uma revolta do povo, e que criou certas regras de etiqueta a partir de uma imposição religiosa para que tivessem sempre o controle da situação. É fácil uma religião se utilizar de Deus, ou outro tipo de divindade, para favorecer seus interesses e de seu governo.

A liberdade religiosa deve ser uma dádiva não apenas de poucos, mas de todos, independente de sua orientação sexual, pois conheci um Jesus humano que vivia no meio dos(as) excluídos(as) sentado ao chão, comendo de pão puro e bebendo apenas água em copo de barro sujo, abraçando leprosos, perdoando falsos pecados impostos pela sociedade da época e amando seu próximo e sua próxima. Os templos religiosos não podem mais a renunciar seus fiéis, pois se assim o fizerem, deixarão de ser religiões e serão instituições homofóbicas e preconceituosas. E, digo com toda a veracidade que ao ler e pesquisar sobre as religiões em diferentes continentes para escrever este artigo não encontrei nenhuma DIVINDADE que seja contra a pessoa que tem sua orientação sexual definida: independente se é heterossexual ou se é homossexual, pois conforme a filosofia de cada religião, seita, doutrina ou sociedade, o importante é viver na paz e no amor se beneficiando de suas atitudes mais do que de seus pensamentos.


Sobre o autor


Jéferson Cristian Guterres de Carvalho é vice-presidente do Conselho Municipal de Juventude do município de Canoas – RS; militante da Pastoral da Juventude do Rio Grande do Sul (Vicariato Episcopal de Canoas no grupo de jovens JOCRE); graduando em bacharel em História na Universidade Luterana do Brasil – Campus Canoas; militar da Força Aérea Brasileira; colaborador da Coordenadoria Municipal de Políticas de Diversidade do município de Canoas.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Camiseta oficial do Movimento Espiritualidade Inclusiva

Por Espiritualidade Inclusiva


No dia 25 de setembro será lançada em nível nacional a camiseta oficial do Movimento Espiritualidade Inclusiva. Nas cores preta e branca e nos tamanhos M e G, a camiseta terá como preço de lançamento apenas R$ 30,00 (+ R$ 05,00 de correios para qualquer lugar do Brasil).

Você já pode fazer seu pedido antecipado solicitando maiores informações pelo email espiritualidadeinclusiva@gmail.com


domingo, 12 de agosto de 2012

Espiritualidade e Identidade Gay


Por Paulo Stekel


Vou confessar a vocês! Tive a ideia deste artigo após consultar as estatísticas do blogue Espiritualidade Inclusiva e constatar que alguém pesquisou exatamente sobre isso. Tal indivíduo devia estar buscando alguma relação entre sua identidade gay e a espiritualidade, esperando encontrar algum alento para um conflito interno, talvez. Vamos ajudá-lo!

A primeira coisa a definir é “identidade gay” ou, como poderia ser mais amplamente nomeada, “identidade LGBT”. Depois, precisamos observar se esta identidade é em algo compatível ou incompatível com uma busca espiritual.

Identidade gay tem a ver, obviamente, com padrões de pensamento, formas do gay ver a si mesmo, o tipo de significado que atribui às suas atrações homossexuais e o que isso significa para ele.

A psicóloga Vivienne Cass (Austrália) desenvolveu um modelo de formação de identidade gay, o Model of Homosexuality Identity Formation, que pode ajudar a definir como se processa a formação de tal identidade, ainda que não explique em maiores detalhes como isso acontece.

Segundo esse modelo, a formação da identidade gay passa por seis estágios que, uma vez alcançados, o que não ocorre em todos os gays e nem é uma necessidade imperativa, determinam uma certa prontidão para a instalação de um repertório emocional/comportamental, tanto no nível pessoal como no social.


1. Confusão de identidade: nesse estágio o individuo começa a notar, a reconhecer e a aceitar sua atração sexual por outros homens. Mas não se imagina gay e identifica-se como heterossexual. Nem todos os indivíduos que estão nesse estágio irão passar para o estágio seguinte. Alguns aceitam suas fantasias homoeróticas, mas nem por isso consideram a possibilidade de se tornarem gays.

2. Comparação de identidade: durante esse estágio o indivíduo começa a considerar a possibilidade de que talvez seja homossexual. Ele provavelmente não emprega a palavra gay, uma vez que essa palavra está associada a um estilo de vida muito particular, com o qual ele não se identifica. É possível que aceite seu comportamento sexual, mas recuse a identidade. Ou que aceite a identidade, mas decida reprimir seu comportamento homossexual.

3. Tolerância de identidade: aqui, o individuo já começa a identificar-se como gay, embora ainda tenha dificuldades em se aproximar da cultura gay. Nesse estágio as experiências (positivas ou negativas) são determinantes para a continuidade (ou não) no processo de formação e para que ele se mova (ou não) ao estágio seguinte.

4. Aceitação de identidade: a passagem do estágio de tolerância para o de aceitação se dá a partir de um sentimento de pertencimento e de identificação com a comunidade gay. Nesse estágio o indivíduo tende a rejeitar os segmentos antigays da sociedade e a se aproximar cada vez mais de outros gays, adotando comportamentos, hábitos e linguagem própria do grupo gay com o qual se identifica.

5. Orgulho de identidade: nesse estágio o indivíduo identifica-se totalmente como gay, reforçando, sempre que possível, as diferenças entre gays e heteros. Podem surgir sentimentos de “nós contra eles” e uma necessidade de se assumir completamente. Esse costuma ser o estágio da maior parte dos ativistas.

6. Síntese de identidade: no último estágio prevalece a integração entre gays e heteros, e o indivíduo começa a compreender que nem todos os heterossexuais são antigays. O indivíduo reconhece e luta contra a homofobia e o preconceito, mas de uma forma mais tranqüila e sem sentir-se ameaçado. Consegue integrar sua afetividade e sua sexualidade a todas as áreas da vida.

O fato é que provavelmente conhecemos pessoas LGBT em todos esses estágios.

Alguns gays se consideram heterossexuais a vida toda, pois mesmo tendo “casos” rápidos com pessoas do mesmo sexo, consideram que, sendo casados com alguém do sexo oposto, não se consideram como tendo uma identidade diversa da maioria. Outros gays até se consideram como tais, mas evitam qualquer aproximação com a cultura gya, os assuntos relacionados, ficando a parte de qualquer ativismo pró-direitos LGBT.

No meio religioso, o que impera é o desenvolvimento tardio da identidade gay. Gays cristãos, por exemplo, só começam a desenvolver sua identidade após chegar ao ensino superior, convivendo com outros gays em estágio de desenvolvimento maior. Alguns padres cristãos gays aceitam sua identidade, mas reprimem seu comportamento, considerando-o pecaminoso.

Uma ressalva à expressão “orgulho” usada no quinto estágio da psicóloga autraliana. Ela diz que neste estágio o indivíduo reforça “sempre que possível, as diferenças entre gays e héteros” e que esse “costuma ser o estágio da maior parte dos ativistas”. Na verdade, isso não tem nada a ver com o tão comentado (e polêmico) Orgulho Gay, mote das Paradas Livres pelo mundo afora. O verdadeiro Orgulho Gay tem mais a ver com uma sensação psicológica de “normalidade, afinal!” causada pela percepção de que ser LGBT não é uma aberração, mas está presente na natureza humana e até na animal, do que com uma atitude de superioridade. O que as Paradas Livres procuram enfatizar é essa “normalidade” e naturalidade da diversidade sexual, e não uma divisão do mundo social em LGBTs e Não-LGBTs.

Em A Identidade Gay: Uma Construção Histórica (ver http://www.pucsp.br/clinica/publicacoes/boletins/boletim10_07.htm), Elcio Nogueira afirma:

“A homossexualidade sofreu e ainda sofre, grandes preconceitos e estigmas, o sujeito homoerótico, é bastante estigmatizado, e as religiões sejam elas quais forem, ainda o colocam como o “porta-voz” do demônio, ou a aberração que tem de voltar aos caminhos de Deus. O Lócus social em que o indivíduo homoerótico foi obrigado a construir sua rede de identificações, suas subjetividades, ou o que lhe foi permitido desejar, e mesmo construir como relação possível com o outro, influíram e tiveram preponderância, nas hoje chamadas relações homoeróticas.”

Como hoje em dia alguns grupos do movimento LGBT têm criticado a comercialização de uma identidade gay e os auto-impostos guetos das culturas LGBT, nos referimos a “identidade gay” como uma construção da pessoa LGBT a partir de dentro e não de uma imposição ou pressão social. Tem mais a ver com o próprio auto-conhecimento do indivíduo acerca de sua sexualidade do que com uma construção midiática ou de marketing segundo certas doutrinas ou ideologias.

Exatamente aqui pode entrar o conceito de Espiritualidade, e é este conceito que pode diferenciar umas identidade gay “pura” de uma identidade forjada na mercadologia do momento.

No desenvolvimento da identidade gay nos moldes não mercadológicos que definimos, a busca da espiritualidade pode ser um auxiliar incrível. Mas, para isso, a relação com a espiritualidade deve ser mais profunda e interior que uma relação com alguma religião formal, embora esse segundo aspecto não esteja descartado nem seja contraproducente. Afinal, não há qualquer incompatibilidade entre busca espiritual e orientação sexual. O que é contraproducente é a prática de uma religião naturalmente homofóbica numa postura homofóbica. Então, se for para praticar religiões formais, que se busque os grupos inclusivos dentro delas.

Contudo, se estivermos falando em Nova Espiritualidade, uma tendência crescente no mundo e que se define por uma busca espiritual/religiosa transcendendo a religião formal, então, tudo o que ajude no autoconhecimento pode ser proveitoso.

Os aspectos de culto ao feminismo de algumas espiritualidade pagãs podem ajudar gays e lésbicas numa autocompreensão a partir da dualidade dentro de si mesmos, levando a uma integração de polaridades sem a necessidade de relações sexuais com o sexo oposto, por exemplo.

As práticas espirituais “xamânicas” que enaltecem a integração do ser humano com a natureza também podem ser úteis, pois mostram que a diversidade é a tônica do cosmos. Assim, o LGBT se percebe como parte natural do todo e não como um acidente de percurso.

Os grupos de meditação (Budismo, Hinduísmo, etc.) geralmente são mais amigáveis aos gays, o que pode ser uma boa forma de equilibrar mentes geralmente bagunçadas pela pressão social, familiar, e pelo preconceito homofóbico diário, sem contar um pouco de homofobia internalizada, uma forma de auto-flagelação.

Nos Estados Unidos, há comunidades de gays praticantes da “nova espiritualidade” que trabalham com xamanismo, mediunidade, canalização e que até “incorporam” o gender queer, um tipo de entidade espiritual gay. O Candomblé brasileiro já conhece isso, pois existem Orixás com aspectos masculinos e femininos, como Oxumaré.

A principal função da prática espiritual de um indivíduo gay em processo de desenvolvimento de sua identidade deve ser o equilibrar sua vida, sem culpas ou rancores sobre a homossexualidade.
Deve entender que o ser gay ou LGBT é uma condição espiritual pré-existente no seu ser.

Hoje em dia temos observado que os adolescentes estão saindo mais cedo do armário que trinta anos atrás. Isso se deve muito provavelmente à Internet, que faz com que se sintam menos isolados, pois pesquisando e interagindo em redes sociais estão vendo modelos positivos nos meios de comunicação, bem como nos grupos e comunidades das quais participam, inicialmente com perfis falsos (os “fakes”), depois abertamente declarando-se gays. Entre estes modelos positivos se encontram as Igrejas Inclusivas, os grupos inclusivos em religiões formais mais antigas e as setoriais LGBT de partidos políticos.

De qualquer forma, o conflito pessoal sobre os sentimentos homossexuais cria sempre uma difícil luta interna. Depois de anos tentando encontrar respostas e sem sucesso na tentativa de mudar seus sentimentos, muitos pessoas se convenceram de que seus sentimentos homossexuais são inatos e imutáveis, e agora aceitam uma identidade gay que finalmente termina a luta interna que lhes causou tanta frustração e tanta dor. Aceitar uma identidade gay tem implicações enormes, uma vez que ser gay inclui não apenas sentimentos pessoais, mas também descreve uma identidade social e política. Essa identidade social e política está sempre em construção e sofre adaptações, já que a construção social e política dos povos também muda. A formação da identidade e do orgulho dos povos negros, seja na África ou na Escravatura, passou por fases muito semelhantes às que passam os LGBT na busca por aceitação na sociedade moderna.

Hoje, a formação não apenas de grupos de apoio aos LGBT em processo de desenvolvimento da própria identidade, mas também de grupos envolvendo espiritualidade numa perspectiva LGBT (não para LGBTs) se mostra muito salutar na medida em que se percebe que alguém que saiu do armário tem muita necessidade de ser ouvido, acolhido e orientado.

Antes de sair do armário, a maioria dos gays não sabe quem é, se desconhece por completo, não consegue se ver no espelho sem um olhar de reprovação, mesmo que não consiga especificar o motivo. O moralismo das religiões formais tem muito a ver com isso, e esse moralismo contamina as famílias dos gays, chegando, ao final, a causar a pressão interna que vemos em quem demora a assumir-se. Este seria o momento ideal para a Nova Espiritualidade agir, acolhendo o LGBT em conflito sem fazer qualquer juízo moral, pois esta não é uma função original da religião – sua função original é levar o homem à felicidade, ao autoconhecimento e a uma vida de harmonia com o todo.

Gays saindo ou já completamente saídos do armário aderem ao “tribalismo”, buscando seus iguais, para compartilhar vida social, amizades e encontrar seu lugar num mundo que os exclui. Uma espiritualidade inclusiva, onde achamos que deva se inserir a Nova Espiritualidade, sempre orientará o indivídio LGBT a não afastar-se das pessoas, mas a integrar-se a elas, em todos os ambientes da sociedade, para não reforçar a “guetificação” LGBT. Se, antigamente, essa “guetificação” foi positiva na organização do movimento LGBT, hoje a ideia mais producente deve ser a integração, favorecendo a conquista de direitos igualitários.

A relação óbvia entre a Identidade Gay e a Espiritualidade está no autoconhecer-se. Primeiro, nos autoconhecemos como seres diversos numa variedade de orientações sexuais disponíveis na natureza. Percebemos nossa orientação como algo comum em outros, ainda que manifestando-se de modo muito peculiar – cada um vive sua sexualidade de modo próprio. Depois, nos autoconhecemos como seres humanos iguais ao demais, com os mesmos sofrimentos, anseios, momentos felizes e objetivos. Então, buscamos a transcendência. Isso é espiritualidade! Se uma religião formal – qualquer uma – não conduz o indivíduo (gay ou não) a isso, não tem qualquer proveito. E, o que não existe, deve ser criado, ou antes, percebido como natural e potencialmente existente...

sábado, 11 de agosto de 2012

[Notícia] Taiwan celebra primeira cerimônia budista de casamento gay




Lésbicas se casaram depois de sete anos de namoro.
Elas esperam que cerimônia simbólica ajude a legalizar esse tipo de união.

Taiwan celebrou neste sábado (11) a primeira cerimônia budista de casamento gay. As noivas You Ya-ting e Huang Mei-yu, de 30 anos, namoraram por sete anos antes de decidirem se casar no templo em Taoyuan, no nordeste de Taiwan.

O casal disse esperar que essa cerimônia, simbólica, ajude a fazer de Taiwan o primeiro local na Ásia a legalizar casamentos de pessoas do mesmo sexo.

domingo, 15 de julho de 2012

Espiritualidade e Preconceito

Por Valéria Nagy


Conhecimento espiritual. Este recurso da capacidade humana está além da religião, afinal, antes de existirem as religiões, já existia a espiritualidade.

"O conhecimento espiritual é a análise das experiências ou das vivências que são estimuladas por forças que não podem ser percebidas pelos sentidos físicos comuns." (blog O Terceiro Testamento)

Concordo. E, isso não tem nada a ver com Deus e diabo, e nenhuma religião. A espiritualidade, em sua essência, simplesmente é. Doutrinas e dogmas são criações puramente humanas. E, como arranjos humanos, tudo o que nelas contêm são contaminadas pela razão humana. Porém, o espírito já encarna com a sabedoria que carrega. Acabam por ser pessoas com valores sólidos e opiniões fortes, sem deixar-se levar pelas imposições sociais e crenças passadas de geração em geração.
Portanto, aquele que detém o conhecimento espiritual, livre de dogmas e doutrinas, e domina esse conhecimento, não pode jamais ser portador de preconceitos quanto às relações humanas e a existência, pois, este é obrigado a compreender a Lei Divina por completo, e o significado real do Amor e da felicidade, sem misturar romantismo e ficção. Aquele que se diz espiritualizado, mas tem preconceitos, de espiritualizado nada tem, pois carrega em si as crenças sociais incutidas no seu âmago desde a tenra idade. Ora, no muito, podemos considerar este como alguém que possui estudo sobre o tema, mas não como detentor de conhecimento.
A espiritualidade tem que livre de preconceitos e crenças sociais, pois o Amor de Deus ou da Criação não admite preconceito de nenhuma espécie, mas sim a tolerância e o respeito.

Paz Profunda a todos!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Bíblia é Homofóbica? (Um anti-contra-argumento)

Por Paulo Stekel



Este artigo, a despeito de seu subtítulo, pretende ser um complemento e uma contribuição ao debate mais do que algum tipo de contestação aos dois artigos anteriores publicados neste blogue com o mesmo título (os quais recomendamos que se leia antes do nosso):




Um argumento pretende defender uma ideia lançando mão de algumas premissas iniciais. No caso em questão, consideramos como argumento a ideia de que a Bíblia é homofóbica.

Um contra-argumento ou retribuição é uma objeção a uma objeção, podendo ser usado para rebater uma objeção a uma premissa. Ele pode pretender lançar dúvida sobre a veracidade de uma ou mais premissas iniciais de um argumento, ou mostrar que os argumentos iniciais não se seguem a suas premissas de maneira válida, ou pode dar pouca atenção às premissas e simplesmente tentar demonstrar a verdade de uma conclusão incompatível com o que é estipulado no argumento inicial. No caso em questão, o contra-argumento é a ideia de que apenas partes da Bíblia são homofóbicas, enquanto outras parecem enaltecer a homo-afetividade (casos Davi-Jônatas, Rute-Noemi).

Com o que chamamos de anti-contra-argumento pretendemos lançar uma terceira ideia: a de que a Bíblia não é um texto coeso, de que entre o Antigo e o Novo Testamento há muitas contradições, de modo que querer defini-la no seu todo como sendo homofóbica ou não-homofóbica é esquecer que a homofobia depende mais da interpretação que se a dá HOJE.

Se se lhe dá uma interpretação literalista, conectada de modo radical a um momento histórico (o levítico-deuteronomista, por exemplo) e sem qualquer recontextualização para com o nosso tempo atual, isso pode ser entendido como uma interpretação homofóbica.

Por outro lado, se se lhe dá uma interpretação contextualizadora e moderna, que considera as mudanças históricas dentro do próprio texto bíblico (as mudanças de costumes e aplicação de leis entre o Antigo e o Novo Testamento, por exemplo) e as adaptações do homem ao longo do tempo, bem como os novos conceitos biológicos, sociais e tecnológicos, isso pode ser entendido como uma interpretação não-homofóbica e naturalmente inclusiva.

João Marinho no texto que abriu este debate deixou claro que mesmo após o surgimento da Teologia Inclusiva a homofobia dentro do texto bíblico não pode ser maquiada: “Mesmo com a teologia inclusiva e supostas passagens pró-homossexualidade, não devemos maquiar a homofobia e demais preconceitos de certos textos bíblicos. (…) Na verdade, a questão do embate entre as diferentes formas de teologia inclusiva e as vertentes mais conservadoras, para mim, é mais profunda do que escolher um lado ou outro.”

Com certeza. E, ao termos dividido acima a interpretação bíblica entre a literalista e a contextualizadora, não estamos falando, no caso da segunda, em Teologia Inclusiva. Estamos falando em uma interpretação naturalmente inclusiva. Qual a diferença? No caso da Teologia Inclusiva, frequentemente, sua consequência é a criação de “igrejas” alcunhadas de “inclusivas” que nem sequer são aceitas pela maioria dos grupos cristãos como sendo igrejas cristãs. Já, uma interpretação naturalmente inclusiva deveria estar disponível em todos os grupos cristãos, o que seria muito mais producente para a inclusão da pessoa LGBT que escolheu para sua vida religiosa o Cristianismo.

Provavelmente o surgimento das Igrejas Inclusivas tenha se dado pela resistência dos grupos cristãos existentes até então em se permitirem a uma interpretação contextualizadora como descrita acima. Para alguns, incluindo muitos gays cristãos, tais Igrejas Inclusivas são uma aberração dentro do Cristianismo, já que este deveria acolher a todos sem distinção, sem preconceito e sem demonização. Para outros, elas são algo legitimamente cristão, embora o texto de que se valem apresente dificuldades exegéticas consideráveis no caso do tema homossexualidade e homo-afetividade. Em nosso anti-contra-argumento dizemos que tais Igrejas são um mal necessário enquanto a inclusão do indivíduo LGBT precisa ser algo “negociável” com relação à maioria cristã.

Walter Silva, no segundo artigo desta polêmica, escreveu algo aparentemente óbvio, mas que não custa relembrar, dada a sua gravidade: “(…) questionar se a bíblia é homofóbica pode parecer mesmo uma grande ingenuidade, quando não uma pilhéria grotesca.”

É o que parece. E, muitos comentários recebidos pelos dois artigos até aqui evidenciam exatamente esta certeza: a de que a Bíblia é homofóbica.

Mas, João Marinho, ao citar Davi e Jônatas, já havia argumentado: “Agora, porém, assumamos que realmente tenha havido um relacionamento gay entre Davi e Jônatas, que a história contada seja essa – uma homofilia bíblica, em vez de seu oposto, a homofobia. Isso descartaria a existência da mesma homofobia na Bíblia?

Não é porque os livros de Samuel, Reis e Crônicas exaltam o relacionamento entre Davi e Jônatas e ambos trocaram declarações carinhosas que o Levítico e suas injunções a certas práticas homoeróticas deixam de existir.”

Realmente, não. Contudo, há uma polarização moderna evidente quando os teólogos inclusivos tendem a argumentar (conforme o artigo de João Marinho) que “a Bíblia não é, ou talvez não seja, toda homofóbica classicamente falando, como os cristãos conservadores tanto gostam de retratá-la” e os teólogos conservadores dizem que “a Bíblia não é nada homofóbica”.

Para João Marinho “o que é producente, portanto, é tomar a Bíblia pelo que ela é: um livro histórico-religioso, com um sem-número de contradições, inclusive com relação à homossexualidade”. Isso nos leva ao terceiro argumento: a Bíblia está desconectada de nossa realidade moderna exatamente por ser um livro histórico-religioso escrito ao longo de milhares de anos. Isso explica as inúmeras contradições que apresenta no tocante a vários assuntos.

Um dos argumentos mais usados pelos defensores de Levítico para atacar os homossexuais é o de que, segundo estes, não apenas o Antigo Testamento condena os atos homossexuais, mas também o Novo Testamento. As demais leis judaicas de Levítico e Deuteronômio que não aparecem no Novo Testamento teriam sido “abrandadas” pelo Cristianismo, como as proibições alimentares, por exemplo. Mas, como Coríntios ataca os gays, nada feito. Será? A posição inferior da mulher diante do marido, seu status de propriedade do homem, de que deve calar-se, etc, aparece em ambos os Testamentos da mesma forma que as críticas aos eunucos, efeminados e sodomitas. Contudo, qual cristão hoje imagina dizer para sua mulher manter-se calada numa conversa porque Deus assim manda na Bíblia? A misoginia foi “abrandada”, mas a homofobia não? Conveniências? Talvez. Mas, que muitos cristãos machistas gostariam de poder calar suas mulheres em público sob a autoridade bíblica, ah, isso sim!

O que fazer então? Continuar cristão gay em meio a homofóbicos, aderir a Igrejas Inclusivas ou deixar de ser cristão? João Marinho: “(...) não posso esperar que todos se tornem ateus apenas por serem LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), quando eu mesmo, por sinal, não sou.”

Não há necessidade de gays cristãos deixarem de ser cristãos. Por que? Porque todo e qualquer trecho bíblico sobre homossexualidade está sujeito a interpretações diversas. E, isso tem um motivo simples, mas crucial: na época bíblica ninguém tinha consciência de orientação sexual, de que uma delas é a homossexual, de que isso é natural e de que não pode ser mudada. Se tivessem tal consciência, as orientações LGBT estariam na conta do que foi criado por Deus e não estariam sujeitas às leis mosaicas e deuteronomistas, que são mais tentativas de regrar a vida privada dos israelitas e judeus que preceitos divinos universais. Em suma, não são pecado, mas interdições, a maioria delas, inclusive, dirigidas aos heterossexuais. E, interdições, não levam ao Inferno. Apenas o pecado não remido pelo arrependimento leva ao Inferno, segundo as crenças cristãs.

Como bem pontuou Walter Silva, na época bíblica nem sequer havia a consciência de existirem heterossexuais e homossexuais. Só se tratava do sexo como entre macho e fêmea. Não havia a diferenciação entre sexo biológico, gênero, identidade e orientação sexual. Para os antigos semitas tudo se resumia no macho-fêmea, e pretendiam que era assim também no reino animal. A Ciência moderna colapsou tal ideia ao descobrir animais andróginos, hermafroditas, e espécies que podem até mudar de sexo sob certas circunstâncias. Com que animais estas espécies se alojaram na Arca de Noé???

O que quero deixar claro com meu anti-contra-argumento é que, antes de alcunharmos o livro inteiro chamado “Bíblia” como homofóbico, devemos declarar que a Bíblia ignora tudo o que sabemos hoje sobre a sexualidade humana. Então, a Bíblia é ignorante quanto à pessoa LGBT e, por tal contraste com nossa realidade atual, figura como homofóbica. Além disso, no momento em que fanáticos preconceituosos desvirtuam os textos e traduzem termos antigos com palavras modernas – como quando se traduz “sodomita” por “homossexual” -, a ideia “mastigada” e falaciosa lançada para a maioria é a de que a Bíblia condena os gays.

Mas, como pode um texto que sequer concebe a existência de gays condená-los? Tudo no texto bíblico é escrito numa ótica homem e mulher, macho fêmea. Ele não concebe sexo entre homens além da noção de algo não-natural que deve ser interdito; não concebe o amor entre pessoas do mesmo sexo que não seja o amor paternal-filial-fraternal pois não acredita que tal amor seja possível em sua visão normativa homem-mulher; não concebe a união/casamento entre pessoas do mesmo sexo porque não percebe uma pessoa que mantém relações com outra do mesmo sexo como alguém que possa amar esta outra pessoa e desejar viver toda a vida com ela de modo equivalente a um homem e uma mulher.

Este argumento parece simples, mas tem implicações importantes já apresentadas por Walter Silva ao citar John Richard Boswell, autor do livro “Cristianismo, tolerância social e homossexualidade’’: "(…) Boswell foi celebrado ao expor uma interpretação revolucionária, argumentando que a igreja no início da sua trajetória e ao longo de uma parte do medievo, conviveu com a homossexualidade de forma pouco conflituosa, possibilitando inclusive o emergir de uma subcultura gay, expressando-se através de primorosos poemas e cartas eróticos de amor e amizade do mesmo sexo, escritos por bispos e clérigos cristãos.”

Isso demonstra o que dissemos sobre a ignorância bíblica a respeito da pessoa homossexual! Tal ignorância, na Idade Média, serviu para uma evidente tolerância da Igreja Católica para com pessoas com tendências ao amor pelo semelhante, o mesmo sexo, enquanto que a mesma ignorância hoje tem servido aos setores fundamentalistas que traduzem a seu gosto o texto bíblico para condenar os LGBTs. Se isso não fosse verdade, não teríamos várias Igrejas Cristãs protestantes que não se consideram “inclusivas” aceitando LGBTs entre seus fieis, ordenando sacerdotes gays e celebrando casamentos entre homossexuais. É o caso da Igreja Luterana nos EUA (no Brasil, infelizmente, não é bem assim), da Igreja Presbiteriana (também nos EUA), da Igreja Anglicana, da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, de setores minoritários da Igreja Batista e Metodista, entre outras.

Walter Silva: “De modo contraditório os literalistas afirmam que Deus não reconheceu a categoria dos homossexuais (então qual o sentido de dizer que Deus não condena a pessoa gay?), que Deus criou somente o “macho’’ e a “fêmea’’; indivíduos gays, portanto são machos e fêmeas que se recusam a cumprir com os desígnios de sua natureza verdadeira (heterossexual).”

A questão é mais ampla: o Deus bíblico não cita “gays”, “homossexuais” ou “LGBTs” simplesmente porque desconhece sua existência. Mas, dirão os beatos, como pode Deus desconhecer o que hoje conhecemos? E, dirão os teólogos beatos, como poderia Deus reconhecer o que não existe e é uma doença, uma aberração e uma imoralidade? E, dirão os 10% da humanidade que Deus “desconhece” ou que pensa não existirem, se Deus nos desconhece ou se cala sobre nós porque não existimos, por que seus adeptos colocam na boca do Criador uma condenação que não faz sentido, dados os argumentos? Alguns setores protestantes norte-americanos entenderam isso (anglicanos, luteranos, etc.) e deixaram de adotar posturas anti-gays. Quando os cristãos brasileiros vão acordar? Quando deixarão de ouvir o vociferante e infernal discurso de Malafaia, Magno Malta, Marco Feliciano e legião, e passarão a incluir os LGBTs em suas vidas sem ódio, sem preconceito e sem demonização?

Quando dizemos que a Bíblia é homofóbica, estamos alimentando um discurso falso de que todo o cristão e de que todos os grupos cristãos são homofóbicos e contra os direitos gays.

Quando dizemos que a Bíblia não é homofóbica, pois ama o gay mas condena o ato homossexual, estamos alimentando a hipocrisia violenta daqueles cristãos que se aproveitam deste argumento para condenar os gays ao Inferno e para tentar impedi-los de conquistar direitos básicos.

Porém, quando dizemos, equilibrando as coisas:

1 – Que a Bíblia desconhece as noções modernas de sexualidade, orientação sexual, identidade de gênero, heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade;

2 – Que a Bíblia condena comportamentos sob a perspectiva de que sejam efetuados por pessoas vistas dentro do padrão macho-fêmea, sem alternativa diferente;

3 – Que, mesmo a despeito de tais condenações, a Bíblia deve ser interpretada, contextualizada e tornada “viva” na modernidade, sem os arcaísmos embutidos;

Quando dizemos tudo isso, fica claro que não é a Bíblia que é homofóbica – por uma impossibilidade histórica de sê-la –, mas os que a adotam hoje para fazer uma interpretação arcaica, desconectada da vida humana, dos sentimentos humanos, da realidade interna do ser humano, trabalho este que tem sido feito pela Psicologia, mas no qual a Teologia moderna apenas engatinha.

Contudo, é certo que se a Bíblia não é homofóbica por ser antes ignorante da pessoa LGBT, também não é um livro inclusivo pelo mesmo motivo!

O Novo Testamento apresenta uma noção um pouco menos ignorante da existência de uma alternativa à visão do padrão macho-fêmea (baseado na imprecisa observação dos animais pelos antigos) e homem-mulher (baseado unicamente nos gêneros evidentes física e mentalmente) ao referir-se aos “eunucos de nascimento”, como brilhantemente esclareceu Walter Silva em seu artigo: “(…) a Bíblia repudia a afeminação não natural nos homens heterossexuais, o sexo homossexual com prostitutos sagrados e a disposição de alguns heterossexuais para a luxúria ocasional com o mesmo sexo.”

A tendência “feminina” em eunucos era conhecida e aceita, portanto. O que não era aceito – ou conhecido, já que se desconhecia também a noção de orientação sexual desconectada de tendências masculinas-femininas – era um homem não-feminino que se desse ao mesmo sexo, como se “feminino” fosse. Novamente, uma tentativa sutil de encaixar mesmo os eunucos no padrão macho-fêmea, homem-mulher. Sem contar que a mulher no ato sexual, na visão judaico-cristã, é considerada como “submetida” ao homem, e não em caráter de igualdade, como hoje em dia. Então, como se considerada o submetido como inferior, assim também eram considerados, como as mulheres, os eunucos, os homens femininos e os prostitutos sagrados. Nesta noção machista-patriarcal é inadmissível um homem não-feminino deitar-se com outro não-feminino...

Já naquela época bíblica, portanto, se percebe uma tentativa de conter o fator gay (ainda nem considerado existente como hoje) dentro de uma categoria aceitável (o eunuco de nascimento), em oposição à não aceitável (o prostituto sagrado).

Atualmente, quanto ao tema, vemos radicalismos de ambos os lados: do lado fundamentalista, uma tentativa de “eugenia social”; do lado de alguns LGBT que não gostam de religião, uma tentativa de desqualificar todo e qualquer valor da espiritualidade para a vida LGBT. Extremos nunca se entendem. Podem se tocar, mas nunca se entendem.

O que desejam os “patrulheiros da moral e dos bons costumes” de origem cristã? Estes “patrulheiros” desejam que os gays voltem aos guetos, que amem seus iguais às escondidas, sem postular direitos, casamento, adoção, benefícios iguais aos dos heterossexuais... Querem, assim, promover no Brasil uma verdadeira eugenia social dos homossexuais aos moldes da proposta nazista? Jamais o permitiremos!

Quando uso o argumento da eugenia social contra gays, muitos dizem que essa comparação é um absurdo. Mas, não é. A eugenia (termo cunhado em 1883 por Francis Galton), significa “bem nascido” e é o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente. Ou seja, melhoramento genético. Hitler se baseou nisso ao imaginar que o arianos loiros heterossexuais eram mais puros e superiores aos judeus, negros, ciganos, deficientes e homossexuais.

Aplicando isso à noção de eugenia social contra gays, ela significaria a discriminação de pessoas por categorias sexuais, por orientação sexual, levando apenas a uma relativa aceitação dos gays mais “comportados”, mais semelhantes aos padrões heterossexuais, que seriam melhor aceitos na sociedade, mas nunca completamente integrados, incluídos. Contudo, continuariam sendo considerados não-aptos para a reprodução, como se, afinal, todos os gays e lésbicas fossem estéreis!!! Segundo esta eugenia social, os melhores gays seriam os do armário, os caladinhos, os que aceitam a ofensa, a demonização e a violência, de modo a nem serem percebidos pela sociedade e não constituírem qualquer ameaça a “família cristã”. Ledo engano! Não se joga para debaixo do tapete cerca de 10% da humanidade (se não for mais!) como Hitler tentou fazer com os que ele considerava inferiores.

Para finalizar, a Bíblia deve ser lida e interpretada como um livro antigo, escrito por muitos autores ao longo de milhares de anos e que não trata de todos os assuntos que interessam à vida dos fieis com a riqueza de detalhes e nos termos modernos, como se gostaria. É um livro sagrado – como todos os demais, aliás – para ser estudado, esmiuçado, esquadrinhado, e não usado como arma contra outros seres humanos por pessoas que, em geral, não entendem o que está ali escrito.

A propósito, tenho visto pastores semi-analfabetos vomitando preconceitos como certezas teológicas enquanto ouço dúvidas profundas e pertinentes de teólogos com décadas de estudos. Para os primeiros, estes analfabetos de Deus que se consideram Seus intérpretes, deixo alguns trechos do Livro da Sabedoria, atribuído a Salomão:

“O Senhor de todos não fará exceção para ninguém, e não se deixará impor pela grandeza, porque, pequenos ou grandes, é ele que a todos criou, e de todos cuida igualmente; mas para os poderosos o julgamento será severo.

Resplandescente é a Sabedoria, e sua beleza é inalterável: os que a amam, descobrem-na facilmente.
Os que a procuram encontram-na. Ela antecipa-se aos que a desejam.

Quem, para possuí-la, levanta-se de madrugada, não terá trabalho, porque a encontrará sentada à sua porta.

Fazê-la objeto de seus pensamentos é a prudência perfeita, e quem por ela vigia, em breve não terá mais cuidado.

Ela mesma vai à procura dos que são dignos dela; ela lhes aparece nos caminhos cheia de benevolência, e vai ao encontro deles em todos os seus pensamentos, porque, verdadeiramente, desde o começo, seu desejo é instruir, e desejar instruir-se é amá-la.

Mais ágil que todo o movimento é a Sabedoria, ela atravessa e penetra tudo, graças à sua pureza.

Embora única, tudo pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas. Ela se derrama de geração em geração nas almas santas e forma os amigos e os intérpretes de Deus, porque Deus somente ama quem vive com a sabedoria!”

(Livro da Sabedoria, VI. 7-8, 12-17; VII. 24, 27-28)


Sobre o autor


Paulo Stekel é jornalista, escritor, músico, poliglota, especialista em religiões, tradições espirituais e línguas sagradas. Ativista LGBT focado na relação entre homofobia e religião, é o criador do Movimento Espiritualidade Inclusiva e possui quase uma centena de artigos sobre espiritualidade, orientação sexual, homofobia religiosa e espiritualidade inclusiva. Contatos: espiritualidadeinclusiva@gmail.com

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Entrevista polêmica com Paulo Stekel para o blogue Entrevistas & Debates

Por Espiritualidade Inclusiva (cfe. postado originalmente em http://blogentrevistas.blogspot.com.br/2012/06/paulo-stekel.html)


Nota de Espiritualidade Inclusiva: A entrevista foi concedida por Paulo Stekel à jornalista Sophia Sheimberg, do blogue "Entrevistas & Debates". Sua repercussão está valendo um debate entre Stekel e o autor do blogue "Críticas & Pensamentos", Hallison Liberato, que tem posicionamento oposto quanto aos LGBT. O debate irá ao ar nos próximos dias.

Paulo Stekel

Nome: Paulo Stekel
Blog:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com
Religião: Budismo
Profissão: Músico, escritor, jornalista, prof. de línguas sagradas
Ideologia: Democrática


Introdução: Por Paulo Stekel

Paulo Stekel é escritor sobre espiritualidade, poliglota especializado em línguas antigas e sagradas, jornalista e músico. Paulo tem como principal atividade a música, sendo músico dos estilos new age/ambient/eletrônico. Nasceu em Santa Maria (Rio Grande de Sul - Brasil), em 1970. Filho de músico, começou a cantar aos 05 anos. De 1985 a 2005, Stekel voltou-se para outras áreas: literatura, jornalismo, línguas antigas.

Em 2005, ano em que morou em Brasília (DF), Stekel estudou canto tenor e sentiu que este era o momento de transformar tudo o que pesquisara por 20 anos em um trabalho "artístico-curativo" ou, então, de "entretenimento relaxante". Pensou em, aos poucos, aliar vários estilos da música eletrônica (New Age, Ambient, Trance, Progressive, Relax, etc.) a dois conceitos novos: o da música canalizada por inspiração e o da codificação de mantras hebraicos da Cabala e também de outras línguas sagradas (Latim, Sânscrito) em música. No caso dos mantras codificados, utilizaria as relações das letras sagradas com as notas musicais da escala cromática.

Em 2008, Stekel iniciou o projeto do primeiro álbum, "Qadosh". De lá para cá, produziu oito álbuns e mais de dezenas de singles, além de algumas trilhas sonoras para sites, blogues e web-séries.

Álbuns lançados: Qadosh (Música canalizada & Mantras codificados) – 2008; Galaktika (an internal space travel) – 2009; Fluindo Reiki... Natureza – 2010; Fluindo Reiki... Mantras – 2010;  Stekel (remixes & new song 2010) – 2010; Sacred Voices – 2010; The Planets (for XXIst Century) – 2011; Indigo (Cosmic Sounds for Activation) – 2011.

Além do trabalho musical, Stekel também escreveu nove livros sobre Cabala, línguas sagradas e espiritualidade: Curso de Cabala (2 volumes); Curso de Sânscrito (2 volumes); Elohê Israel – Filosofia Esotérica na Bíblia; Projeto Aurora – retorno a linguagem da consciência; Santo e Profano – Estudo Etimológico das Línguas Sagradas; Deuses e Demônios – verdades inauditas e mentiras anunciadas sobre os anjos; A Alma da Palavra.

Stekel também é ativista LGBT, tendo escrito mais de 60 artigos sobre o tema, especialmente envolvendo espiritualidade, religião e homofobia religiosa. Foi o autor da coluna “Impressões da Diversidade” no blogue “Gay Expression”. Tem 41 anos, vive em união estável há dez anos e é residente da cidade Canoas – RS.

Os artigos escritos por Paulo Stekel giram em torno da sexualidade e da religião, aliando experiências de sua vida visando promover a desconstrução dos velhos “clichês gays” que fazem com que as pessoas vejam os homossexuais como seres estranhos e não como seres humanos normais. Seus textos, a partir de um olhar crítico, geram percepções sobre a liberdade de expressão sexual, a vida diversa dos gays e sua relação com religião, ciência, política, arte, vida social e direitos humanos.

Atualmente administra e escreve para o blogue “Espiritualidade Inclusiva” e é o proponente e coordenador geral do Movimento Espiritualidade Inclusiva, criado em 2011.

BLOG / SITE / IDEIAS / IDEOLOGIA

Só se forem religiosos para serem considerados fundamentalistas


Qual o objetivo do seu blog?

O blogue http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com é o principal canal de comunicação do Movimento Espiritualidade Inclusiva com o mundo. Visa apresentar artigos sobre visão inclusiva nas diversas formas de espiritualidade; denúncias de preconceito religioso e fundamentalista contra LGBTs; dicas de blogues, sites, filmes e documentários; tradução de artigos; divulgação de eventos LGBT e os inclusivos; notícias do mundo LGBT; decisões legislativas e debates políticos relativos aos direitos LGBT; temas culturais relevantes.

Os gays se tornaram fundamentalistas?

Não. Só se forem religiosos para serem considerados fundamentalistas, o que não é o caso. Afinal, como escrevi em um artigo, o termo “fundamentalismo” se refere a movimentos (religiosos, ideológicos, políticos, econômicos, étnicos, etc.) cujos adeptos aderem de modo muito estrito aos princípios fundamentais. De modo pejorativo, o termo muitas vezes se refere a grupos religiosos intransigentes quanto aos princípios de suas fés ou a movimentos étnicos extremistas com motivações ou inspirações apenas nominalmente religiosas. No caso, os gays podem pertencer a quaisquer religiões, ideologias, partidos políticos, visões econômicas, grupos étnicos, etc. O “ser gay” em si não tem a ver com “princípios fundamentais” porque não é uma ideologia ou crença. Se é gay, e pronto. Então, não podemos dizer que os gays tenham se tornado fundamentalistas no sentido de serem gays. Gays são seres humanos, e isto está acima de qualquer fundameno, fundamentalismo ou ideologia. Todos merecem o mesmo respeito.

Por que chamar quem não concorda com o comportamento homossexual de homofóbico?

Não se pode “concordar” com algo ou “discordar” de algo que não constitui uma crença ou ideologia, mas simplesmente o como alguém é em seu íntimo. Um ser humano é muito mais do que seu comportamento sexual, seja hétero, homo ou bissexual. Reduzi-lo a sua sexualidade para inferiorizá-lo é uma atitude igual ao que padeceram as mulheres e os negros no passado recente. Considerando que homofobia é uma aversão, um ódio e uma intolerância a LGBTs que vem a se manifestar através da violência moral ou física contra esta minoria (cerca de 10 a 20% da humanidade), quem manifesta tal aversão, ódio ou intolerância que extrapola um simples “pensar” e exterioriza-se em atos de inferiorização, deve muito corretamente ser considerado “homofóbico”.

O que caracteriza alguém como homofóbico?

Como disse antes, quando a coisa extrapola o simples “pensar sobre”. Comparemos: todos sabemos que a lei anti-racismo impede que qualquer pessoa manifeste racismo abertamente. É crime inafiançável. Contudo, a lei não legisla sobre o pensamento íntimo de cada um. Há pessoas racistas em seu íntimo que, por não manifestarem isso publicamente e de modo a atentar contra a dignidade dos negros, não podem ser enquadradas na lei. Ou seja, a lei anti-racismo não acabou com os pensamentos racistas, embora coíba ações racistas. Com a homofobia é a mesma coisa, com a diferença de que ainda não temos uma lei anti-homofobia. Um homofóbico é alguém que não apenas pensa de modo aversivo com relação a homossexuais, mas que leva essa aversão a atos contra homossexuais. Este é o parâmetro para definirmos um homofóbico.

Vivemos num país livre. Criticar o comportamento homossexual faz parte dessa liberdade no seu ponto de vista?

Se a lei permitir criticar o “comportamento” heterossexual na mesma base, sim. Haverá uma polarização, e aí é que reside o perigo. Não podemos pensar que se tem todo o direito de criticar “comportamentos” não heteronormativos, mas ao criticarmos a própria heteronormatividade sermos acusados ignorantemente de estarmos tentando impôr nossa condição a outros. A homossexualidade, muito mais que um “comportamento”, é uma orientação. Não é opção, decisão consciente nem algo que se possa “curar”. É tão natural quanto a heterossexualidade.


SOCIEDADE / EDUCAÇÃO / CULTURA

Não existiu um projeto denominado “kit gay”. Este nome foi alcunhado de forma cafajeste pelos opositores cristãos fundamentalistas, os covardes membros da bancada evangélica


Há pouco tempo houve um projeto denominado “kit gay” que colocava material de apologia gay dentro de sala de aula para o público infanto-juvenil. Qual a sua opinião sobre esse material?

Não existiu um projeto denominado “kit gay”. Este nome foi alcunhado de forma cafajeste pelos opositores cristãos fundamentalistas, os covardes membros da bancada evangélica, a mesma que chafurda na lama com denúncias de corrupção, já que dizem ser de Deus, mas aliam-se ao Diabo na política corrupta de nosso país. O objetivo original do projeto era o de incluir os LGBT no ambiente escolar, onde são frequentemente vítimas de homofobia e bullying, com a consequente evasão escolar. Para isso, os alunos e professores deveriam conhecer os “diferentes”, os diversos da heteronormatividade corrente. Sem conhecê-los, não há como sequer respeitá-los, quanto mais incluí-los com todos os direitos de qualquer cidadão heterossexual. Portanto, não houve apologia alguma. Esta interpretação errônea foi criada pelos opositores do projeto.

Há preconceito contra o homossexual hoje no Brasil? Explique.

Se não houvesse preconceito contra o homossexual e todos os membros da comunidade LGBT no Brasil, os 112 direitos básicos que lhes são negados já teriam sido corrigidos, entre eles: não podem casar no civil; não adotam sobrenome do parceiro; não somam renda para alugar imóvel; não participam de programas do Estado vinculados à família; não têm a impenhorabilidade do imóvel em que o casal reside; não têm garantia de pensão alimentícia em caso de separação; não têm garantia à metade dos bens em caso de separação; não adotam filhos em conjunto e não podem adotar o filho do parceiro; não podem ser inventariantes do parceiro falecido; não têm garantida a permanência no lar quando o parceiro morre; não acompanham a parceira no parto; não podem ser curadores do parceiro declarado judicialmente incapaz; não podem declarar parceiro como dependente do Imposto de Renda; não têm suas ações legais julgadas pelas varas de família; não têm direito de converter união estável em casamento; não têm direito a assistência alimentar; não têm direito a pedir o afastamento temporário do companheiro da moradia do casal; não têm direito de eximir-se da obrigação de depor como testemunha contra o companheiro; não tem direito a não produzir prova contra o companheiro militar; entre outros. Atualmente, alguns destes direitos vem sendo assegurados na justiça e não por lei!

Fora isso, se não houvesse preconceito contra o homossexual no Brasil, a quantidade de assassinatos cometidos contra LGBTs em nosso país não teriam o requinte de crueldade que vemos, frequentemente com referências à sexualidade da vítima. A cultura do preconceito contra gays está arraigada na sociedade brasileira de um modo tal que parece perfeitamente normal fazer chacota, malhar, fazer piadas, denegrir a imagem e rebaixar a dignidade dos mesmos sem nem se perceber. O mesmo se fazia com os negros desde o período colonial, só tendo sido relativamente coibido a partir da lei anti-racismo. O mesmo se fazia com as mulheres até bem pouco tempo. Os gays, agora, parecem sofrer um preconceito que é um misto de racismo e misoginia, pois são considerados inferiores (como os misóginos consideram as mulheres) e uma categoria abaixo dos “normais” heterossexuais (como os racistas consideram os negros do ponto de vista étnico-racial).

Um dos entrevistados do meu blog escreveu sobre o “ismo” no final de uma palavra demonstrando que a palavra terminada em “ismo” não se trata, necessariamente, de doença e eu concordei com ele. Em várias partes do seu blog encontrei a palavra “cristianismo”. Se homossexualismo é doença, dizer que os religiosos se encaixam no cristianismo não seria também uma forma de preconceito?

Isso é desconhecer a Língua Portuguesa, o que é deplorável num país em que a educação claudica e se definha cada vez mais. O sufixo nominal “-ismo” serve para denominar doutrina, escola, teoria, sistema, modo de proceder ou pensar, ação: socialismo, capitalismo, comunismo, romantismo, ostracismo, realismo, anarquismo, terrorismo, exorcismo, homossexualismo. Então, o termo “homossexualismo” refere-se a uma ação e, assim, foi considerado doença pela antiga Psiquiatria, pois se referia à ação de se fazer sexo com alguém igual, isto é, do mesmo sexo. Pela mesma lógica, “cristianismo” é a ação de se fazer parte de uma doutrina religiosa que tem Cristo como o centro. Simples!

A cultura brasileira expressa que o homossexual é promíscuo. As paradas gays que ocorrem no Brasil e que são o maior meio de visibilidade dos homossexuais confirmam essa visão do brasileiro, basta procurar no youtube e no google. No carnaval a libertinagem é geral, tanto com homossexuais como heterossexuais. Os mesmos setores que criticam a devassidão no carnaval criticam também a devassidão nas paradas gays. Por que tentar mudar essa visão de parte da sociedade se é essa visão que os homossexuais oferecem a eles?

Como você mesmo evidenciou, se no Carnaval a libertinagem é geral, tanto com homossexuais como heterossexuais, a quem se deve atribuir a promiscuidade? A todos os seres humanos, sejam gays ou héteros? Se for assim, afirmar que homossexuais são promíscuos é um sofisma terrível. Da mesma forma, quem se prostitui nas ruas? Alguns heterossexuais e alguns homossexuais. Seria certo, neste caso, dizer que os seres humanos se prostituem ou nos referimos a alguns deles? Assim, podemos dizer que no universo homossexual há um pouco de tudo o que existe no universo heterossexual, e que generalizar apenas para o universo homossexual demonstra, ou ignorância, ou má intenção.

Se uma parcela de homossexuais vai às paradas gays, uma parcela muuuito maior não vai, e não se encaixa na proposta delas. A despeito de divergências entre os dois grupos, o que fica evidente é que toda a generalização é burra. A tendência de todo o moralismo é generalizar burramente!

Então, os homossexuais não são promíscuos, assim como os heterossexuais não são promíscuos. Mas, alguns homossexuais são promíscuos tanto quanto alguns heterossexuais o são.

Jair Bolsonaro lutou muito contra a aprovação da PL122 expondo todos os aspectos desse projeto de lei. Por que os gays querem uma lei específica se já se beneficiam das leis existentes como todo cidadão brasileiro?

Se nos beneficiássemos das leis existentes os 112 direitos que nos são negados estariam à nossa disposição sem precisarmos entrar na justiça e rezarmos para o processo não cair num juiz preconceituoso e fundamentalista. O mesmo disseram para os negros antes da lei anti-racismo, que também é uma lei específica e, hoje, contestada por quase ninguém, salvo os racistas. Por isso, precisamos de uma lei específica como a lei anti-racismo, a lei Maria da Penha, entre outras leis específicas de nossa legislação.

O Estado brasileiro é laico, mas não é ateu. Você concorda com a presença de religiosos na política brasileira?

O Estado brasileiro ser laico significa não ser nem teísta nem ateu. Significa simplesmente que o Estado não interfere na religiosidade de seus cidadãos, mas também não permite que a religião interfira no Estado, que deve governar para TODOS os cidadãos, independente da religião deles, ou do fato de não terem religião alguma, como no caso dos ateus. Neste caso, a política brasileira pode ter pessoas de quaisquer religiões ou de nenhuma, mas o que deve pautar as decisões políticas é o laicismo de estado (governar para todos) e a declaração dos direitos humanos.

Você concorda que toda sociedade precisa de moralidade?

Concordo, desde que possamos dar a chance da sociedade escolher sua moral de modo equânime. Por que devemos escolher uma moral especificamente cristã num país com diversas religiões? Concordo, desde que cada cidadão possa escolher sua moral – e, o faz, na base da liberdade religiosa constitucional -, mas sem impô-la a um outro cidadão por quaisquer meios, principalmente quando este professa outra religião ou nenhuma (no caso dos ateus), pois isso acaba com o princípio da isonomia e esfacela o estado laico. Portanto, moralidade impositiva, jamais!

A AIDS, desde o seu início, tem maior percentual de infecção nos gays. No Brasil, há campanhas direcionadas exclusivamente aos homossexuais. Há inclusive teorias que afirmam que os gays foram os disseminadores da doença como a vemos. O meio homossexual é um grupo de risco, embora o governo tenha retirado essa nomeação de “grupo de risco”?

O governo é quem teria que responder a essa pergunta, já que a arcaica noção de “grupo de risco” continua sendo apresentada mesmo após ter ficado claro que o que existem são “comportamentos de risco”, abrangendo heterossexuais, bissexuais e homossexuais.

Uganda, na África, é o país mais bem sucedido no combate à AIDS adotando uma política contra o homossexualismo e pela monogamia. Qual a sua opinião a respeito?

A pergunta foi mal-formulada e pode ser entendida como tendendo a levar a um sofisma quase nazistoide. Não foi o ataque aos gays em Uganda que diminuiu a infecção pelo HIV em Uganda e isso não é reconhecido pela Organização Mundial de Saúde. Esta mentira vil e tem sido afirmada pelos missionários cristãos e pelo governo daquele país há tempos e foi comprada em sua totalidade pelos missionários fundamentalistas brasileiros. Não esqueçamos que este país pretendeu varrer os gays de seu território do mesmo modo que Hitler quis varrer os judeus da face da terra por julgá-los responsáveis por tudo de ruim que a Alemanha passava na sua época. Além disso, monogamia não é garantia de não infecção, e é um juízo moral. Por que a infecção não é maior em países onde se adota a poligamia, como em repúblicas islâmicas?


RELIGIÃO

Jesus não ataca homossexuais em momento algum


Silas Malafaia é um grande combatente do movimento homossexual e com isso adquiriu mais admiradores e pessoas que se juntaram à sua causa contra os LGBT’s. Segundo ele, não faz críticas a pessoas envolvidas com a prática, mas a prática que envolve os gays. Toni Reis, um dos líderes do movimento homossexual o processou por criticar o movimento homossexual, no entanto, vemos gays abusarem da imagem da Igreja Católica como no exemplo da parada gay em São Paulo. Por que os gays podem criticar a religião mas a religião não pode criticar o homossexualismo?

Se a religião não estivesse podendo nos criticar, Malafaia já estaria preso há muito tempo. Os fundamentalistas deitam e rolam na crítica aos gays e o judiciário brasileiro é conivente com isso. A prova de que estão, sim, podendo criticar os LGBT à vontade sem qualquer ação em contrário do judiciário é exatamente o uso de imagens católicas na parada gay de São Paulo. Como assim? Simples e pérfido: o judiciário faz vistas grossas aos ataques que as comunidade LGBT recebe todos os dias de parte de pessoas como Malafaia, Bolsonaro, etc. Os organizadores LGBT da parada de São Paulo (não são o todo da comunidade LGBT) resolveram dar o troco para ver o que o judiciário faria. O que o judiciário fez? Simples, não quis cair na armadilha. Pois, se o judiciário se pronunciasse contra o que ocorreu na parada de São Paulo, estaria reconhecendo o embate e a coisa ia ficar mais feia, mas também mais equânime, com os dois lados podendo agora lutar na justiça em pé de igualdade. Poucos perceberam este detalhe “sutil”.

Há pouco tempo os gays perderam uma grande batalha que travaram contra o Pastor Silas Malafaia quando ele disse que a Igreja Católica tinha que descer de pau em cima dos homossexuais que profanaram as imagens sacras. O juiz que assinou o arquivamento do processo fez, inclusive, diversas críticas ao movimento homossexual dizendo até que quem deveria ser processado era quem profanou tais imagens. Qual a sua opinião a respeito?

Isso é a prova do que disse na resposta anterior: o juiz preferiu arquivar o processo contra Malafaia do mesmo modo que nenhum juiz se pronunciou em sentença contra o episódio das imagens católicas na parada gay de São Paulo. Na verdade, o judiciário está percebendo a palhaçada de Malafaia e dos seus, e está evitando dar pareceres definitivos para um dos lados, pois quando isso ocorrer, a coisa vai ficar muito feia, inclusive fora do Brasil, pois a imagem do país vai ser influenciada pela decisão. Ou o judiciário finalmente se pronuncia, ou equívocos dos dois lados vão continuar existindo.

Por que tentar fazer parte de um setor social (o cristianismo) que historicamente não aceita gays em suas fileiras? Não é uma maneira de forjar uma perseguição, já que outros grupos como comunistas na Igreja Católica (por exemplo) que são excomungados ou até mesmo quem não se coadune às regras que são necessárias aquele grupo?

Num país laico as pessoas têm o direito constitucional de pertencer a qualquer religião ou a nenhuma. Também têm o direito de que não se lhes exija nenhuma condição a mais por ser homossexual do que as que são exigidas de um heterossexual. Gays que querem ser cristãos estão no seu direito e, geralmente, atribuem o preconceito cristão aos cristãos, não à doutrina em si, que julgam mal-interpretada. Eu, particularmente, sou budista, e não tenho problemas em ser budista e gay, porque o Budismo não é uma religião que exclui LGBTs de suas fileiras. Já, o Movimento Espiritualidade Inclusiva é um movimento social que não apoia uma religião em particular em detrimento das demais. Não é um movimento cristão. É um movimento social laico que busca a inclusividade de todos no meio religioso de acordo com as bases de um Estado Laico.

Você diz em seu blog que se o Levítico fosse seguido à risca muita coisa precisaria ser mudada. No entanto, não vi você comentar que após o Levítico vieram outros profetas que modificaram algumas leis aplicadas aos hebreus, aliviando umas e endurecendo outras. Na cultura judaica há também o ensinamento oral, ou seja, a tradição. O homossexual está em pecado em todas elas. Por que criar uma interpretação diferente de uma interpretação que vem sendo feita há milhares de anos? Será que todos os profetas e rabinos, desde os tempos primeiros do judaísmo (milhares de anos) estão errados e alguns homossexuais que interpretaram agora estão certos?

Pois é. Algumas leis foram modificadas e outras não. Qual o critério? Critério de Deus ou critério dos homens? O ponto pacífico é que as religiões mudam, as prescrições religiosas mudam, e nada é tão estanque quanto se quer fazer parecer. Jesus não ataca homossexuais em momento algum, mesmo porque o termo “homossexual” é moderno. Naquela época não havia a noção da existência de orientações sexuais. Se pensava de modo reto em apenas uma versão de sexualidade, que é a macho-fêmea, homem-mulher. Não podemos culpar os antigos pelo desconhecimento, mas não podemos continuar em ignorância quando passamos a conhecer a realidade e a diversidade da formação da identidade sexual, da orientação e do gênero, conforme se tem demonstrado por inúmeras pesquisas científicas. Não se trata de quem está certo e quem está errado. Certa é a ciência à medida que vai desvendando os mistérios da sexualidade que os antigos sequer sonharam, embora se dessem na antiguidade às mesmas variações sexuais que nos damos hoje...

O Papa fala para os católicos. Os pastores falam para os evangélicos. Os rabinos falam para os judeus. Nenhum deles diz: “Saiam na rua e espanquem os homossexuais”. Pelo contrário, pedem orações por todos. Por que provoca-los dizendo que Cristo era homossexual se não há um só relato sobre práticas homossexuais em Jesus?

A rigor, não há provas históricas incontestáveis da existência nem de Jesus, nem do Buda, nem de Maomé, nem de Krishna, nem de Moisés. O que leva as religiões adiante é a fé dos praticantes, não uma suposta realidade histórica. Aí está todo o poder da religião, e vemos isso positivamente. Então, falar da sexualidade de figuras sobre as quais nem temos dados históricos suficientes é, realmente, uma provocação. No Movimento Espiritualidade Inclusiva não vemos as coisas desta forma no caso de Jesus. Contudo, há indícios de homossexualidade na Bíblia, em especial no caso de Davi e Jônatas, o que já foi pesquisado por inúmeros teólogos pró e contra.

O cristão Julio Severo teve sua família ameaçada por militantes homossexuais e teve que se exilar do Brasil. Não é uma prova da intolerância homossexual?

Se fosse verdade, seria prova do poder homossexual! E, se tal poder existisse, a tal ponto, nossos 112 direitos básicos negados já teriam sido conquistados. Mas, não é o caso. Ademais, se Julio Severo é cristão de carteirinha (sendo ateu!), Madonna é uma vestal!

A teosofia que você defende no seu blog está historicamente ligada ao controle de natalidade. Os homossexuais não podem estar sendo usados como um meio para a disseminação dos ideais da teosofia?

Não defendemos a Teosofia em nosso blogue. Pelo contrário, em alguns textos nossos a Sociedade Teosófica, que divulga o conceito de “teosofia” (sabedoria divina), é duramente criticada por ser elitista e sutilmente homofóbica. Então, como a Sociedade Teosófica não encara a questão homossexual de frente, mas põe isso para debaixo do tapete, é insensato imaginar que os gays sejam usados como meio para disseminar a Teosofia. (Risos)

O primeiro mandamento que Deus deu ao homem foi o de se multiplicar e encher a Terra, mandamento defendido por Cristo Jesus. Como você, enquanto homossexual que pertence a uma religião inclusiva pode se multiplicar? (note que “multiplicar-se” não se refere à adoção)

Não pertenço a nenhuma Igreja ou religião inclusiva. Os membros do Movimento Espiritualidade Inclusiva em particular são de várias religiões: Cristianismo, Espiritismo, Budismo, Umbanda, Judaísmo, Wicca, Paganismo, etc. Há ateus humanistas também.

Quanto a como eu e os demais homossexuais podemos nos “multiplicar”, a resposta é muito simples: a não ser que um homossexual seja estéril, ele pode se “multiplicar” como bem entender. Em geral, gays e lésbicas possuem a mesma taxa de fertilidade que heterossexuais. Então, não vejo problemas com a reprodução. Conheço vários casos de homens gays que tiveram filhos com amigas lésbicas e cuidam muito bem dos mesmos, sem que isso seja um problema. Conheço lésbicas que tiveram filhos por inseminação artificial e, mais uma vez, isso não foi um problema. Enfim, com estes casos vemos que mesmo sendo gays continuamos “multiplicando” outros seres humanos. Seres humanos, aliás, que não são necessariamente gays também. As pesquisas mostram que a taxa de homossexualidade entre filhos gerados por gays ainda é de 10 a 20%, como no caso de crianças geradas por casais heterossexuais.

Se algum entrevistado aceitar um debate, você estaria disposto a defender seu ponto de vista?

Faço isso todos os dias por conta do blogue e do Movimento Espiritualidade Inclusiva. Debato sempre com argumentos e na base do respeito, sem termos chulos ou generalizações. A honestidade dos próprios argumentos residem em nunca perder a calma ou a oportunidade de esclarecer. Quando o outro debatedor descamba para as ofensas, significa que já jogou a toalha e acabaram-se os argumentos. Então, nestas bases, aceito debater com qualquer pessoa.

Deixe uma mensagem para as pessoas que você considera homofóbicas.

Caros homofóbicos. Se estamos de modo tão profundo sempre nas mentes de vocês, é porque não conseguem dormir sem resolver o que representamos para vocês. Se nossos direitos incomodam vocês, é porque, mesmo tendo todos os direitos que não temos, ainda não se sentem livres e felizes. Então, resolvam-se primeiro, e o resto se solucionará por conta. Amem-se, queiram-se, tenham coragem de ser homens e mulheres verdadeiramente religiosos (se for o caso) ou, pelo menos, cidadãos pró-equanimidade (no caso de ateus), que reconhecem que a felicidade vem de dentro e não de como os outros são ou como se comportam em suas intimidades. Boa sorte... Vão precisar!