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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Desconstruindo as ideias do livro de cabeceira dos fundamentalistas religiosos


Por Leandro Colling (cfe. publicado originalmente em http://www.ibahia.com/a/blogs/sexualidade/2012/08/30/desconstruindo-as-ideias-do-livro-de-cabeceira-dos-fundamentalistas-religiosos/)


Depois de uns dias de férias, retomaremos o nosso blog. Meu texto de hoje é longo e irá tratar sobre o livro A estratégia – o plano dos homossexuais para transformar a sociedade, recentemente publicado no Brasil pela editora Central Gospel Ltda, de autoria do reverendo norte-americano Louis P. Sheldon.

Tive que ler o livro a pedido do Conselho Nacional LGBT, do qual faço parte. Para quem não sabe, o Conselho foi criado no final do governo Lula e implantado no início do governo Dilma para elaborar e acompanhar as políticas públicas para a população LGBT. Elaborei um parecer do livro para o Conselho, que será enviado para que a Procuradoria Geral da República avalie se a obra viola a legislação brasileira em vigor e, com base nisso, tome as providências cabíveis.

O texto que posto aqui não é igual ao que o Conselho irá publicar em breve, pois foi adaptado para o nosso blog. O conteúdo, basicamente, é o mesmo. O livro A estratégia revela porque estamos vendo hoje no Brasil uma grande articulação de determinados fundamentalistas religiosos para tentar barrar o avanço de direitos e cidadania plena para a população LGBT. Você verá aqui como este livro tem servido para fomentar o ódio, a discriminação, a intolerância para com qualquer pessoa que não viva dentro de um conjunto bem rígido de normas.

O reverendo Louis P. Sheldon, autor do livro A estratégia – o plano dos homossexuais para transformar a sociedade, tem o explícito objetivo de convocar os religiosos do mundo para lutarem contra os direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais ou qualquer outra pessoa que não viva dentro de um modelo muito restrito de heterossexualidade, que pressupõe, por exemplo, o sexo apenas depois do casamento;

Para tentar atingir o seu objetivo, Sheldon recorre a algumas controversas ideias religiosas, distorce uma série de dados e, principalmente, mente sobre outra série de evidências históricas, amplamente estudadas e conhecidas pela sociedade. Tudo isso é feito para atingir o seu grande objetivo, explícito já na página 6 do texto. Diz ele: “(…) não são apenas os terroristas estrangeiros que devemos temer hoje. Os radicais mais perigosos que ameaçam nosso estilo de vida são aqueles que vivem entre nós (…) e você pode ter certeza de que eles nos destruirão se não tomarmos medidas para derrotar o movimento radical deles agora”;

Sheldon, em vários momentos, defende que a homossexualidade não é “natural e normal”. Cita, inclusive, alguns estudos acadêmicos que tentaram descobrir o “gene gay”. Para Sheldon, uma vez que ainda não se descobriu uma causa genética para a homossexualidade, os LGBT não são normais e, por isso, devem ser curados e não devem ter direitos. Ele defende, inclusive, na página 28, que a homossexualidade volte a ser considerada uma doença. Na página 251 defende que a homossexualidade seja tratada e na página 114 revela que ele próprio já realizou “terapias recuperadoras” em sua igreja nos Estados Unidos.

Como todos sabem, no dia 17 de maio de 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou o “homossexualismo” da lista internacional de doenças. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia emitiu a resolução 01/1999, que proíbe qualquer psicólogo realizar algum tratamento para reverter a homossexualidade de algum paciente[1].

Realmente, os estudiosos da sexualidade ainda não chegaram a um consenso sobre se existe ou não algum componente genético que interfira ou gere a orientação sexual homossexual. Mas isso jamais pode ser uma razão para defender a patologização, a violência e o ódio para com os LGBT. Os/as estudiosos/as não possuem respostas “genéticas” para a homossexualidade, mas oferecem muitas outras respostas sobre como as pessoas, ao longo de suas vidas, passam a ter determinada orientação sexual e determinada identidade de gênero.

Os estudos[2] apontam que existem diversas orientações sexuais e identidades de gênero com as quais uma pessoa pode vir a se identificar. Nesse processo de identificação não existe apenas um fator ou ator social que influencia as pessoas. Trata-se de um complexo processo de identificação. Portanto, qualquer orientação ou identidade é legítima. A heterossexualidade é tão legítima quanto a homossexualidade, a bissexualidade ou a travestilidade. Todas são formas de vivenciar as múltiplas sexualidades e os gêneros.

Por isso, se a pergunta é qual a causa da homossexualidade, deveríamos também nos perguntar, como já fazia Freud, quais as causas da heterossexualidade. Assim como não existe consenso sobre a existência de um “gene gay”, também não existe um “gene heterossexual” e nem por isso os heterossexuais devem deixar de ser respeitados. Ou seja, o que efetivamente sabemos, e o livro de Sheldon é mais uma prova empírica disso, é que determinados setores da sociedade exigem que todas as pessoas devem ser heterossexuais. Por isso, a heterossexualidade é que se torna uma norma que todos devem seguir, que todos são obrigados a seguir;

Para Sheldon, os LGBT são um risco à sociedade porque desejam “destruir a família”. Ao acionar o ideal de família nuclear burguesa (pai, mãe, filhos), Sheldon novamente distorce evidências históricas amplamente estudadas por pesquisadores/as do mundo inteiro[3]. O que dizem esses estudos?

1. A família, tal qual concebe Sheldon, é também fruto de um longo processo histórico. Nem sempre existiu essa configuração familiar defendida por Sheldon. Basta lembrar da existência dos clãs, que são anteriores às famílias de hoje, e dos casamentos arranjados, nos quais as noivas eram escolhidas pelos pais do noivo.

2. As pessoas pobres, em especial as brasileiras, sabem muito bem que esse ideal de família defendido por Sheldon é tipicamente burguês. Nossas famílias são construídas em uma ampla diversidade de combinações, com filhos/as sendo criados/as por avós, tios, vizinhos, amigos, ou com apenas a presença da mãe[4].

Ou seja, ao defender apenas um tipo de constituição familiar, Sheldon, na verdade, atenta contra boa parte das constituições familiares que existem em nossa sociedade, disseminando o seu ódio para além da população LGBT;

3) Sheldon diz: “desde a época de Adão e Eva, as sociedades civilizadas entendem que a família consiste em uma mãe, um pai e os filhos”. Ora, além de exigir que todos acreditem na existência de Adão e Eva, Sheldon ignora que nem sempre o homem viveu em chamadas “sociedades civilizadas” tais como as conhecemos hoje. Trata-se de um pensamento tipicamente criacionista, que mente sobre dados e evidências históricas amplamente estudadas por pesquisadores do mundo, que demonstram que, ao longo da sua história, a humanidade passou por momentos de “barbárie” e com vários tipos de arranjos familiares;

4) Muitos LGBT, ao contrário do que diz Sheldon, gostam tanto dessa constituição familiar que desejam constituir uma, mas dentro de uma perspectiva ampliada, um pouco diferente. Tanto isso é verdade que o Supremo Tribunal Federal reconheceu, em 5 de maio 2011, a união estável entre pessoas do mesmo sexo. O STF entendeu que o artigo 3º, inciso IV, da Constituição Federal, veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de sua orientação sexual.

Ou seja, ao contrário do que apregoa Sheldon, a civilização nunca teve como base apenas um tipo de configuração familiar, mas uma ampla variedade de configurações familiares e de conjugalidades. Novamente fica explícito o quanto o pensamento de Sheldon se configura em um atentado à diversidade da sociedade como um todo, e não apenas contra a população LGBT;

Para provocar o ódio para com a população LGBT, Sheldon defende que os homossexuais disseminam o que ele chama de uma “cultura de morte” ou “estilo de morte” e não “estilo de vida”. Para ele, a Aids, as demais doenças sexualmente transmissíveis, a depressão e até o número de suicídios de jovens homossexuais comprovariam a sua “tese”. Para isso, ele usa de uma série de dados estatísticos que informam que o vírus HIV e os suicídios atingem mais os LGBT do que os heterossexuais, em especial os monogâmicos.

Para Sheldon, os homossexuais é que são culpados por serem vítimas da Aids e por cometerem suicídios. Trata-se de mais uma leitura absurdamente equivocada, intencionalmente distorcida para pregar o ódio. O que os movimentos sociais e os estudos mais respeitados informam é que a Aids vitimou e ainda vitima mais a população LGBT porque, entre várias outras razões, governos conservadores como o de Ronald Reagan, que Sheldon tanto elogia, não realizaram rapidamente ações de combate à disseminação do vírus HIV porque, inicialmente, ele estava atingindo mais os homossexuais.

Esse dado histórico, motivado pela homofobia institucional de um governo, é solenemente ignorado por Sheldon. Foi por causa disso que um movimento social como o ACTUP, que Sheldon desonestamente critica, precisou realizar ações de desobediência civil para chamar a atenção da sociedade americana sobre o que estava acontecendo naquele momento nos EUA[5]. Até os cientistas políticos mais liberais defendem a legitimidade da desobediência civil em determinados momentos dentro de uma democracia[6]. Além disso, em nenhum momento Sheldon considera que os suicídios dos LGBT são motivados pelo fato dos heterossexuais radicais não aceitarem a diversidade sexual e de gênero existente em nossa sociedade. Ou seja, dentro da perspectiva de Sheldon, os LGBT se contaminam e se matam porque querem.

Em determinado momento, ele inclusive cita que alguns gays transam sem o uso do preservativo, o que seria prova de que os homossexuais desejam se contaminar. Ainda que existam alguns gays que resistem ao uso de preservativos, o que falta dizer é que não são apenas determinados LGBT que não usam preservativos, mas também milhares de heterossexuais fazem o mesmo e não são considerados, por causa disso, disseminadores de uma “cultura de morte”.

Além disso, Sheldon liga sempre a pedofilia com a homossexualidade, como se essa prática, considerada criminosa, não fosse encontrada entre a população heterossexual.

Outra ideia recorrente no livro ataca toda e qualquer ação nas escolas e universidades que vise o respeito à diversidade sexual e de gênero. Sheldon diz que estas ações teriam o objetivo de ensinar os estudantes a serem homossexuais (página 12) e de promover a homossexualidade. Diz que as universidades “estão tomadas por uma epidemia da diversidade” (página 176).

Trata-se de mais uma leitura equivocada, com a evidente intenção de disseminar o ódio homofóbico. O que os movimentos sociais e educadores defendem é que a escola seja um local onde se ensine o respeito à diversidade[7]. Os estudos acadêmicos, já desenvolvidos em vários lugares do mundo e que, nos últimos anos, têm crescido muito nas universidades brasileiras, mesmo com perspectivas metodológicas e teóricas distintas, são enfáticos ao defender que todas as orientações sexuais e todos os gêneros são legítimos e construídos também culturalmente.

Muitos desses estudos[8] desmentem outra ideia de Sheldon, a de que o comportamento homossexual foi proibido em toda a história da humanidade (página 251). Há dezenas de reconhecidos estudos, todos solenemente ignorados por Sheldon, que relatam que o sexo entre pessoas do mesmo sexo nem sempre foi considerado algo problemático em outros períodos históricos e sociedades. O que estes estudos apontam é que a partir do século 19 é que a homossexualidade passa a ser patologizada e criminalizada, através de uma impressionante sintonia entre igreja, Estado e cientistas.

O simples fato de promover estudos como esses e incentivar o debate para o respeito à diversidade é entendido por Sheldon como proselitismo gay. Historicamente, o que ocorreu e ainda ocorre é que as famílias, as escolas e a sociedade em geral ensinam, de forma coercitiva e autoritária, que todos sejam heterossexuais. Se existe alguma promoção em curso, há séculos, é em relação à heterossexualidade e não em relação à homossexualidade.

Em vários trechos, Sheldon ataca o Estado Laico. Na página 89, defende explicitamente um Estado com religião. Diz que “a separação entre Igreja e Estado é uma mentira”, mas defende que o Estado não interfira na religião e que os professores deveriam ter liberdade de ensinar religião aos seus estudantes.

No final do livro, ele conclama as pessoas a se unirem contra o Estado Laico (página 222). Trata-se, portanto, de uma ideia que atenta para um princípio base do sistema democrático. A separação entre a religião e o Estado permitiu que a diversidade religiosa fosse respeitada, o que possibilitou o fim de muitos e sangrentos conflitos. Portanto, a ideia de Sheldon representa um atentado ao Estado Democrático de Direito e a todas as denominações religiosas que não compactuam com as suas leituras fundamentalistas.

Portanto, suas ideias, como podemos ver, tentam acabar com outras expressões da diversidade existentes em nossa sociedade. Sheldon, por exemplo, além de atacar todas as pessoas que vivem em famílias diferentes da nuclear burguesa, vincula a decadência da sociedade com as conquistas das mulheres (página 39), ataca os adeptos do “amor livre” (página 69) e, ao tratar de promiscuidade, diz que as jovens usam roupas muito curtas e estimulam os homens (página 190). Por fim, ainda critica duramente os negros “de esquerda” (página 224) que defendem os direitos de LGBT.

Em vários momentos Sheldon diz que o livro que mais inspira os homossexuais é Minha luta, de Hitler. Como é de conhecimento público, um dos principais objetivos dos nazistas era o de aniquilar todas as pessoas diferentes, que não fossem brancas, tidas como saudáveis, fortes e heterossexuais. Centenas de homossexuais foram assassinados pelos nazistas. Ou seja, como poderiam os LGBT ter como fonte de inspiração um livro de Hitler? Por sinal, um livro proibido de circular por incitar o ódio antissemita. É exatamente a produção do ódio o que Sheldon faz em relação aos milhares de LGBTs existentes no mundo.

Sobre o autor



Leandro Colling, gaúcho atualmente residindo em Salvador (BA), é Professor da UFBA, coordenador do grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS) e Presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (Abeh - gestão 2011 - 2012).



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[1] Ver em  http://pol.org.br/legislacao/pdf/resolucao1999_1.pdf

[2] Ver, por exemplo: BUTLER, Judith. Problemas de gênero – feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008; LOURO, Guacira Lopes. (org.). O corpo educado – Pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

[3] Ver, por exemplo, os clássicos ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do estado. 15ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002, e LEVI-STRAUSS, CLAUDE, As estruturas elementares do parentesco. Rio de Janeiro: Vozes.

[4] Ver dados do IBGE em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=774

[5] Sobre esse tema, ler MISKOLCI, Richard.  “A Teoria Queer e a Sociologia”, em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222009000100008

[6] Ler, por exemplo, RAWLS, John. O liberalismo político. São Paulo: Editora Ática, 2000.

[7] Ler, por exemplo, LOURO, Guacira Lopes et al. (orgs). Corpo, Gênero e Sexualidade: um debate contemporâneo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003

[8] Ver, por exemplo, FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. São Paulo: Graal, 2005.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O que todo cristão deve saber sobre homossexualidade

Por Luiz Mott (Homossexualidade: Mitos e Verdades. Salvador, Editora GGB, 2003, p.101-108)


"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!" (João, 8:32)

I. NÃO HÁ O TERMO HOMOSSEXUAL NA BÍBLIA

Não há, na Bíblia, nenhuma só vez as palavras homossexual, lésbica ou homossexualidade. Todas as Bíblias que empregam estas expressões estão erradas e mal traduzidas. A palavra homossexual só foi criada em 1869, reunindo duas raízes linguísticas: Homo (do Grego, significando "igual") e Sexual (do latim). Portanto, como a Bíblia foi escrita entre 2 e 4 mil anos atrás, não poderiam os escritores sagrados terem usado uma palavra inventada só no século passado. Se em tua bíblia aparece o termo homossexual, está errada. Elementar, irmão!

II. ANTIGUIDADE DA HOMOSSEXUALIDADE

A prática do amor entre pessoas do mesmo gênero, porém, é muito mais antiga que a própria Bíblia. Há documentos egípcios de 500 anos antes de Abraão, que revelam práticas homossexuais não somente entre os homens, mas também entre os Deuses Hórus e Seth. Segundo o poeta e escritor Goethe, "a homossexualidade é tão antiga quanto a humanidade". Certamente, cada tempo com sua experiência singular homossexual, mas com o mesmo direcionar de desejo: o sexo igual.

III. CONDENAÇÃO DA IDOLATRIA

No antigo Oriente, a homossexualidade foi muito praticada. Entre os Hititas, povo vizinho e inimigo de Israel, havia mesmo uma lei autorizando o casamento entre homens (1.400 anos antes de Cristo). Como explicar, então, que, entre as abominações do Levítico, apareça esta condenação: "O homem que dormir com outro homem como se fosse mulher, comete uma abominação, ambos serão réus de morte" (Levítico, 18:22 e 20:12). Segundo os mais respeitados Exegetas contemporâneos, (estudiosos das escrituras sagradas), fazia parte da tradição de inúmeras religiões de localidades circunvizinhas a Israel, a prática de rituais religiosos homoeróticos, de modo que esta condenação do Levítico visava fundamentalmente afastar a ameaça daqueles rituais idolátricos e não a homossexualidade em si. Prova disto é que estes versículos condenam apenas a homossexualidade masculina: teria Deus Todo Poderoso se esquecido das lésbicas ou, para Javé, a homossexualidade feminina não era pecado? Considerando que, do imenso número de leis do Pentateuco, apenas duas vezes há suposta referência à homossexualidade (e só à masculina), concluem os Exegetas que a
supervalorização que alguns judeus e cristãos mais fundamentalistas (que querem interpretar as Escrituras ao pé da letra) conferem a este versículos é sintoma claro e evidente da intolerância machista que permeia as sociedades regidas pela tradição abraâmica, um entulho histórico a ser desprezado, e não um desígnio eterno de Javé, do mesmo modo que inúmeras outras abominações do Levítico, como os tabus alimentares (por exemplo, comer carne de porco ou camarão) e os tabus relativos ao esperma e ao sangue menstrual, hoje foram completamente abandonadas e esquecidas. Por que católicos e protestantes conservam somente a condenação da homossexualidade, enquanto abandonaram dezenas de outras proibições decretadas pelo mesmo Senhor? Intolerância machista e ignorância que Freud explica!

IV. DAVI E JÔNATAS: O AMOR HOMOSSEXUAL

Se a homossexualidade fosse prática tão condenável, como justificar a indiscutível relação homossexual existente entre Davi e Jônatas?! Eis a declaração do santo rei salmista para seu bem-amado: "Tua amizade me era mais maravilhosa do que o amor das mulheres. Tu me eras deliciosamente querido!" (II Samuel, 1:26). Alguns crentes mais intolerantes argumentarão que se tratava apenas de um amor espiritual, ágape, quando muito de “homo-afetividade”. Preconceito primário, pois só as coisas materiais e sensuais costumam ser referidas com a expressão "delicioso", e não resta a sombra da menor dúvida que Davi, em sua juventude, foi adepto do "amor que não ousava dizer o nome". Não foi gratuitamente que o maior escultor de nossa civilização, Miguel Ângelo, ele próprio, também homossexual, escolheu o jovem Davi, nu, como modelo de sua famosa escultura de Florença, na Itália: um gay retratando o mais famoso gay do Antigo Testamento. Negar o amor homossexual entre Davi e Jônatas ("amizade mais maravilhosa que o amor (Eros) das mulheres") é negar a própria evidência dos fatos. "Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvido, não ouvis?!" (Marcos, 8:18). Importantes e respeitados Exegetas identificam igualmente como homossexual/lésbica, a relação íntima de Ruth e Naomi. Confira Livro de Ruth, 1:16.

V. É BOM DOIS HOMENS DORMIREM JUNTOS...

Pelo visto, embora o Levítico fosse extremamente severo contra “dois homens dormirem juntos”, (determinando igualmente a pena de morte contra o adultério e a relação sexual com animais), outros livros sagrados revelam maior tolerância face ao homoerotismo. O Eclesiastes ensina: "É melhor viverem dois homens juntos do que separados. Se os dois dormirem juntos na mesma cama se aquecerão melhor" (4:11). Num país quente como a Palestina, o interesse em dormir junto só podia ser mesmo erótico. Portanto, na teoria o Levítico era uma coisa e a prática, desde os tempos bíblicos, parece ter sido outra. "Deus nos fez ministros da nova aliança, não a da letra e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." (II Coríntios, 3:6)

VI. O PECADO DE SODOMA E GOMORRA NÃO ERA A “SODOMIA”

E a destruição de Sodoma e Gomorra? Lembrarão os fundamentalistas de coração mais duro. Oferecemos três informações fundamentais e cientificamente comprovadas que, em geral, são propositadamente escondidas e desconhecidas pelos cristãos: 1) não há evidência histórica ou arqueológica que confirme a real existência dessas e das mais cinco cidades que circundavam Sodoma e Gomorra e que tais cidades teriam sido destruídas por uma catástrofe; 2) este relato é obra dos "Javistas" (escritores bíblicos do século X a.C.), que se apropriaram de relatos mitológicos de outros povos pagãos anteriores aos judeus; 3) a própria identificação da suposta intenção homoerótica dos habitantes de Sodoma em relação aos três visitantes de Abraão (anjos ou homens?) apresenta sérias dificuldades de interpretação, pois quando os habitantes de Sodoma declararam desejar “conhecer” os visitantes, maliciosamente se interpretou o verbo "conhecer" como sinônimo de "ato sexual". Segundo os Exegetas, das 943 vezes que aparece esta palavra no Antigo Testamento ("yadac" em hebraico), em apenas 10 ela tem significado de cópula heterossexual - nenhuma vez o sentido homossexual. A associação do pecado dos "sodomitas e gomorritas" com a homossexualidade é um grave erro histórico, que tem sua oficialização pela igreja católica apenas na Idade Média, a "idade das trevas".

VII. O VERDADEIRO PECADO DE SODOMA: INJUSTIÇA E FALTA DE AMOR

A própria Bíblia e o filho de Deus nos dão a chave para corrigir esta maliciosa identificação da destruição de Sodoma e Gomorra com a homossexualidade. Segundo os mais respeitados estudiosos das Sagradas Escrituras, o pecado de Sodoma é a injustiça e a anti-hospitalidade, nunca a violação homossexual. Prova disto, é que todos os textos que aludem à Sodoma no Antigo Testamento atribuem sua destruição a outros pecados e não ao "homossexualismo": falta de justiça (Isaías, 1:10 e 3:9), adultério, mentira e falta de arrependimento (Jeremias, 23:14); orgulho, intemperança na comida, ociosidade e "por não ajudar o pobre e indigente" (Ezequiel, 16:49); insensatez, insolência e falta de hospitalidade (Sabedoria, 10:8; 19;14; Eclesiástico, 16:8). No Novo Testamento, não há qualquer ligação da destruição de Sodoma com a sexualidade e, muito menos, com a homossexualidade (Mateus,10:14; Lucas, 10:12 e 17:29). Só nos livros neotestamentários tardios de Judas e Pedro, é que aparece em toda a Bíblia alguma conexão entre Sodoma e a sexualidade (Judas, 6:7, Pedro, 2:4 e 6;10). Mesmo aí, inexiste qualquer referência ao "homoerotismo". Foi só na Idade das Trevas que os católicos passaram a identificar “sodomia” com cópula anal, seja entre pessoas do mesmo sexo, seja de um homem com uma mulher.

VIII. MÁ TRADUÇÃO DAS EPÍSTOLAS DE SÃO PAULO

Dirão, agora, os crentes mais intolerantes: e as condenações de São Paulo aos homossexuais? Autorizados exegetas protestantes e católicos - como Macneill, Thevenot, Noth, Kosnik, e muitos outros, ao examinarem, cuidadosamente, na língua original, os textos das Epístolas aos Romanos 1:2, I Coríntios 6:9, Colossenses 3:5 e I Timóteo 1:10, textos usados pelos fundamentalistas para condenar o amor homossexual, concluíram inequivocamente que, até agora, os cristãos têm dado uma interpretação completamente errada e preconceituosa a estas passagens. Quando Paulo diz que certas categorias de pecadores não entrarão no Reino dos Céus - ao lado dos adúlteros, bêbados, ladrões etc... muitas Bíblias incluem nesta lista os "efeminados" e "homossexuais". Logo de início, há uma grave injustiça, pois muitos efeminados (assim como muitas mulheres masculinizadas no comportamento) não são necessariamente homossexuais. As mais modernas e abalizadas pesquisas exegéticas concluem que, se o ex-fariseu Paulo de Tarso quisesse condenar especificamente os praticantes do homoerotismo, teria empregado o termo corrente em sua época e de seu pleno conhecimento, "pederastas". Em vez desta palavra, Paulo usou as expressões gregas "malakoi", "arsenokoitai" e "pornoi" - que as melhores edições da Bíblia em português traduzem por "perversores", "pervertidos" e "imorais".

Portanto, foram estes pecadores que Paulo incluiu na lista dos afastados do Reino dos Céus, e não os "pederastas", e muito menos os "homossexuais", palavra desconhecida na Antiguidade. Segundo os historiadores, vivendo São Paulo numa época de grande licenciosidade sexual - tempo de Calígula, Nero e do Satiricon, esperando o próximo retorno do Cristo e o fim do mundo, ele condenou, sim, os excessos e abusos sexuais dos povos vizinhos, mas nunca o amor inocente e recíproco, tal qual o imortalizado por David e Jônatas. Há teólogos protestantes que chegam a diagnosticar Paulo de Tarso como homossexual latente (alusão feita por ele próprio ao misterioso "espinho na carne" que tanto o preocupava, além de sua manifesta e cruel "misoginia" ou desprezo pelas mulheres). E, se a condenação paulina inclui também os bêbados, corruptos, caluniadores, por que atirar tanta pedra somente nos homossexuais? Também aqui, Freud explica! Os “crentes” por não assumirem o padrão machista dominante, para “limpar a barra” e não serem acusados de pouco masculinos ou mesmo efeminados/homossexuais, atiram pedra nos gays como estratégia diabólica de auto-defesa. Aqui novamente, Freud ou um bom psicanalista ajudariam a solucionar tal neurose. E tem mais: o próprio Filho de Deus disse que "há eunucos que assim nasceram desde o seio de suas mães" (Mateus 19:12), ensinando, num sentido figurado, que faz parte dos planos do Criador que alguns homens tenham uma sexualidade não reprodutora biologicamente. Todos somos imagem de Deus e templos do Espírito Santo. Inclusive aqueles que hoje têm o mesmo gosto erótico do santo Rei Davi – que aliás, entrou em Jerusalém dançando em trajes sumaríssimos (II Samuel, 6:14)

IX. JESUS NUNCA CONDENOU OS AMANTES DO MESMO SEXO


O maior argumento para se comprovar que as Escrituras Sagradas não condenam o amor entre pessoas do mesmo gênero, é o fato de Jesus Cristo nunca ter falado nenhuma palavra contra os homossexuais! Se o "homossexualismo" fosse uma coisa tão abominável, certamente o Filho de Deus teria incluído esse tema em sua mensagem, e Javé nos dez mandamentos. O que Jesus condenou, sim, foi a dureza de coração, a intolerância dos fariseus hipócritas, a crueldade daqueles que dizem Senhor, Senhor!, mas esquecem da caridade e do respeito aos outros (Mateus, 7:21). E foi o próprio Messias quem deu o exemplo de tolerância em relação aos "desviados", andando e comendo com prostitutas, pecadores e publicanos. E tem mais: Jesus Cristo mostrou-se particularmente aberto à homossexualidade, revelando carinhosa predileção por João Evangelista, "o discípulo que Jesus amava", o qual, na última Ceia, esteve delicadamente recostado no peito do Divino Mestre. Há teólogos que chegam a sugerir que Jesus era homossexual, pois além de nunca ter condenado o homoerotismo, conviveu predominantemente com companheiros do seu próprio gênero, manifestou particular predileção pelo adolescente João, “o discípulo amado”, nunca se casou, além de revelar muita sensibilidade com as crianças e com os lírios do campo, comportamentos muito mais comuns entre homossexuais do que entre machões. Mais ainda: ao lavar os pés dos discípulos, desempenhou um gesto que homem algum faria, posto que na divisão sexual dos papeis de gênero, lavar os pés de um homem era privativo das mulheres. E Jesus mandou que imitássemos seu exemplo, abençoando assim a diversidade e liberdade dos/as transgêneros e da transexualidade. Outro detalhe importante que mostra o apoio do Filho de Deus à homossexualidade: segundo respeitáveis Exegetas, quando o Evangelho diz que Jesus curou o “escravo do centurião”, na verdade, não se tratava de um escravo qualquer, mas do “escravo amante” do centurião romano (Mateus, 8;5-8), comprovando inclusive o apoio de Cristo à união entre pessoas do mesmo sexo! Neste sentido, o ensinamento do Discípulo Amado não podia ser mais claro: "Filhinhos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e tudo o que é amor é nascido de Deus e conhece a Deus" (I João, 4:4).

X. OS FUNDAMENTALISTAS DETURPAM AS SAGRADAS ESCRITURAS

A Bíblia é um livro muito antigo, repleto de imagens simbólicas, parábolas e figurações. Interpretar as Escrituras ao pé da letra é fundamentalismo, isto é, ignorância, fanatismo e grave pecado, pois o próprio Filho de Deus garantiu: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á a verdade" (João, 16:12). Do mesmo modo como os cientistas Galileu ensinou-nos a verdade de que o sol, e não a terra, é o centro do nosso sistema planetário, e Darwin a respeito da evolução das espécies, ambos corrigindo a Bíblia e opondo-se à crença errada dos cristãos de sua época, assim também hoje todos os ramos da Ciência, da biologia à genética, da antropologia à psicologia, garantem que a homossexualidade é um comportamento normal, saudável e tão digno ética e moralmente como a heterossexualidade ou a bissexualidade. Negar esta evidência científica é repetir a mesma ignorância intolerante do Papa que condenou Galileu. Não devemos temer a verdade que liberta, pois o próprio Jesus nos mandou imitar "o escriba instruído nas coisas do Reino dos Céus, que como um pai de família, tira de seu tesouro coisas novas e velhas" (Mateus, 13:52). Mesmo que o Papa ou grande parte dos rabinos e pastores continuem a negar os direitos humanos dos gays e lésbicas, mesmo que cristãos ignorantes continuem a repetir as ultrapassadas abominações do Velho Testamento e as traduções erradas das epístolas paulinas, para os verdadeiros crentes o que vale é o exemplo do Filho de Deus, Jesus Cristo,que nunca condenou os homossexuais. "E conhecereis a verdade, e a verdade vos  libertará!" (João, 8:32).

Sobre o autor


Luiz Mott é antropólogo, historiador e pesquisador, e um dos mais conhecidos ativistas brasileiros em favor dos direitos civis dos LGBT. Estudou em Seminário Dominicano de Juiz de Fora. Formou-se em Ciências Sociais pela USP. Possui mestrado em Etnologia em Sorbonne e doutorado em Antropologia, pela Unicamp. Atualmente é professor titular aposentado do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, UFBA e é professor e orientador do programa de pós graduação em História da Universidade Federal da Bahia, UFBA. Assumiu sua orientação sexual em 1977. Luiz Mott é fundador do Grupo Gay da Bahia, uma das principais instituições que laboram em prol dos direitos humanos dos gays no Brasil. Conheça mais: http://www.ggb.org.br

sexta-feira, 2 de março de 2012

Destruindo sofismas cristãos

Por Andrea Freitas Foltz (publicado originalmente em http://andreafreitas.wordpress.com/category/destruindo-sofismas-cristaos)

A Bíblia nunca poderia ser divina; isto percebemos quando a lemos e fazemos a separação do que os seus escritores expressaram durante aquela época para a realidade em que vivemos. Os autores bíblicos eram ignorantes a respeito de inúmeros assuntos e isto inclui também a homossexualidade. Sem firme fundamentação nos seus argumentos sobre a sexualidade humana, os cristãos acabam por reduzir os textos usados contra a homossexualidade a referências “mal-interpretadas” ou mal-induzidas por seus líderes!

A cultura dos hebreus era machista e até hoje continua a ser no meio cristão. Vemos através de suas teorias a respeito de seu deus que se “apresentava” como um ser masculinizado [Gn 32.24,28] e que criou outros seres [anjos] também masculinizados [Gn 18.2; 32.24] – segundo suas “aparições”. Por que o Criador não se deu ao trabalho de criar um ser celestial sequer com característica feminina? Seria ele também preconceituoso? Machista?

O homem era o centro das atenções do deus hebreu, com um corte no pênis [prepúcio] simbolizando uma aliança entre a criatura-macho e o criador masculinizado [Gn 17.10-14]. Tudo isso contribuiu para que a condição da homossexualidade, fosse encarada como aberração e abominação, como eles bem pregam por aí!

Durante toda a existência do cristianismo, os cristãos que se opõem aos direitos dos gays e lésbicas citam frequentemente Gênesis 19 (a história de Sodoma) para repudiarem a homossexualidade e todos aqueles que nascem sob essa condição. Tal interpretação mostra até que ponto o preconceito e a homofobia deformam e camuflam a verdadeira causa da destruição dessas cidades nos relatos bíblicos.

A verdade é que tanto no Antigo como no Novo Testamento, o “pecado” de Sodoma nunca foi entendido como homossexualidade. Ao contrário, era egoísmo, orgulho, descaso perante pobres e da falta de hospitalidade para com os estrangeiros; pois no contexto do deserto, a recusa de hospedar os estrangeiros poderia significar a morte. Confira: Ezequiel 16.49-50.

Inúmeros teólogos cristãos e autores sérios de artigos que abordam a questão da homossexualidade afirmam isso:

1 - Walter Wink – professor do Seminário Teológico, Doutor em Teologia (Th.D) do Union Theological Seminary de Nova York;

2 - Theodore W. Jennings – professor-assistente no Chicago Theological Seminary;

3 - John B. Cobb Jr. – Professor Emérito de teologia e co-diretor do Centro de Estudos sobre Processo da Faculdade de Teologia de Claremont, Califórnia;

4 - James B. Nelson – professor de ética cristã no United Theological Seminary em New Brighton e Minnesota;

5 - Robert K. Johnston – Ph.D., professor de Teologia e Cultura no Seminário Teológico Fuller, em Pasadena – Califórnia… Dentre outros!

A Verdade que liberta

Segundo Nelson (2008), os estudos bíblicos contemporâneos indicam com suficiente persuasão que o tema principal da história e a preocupação do escritor [Moisés, ou seja lá quem escreveu] não era a atividade homossexual, mas a violação da justiça social rudimentar e das antigas normas hebraicas de hospitalidade. O pecado de Sodoma foi a quebra das leis de hospitalidade e justiça.

Relembremos ainda que era prática comum no Oriente Médio, na época, submeter os inimigos do sexo masculino capturados ao estupro anal. A prática significava domínio e desprezo. À medida que a atividade homossexual expressava ódio e desprezo – particularmente nas sociedades que davam grande importância à dignidade masculina – era natural que essa atividade fosse sumariamente rejeitada.

Fazendo-se justiça ao texto, é difícil considerar a narrativa sobre Sodoma como julgamento sobre todas as atividades homossexuais, uma vez que estava em jogo o estupro homossexual, esse sim, condenado. Para uma melhor compreensão do que seria o “estupro homossexual”, é o mesmo que acontece hoje em nossos presídios. Alguns presos [heterossexuais] indignados com criminosos julgados como pedófilos ou estupradores, fazem “justiça” própria submetendo o acusado à vergonha de ser molestado sexualmente; dando-lhe a mesma paga pelo crime cometido.

Segundo Wink, “o pecado dos sodomitas era o rapto homossexual perpetrado por heterossexuais com a intenção de humilhar os estrangeiros ao tratá-los “como mulheres”, desmasculinizando-os” (2008, p. 9). E o mesmo acontece em Juízes 19.21 – acrescenta ele. “Os casos brutais de estupro praticados por bandos em nada correspondem à questão da legitimidade ou não das consentidas expressões de amor entre adultos do mesmo sexo” (Ibid, p.9).

Em Dt 23.17-18, Wink lamenta que em algumas versões – especificamente a King James – o termo usado como “sodomita”, na verdade se refere a um “garanhão” heterossexual envolvido com os ritos cananeus de fertilidade infiltrados no culto judaico. Veja o uso do termo em questão por outras traduções:

- Bíblia Católica – Versão dos Monges de Maredsous [1958]: omite tanto “prostituto” como “sodomita”;

- Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas [1986]: também usa o termo “prostitutos” tanto para homens como para mulheres.

- Bíblia na Linguagem de Hoje [1988]: “refere-se tanto a homens e mulheres como “praticantes de prostituição”;

- Bíblia de Jerusalém [1995]: usou o termo “prostituto sagrado”;

- Bíblia Plenitude [2002]: traduziu como “sodomita”, seguindo o exemplo da King James;

- Traduções de João Ferreira de Almeida:

a) Revista e Atualizada [1992]: usou o termo “Sodomita”;
b) Revista e Corrigida [1995]: usou o termo “Sodomita”.

Segundo Johnston (2008), tanto o texto de Dt 23.17-19 como I Rs 14.24 e II Rs 23.7, que parecem referir-se a “prostitutos sagrados” masculinos, trata-se na verdade, de tradução errada da palavra hebraica qadesh. A raiz da palavra significa “sagrado” e se refere ao contexto dos que trabalhavam em templos não-judaicos. Enquanto a forma feminina, qadesh(ah) descrevia deveres sexuais, o vocábulo masculino aplicava-se a sacerdotes com outras funções no culto.

Perceberam aí a malícia dos tradutores cristãos que interpretam tais passagens como lhes convém?

NOTA: Ao contrário do que os pastores pregam por aí nas igrejas, a prostituição na Bíblia era natural e não era considerada pecaminosa, pois servia até para salvaguardar a virgindade de muitas mulheres solteiras e o direito de propriedade dos maridos. Em Gênesis 38.12-19, vemos Tamar disfarçando-se de prostituta para seduzir e transar com Judá; Em Josué 2.1, vemos que dois espias enviados por Josué ao chegarem em Jericó, não procuraram outro lugar para “pousar” senão a casa da prostituta Raabe; e em Juízes 16.1, vemos Sansão – um homem escolhido por Jeová – transando também com uma prostituta. Em lugar nenhum do Velho Testamento lemos explicitamente a proibição de relações sexuais antes do casamento; pelo contrário, no livro de Cantares encontramos relatos de uma relação amorosa proibida e acima de tudo pedófila! Ainda de acordo com Wink (2008,p.p.14-15), “a poligamia era vivida tanto no Velho como no Novo Testamento e continuou a ser praticada esporadicamente no judaísmo até alguns séculos depois do período do Novo Testamento; isso pode-se saber por meio do Mishnah e do Talmude”! Confira também em I Tm 3.2,12 e Tt 1.6.

Quanto a I Coríntios 6.9 e I Timóteo 1.10, Wink também afirma categoricamente que “não é claro que referem-se a parceiros “ativos” ou “passivos” em relações homossexuais ou prostitutos do sexo masculino homossexuais ou heterossexuais. Não se sabe se era apenas homossexualidade, promiscuidade ou sexo por dinheiro.” (Ibid,p.10)

Mas e quanto aos outros versículos? O que realmente dizem sobre a homossexualidade? Quais as interpretações corretas? Vamos tecer algumas considerações acerca deles:

a) Levítico 18.22 e 20.13 diz que é abominação um homem deitar-se com outro homem e ordena que tais homens sejam mortos. Tal ato foi abominado pelos hebreus por diversas “razões”:

I – O conhecimento hebraico pré-científico entendia que o sêmen continha a totalidade da vida que iria nascer. Sem conhecer óvulos nem ovulação, os hebreus achavam que a mulher fornecia apenas o espaço para a incubação. Quando o derramar do sêmen fugia do propósito de procriação, como coito interrompido, masturbação masculina e atos homossexuais, era considerado abominação – semelhante ao aborto ou assassinato. Ao contrário do homem, não havia qualquer proibição desses atos entre mulheres, deixando claro o patriarcalismo da cultura hebraica.

II – A recusa de Onan de engravidar sua cunhada viúva, praticando o coito interrompido, foi interpretada por Moisés como séria violação do decreto divino a ponto dele ser [supostamente] morto por Javé [Gn 38.1-11].

b) Romanos 1.26-27 referem-se a eles como “praticantes de imoralidades”. O que enquadra praticamente a toda a humanidade, pois qual desses cristãos propagadores de tal Palavra que não peca? Não há diferença alguma entre um pecado e outros citados por Paulo. Isto só prova que de “pecado” ele não entendia nem dos dele!

O Livro de Levítico

O livro de Levítico – de acordo com a tradição – foi escrito por Moisés e lida muito com assuntos relacionados à pureza, santidade de Deus e a santidade na vida cotidiana dos hebreus. Foi o primeiro livro a ser ensinado para as crianças na educação judaica. Os “sábios” judeus decidiram que suas crianças deveriam ser educadas sobre a santidade de Deus e a responsabilidade de viver uma vida “santa”.

Mas Levítico está longe de conter o verdadeiro significado de pureza e santidade! A “santidade” exigida e vivida nele não passa simplesmente da imperfeita e imperiosa vontade do homem – Moisés! Não sabemos como um livro escrito há milhares de anos, com um conteúdo machista e absurdamente desumano, pode servir de base na educação de crianças!

Talvez o que é/foi passado para essas crianças seja o mesmo conteúdo que é passado nas igrejas cristãs de hoje; ou seja, o que o torna desumano e insano é camuflado com a mensagem de pureza e santidade de Deus.

Não precisa ser um bom observador para perceber que os versículos mais citados pelos cristãos hoje [do livro de Levítico] são aqueles que condenam a homossexualidade. Esses… Eles têm na ponta da língua! Porém, os mesmos cristãos, de um modo geral, sabem reter muito bem o que lhes convém nesse livro e descartar o que não lhes interessa. A exemplo disso vemos:

I – Nudez natural: A nudez natural, típica do Éden, era condenada pelos escritores do judaísmo – Moisés, Ezequiel, Isaías e Samuel – até no âmbito da família: Lv 18.6-19; Ez 22.10; II Sm 6.20; 10.4; Is 20.2-4 e 47.3). Era crime um filho ver a nudez do pai: Gn 9.20-27.

Todavia, não mais se cobra tal conduta entre os atuais cristãos. Pelo contrário, existem relatos de pais cristãos que tomam até banho junto aos seus filhos [homens]. Estão estes pais cometendo algum pecado? Claro que não! Quem se importa com tamanha bobagem?

II – Relações sexuais no período menstrual: A lei de Levítico proibia relações sexuais nos sete dias do período menstrual [cfr. 15.18-24], considerando o praticante “imundo”. Depois, Moisés achando que estava sendo benevolente com tais “transgressores”, resolveu executá-los: Lv 18.19. Até a própria mulher, mesmo não tendo relações sexuais, era considerada imunda no período menstrual!

Pergunta: Quais casais cristãos que saem confessando terem relações sexuais no período menstrual da mulher? Quem se importa com a intimidade “alheia” de casais heterossexuais?

III – O fluxo seminal do homem: As pessoas que tocassem no sêmen eram consideradas “impuro-imundas” e tinham que ser lançadas fora do arraial, inclusive o próprio homem, caso ejaculasse durante o sono [polução noturna]: Lv 15.2,16-18; 22.4; Nm 5.2.

Pergunta: Quais dos adolescentes [meninos] ou até mesmo homens são considerados “imundos” nas igrejas cristãs de hoje; até por praticarem a masturbação, o que consideramos natural para o desenvolvimento sexual? É verdade que em algumas igrejas ainda se prega que a masturbação é um pecado, porém não impede que tais adolescentes/homens a pratiquem e nem os exclui da congregação; até porque é praticamente impossível monitorá-los!

Até que ponto as proibições de Levítico devem ser aceitas pela consciência cristã ou de outros? A não ser que aceitemos todas as proibições desse livro, deveria haver alguma razão para estabelecer discriminações.

Creio que esses três itens são suficientes para uma boa compreensão da omissão e descarte dessas passagens pelos chamados “cristãos” da atualidade. Não vamos entrar em outras “proibições” de Moisés a não ser nestas de caráter sexual.

Jesus e a Homossexualidade

A homossexualidade nunca é mencionada nas narrativas do ministério de Jesus nos quatro evangelhos; e isso tem sido um “espinho” no calcanhar dos cristãos homofóbicos – a exemplo do Silas Malafaia – que tentam usar a Bíblia como arma para condenar homossexuais e subjugá-los a uma ditadura cristã.

Segundo os evangelhos, sempre que Jesus mencionou Sodoma, identificou o pecado da cidade como negação de hospitalidade aos estrangeiros. Como exemplo disso, lemos no livro de Luca que Jesus critica as cidades que evitavam hospedar os discípulos: “Digo-vos que naquele dia haverá menos rigor para Sodoma do que para aquela cidade” [10.12]. Não há uma passagem sequer em que Jesus tenha feito alusão aos homossexuais como “malditos”. Pelo contrário, Cristo falou contra muitas coisas: divórcio, falta de amor ao próximo, pena de morte… Mas não falou absolutamente NADA contra a homossexualidade.

Há quem diga que Jesus ao proferir as palavras contidas no livro de Mateus, capítulo 19 e versículo 5, ele tenha deixado claro que o “homem nasceu para a mulher” e vice-versa. Mas isso não deixa de ser mais uma tentativa de condenar a homossexualidade através das palavras do Cristo. No mesmo capítulo Jesus tratou de vários temas como: divórcio, relações sexuais ilícitas, casamento e por fim sobre a condição dos Eunucos.

Como naquela época a palavra “homossexual” não tinha sido empregada para homens que sentiam atração pelo próprio sexo, talvez o termo “eunuco” tenha sido aplicado pelo Cristo aos homossexuais também… Quem sabe? Ao contrário de Paulo – que espero estar à destra do diabo no inferno – Jesus não usou em momento algum a palavra “sodomitas”.

Mas a questão é que os cristãos têm afirmado que através da fé em Jesus os homossexuais podem “achar a cura” para sua condição sexual. O que não é verdade!

Vamos tomar, por exemplo, a condição dos eunucos tanto no Velho como no Novo Testamento. Durante séculos os eunucos foram proibidos de entrar na congregação [ou templo] por causa do seu “defeito” nos testículos (Deuteronômio 23.1).

Estranho o deus de Moisés que operou tantos milagres como criar o homem do barro (Gn 2.7), de uma costela masculina, formar uma mulher perfeita (Gn 2.21-22), abrir o mar vermelho (Ex 14.21), destruir grandes muralhas (Js 6.20) e curar leproso (II Rs 5.14), não teve misericórdia de um simples eunuco e assim restaurar seus testículos, tornando-o digno de entrar no templo. Antes preferiu condená-lo à exclusão!

E não há um registro sequer nos quatro evangelhos em que Jesus tenha restaurado testículos e funções sexuais de algum eunuco, tornando-o apto ao casamento. Alguém se habilita a mostrar?

Escrituras de Paulo

Para podermos interpretar o capítulo de Romanos referente à homossexualidade é preciso primeiro conhecer quem foi seu escritor, o que pensava e como agia segundo a sua ignorância!

Paulo considerava a homossexualidade tão contrária à natureza quanto o uso de cabelo comprido pelos homens: confira Rm 1.26 e 1º Co 2.14.

Embora a descrição de Paulo em Rm 1 não se aplique a homossexuais que não são idólatras nem praticam atos lascivos e nem mesmo se engajam em atos contrários à sua orientação sexual, ainda considero uma afronta da parte dele à liberdade de qualquer ser humano de fazer o que bem quiser da sua vida! Por que o “apóstolo” não citou os atos de pedofilia praticados pelos heróis bíblicos no passado?

O “apóstolo” menciona perversões particulares da prática homossexual de acordo a sua interpretação da Lei (I Tm 1) e do “reino de seu deus” (I Co 6); porém vemos que apesar de muitos acreditarem que tal apóstolo foi inspirado pelo espírito santo, ele não tinha conhecimento sobre orientação sexual e tampouco sobre o reino de seu deus. De acordo com o Novo Testamento, Jesus era o próprio Deus em carne e proprietário do reino celestial, porém em nenhum dos evangelhos lemos sobre a proibição de Cristo feita aos homossexuais de entrar no seu reino; mas Paulo contrariando a seu próprio “Senhor”, ousou fazê-lo.

Não é claro se o termo usado por Paulo em tais passagens referem-se a parceiros “ativos” e “passivos” em relações homossexuais ou a prostitutos do sexo masculino homossexuais ou heterossexuais. Não se sabe se a questão era apenas homossexualidade ou promiscuidade e sexo por dinheiro. O que se sabe – hoje – é que o tal apóstolo julgava-se inspirado por seu deus ao ponto de escrever suas “asneiras” sem ao menos imaginar que a ciência avançaria e chegaria ao ponto de contradizer seus argumentos.

Ainda em Rm 1.28-32, Paulo situa a homossexualidade no centro de seu argumento com a função de ilustrar de que maneira a idolatria nos leva a comportamentos contrários à natureza; ou seja, desvio da ordem estabelecida por seu deus na criação. Para ele, seu deus criou o homem para a mulher e vice-versa; considerando assim a homossexualidade um desvio da intenção de seu deus na criação do homem e da mulher.

Porém, notem que nos dias atuais, principalmente nas igrejas cristãs, quantos heterossexuais [inclusive pastores] se enquadram nesta lista de vícios elaborada pelo apóstolo:

a) Injustiça – Inúmeros cristãos cometem injustiças dentro e fora da igreja;

b) Malícia – 100% dos heterossexuais que estão nas igrejas são maliciosos;

c) Avareza – Inúmeros pastores [ricos] são avarentos;

d) Invejosos – Quem poderá dizer que nunca invejou algo na vida?

e) Homicidas – Inúmeros heterossexuais estão cumprindo pena por homicídio;

f) Contenda – Isto é o que mais acontece no seio da igreja.

g) Dolo – É a arte mais usada pelos chamados pastores de ovelhas. O próprio Paulo foi um dos que cometeu “dolo” [II Co. 12.16]. Quem se habilita dizer o lugar que o deus dele o colocou: céu ou inferno?

h) Malignidade – Segundo a bíblia, até o próprio cristo era mal [Mc 10.17-27]. O seus seguidores escapariam do mesmo destino?

i) Difamadores – A bíblia está cheia de exemplos de difamações praticadas pelos santos homens heterossexuais de Javé;

j) Caluniadores – idem itens b e f;

l) Soberba – Assista um pronunciamento de Malafaia e depois tire suas conclusões.

E muito mais: presunção, desobediência, insensatez, perfídia, etc.

Todos esses itens são praticados por heterossexuais dentro e fora das igrejas cristãs, mas injustamente são direcionados em forma de acusações pelos próprios cristãos apenas aos homossexuais. Entretanto, para a vergonha de tais cristãos homofóbicos, vemos que a crítica de Paulo era contra os que, se sentindo livres desses vícios passavam a julgar os outros que praticavam: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.” (Rm 2.1) Pelo menos aqui o falso apóstolo pareceu misericordioso e justo!

Como o próprio Cobb Jr. diz: “Seria bom que todos os que condenam a homossexualidade e assim se auto-justificam, lessem com atenção do versículo 27 do primeiro capítulo de Romanos até o capítulo 2.1. Se o fizerem, a Igreja será um lugar bem diferente do que é agora.” (Cobb Jr, p. 45)

Conclusão

Ralph Blair (1972, p.24) convictamente afirma que jamais algum homossexual foi curado. “Não existe nenhuma evidência da mudança de orientação de homossexuais para a heterossexualidade nem por meio de terapia nem de conversão cristã ou de orações”. Blair é um psicoterapeuta americano, fundador da Comunidade Homossexual Centro de Orientação, em Nova York. Em 1975, fundou Evangélicos Preocupados, Inc. (ou CE), uma rede de gays e lésbicas cristãos evangélicos e amigos. Então, com que base os cristãos afirmam e até fazem questão de expor pessoas que alegam ter sido curadas da homossexualidade? A única base que percebemos em suas afirmações é o que eles chamam de “fé”. Daí eu afirmo: Sem fé é impossível aceitar a condição homossexual!

Ainda as escritoras e pesquisadoras Letha Scanzoni e Virginia Ramsey Mollenkott, acreditam que a Bíblia claramente condena certos tipos de práticas homossexuais como o estupro coletivo cometido na narração de Sodoma; porém silencia sobre a “ideia de orientação homossexual pela vida inteira”. (Scanzoni e Mollenkott, Is the Homosexual my Neighbor? Pp. 111,71,72). É claro que muitos destes autores, à exemplo de Scanzoni e Mollenkott, ainda apresentam alguma consideração pelos escritos bíblicos, mas isso fica por conta da crença deles, o que não é o nosso caso que procuramos “enxergar” tais escrituras de uma forma crítica e livre de crenças.

A verdade é que o deus hebreu tinha/tem paixão por sua principal criação. Um Ser Supremo que cria primeiro o homem; exige um sinal [corte no pênis – prepúcio] como aliança entre criatura-masculinizada e criador-masculinizado; que tem um espírito que fecunda mulher; que encarna em forma de homem; que não toca em mulheres durante sua vida terrena, não cumprindo assim a própria lei natural estabelecida por Ele mesmo que é “casar” e “procriar”… Não pode de maneira alguma abominar os homossexuais pela condição estabelecida por Ele mesmo! E, provavelmente o próprio Paulo sabia disso, pois seguiu os mesmos passos de seu “senhor” não casando, não tocando em mulheres, oferecendo seu prepúcio ao seu deus e condenando os homossexuais ao inferno!

Já tinha lido sobre humanos oferecerem seus filhos aos seus deuses, mas oferecerem o prepúcio a Javé… Éca! O que o deus hebreu fez com tantos prepúcios? Implantou nos seus anjos?

Quanto a história de Sodoma, resta-nos saber – se possível for – o que Ló fazia numa cidade onde os cristãos atuais a consideram como “cidade de homossexuais”? O que teria levado Ló a ir morar em Sodoma? Pregação do “Evangelho”? Por que hospedaram a Ló e sua família? Por que nunca abusaram de Ló sexualmente? Por que Ló permitiu que suas filhas se tornassem noivas dos “sodomitas”?

Creio que essas perguntas só poderão ser respondidas pelos nossos acusadores – os cristãos – que recebem o espírito santo no corpo, revelando assim todas as “coisas ocultas”!

Temos que encarar a Bíblia e seus relatos como um livro de lendas, contos e mitos, que com o passar dos séculos vai se tornando obsoleto e desqualificado para ensinar, instruir, conduzir e até julgar os seres humanos! É claro que existem fatos históricos contidos nela, mas isso podemos encarar como um simples registro de uma raça que viveu no passado e que continua a manter viva a sua “história”, mesmo que seja através do preconceito!

REFERÊNCIAS:

A BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 1995, 7ª Impressão.

A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada. Ed. 1992. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1992.

A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida. Ed. 1995. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.

Bíblia Católica dos Monges de Maredsous. São Paulo – SP: Ave Maria, 1958.

Bíblia de Estudo Plenitude. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.

BLAIR, Ralph. Etiological and Treatment Literature on Homosexuality (New York: Homosexual Community Counseling Center, 1972).

WINK, Walter; NELSON, James B.; JENNINGS, Theodore W.; COBB JR. B. John; JOHNSTON, Robert K. Homossexualidade Perspectivas Cristãs. Tradução de Jaci Maraschin. São Paulo: Fonte Editorial, 2008


Sobre a autora


Andrea Freitas Foltz (“A Profetisa”) é filha de pais brasileiros, com descendência alemã. Advogada, mas atuando como escritora, é casada e tem um filho, Andrew. Sua formação religiosa era evangélica, mas abandonou a crença quando percebeu que no meio em que vivia (a igreja) havia pessoas que diziam ser algo e no íntimo eram outra coisa. O pseudônimo “A Profetisa” foi criado por ela em resposta aos ataques de muitos “cristãos fanáticos” contra a classe homossexual. Desde então, vive para combater o comportamento homofóbico e os absurdos pregados pelos chamados “seguidores de Cristo” contra os homossexuais. A estes, dedica todo o seu amor, carinho e luta através do blogue http://andreafreitas.wordpress.com .