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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Preconceito: retrato de uma sociedade segregária

Por Valéria Nagy


Já dediquei outros posts em meu blog La Strega ao tema "preconceito", mas creio que é um tema que nunca se esgota, haja vista sua epidemia na sociedade. A cada época, momento, dia, hora, é "criado" um novo preconceito. Para quem se preocupa em viver e manter uma sociedade sadia, isso é preocupante.

É fato que os preconceitos existem há milênios, tomando forma especialmente a partir do momento em que a raça humana passa a conduzir a sociedade por meio de conceitos religiosos. De lá para cá (e já faz muito tempo mesmo, acreditem) um número imenso e crescente de preconceitos passou a existir. Atualmente vivemos no que eu chamo de "ditadura do preconceito", pois é ele, o preconceito, com sua grandiosa capacidade de mudar a forma de pensar de pessoas, por meio de suas imposições e julgamentos, quem manda no mundo hoje. Se observamos, notaremos que o pensamento das massas tem fundo em alguma "crença" que "alguém" falou que "leu" em algum lugar etc., etc., etc. E que sempre termina na ideia de que "Deus disse que é assim".

Infelizmente temos que aceitar o fato de que os humanos foram corrompidos pelo mal uso da palavra, pelas crenças e pelo hábito de julgar o próximo.

Em um triste momento da história, o homem (e aqui me refiro ao gênero masculino do ser humano) instituiu, pela força da palavra e blasfemando em nome de Deus, que as mulheres não tinham alma, rebaixando-as a meras reprodutoras e com a "obrigação" de cuidar deles, os homens. Estes homens passaram então a impor que o sexo masculino era naturalmente superior não só em força física, mas em capacidade intelectual e espiritual também. Imagino que isso tenha começado a ocorrer em priscas eras, antes mesmo de Moisés. É fácil notar que o Antigo Testamento da Bíblia é direcionado em totalidade à compreensão exclusivamente masculina, ou seja, foi escrito apenas para os homens. Porém, na Antiguidade isso não era assim, as mulheres eram valorizadas e havia equilíbrio entre os gêneros (como na sociedade celta, por exemplo).

Mas as coisas foram piorando ao longo do tempo, distorcendo o conceito de evolução. A palavra preconceito significa: Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se pratiquem. Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos. Ou seja, preconceito é opinião sem conhecimento. Ora, como posso endossar algo que por si só já me diz que é errado? Afinal, se uma opinião é formada com base em algo que não se conhece, já começa não tendo credibilidade alguma. Portanto, é uma opinião morta, sem fundamento. E preconceito é isso, algo que se expressa sem fundamento algum. Algo que não se pode dar crédito, que não se pode acreditar.

Mas, infelizmente, na realidade, o preconceito, mesmo sem fundamento, tem força e promove a falta de entendimento entre as pessoas. Ele corrói a sociedade e transforma conceitos verdadeiros em erros de interpretação e faz nascer, assim, ódio nos corações. Isso ocorre porque ele foi tão bem "tatuado" na sociedade que se tornou algo quase impossível de ser retirado, isso porque dentro do "preconceito-pai", a origem de um pré-conceito, foram reproduzidos milhares de formas diferentes de preconceito. Uma verdadeira disseminação sem controle. O ódio que cria mais ódio que cria novos ódios e assim sucessivamente.

Vivemos assim, no meio de toda essa fábrica de ódios. Pessimista, você pensou? Não, isso é overdose de realismo. Mas não percamos a esperança. Há ainda meios para limpar essa sujeira criada por nós. E o jeito é mudar a mente e o coração. Dá trabalho, muito trabalho. Por certo que fará muitas vítimas ainda, mas a luta não pode ser interrompida.

O retrato da intolerância hoje é vasto, há preconceito contra os negros, os índios, os amarelos, os imigrantes, os migrantes. Há preconceito contra os deficientes físicos, os deficientes mentais, os baixos, os muito altos, os anões, os obesos, os inteligentes, os com inteligência mais limitada. Há preconceito contra os homossexuais, contra os transexuais. Há preconceito contra os judeus, os muçulmanos, os hindus, os espíritas, os umbandistas, os esotéricos. Há preconceito contra as mulheres. Há preconceito contra os pobres, os incultos.

Nomearam preconceitos: xenofobia, homofobia, bulliyng, racismo, etc. Há até preconceito contra quem torce para outro time de futebol, quem gosta de certos estilos musicais, quem gosta de se vestir de determinada maneira, quem tem tatuagem, quem gosta de pintar o cabelo, etc., etc., etc.!

E, com certeza ainda existem outros preconceitos dentro dos próprios preconceitos, que se vão multiplicando como coelhos pelas mentes e corações das pessoas!

Foi determinado que a maioria está certa e a minoria deve ser esmagada. Não se respeita direitos e não se cumpre deveres sociais, quais sejam o respeito, a tolerância entre as pessoas e suas escolhas. E muitos preconceituosos exaltados não se satisfazem apenas em ter o preconceito, precisam expô-lo e forçá-lo, como ocorre em atos violentos de intolerância.

É fácil perceber que preconceito é algo errado, pois se analisarmos morfologicamente, veremos que a preposição que rege a palavra "preconceito" é "contra". E "contra" significa algo em oposição hostil, em luta, na direção oposta. Portanto, o preconceito estará sempre agindo contra alguém ou algo.

Encontrei em alguns sites e blogs, pessoas que espantosamente defendem que existem "preconceitos bons", pois servem como um alerta à sociedade, fazendo com que ela se proteja de algo que não lhe será bom. Ora, como posso aceitar essa ideia? Se o preconceito é algo que se conceitua sem que se tenha conhecimento sobre determinado assunto ou comportamento, e que vai contra pessoas, como dizer que pode haver um lado bom nele? Como uma ideia que não é fundamentada em conhecimento sólido pode ser aceita como correta? Como algo que provoca a intolerância pode ter um lado bom? Portanto, não posso concordar com a ideia de que possam existir preconceitos "camaradas", ou seja, bons.

A meu ver, o primeiro passo para romper preconceitos é perder o medo de enfrentá-los. Não aceitar simplesmente ser excluído da sociedade, mas sim insistir em voltar para o meio e gritar: "Esse lugar é meu e ninguém vai me tirar o direito de existir, só porque acha que não devo existir!" Estamos vivos e temos direito à vida plena!

O muro de Berlim foi quebrado após muita luta e muitas lágrimas derramadas na Alemanha. Mas caiu! Os preconceitos também terão de ser quebrados, derrubados. Será assim feito à custa de lágrimas e sofrimento? Sem dúvida. Mas terá de ser feito! E para isso não precisaremos que enxofre e fogo sejam derramados sobre nossas cabeças, como em Sodoma, não! Serão nossas mãos unidas, nossa voz gritando em uníssono que todos têm direito a viver com respeito e dignidade social.

E Deus, aliás, é o puro Amor. Tenho que refutar quem diz que foi o próprio Deus quem estabeleceu os preconceitos. Refutarei sempre, pois é contraditório e foge à lógica simples acreditar que Deus manda seus filhos odiarem-se. Como se diz por aí: tenha dó!

Preconceito é a desculpa perfeita para justificar a intolerância. Justificar o injustificável é chover no molhado. E por que, então, o preconceito é tão forte e cresce cada vez mais na sociedade? Porque a ser humano tem pouquíssimo conhecimento sobre si mesmo. Essa é a resposta. Quem não conhece a si mesmo repete o que os outros falam, sem questionar e decretando aquilo como a verdade absoluta. Há de se educar as massas, educar com a verdade, para que esses pré-conceitos sejam eliminados, pois educando com a verdade, impedimos que quaisquer preconceitos sequer nasçam naquela mente, e, consequentemente a sociedade vai mudar.

Por fim, este texto foi elaborado para que o leitor desperte o raciocínio e pense sobre os preconceitos, inclusive, os que ele próprio tenha e possa, com isso, refletir sobre o porquê de se ter preconceito seja lá do que for. Refletir, buscar entendimento, adquirir conhecimento e enxergar algo como de fato é, sem suprimir informações nem se basear em profecias bíblicas. Só assim para que possamos exercer nossa religiosidade plenamente e só assim para estabelecermos uma sociedade verdadeiramente fraterna e harmônica em sua diversidade.

Não se deixe excluir. Não exclua ninguém. É preciso ter tolerância no coração. Quanto mais a sociedade muda seus conceitos pré-concebidos, mas a Humanidade vai tornar-se realmente humana.

Que Assim Seja.
Paz Profunda!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Homossexualidade, Catolicismo e Liberdade

Por Marcelo Moraes Caetano


Sou católico por formação e por tendência, universalista e agregador por vocação, e, exatamente por isso, parece-me extremamente necessário apontar falhas nas folhas (o trocadilho dos significantes não é fortuito) da árvore que integra o rol da religiosidade humana.

Em recente leitura publicada em site católico, em texto homônimo ao título deste, escrito por Pe. Dr. Helio Luciano (em: http://www.catedralflorianopolis.com/site/noticia.php?cod=186), eu vi-me premido ao esclarecimento de inúmeras falácias, que pretendo enumerar gradativamente, apontando-lhes os pontos falhos.

Em primeiríssimo lugar, no segundo parágrafo, erra gravemente o articulista quando afirma: “Por outro lado, da parte dos que defendem a homossexualidade, não pode existir uma ditadura que condene de imediato as opiniões contrárias àquelas que eles defendem”. O fato é que homossexualidade não é uma “opinião”, não se trata de uma ideologia, mas de um elemento intrínseco à natureza da pessoa. Não se pode dizer que ser negro, indígena, mulher, por exemplo, sejam “opiniões” que a pessoa tem, porque, em vez disso, trata-se de maneiras como a natureza quis que o ser humano se manifestasse na diversidade, não no unitarismo. “Ditadura” seria, isso sim, querer obscurecer essas e outras manifestações da pluralidade no mundo.

Em segundo lugar, o senhor articulista pretende defender “racionalmente” que o comportamento homossexual é contrário ao “modo próprio de ser” (sic). E arremata: “Sem nenhuma intenção de ofender às pessoas que tenham essa tendência, parece-me claro que o que sentem é uma atração sexual – quase sempre reduzida apenas a essa dimensão. Acaso o amor não é mais que a mera sexualidade?” Antes de tudo, o uso da racionalidade para distinguir amor de atração sexual é, no mínimo, pândego, uma piada das mais jocosas de que se já teve notícia. Ora, o senhor doutor Helio, teólogo que é, deve saber (ou deveria) que há searas humanas para cujo discernimento a racionalidade não é, nem de longe, a fonte de melhor clareza. A fé, por exemplo, é suprarracional, e o amor, certamente, também o é. Como pode esse senhor achar-se conhecedor do que é e do que não é amor? O próprio Blaise Pascal tem um aforismo célebre: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Não lhe parece, senhor, um pouco de soberba excessiva arrogar para si o conhecimento “racional” do que é e do que não é amor? O senhor acha mesmo que julgará com “razão”, unicamente, um assunto do coração? Imagine quão hilariante seria se alguém tentasse descrever a fé única e exclusivamente por meio da “razão”.

Quando o senhor parte à tentativa de conceituação da homossexualidade tendo como premissa a atração sexual, então, está incorrendo no maior dos irracionalismos, pois, inclusive, há amor sem atração sexual, e isso, portanto, também ocorre no amor entre pessoas do mesmo sexo, que são pessoas como outras quaisquer, “sujeitas às mesmas alegrias, dores e gozos de todo e qualquer ser humano”, parafraseando Simone de Beauvoir a respeito da homossexualidade, em seu livro célebre “O segundo sexo”.

Continuando seu amontoado de falácias e sofismas, o doutor teólogo afirma que sua tese é correta baseada no seguinte “raciocínio”: “Uma prova do que disse antes, é que existem apenas 60 mil pessoas no Brasil que se “casaram” com pessoas do seu mesmo sexo. Não chega a 0,04% da população brasileira. Perdoem-me a ironia, mas existem mais pessoas com a “unha encravada” que casais homossexuais e nem por isso temos leis que defendam as pessoas com “unha encravada”.

Senhor, se há tão poucos casais homossexuais no Brasil, não será exatamente por causa da proibição e do preconceito? Não estará o senhor incorrendo (propositada ou inocentemente) na falácia primária da inversão da relação de causa e consequência? E, quanto a dizer que “não temos leis que defendam as pessoas com unha encravada” (sic), como não?! Acaso elas não têm direito, como em qualquer outra enfermidade, pelo menos constitucionalmente, pelo Artigo V da CRFB/88, a tratamento médico gratuito subsidiado inteiramente pelo Estado na figura do SUS?

Ademais, ainda que o número de homossexuais (ou de pessoas com unha encravada) seja pequeno, toda pessoa que tem os mesmos deveres de qualquer cidadão deve, por racionalidade, possuir os mesmos direitos. Há também uma minoria de índios no Brasil (em grande parte quase erradicada pela própria igreja católica), e nem por isso eles deixam de possuir direitos.

Uma democracia não se restringe ao direito das maiorias. Isso é o maior erro de quem supõe saber o que é democracia. A democracia deve possuir dispositivos para atender, também, as minorias. “É preciso tratar os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira desigual, na medida em que se desigualam”, lembrou Rui Barbosa, ao instaurar o Princípio da Proporcionalidade na Constituição Brasileira e no seu modus operandi de democracia JUSTA. Não há nada mais injusto do que tratar de maneira igual os desiguais. Isso diz respeito, inclusive, às minorias, que precisam, sim, ser contempladas. Democracia SÓ das maiorias tem outro nome: fascismo. Foi nessa esteira que já se quis erradicar índios, escravizar negros, promover o genocídio de judeus, mulheres, protestantes, candomblecistas etc.

Não é a primeira vez que a igreja, apocalipticamente, grita que o fim da família ocorrerá e que os legisladores são arautos de Sodoma e Gomorra. Quem estudar o movimento que houve quando da implantação do divórcio no Brasil o verá. E a família acabou? A instituição deixou de existir? Ou será que o divórcio deu às pessoas a liberdade e a possibilidade de reconstruírem suas vidas, não precisando se autoflagelar (e flagelar aos filhos e ao cônjuge) por um erro que, muitas vezes, foi cometido no calor da puberdade?

Quando o senhor afirma que 62% da população é contrária à união civil, eu faço duas perguntas: 1) segundo qual fonte? 2) 38% não é uma parcela muito significativa para ser desprezada? Se antes o senhor partia de 0,04% para alardear a “ilegitimidade” da união civil (o que já era falacioso, como se mostrou acima, pois até a mais mínima minoria tem direitos iguais se seus deveres lhe competem igualmente). Pergunto isso porque, numa democracia, qualquer fonte de informação que não seja o escrutínio – plebiscito, referendo, votação – é ilegítima. Qualquer órgão de pesquisa, mesmo oficial, que não sejam as urnas, não está apto a dizer a porcentagem da população que quer ou não quer algo. Só as urnas.

Ademais, parece haver um problema que está sendo pouco discutido, até pelas mentes realmente racionais: o Brasil, na própria Constituição, é uma república federativa. O que quer isso dizer? Que os estados e municípios têm autonomia de criar leis regionais. Será que esses seus duvidosos e/ou ilegítimos 62%, senhor teólogo, são uniformes em todo e qualquer estado brasileiro? Por que, então, o Brasil não propugna por um federativismo mais forte? Certamente há estados no Brasil em que a maioria absoluta da população será a favor da união estável entre pessoas do mesmo sexo.

Ademais, por que se deve ouvir apenas as religiões cristãs, se há, no Brasil, um Estado laico e, mesmo em termos religiosos, muitas outras religiões que não são contra a homossexualidade?

Sobre a alegada “inconstitucionalidade” que o senhor apregoa, é bom lembrar que na Constituição monárquica a escravidão era cláusula pétrea, e que, portanto, aboli-la foi, sim, um ato inconstitucional. Inconstitucionalíssimo! Mas legítimo, porque a escravidão é um vilipêndio à dignidade humana, assim como querer que homossexuais se restrinjam a guetos e esconderijos também o é. Vive-se em guetos quando não se pagam impostos: traficantes, bandidos vivem em gueto. Homossexuais têm direito à luz da sociedade, porque seus deveres idênticos aos de qualquer outra pessoa lhes dão as prerrogativas inerentes aos direitos que esses deveres geram. O Estado nazista, por seu turno, era completamente baseado em leis, e escritas, e nem por isso possuía legitimidade. Terei de citar, uma única e loquaz vez, a frase de Jesus: “A lei foi feita para o homem, não foi o homem que foi feito para a lei” – e curou em dia de sábado (o que era proibido), assim como outro profeta (creio que o Rei Davi) comeu, quando teve fome, dos pães do templo que eram resguardados para as proposições sacerdotais, descumprindo a lei escrita. Porque a lei foi feita para o homem, não foi o homem que foi feito para a lei.

Sobre o que o senhor fala de educação “pró-homossexual”, prefiro não emitir opinião, porque a sua própria afirmação se derruba a si mesma, tamanho o despautério que ela contém. Comentá-la seria até um atentado à racionalidade que o senhor procura esboçar. Seria como tentar “justificar” porque é preciso libertar os escravos. Victor Hugo, sobre isso, tem a famosa frase: “É preciso libertar porque é preciso libertar”. Não vou falar sobre a “educação pró-homossexual” que o senhor diz existir, porque o senhor precisaria (certamente sem sucesso) comprovar o que diz.

Por fim, sobre a “LIBERDADE!!!” (sic) que o senhor cita, com letras maiúsculas e três (três!!!) pontos de exclamação, como se gritar encobrisse a irracionalidade explícita, enfim, sobre a liberdade que o senhor cita querer ter em relação a expressar sua opinião, é bom lembrar que, em democracia, os seus direitos TERMINAM onde COMEÇAM o do outro. O senhor tem liberdade de “xingar” uma pessoa de negra, mas terá de arcar com essa liberdade. Ninguém vedará a sua boca, mas o direito à não-discriminação e ao não-preconceito, que assistem ao negro, e que também são direitos de LIBERDADE!!!, farão com que os ofendidos, direta ou indiretamente, exerçam seus direitos sobre o senhor, e lhe façam aprender a lição número 1 de democracia: a liberdade de expressão tem como limite o momento em que se torna incitação ao ódio, convite à discriminação.

Não é racional, nem democrático, querer infligir o gueto às partes da população que são minorias. Isso é irracional e despótico, para usar eufemismos.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A visão da Homossexualidade na Fé Bahá'í


Por Paulo Stekel


Sempre tive alguma simpatia pela Fé Bahá'í. Mas, depois de alguma pesquisa, seguiu-se a decepção. Como ela mesma se define em seu website oficial em Português (http://www.bahai.org.br):

“É uma religião mundial, independente, com suas próprias leis e escrituras sagradas, surgida na antiga Pérsia, atual Irã em 1844. A Fé Bahá’í foi fundada por Bahá’u’lláh, título de Mirzá Husayn Ali (1817-1892) e não possui dogmas, rituais, clero ou sacerdócio.

A Comunidade Bahá’í, com aproximadamente 7 milhões de adeptos, é a segunda religião mais difundida no mundo, superada apenas pelo Cristianismo, conforme afirma a Enciclopédia Britânica. Os bahá’ís residem em 178 países do mundo, em praticamente todos os territórios e ilhas do globo.

A Comunidade Bahá’í está estabelecida no Brasil desde fevereiro de 1921, com a vinda da Sra. Leonora Holsapple Armstrong.

Mas, o que ensina a Fé Bahá'í? O mesmo website esclarece:

A Unidade da Humanidade: "... hoje todos os horizontes do mundo estão iluminados com a luz da unidade... fomos criados para levar avante uma civilização em constante evolução..."

A livre e independente busca da verdade: "A luz é boa, não importa em que lâmpada brilhe... uma flor é bela, não importa em que jardim floresça..."

A eliminação de todas as formas de preconceitos e discriminação: "...somos as folhas e os ramos de uma mesma árvore... as gotas de um único mar..."

A igualdade de direitos e oportunidades para o homem e a mulher: "A humanidade assemelha-se a um pássaro, uma asa é o homem e a outra, a mulher. O pássaro não pode alçar vôo sem o equilíbrio dessas duas asas..."

A harmonia essencial entre a religião, a razão e a ciência: "A verdade é uma só e é indivisível... o progresso da humanidade depende desses fatores..."

Educação compulsória universal: "O homem é uma mina rica em jóias de inestimável valor, a educação, tão somente, poderá fazê-la revelar seus tesouros..."

A revelação divina é progressiva: "Deus é um, a religião é uma, a humanidade é uma... o objetivo da criação humana é conhecer e adorar a Deus... Todas as religiões provêm de um mesmo Deus..."

(Todas as frases entre aspas citadas nesta página, são Sagradas Escrituras Bahá'ís)

Com toda esta proposta praticamente “universalista” seria de imaginar que a Fé Bahá'í seja uma religião inclusiva para LGBTs. Correto? Não.

Eu mesmo fiz um curso de oração com os Bahá'í há cerca de 20 anos, e percebi que não se tratava de uma religião inclusiva. Apesar de ter corrigido em sua doutrina muitos erros que as demais religiões insistem em manter, no tocante aos gays a Fé Bahá'í mantém a tendência judaico-cristã-islâmica de considerar a prática homossexual um pecado ou um ato reprovável, ainda que se “ame o pecador”, clichê típico dos fundamentalistas cristãos brasileiros.

Não é muito difícil provar que a visão Bahá'í da homossexualidade é tão preconceituosa quanto a cristã, e o faremos citando trechos de vários links Bahá'ís disponíveis.

Comecemos pelo que diz a Wikipédia, a enciclopédia livre, no link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_e_a_F%C3%A9_Bah%C3%A1%27%C3%AD:

“A Fé Bahá'í define que a expressão sexual é aceitável somente dentro do casamento, e os escritos Bahá'ís relativos ao casamento definem exclusivamente o casamento entre um homem e uma mulher. Reforça ainda a importância da castidade absoluta para qualquer pessoa solteira.

Referências sobre a homossexualidade na Fé Bahá'í descrevem como uma condição em que um indivíduo deve controlar e superar. Os Bahá'ís são livres para ensinar da maneira que achar melhor, e é reconhecido ser condenada a discriminação contra qualquer pessoa para abraçar a Causa Bahá'í, sejam homossexuais, alcoólatras ou agente de outras trangressões, mas serem apenas avisados que, ao se tornarem Bahá'ís, estão automaticamente procurando se adaptar ao padrão de vida 'designado por Deus'.

(…) Quando um indivíduo homossexual se torna Bahá'í ou se é descoberto posteriormente que um indivíduo Bahá'í é homossexual, esse assunto é tratado em particular com as Assembléias Espirituais Locais. As AELs irão procurar ajudar o indivíduo a superar suas dificuldades, entretanto, nem os indivíduos, nem as instituições podem investigar a vida de outra pessoa. Somente quando alguma trangressão aos ensinamentos Bahá'ís estiver exposta ou prejudicar de alguma forma as instituições ou outros indivíduos, é que a AEL deve tomar alguma providência. É comumente deixado à consciência individual em relação aos seus atos e espera-se que com o tempo Deus possa ajudá-la a superar alguma dificuldade.

(…) A Fé Bahá'í muitas vezes recebe críticas de pessoas que defendem ou consideram a prática da homossexualidade moralmente correta.

(…) Os Bahá'ís costumam expressar que a prática homossexual é condenável, não o homossexual ou a homossexualidade.

"Não obstante quão belo e devotado o amor entre pessoas do mesmo sexo possa ser, permitir que ele se expresse através de atos sexuais é errado. Afirmar que esse amor é ideal não é desculpa. Bahá'u'lláh efetivamente proíbe toda a sorte de imoralidade, e Ele assim considera as relações homossexuais." (Resposta de Shoghi Effendi para um indivíduo, 26 de março de 1950, citado em Lights of Guidance)”

Aqui, já teríamos a tônica da visão Bahá'í da homossexualidade. O ato homossexual é considerado LITERALMENTE errado nas Escrituras Bahá'ís.

No website Vida Bahá'í, no link http://www.vidabahai.com/homossexualismo, lemos sobre a homossexualidade e a transexualidade:

“Hoje existe uma consciência mundial quanto à importância da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. Entendermos que o maior recurso da natureza é o próprio homem. Ele, também, precisa ser preservado contra uma série de agressões e distorções e, relação a sua própria essência. A homossexualidade é uma das distorções que afeta milhões de pessoas no mundo. Homossexualismo é um ato contra a natureza humana, e qualquer atitude contra a natureza, seja natureza mineral, vegetal, animal ou humano causa desequilíbrio no eco-sistema.

De acordo com as escrituras da Fé Bahá'í "homossexualidade não é uma condição com qual alguém se deva reconciliar, mas, sim, é uma distorção da natureza dele ou dela, que deveria ser controlada e superada". Com essa visão "muitos problemas sexuais, tais como homossexualidade e transsexualidade, e, em tais casos, certamente se deveria recorrer à melhor assistência médica".

Uma pessoa pode apresentar um comportamento homossexual, devido às alterações na produção de hormônios controladores das características sexuais do indivíduo; ou, quando a pessoa o adquire como um hábito, através das pessoas de seu contato. Neste caso, "os estados de sentimentos são, forçadamente, mal direcionados". Existem tratamentos para cada uma das modalidades do problema. O objetivo é aproximar a solução e o tratamento mais correto. O ideal é que o tratamento seja feito sob dois aspectos - clínico e espiritual. Segundo Dr. G. S. Larimer, no tratamento clínico a maioria dos psicoterapeutas considera o homossexualismo como um distúrbio de caráter e não uma doença emocional. Assim, a modalidade padrão de tratamento para a maioria dos profissionais é meramente ajudar o homossexual a se ajustar aos comportamentos existentes nele ou nela. Contudo, tal meta para o tratamento é inadequada.

O objetivo deve ser a modificação do comportamento, e não simplesmente ajudar a pessoa a se adaptar a sua situação. Ele confirma que atualmente existem várias terapias que produzem resultados aceitáveis, entre elas, a Análises Transacional e Terapia de Atuação.

(…) O homossexual deve ser compreendido, aconselhado e modificado. E para isso os pais, os educadores e os médicos têm maior responsabilidades, para livrarem a sociedade deste mal e ajudarem as pessoas a superarem esse obstáculo.”

[Texto de autoria de Felora Daliri Sherafat]

Observem os termos relacionados a homossexualidade e transexualidade: “agressões”, “distorções”, “ato contra a natureza humana”, “problemas sexuais”, “mal”, “obstáculo”.

Pasmem! Uma religião pacífica que tem sido perseguida há décadas no Irã, com milhares de mártires desde sua fundação, usa termos deste tipo para se referir a uma categoria de seres humanos? É, realmente, uma decepção! Vemos que, no final da contas, a visão Bahá'í da sexualidade LGBT é a mesma do Islamismo, faltando apenas a perseguição e a morte de gays... Inadmissível sob o ponto de vista da inclusão que defendemos!

Em outro artigo (http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_15877/artigo_sobre_homossexualismo_-_como_a_tendencia_homossexual_se_desenvolve?), a Bahá'í Felora Daliri Sherafat, que ao final é citada como pertencendo ao Instituto de Desenvolvimento da Nobreza Humana (homossexuais não são nobres, então?), pretende demonstrar como alguém se torna homossexual:

“(...) Uma pessoa não desenvolve o sentimento de homossexualidade do nada. Vários fatores desde o nascimento colaboram para formação de sentimentos sobre o sexo e do estado mental de definição sexual. A questão do sexo e da atração sexual se constrói pela experiência emocional que a pessoa viveu desde o momento do nascimento. Vamos ver alguns exemplos.

Tem muitas mães que brincam com o pinto de seu filho pequeno, na maior inocência, mesmo assim, isso afeta a sensualidade do bebê. Nesse caso, a sensualidade se confunde com a afetividade materna. Normalmente, tal criança quando se torna um adolescente terá problemas, se tornando às vezes muito obsessivo por sexo, e em outras vezes contra o sexo feminino. Tem mães que elogiam muito seu filho e o seu órgão masculino. Esta criança também terá problemas. Existem muitas distorções na natureza da criança causadas inconscientemente pelas mães, resultando em pessoas com uma variedade de problemas de ordem sexual.

Outra situação muito comum: as crianças, quando pequenas, gostam de mexer com seu órgão sexual, especialmente os meninos. Caso se deixe dois meninos juntos, eles podem sem perceber começar a brincarem juntos. Acontece que o sentimento e a emoção que gozam, suas mentes gravam. A mente cria a memória sexual e registra as primeiras sensações do prazer sexual, que foi feito junto com outro menino, isso é, com uma pessoa do mesmo sexo. Sendo assim, e com repetição de experiências semelhantes, estes dois meninos terão grandes chances de se tornarem homossexuais, por força desta memória.

(…) Existe outra categoria de atitudes erradas dos pais que indiretamente concorre para a má formação sexual dos adolescentes. São os casos que interferem na mente da criança e podem gerar um sentimento homossexual.

Por exemplo, a mãe que se produz muito, fala da sua beleza e de suas conquistas a parir desta, sem saber que pode criar na pequena cabeça de sua filhinha uma atração por beleza da mulher e sua memória gravar estes momentos da glória da mãe. Portanto, esta menina eventualmente ao crescer pode sentir atração por beleza feminina. As atitudes desta natureza de uma mãe também podem afetar a mente de um menino. O menino poder gostar do jeitinho da mãe e querer se produzir como ela, e assim ao crescer esta fantasia o acompanha e se desenvolve no seu interior.

(…) A agressividade do pai também pode causar o sentimento de fragilidade dos meninos pequenos, de modo que estes passem a se sentir dominados por sexo masculino, e mais tarde, ao crescer, assumirem o mesmo sentimento pelo sexo masculino e se colocarem à disposição de outros homens.”

Não lhes parece quase um discurso de Bolsonaro??? Foi a primeira impressão que tive ao ler estes absurdos recheados de conclusões infantis sobre a sexualidade humana.

No FAQ do website Bahá'í em Portugal, mais uma vez a palavra oficial (http://www.bahai.pt/faqs/home#FAQ20):

Qual a atitude dos Bahá’ís face à homossexualidade?

A lei Bahá'í define que as relações sexuais apenas devem realizar-se entre um homem e uma mulher, unidos pelo casamento. Os crentes devem abster-se de sexo fora do casamento. Os Bahá'ís não tentam impor os seus padrões morais sobre aqueles que não aceitarem a Revelação de Bahá'u'lláh. Apesar de exigirem rectidão em todas as questões de moralidade, seja sexual ou outra, os ensinamentos Bahá'ís também têm em conta a fragilidade humana e apelam à tolerância e compreensão em relação às falhas humanas. Neste contexto, olhar para os homossexuais com preconceito seria contrário ao espírito dos ensinamentos Bahá'ís.”

Ah, sim. Se, referir-se à homossexualidade com os termos usados pela Bahá'í Felora (“agressões”, “distorções”, “ato contra a natureza humana”, “problemas sexuais”, “mal”, “obstáculo”) não é preconceito, é o que, então??? Jogo de palavras que tenta desviar o foco do homossexual para o ato homossexual, como se ato e indivíduo pudessem ser separados, quando estamos tratando de uma condição de identidade, e não de moralidade!

Mas, a sutileza vai mais longe. Na Bahaikipedia (http://pt.bahaikipedia.org/Leis) é dito o seguinte sobre o casamento homossexual:

“No Kitáb-i-Aqdas o casamento é fortemente recomendado, porém não obrigatório. De acordo com os ensinamentos Bahá'ís, a sexualidade é tida como natural e uma extensão do casamento. Entretanto, as relações sexuais são permitidas somente entre homens e mulheres casados. Isto infere a proibição do casamento homossexual ou a poligamia ou qualquer outra relação sexual fora do casamento. Entretanto, o preconceito contra não-bahá'ís que optam pelo homossexualismo é considerado crime.

Os Bahá'ís podem casar quando atingem a idade da maturidade (que se fixou em 15 anos), sendo que as leis civis de cada país devem ser obedecidas. É necessário também o consenso dos pais biológicos de ambos os nubentes para que se casem. Para que se realize o casamento, é também requisitado que se pague um dote (do noivo para a noiva) de 19 mithqáls em puro ouro, o mesmo valor se fixa para os habitantes das aldeias, mas em prata. O casamento inter-religioso é permitido e incentivado. O divórcio é permitido, embora desencorajado, é concedido após um ano de separação, se o par for incapaz de reconciliar suas diferenças.”

Mais semelhanças com o Islamismo, inclusive na interdição ao casamento homossexual...

No final das contas, chegamos à conclusão de que praticamente todas as religiões teístas, antigas ou modernas, guardam um preconceito intrínseco quanto à diversidade de orientações sexuais, o diferente, o não-heteronormativo e qualquer padrão de comportamento não alinhado com o velho machismo patriarcal. O Bahaísmo tem uma inegável conexão doutrinária com o Islamismo, e vemos que o preconceito patriarcal contra a diversidade LGBT se mantém de maneira intocada, a despeito da inexistência da agressão física contra gays... Uma lástima para uma religião que, não fosse isso, teria boas condições de levar a humanidade a uma unidade definitiva...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O direito de amar


Por Daniel Lélis (publicado originalmente na Revista Jfashion Chic E Essencial)


Não faz muito tempo, tocar violão era tido como coisa de vagabundo, malandro, irresponsável. Atrizes eram tidas como prostitutas. As mulheres viviam sob o julgo masculino. Tidas como menos inteligentes, nem mesmo podiam votar. Casamentos eram arranjados e o sexo, vejam só, era somente para procriação. Houve uma época em que negros eram vistos como coisas; animais a serem domesticados; seres sem alma, cuja única finalidade para existir era servir os brancos. Século XXI. Ainda hoje homossexuais são vistos por muitos como anormais, libertinos, pecadores. Em nome da literalidade de um livro escrito há mais de dois milênios, julga-se e condena-se a pessoa que ama outro do mesmo sexo. Amar. É por este direito que lutam milhões de pessoas. É contra este direito que batalham tantas outras.

Na atualidade, se eu depreciar alguém por causa da cor da pele, posso ser preso por racismo. Chamar o outro de “negrinho fedido”, “macaco queimado” é crime, definido em lei como imprescritível e inafiançável. Contudo, se eu chamo um gay de “pecador nojento”, “promíscuo sujo”, “viadinho”, “mulherzinha”, em vez de ser punido, posso ser coroado por defender os bons costumes e a moralidade. Crimes de ódio contra homossexuais não são punidos como tal, uma vez que não há respaldo legal para tanto. Fanáticos religiosos, a maioria evangélicos, não aceitam a ideia de não poderem exclamar, incitar, propagar o ódio aos quatro cantos. A lei que pretende tornar crime a violência homofóbica, tipificando-a como aconteceu com o racismo, encontra resistência de parlamentares fundamentalistas, que não aceitam a ideia, puramente humana e generosa, de que se deve aceitar e respeitar o próximo do jeito que ele é.

Acham os conservadores que a liberdade de expressão é um valor absoluto, capaz de absolvê-los das barbaridades ditas em suas congregações. Usam como escudo a liberdade religiosa, a quem chamam de sagrada e inquestionável. Ignoram o fato de que a pregação feita por líderes religiosos contra gays reforça o preconceito e abençoa a prática discriminatória. Fecham os olhos para a realidade de milhares de homossexuais, que são violentados todos os dias somente por serem homossexuais. Negam-se a perceber que muitas vidas são ceifadas por conta do discurso anti-gay. Que liberdade é essa que dá legitimidade a atos covardes, cruéis, desumanos, contra quem, sabe-se lá porque, ama o igual? Que liberdade é essa que dá razão para o agressor e que faz da vítima o culpado?

Lembro-me do dia em que um colega confessou algo que me marcou profundamente. Ele disse que tinha relevado ao seu “melhor” amigo que era homossexual. Sua esperança era de encontrar alguém com quem pudesse contar num momento difícil de descobertas. A resposta não poderia ser pior. O “melhor” amigo disse: “nunca mais chegue perto de mim, ou eu prometo que vou te queimar vivo”. Na hora que ele me contou, fiquei sem palavras, e me perguntei em silêncio: “até quando?”. É o que pergunto agora a você, querido leitor: até quando usarão o nome de deus para justificar a própria hipocrisia? Até quando o amor será motivo de deboche, de chacota? Finalmente, até quando amar será pecado?


Sobre o autor


Daniel Lélis tem 23 anos, mora em Araguaína (TO), é Bacharel em Direito, comunicador e escritor.

domingo, 15 de julho de 2012

Espiritualidade e Preconceito

Por Valéria Nagy


Conhecimento espiritual. Este recurso da capacidade humana está além da religião, afinal, antes de existirem as religiões, já existia a espiritualidade.

"O conhecimento espiritual é a análise das experiências ou das vivências que são estimuladas por forças que não podem ser percebidas pelos sentidos físicos comuns." (blog O Terceiro Testamento)

Concordo. E, isso não tem nada a ver com Deus e diabo, e nenhuma religião. A espiritualidade, em sua essência, simplesmente é. Doutrinas e dogmas são criações puramente humanas. E, como arranjos humanos, tudo o que nelas contêm são contaminadas pela razão humana. Porém, o espírito já encarna com a sabedoria que carrega. Acabam por ser pessoas com valores sólidos e opiniões fortes, sem deixar-se levar pelas imposições sociais e crenças passadas de geração em geração.
Portanto, aquele que detém o conhecimento espiritual, livre de dogmas e doutrinas, e domina esse conhecimento, não pode jamais ser portador de preconceitos quanto às relações humanas e a existência, pois, este é obrigado a compreender a Lei Divina por completo, e o significado real do Amor e da felicidade, sem misturar romantismo e ficção. Aquele que se diz espiritualizado, mas tem preconceitos, de espiritualizado nada tem, pois carrega em si as crenças sociais incutidas no seu âmago desde a tenra idade. Ora, no muito, podemos considerar este como alguém que possui estudo sobre o tema, mas não como detentor de conhecimento.
A espiritualidade tem que livre de preconceitos e crenças sociais, pois o Amor de Deus ou da Criação não admite preconceito de nenhuma espécie, mas sim a tolerância e o respeito.

Paz Profunda a todos!

domingo, 6 de maio de 2012

Você é espiritualista... e homofóbico? (Uma pergunta para os amigos de verdade)

Por Paulo Stekel


Estou protelando a escrita deste artigo há muito tempo. Como espiritualista, budista, universalista, apoiador das terapias holísticas e também ativista do movimento gay, especialmente na visão da chamada “Espiritualidade Inclusiva”, convivo com pessoas que se dizem “espiritualistas” e “espiritualizadas” todos os dias. Há muitos gays nesta área, e o número tem aumentado nos últimos anos, especialmente na área de magia wicca, práticas de matriz africana, massoterapia, Reiki e Terapia Floral.

Contudo, não me escapa o fato de que também há muita gente que não esconde seu pensamento retrógrado quanto à presença de pessoas pertencentes à comunidade LGBT no meio espiritualista. Já tive vários embates com terapeutas relativamente conhecidos do Rio Grande do Sul sobre a questão homossexual e fiquei bastante decepcionado com a visão fundamentalista de alguns. Parece que reproduzem o velho pensamento homofóbico judaico-cristão revisitado pela maçonaria masculina em seus discursos. Pela Internet recebo com certa frequência mensagens de amigos e conhecidos sobre a questão homossexual que revelam seus preconceitos, desconhecimento e valorização da vida humana em escalas de orientação sexual. Uma vileza incompatível com a espiritualidade!

Há mesmo na aparentemente inocente visão da Teosofia uma tendência altamente homofóbica, como eu mesmo pude confirmar ao trabalhar em conexão com a Sociedade Teosófica, no ano de 2005. Também confirmei que a Maçonaria masculina é muito mais preconceituosa que a mista pelo mesmo motivo pelo qual não aceita mulheres em seu quadro de membros: as mulheres são consideradas inadequadas e espiritualmente não-completas para o aperfeiçoamento, mesmo pensamento medieval da Igreja da Inquisição que ainda se impõe na negativa atual do Vaticano em se ordenar sacerdotisas.

Como tenho milhares de contatos em minhas listas de email e nas redes sociais das quais participo, é natural de vez em quando deparar-me com espiritualistas homofóbicos. E, os há, em certa quantidade. Toda a vez que compartilho um novo artigo do blogue Espiritualidade Inclusiva nas redes percebo quem é quem. Uns bloqueiam nosso perfil para não receberem mais nossas atualizações, mas hipocritamente continuam membros de nosso perfil nas redes. Querem parecer politicamente corretos, mas são espiritualmente podres por dentro!

Numa época em que a espiritualidade tem saído dos bancos das igrejas para o interior das pessoas, como ainda se pode admitir que aqueles que pregam um novo mundo, uma nova era de paz e amor, possam continuar excluindo seres humanos simplesmente por causa de sua orientação sexual? Como ainda se atrevem a colocar palavras preconceituosas na boca de Deus, de anjos, de mestres, de mentores ou o que o valha?

A homossexualidade, bissexualidade e transexualidade estão presentes em todos os setores de nossa sociedade e não há como varrê-las para debaixo do tapete. Para isso, teríamos que incinerar (à moda nazista) ou fuzilar (à moda chinesa maoísta) cerca de 10% de toda a humanidade, sem qualquer possibilidade de que, assim, não nasceriam mais pessoas “diferentes”, já que a maior parte delas nasce de pais “heterossexuais”. Confundir sexo, gênero e orientação sexual é causa de mais preconceito, na certa!

E, o desconhecimento de muitos espiritualistas, universalistas e adeptos das mensagens dos “Mestres da Grande Fraternidade Branca” e da “nova era” sobre a sexualidade humana é gritante. Por isso, inventam terapias menos conhecidas da mídia para, supostamente, corrigir determinados “desvios sexuais” e até criam tratamentos com terapia floral para “curar o homossexualismo”.

Derrubando esta falácia, a terapeuta floral Maria Helena Ribeiro Facci Ruiz, em seu artigo “O Floral e o homossexualismo” (sic) [http://www.alumiar.com/saude/47-floraisdebach/348-ofloraleohomossexualismo.html] escreve:

“Perguntaram-me se há floral para o homossexualismo. Eu respondi que não. O floral ajuda o indivíduo a equilibrar-se. Modifica seu estado mental; faz aflorar a harmonia onde existe desarmonia. Porém, o floral não é específico para homossexualidade. Não importa se a criatura é hétero ou homossexual. Importam as emoções trabalhadas por ela. Importa o que a incomoda no momento. Importa se ela está certa das escolhas que fez. Se houver uma incerteza a respeito de que caminho seguir e de que escolha sexual definir ela poderá beneficiar-se da essência Scleranthus que é do grupo da insegurança e extremamente eficaz quando oscilamos entre duas possibilidades. Se houver medo de enfrentar a sociedade e suas opiniões, poderemos indicar Mimulus que é para medos específicos. (...) Essas são apenas algumas das essências a serem indicadas e tratam de desequilíbrios emocionais que podem acometer todos os indivíduos independentemente da escolha sexual que tenham feito.

Este assunto sobre homossexualidade é dos mais delicados e não me sinto adequada para falar sobre ele já que muito tem sido discutido nas mais variadas áreas e das mais competentes formas. Joyce Mc Dugall em seu estudo sobre a sexualidade observa que não há diferenças entre analisandos homossexuais e heterossexuais. Os problemas e desequilíbrios que acometem uns, acometem também os outros. Casais homossexuais apresentam as mesmas queixas em seus relacionamentos.

(…) Penso que devemos olhar para o ser que se apresenta a nós como um todo, como algo único e fadado a cumprir algo. Fadado a chegar a algum lugar: o dele, o que lhe cabe. Quando esse ser nos procura ou a qualquer forma de terapia ele se apresenta fervilhando de minhocas e lesmas que devem ser levadas em conta. Não importa se ele se relaciona com o mesmo sexo. Importa o quanto ele está inteiro nas suas escolhas.

Muito há que ser questionado e muitas essências a serem indicadas. É que o indivíduo que ali está não é um hétero ou um homossexual. É uma roseira inteira, um mundo particular, um sistema a ser conhecido, não por mim, mas através de mim. Precisa de minha orientação, mas mergulhar em suas próprias águas somente ele poderá fazer. Somente ele poderá aceitar-se como de fato é.”

Sábia orientação, embora não seja a mais comum no meio espiritualista. Ou a falta de preparo é a tônica, ou o preconceito descarado, ou o velado. De qualquer forma, homossexuais que procuram espiritualistas e terapias holísticas para si, raramente encontram pessoas preparadas para compreendê-los, salvo se estes também forem homossexuais, como tenho observado na prática.

Há pelo menos dois sistemas de florais que pretendem um certo “equilíbrio” nos casos de desajustes causados por “homossexualismo” e “lesbianismo” que deixam muito a desejar no esclarecimento do que realmente pretendem. Um tem origem na Argentina e outro é brasileiro. Há outros no mesmo grau de confusão. Devemos saber separar as terapias dos preconceitos de seus “sintonizadores”. Não há nada a ser “curado”, “transformado” ou “mudado” no caso de homossexualidade e lesbiandade. Todo o indivíduo LGBT é um ser completo, com as mesmas faculdades e qualquer outro, e assim deve ser respeitado, considerado e tratado.

No final, o problema é que muitos grupos espiritualistas, do mesmo modo que as grandes religiões instituídas, excluem totalmente os LGBT de suas práticas, desconsiderando um princípio primordial da Natureza material e espiritual: a diversidade, a multiplicidade e a adaptabilidade. Penso que as “sexualidades não-heteronormativas” estão nesta conta da Natureza. Aliás, entre os animais a homossexualidade foi encontrada em cerca de 500 espécies, evidenciando os princípios da diversidade, multiplicidade e mesmo adaptabilidade, já que algumas delas simplesmente conseguem mudar de sexo para manter o equilíbrio do grupo. O fator socializante da bissexualidade entre os primatas, por exemplo, tem sido amplamente pesquisado atualmente.

Lembrando de minha própria história, nos idos de 1990 participei de grupos espiritualistas que, ou calavam-se quanto a expressões sexuais não-heteronormativas, ou “caíam de pau”, “descendo o porrete” à moda Malafaia sem a menor vergonha. Muitos gays se afastavam destes grupos, pensando ser indignos de qualquer busca espiritual ou elevação.

Ao participar dos chamados “grupos gnósticos” a coisa ficou mais séria, pois estes consideram a homossexualidade e símiles algo tão “inferior” energeticamente a ponto de manchar a suposta “pureza clínica” que buscam com suas práticas tântricas sexuais duvidosas. Ao mesmo tempo que não aceitavam gays, propuseram a um amigo heterossexual que não possuía parceira para o sexo tântrico por ser apaixonado por uma menina que não o queria, que este buscasse uma prostituta para a concretização do ritual! Hipocrisia homofóbica que aceita tudo para os heterossexuais em nome de uma evolução falaciosa e condena o simples beijo gay!

Quando me tornei membro da Sociedade Teosófica (aquela fundada pela russa Helena Blavatsky em 1875), em 1994, passei a conhecer mais sobre a homofobia reinante nos meios espiritualistas “de elite”. Gays eram ali tolerados, mas inferiorizados nas conversas de bastidores, além do fato de que não eram bem-vindos na “Escola Esotérica”, a que se propõe a ser uma preparação para o “contato” com os Mestres da Fraternidade Branca. Em 2005, quando trabalhei mais conectado à Sociedade Teosófica, em Brasília, percebi o quanto a “espiritualidade de elite” (a da classe média alta) é homofóbica! Entre estes, os gays são considerados desviados, desviantes, seres de energia inferior e conduzentes às trevas. Não estou exagerando!

Este quadro só mudará quando os espiritualistas LGBT e os simpatizantes se unirem e mostrarem que espiritualidade não depende de sexo, gênero ou orientação sexual, mas de uma conduta mental correta que venha a se refletir em palavras e ações, conforme o ensinamento do Buda e de outros grandes instrutores da humanidade.

Vamos fazer isto? OK. Comecemos, então apoiando esta ideia: sou espiritualista, sou LGBT e tenho o mesmo valor espiritual que qualquer outro ser humano! Assuma isto com todas as forças e você conquistará o espaço, o respeito e o reconhecimento que lhe é de direito! Ou, cale-se e continue sendo espezinhado pelos cantos como eram os leprosos nos tempos de Cristo.

Sei que, ao enviar esta postagem a meus amigos e contatos, alguns se insurgirão, reclamarão, criticarão e deixarão sair a fera homofóbica que escondem sob o véu de uma aparente política de boa vizinhança. Mas, hipocrisia e espiritualidade não combinam, e estou disposto a dar a cada um o que desejar: minha amizade ou minha indiferença, mas nunca minha submissão! Faça você o mesmo, pois se sentirá melhor, e compartilhe conosco.

Mas, antes, faça a si mesmo a pergunta que não quer calar: você é espiritualista... e homofóbico? Esta é a pergunta que eu mesmo deixo aos amigos de verdade e aos seres humanos realmente interessados no bem da toda a humanidade, sem distinções...

quarta-feira, 28 de março de 2012

[Notícia] Luto: Morreu Daniel Zamudio, o gay chileno atacado por neonazistas

Por Espiritualidade Inclusiva
(Daniel Zamudio, o homossexual chileno vítima de neonazistas, faleceu ontem, dia 27 de março)

Fonte: http://www.diversidadecatolica.blogspot.com.br/2012/03/carta-aberta-daniel-zamudio.html

Um jovem homossexual chileno que foi agredido por um grupo de neonazistas em Santiago foi declarado com morte cerebral no último domingo pelos médicos que o atendiam desde o ataque, no início do mês. Os assassinos, já detidos pela polícia chilena, agrediram brutalmente o rapaz, tendo lhe arrancado parte de uma orelha, marcado seu corpo com símbolos neonazistas, apedrejado-o e quebrado uma de suas pernas.

[Atualização em 28/03/12: Daniel Zamudio faleceu ontem, às 19:45h, horário do Chile. (Informação do amigo @realfpalhano) Mais um mártir. Até quando?]

O jesuíta Marcos Cárdenas escreveu-lhe uma carta aberta, que recebemos ontem via Twitter dos queridos @realfpalhano e @wrighini e reproduzimos aqui, com tradução nossa.

Estimado Daniel:

Permito-me te escrever estas linhas mesmo não te conhecendo e ainda que possivelmente você não lerá esta carta. Faço-o porque não posso permanecer calado diante do mal perpetrado por esses recalcitrantes, ou, melhor dizendo, canalhas - que, incapazes de reconhecer a grandeza e mistério do ser humano, te massacraram a golpes tão-somente pela sua orientação sexual.

Provavelmente, você vai se perguntar por que um religioso está te escrevendo, sabendo que pertenço a uma instituição que, desde tempos idos, condena moralmente e exclui os homossexuais. Por desgraça, vivemos em uma sociedade homofóbica, que não respeita essa orientação. Te digo que sou contrário às posições desrespeitosas, de censura, inquisidoras, obscurantistas. Minha atitude face a essa tendência é de diálogo. Está claro para mim que alguns setores da Igreja ainda adotam uma posição intolerante, da qual não compartilho: mas esse já é outro tema.

Te escrevo com a intenção de te contar que essa agressão bestial, cruel e desapiedada não passará para a história como mais um ataque apenas, ou como uma noticia a mais das páginas policiais. Te prometo que lutaremos e combateremos para que essa prática nefasta seja extirpada da nossa sociedade. Há instituições que têm sido proféticas na denúncia e condenação de atos desse gênero; a MovilH e a Fundación =Iguales, entre outras. Para mím, essas instituições são presença de Deus, pois as lésbicas, gays, transexuais e bissexuais são filhos e filhas prediletos de Deus,  perseguidos, pisoteados e excluídos que têm sido ao longo da história.

Tenho certeza, Daniel, de que Deus te ama profundamente, ama a tua vida, a tua família e a tua condição homossexual. Você é, para nós, causa de orgulho e  admiração. Se nós, cristãos, acreditamos em um Deus que é e se  manifesta no amor, será que o amor entre pessoas do mesmo sexo, portanto, não seria uma concretização - nada mais, nada menos - do amor de Deus? Creia-me: se a utopia do amor se concretizar, espero que as trincheiras do ódio e da violência desapareçam.

Me despeço com um abraço grande e te incluo em minhas orações.

Até sempre, Daniel.

- Marcos Cárdenas, jesuíta. Estudante de Filosofia na UAH.
Fonte: Sentidos Comunes, com informações do Terra


Para entender o que aconteceu:

Neonazistas agridem e tentam desenhar suásticas em jovem gay

Fonte: http://www.sosnoticias.com.br/2012/03/neonazistas-agridem-e-tentam-desenhar-suasticas-em-jovem-gay/

Um jovem homossexual chileno está em coma induzido, sem risco de morte, após ser agredido por um grupo de neonazistas que, além disso, marcaram seu corpo e arrancaram parte de uma orelha, segundo denunciaram nesta terça-feira entidades de defesa das minorias sexuais.

Enquanto o governo chileno repudiou os fatos, organizações de minorias sexuais anunciaram que apresentarão queixas contra os responsáveis e os pais do jovem afirmaram que o filho já tinha sido vítima de outras agressões e ameaças. A vítima, Daniel Zamudio, 24 anos, está internada na emergência de um hospital de Santiago desde sábado passado, disse hoje aos jornalistas o diretor do centro médico, Emilio Villalón.

Zamudio chegou ao hospital “com lesões graves, um traumatismo craniano severo, hemorragia e uma fratura na perna direita”, explicou Villalón. Perguntado pelas marcas gravadas em seu corpo, o médico detalhou que são lesões superficiais no tórax, no abdômen e no dorso, e que podem ter sido feitas com algum objeto cortante.

Segundo denunciou o Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh), a entidade mais ativa na defesa das minorias sexuais no Chile, com essas marcas os neonazistas pretendiam desenhar suásticas sobre seu corpo. Enquanto isso, em Valparaíso, o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, se solidarizou com o jovem e com sua família e manifestou seu “repúdio absoluto à violência assassina”. Anunciou, além disso, que o governo tratará com urgência o projeto de lei contra a discriminação, cujo texto original foi enviado ao Congresso em 2005 e que foi aprovado no Senado em novembro do ano passado.
Quem também rejeitou a agressão foi o cantor porto-riquenho Ricky Martin. “Chega de ódio, chega de discriminação. Espero que se faça justiça já. Muita luz para Daniel e toda sua família”, escreveu o artista em seu Twitter. Segundo um relatório do Movilh, em 2011 foram registrados 186 casos de discriminação, 48 a mais que em 2010, que incluem o assassinato de três pessoas, 13 agressões físicas ou verbais perpetradas por civis e cinco casos de abusos policiais.

Por outra parte, a organização AcciónGay denunciou hoje em comunicado que nas últimas semanas aconteceram “arrastões” neonazistas contra transexuais e prostitutas nas cidades de Valparaíso e Viña del Mar, a 125 quilômetros de Santiago.

Fonte: terra.com



Nota de Espiritualidade Inclusiva:


Antes de tudo, externamos nossos profundos pêsames pela morte de Daniel Zamudio. Ele foi mais uma das muitas vítimas da homofobia violenta que ocorre em todo o planeta diariamente. Isso nos entristece, mas ao mesmo tempo nos mostra que a luta pela erradicação do preconceito deve aumentar na mesma medida das agressões e dos assassinatos dos LGBT em todos os cantos da Terra.

Enquanto o Ministro do Interior do Chile anunciou que o governo tratará com urgência o projeto de lei contra a discriminação, aqui no Brasil o nosso PLC 122 esbarra frente ao fundamentalismo evangélico/católico que acaba sendo co-responsável pelos assassinatos brutais diários de muitos gays, lésbicas, travestis e transexuais, crimes impunes em quem sempre a vítima acaba por ser considerada culpada e causa da agressão. Parece até que a coisa se esgota assim e fica tudo por isso mesmo. Não! Basta! Temos que colocar um fim nesta impunidade, pois estão matando nossos jovens simplesmente por eles serem como são. Não são bandidos, nem drogados, nem traficantes, nem psicopatas. São apenas jovens buscando a felicidade. Por outro lado, seus algozes e assassinos são pessoas desequilibradas, violentas, bandidos que deveriam estar atrás das grades, como os responsáveis pelo site incitador de ódio Sílvio Koerich, desbaratado há poucos dias pela Polícia Federal, mas ainda no ar.

O que estão esperando? Que a comunidade LGBT una-se em frentes de segurança armada para poder sair às ruas em grandes bandos e, só assim, se sentir segura, já que a polícia, o poder público e a justiça não fazem nada de concreto para coibir este "homocausto", como muito bem define Luiz Mott? As autoridades brasileiras, os políticos, os legisladores e o judiciário estão minimizando a gravidade da situação, e isso trará consequências sociais graves muito em breve, se nada for feito. O que não se pode admitir é que pessoas sejam atacadas, agredidas e mortas por serem quem são, sem terem cometido crime algum. Quando teremos a Constituição Federal sendo realmente cumprida e o Estado Brasileiro defendendo nossas vidas como defende os direitos dos próprios assassinos de gays? Exigimos segurança, cidadania plena e condições de vida! BASTA!

quinta-feira, 22 de março de 2012

[Notícia] A casa homofóbica caiu! Sílvio Koerich desmascarado!

Por Espiritualidade Inclusiva

(Uma das muitas barbaridades preconceituosas e de incitação à violência no site do fake Sílvio Koerich, agora identificado pela PF)

Quem abomina a homofobia, a incitação à violência contra gays, negros, mulheres e minorias ou já sofreu preconceito violento, já deve ter ouvido falar do “fake” Sílvio Koerich e de seu website homofóbico, racista, anti-semita, misógino e xenófobo, em suma, NAZISTA! Pois, ele e seu comparsa acabam de ser identificados, conforme notícias reproduzidas abaixo:




Polícia Federal prende incitadores de ódio na internet

Joyce Carvalho

Pregação da violência contra homossexuais, mulheres, negros, nordestinos e judeus, além da incitação para extermínio destes grupos, levaram dois homens para a prisão nesta quinta-feira (22). Emerson Eduardo Rodrigues e Marcelo Valle Silveira Mello foram presos em Curitiba pela Polícia Federal (PF) e são suspeitos de alimentarem um site na internet com estas informações.

Os dois colocaram ofensas contra a presidente da República, Dilma Rousseff e outras autoridades de alto escalão. Ameaçaram de morte publicamente o deputado federal Jean Wyllys (PSOL/RJ). Aém disto tudo, há postagens no site sobre como matar uma pessoa, sendo de maneira lenta ou rápida. Ou ainda como abordar crianças para um posterior abuso sexual. Havia também citações de que lésbicas deveriam sofrer um "estupro corretivo", de acordo com a PF, que deflagrou a Operação Intolerância, na qual os dois foram presos. Os policiais federais ainda cumpriram três mandados de busca e apreensão, sendo dois no Paraná e um em Brasília.

As investigações começaram em dezembro do ano passado, após mais de 70 mil denúncias crimes por parte da sociedade civil sobre o conteúdo ofensivo do site. "Eles não pregavam apenas a discriminação, que por si só já é grave. Eles também pregavam extermínios em massa de negros, homossexuais, mulheres. As imagens no site são bastante fortes. Há, inclusive um manual de aliciamento de crianças. Tudo causa uma repugnância social. Em dez anos de atuação, é um dos casos mais graves que eu vi", afirma o delegado da PF Flávio Cardinelle Oliveira Garcia, chefe do núcleo de repressão a crimes cibernéticos da PF no Paraná.

Segundo o delegado, há indicativos de que as ofensas também eram reais e não ficavam apenas no mundo virtual. Há boletins de ocorrência contra os dois presos por agressões e ameaças. Garcia explica que Marcelo Mello foi condenado por discriminação pela internet em 2005 e que este seria o primeiro caso de uma punição em virtude de ofensas virtuais no País. Marcelo também tem R$ 500 mil reais na conta corrente e a PF vai tentar descobrir a origem do dinheiro. Eram solicitadas doações no site ofensivo.

De acordo com o delegado Wagner Mesquita, também da PF no Paraná, foi localizado um mapa de uma casa de festas perto do campus da Universidade de Brasília, muito conhecida pelos estudantes da instituiçã. Há citações no site de que uma ação contra alunos da universidade seria planejada e colocada em prática, semelhante ao massacre em uma escola municipal em Realengo, no Rio de Janeiro, há quase um ano. O alvo seria estudantes de cursos de Ciências Sociais, considerados pelos dois como "esquerdistas". Marcelo Mello é ex-estudante da Universidade de Brasília, segundo a PF.

Os presos se diziam parte de uma seita que tentava captar pessoas com estes mesmos pensamentos. Há insinuações de que o assassino Wellington Menezes de Oliveira, o responsável pelo massacre em Realengo, teria feito contato com os dois para obter informações para o crime. Mas ainda não há confirmação se houve realmente a ligação entre os três.

O site ainda permanece no ar porque está hospedado na Malásia e o processo depende do governo do país asiático. "Eles acharam que desta forma não seriam identificados. Mais gente pode estar envolvida, inclusive colaborando para as mensagens", revela Garcia.




Desmascarada identidade do homofóbico Silvio Koerich

Um Outro Olhar (Miriam Martinho, editora)

Há tempos, a pedido de várias pessoas físicas (ativistas ou não), onde se inclui a editora do Um Outro Olhar, e organizações não-governamentais, como o CLAM (Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos), a ABGLT, a SaferNet, órgãos governamentais como a Secretaria de Políticas para Mulheres e a Secretaria de Direitos Humanos vinham tentando identificar e punir os autores do site Silvio Koerich por suas postagens criminosas contra mulheres, homossexuais, negros, etc.

(Um dos fake Koerich, agora identificado como Emerson)

Hoje, sob o título PF prende incitadores de Ódio na Internet, do site Paraná Online, lê-se matéria que informa sobre a identificação dos criminosos Emerson Eduardo Rodrigues (Sílvio Koerich) e Marcelo Valle Silveira Mello, moradores de Curitiba e Brasília, respectivamente, e a expedição de mandados de prisão preventiva contra eles pela Justiça Federal. Segue trecho e link para a matéria completa. Apesar da demora, algo a comemorar. Mais informações devem surgir em breve.

PF prende incitadores de Ódio na Internet

A PF em Curitiba realiza nesta quinta-feira (22), a fase ostensiva da sua "Operação Intolerância" - por meio da qual identificou os responsáveis pelas postagens criminosas encontradas no site silviokoerich . org - , para o cumprimento dos mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça Federal contra Emerson Eduardo Rodrigues e Marcelo Valle Silveira Mello, moradores de Curitiba e Brasília, respectivamente.

As investigações, conduzidas pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Cibernéticos, uma Unidade Especializada da PF, permitiram a cabal identificação dos criminosos, que há meses vinham postando mensagens de apologia de crimes graves e da violência, sobretudo contra mulheres, negros, homossexuais, nordestinos e judeus, além da incitação do abuso sexual de menores.

Esta Unidade Especializada, que integra a Delegacia de Defesa Institucional da PF, recebera inúmeras denúncias relacionadas ao conteúdo discriminatório do referido site, bem como outras denúncias, de mesmo teor, foram dirigidas ao Ministério Público Federal e à ONG SaferNet, onde se registraram 69.729 (até 14.04.12) pedidos de providências a respeito do conteúdo criminoso do site investigado, um número recorde da participação de populares no controle do conteúdo da internet brasileira.

(Sílvio Koerich)
Também, nesta manhã, a PF dará cumprimento aos mandados de busca e apreensão expedidos pela JF, para examinar residências e locais de trabalho dos criminosos em busca de elementos materiais da responsabilidade criminal, já amplamente demonstrada ao longo da investigação e que, preliminarmente, permitiu identificar o cometimento dos crimes de incitação/indução à discriminação ou preconceito de raça, por meio de recursos de comunicação social (Lei 7716/89); incitação à prática de crime (art. 286 do Código Penal) e publicação de fotografia com cena pornográfica envolvendo criança ou adolescente (Lei 8069/90-ECA).

Consta da decisão judicial que decretou a prisão preventiva dos criminosos que "Elementos concretos colhidos na investigação demonstram que a manutenção dos investigados em liberdade é atentatória à ordem pública. A conduta atribuída aos investigados é grave, na medida em que estimula o ódio à minorias e à violência a grupos minoritários, através de meios de comunicação facilmente acessíveis a toda a comunidade. Ressalto que o conteúdo das ideias difundidas no site é extremamente violento. Não se trata de manifestação de desapreço ou de desprezo a determinadas categorias de pessoas (o que já não seria aceitável), mas de pregar a tortura e o extermínio de tais grupos, de forma cruel, o que se afigura absolutamente inaceitável."

Dentre os conteúdos publicados pelos criminosos e localizados pela PF, havia referência ao apoio prestado pelos criminosos ao atirador Wellington, que em 2011 atacou a tiros uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, matando diversas crianças, bem como à suposta incapacidade da Polícia Federal em o localizar e deter.

terça-feira, 20 de março de 2012

Luz no gueto: uma visão mecânica e microfísica sobre a possibilidade da nascença dos preconceitos e das exclusões?

Por Marcelo Moraes Caetano (artigo originariamente publicado na revista G Magazine, edição especial de aniversário, coluna "Papo sério")

Uma das maiores necessidades do ser humano é ser aceito num grupo. Isso é natural, e não tem nada de errado. Mas essa aceitação que se busca - à qual os filósofos chamariam de “sentimento de pertença” - pode se transformar em patologia. Isso acontece quando a busca se converte numa espécie de exagerada ânsia pelo “troféu” de se pertencer ao grupo que está no poder, que tem maior influência - o “grupo dos vitoriosos”.

Esse desejo cria e alimenta a necessidade de existência de grupos abaixo daquele poder, daquela vitória. Tal tipo de “posição vitoriosa” exigirá, sempre, o aplauso. E, para o aplauso, é preciso que existam grupos de “perdedores”, cuja função é, exclusivamente, a de submissão. Eis a chave que dá partida na máquina dos preconceitos.

Aquela lógica criará, pouco a pouco, diferença de grupos e conflito entre eles, porque é preciso que se justifique a luta, para que o “melhor”, o “mais perfeito”, possa subir ao poder. Agora, seus membros terão o “prêmio” máximo: a recompensa de pertencerem ao grupo mais poderoso. O grupo dos “incluídos no poder” só existirá se houver, do outro lado, o grupo dos “excluídos do poder”.

Começamos a ver que o papel do preconceito é, antes de tudo, servir como espécie de treino, uma arena para que a segregação entre vitoriosos e perdedores nunca seja desfeita. Se o preconceito não for “treinado”, as exclusões tendem, naturalmente, a acabar.

Nós mesmos, pertencentes às minorias, aos chamados "guetos", podemos estar contribuindo com a manutenção do preconceito, inconscientemente, se nos aceitamos como vítimas, inferiores, escravos. Isso alimenta a máquina da crueldade preconceituosa, porque torna ainda mais “poderosos” os que, fantasiosamente, se acham “superiores” aos seus “escravos”. Acabamos funcionando como engrenagens...

Nada disso existe: não existem grupos melhores nem grupos piores, apenas grupos diferentes. Alimentar o desejo de que exista ruptura entre “ganhadores” e “perdedores” significa ter de criar constantes conflitos entre grupos X, Y ou Z. Quando nos dermos conta de que essa “lógica” é mera ficção, o preconceito começará a desmoronar pouco a pouco, a partir de suas raízes.

O preconceito contra o homossexual, por exemplo, é um exercício mecânico para que se criem segregações que permitam a ascensão dos “normais” (heterossexuais) ao poder cobiçado. Digo que é um “exercício” exatamente porque não encontra nenhum fundamento concreto, a não ser o “treino” para as exclusões de todo tipo - as sexuais, as financeiras, as religiosas, as raciais, as culturais, as ideológicas, as profissionais, as linguísticas.

Preconceitos se multiplicam quase infinitamente: hoje, podemos dizer que somente será visto “sem” preconceito social aquele que, no Brasil, por exemplo, seja do sexo masculino, branco, jovem, bonito, tenha muito dinheiro, seja heterossexual, esteja num cargo de chefia, seja casado, com filhos, católico, pertencente a alguma confraria secular, tenha gestos contidos, não ria em excesso. E quantas vezes os gays já não receberam propostas escondidas desse tipo de “homem normal e ideal da sociedade brasileira”?

Se olharmos para cada preconceito em si mesmo, logo começaremos a ver que ele, por si só, não tem nenhum fundamento, nem científico, nem natural, nem racional. Vamos checar um pouco mais de perto as possíveis “justificativas” para a homofobia?

Uma alegação pré-histórica que “justificaria” a luta contra a homossexualidade. Se, num tempo remoto, a terra precisava ser habitada, e a união entre pessoas do mesmo sexo representava um obstáculo à procriação, será que o ambiente em que estamos, modernamente, deve ser visto daquela maneira? Será que precisamos continuar habitando descontroladamente a terra? Enfim, qual o obstáculo “real” que a união entre pessoas do mesmo sexo representaria, hoje, à terra?

O que justifica a segregação ainda existente contra homossexuais?

Há algo, repito, que “justifica” esse e os demais preconceitos: o exercício da segregação, semelhante aos exercícios que os soldados, mesmo em tempos de paz, fazem, sempre à espera da guerra. “Vitoriosos” contra “derrotados” é uma lógica de guerra.

Voltando à questão específica do preconceito contra homossexuais, desta vez num nível mais direto de análise.

Se uma pessoa se supõe na condição de determinar que certa conduta ou orientação - amar alguém do mesmo sexo - sejam erradas, o mínimo que devemos exigir dessa pessoa será que ela própria não deseje, em nenhum nível, o que está sendo por ela recriminado. E de que forma eu posso, inequivocamente, dizer que alguém que recrimina ou discrimina um homossexual não seja, ele próprio, um homossexual? O que me permite ver, com esses olhos que a Terra há de comer, como diz o povo, se essa pessoa é ou não é homossexual?

Nada. Ela pode gritar que não é, pode até enganar a si mesma, casando-se com pessoas do sexo oposto várias vezes, mas eu continuarei não sabendo se ela é ou não é homossexual. Ela própria pode não saber. Não se trata, apenas, de hipocrisia da parte dela, porque ela pode muito bem, de fato, nunca ter sido apresentada a si mesma, e não se conhecer.

Por isso, também, a raiva, a rivalidade gratuita, a hostilidade, a violência contra grupos que ferem a sua indefinida (porém idealizada) pessoa. Elas não se conhecem ou não aceitam aquilo que conhecem, e agem de maneira hostil contra o grupo que as desmascara publicamente. Grupos que as identificam com os “perdedores”... Uma ofensa!

Outra pergunta aos que recriminam a conduta homossexual alegando “cientificidade”. Qual a base científica para se afirmar que a homossexualidade não seria uma conduta natural à espécie humana? Alegar, por exemplo, que os animais das selvas não a praticam? Ainda que não praticassem, pergunto: se devemos justificar uma conduta humana com base numa conduta animal, por que ainda estamos vestidos, por que não tiramos nossas roupas e por que, também, não deixamos de nos comunicar pela fala?... Nunca vi um animal vestido nas selvas. Nunca vi um animal falando línguas humanas.

Nada justificará uma exclusão, em tempo algum, seja ela qual for.

Desmascarar um preconceito é mais simples do que se supõe. Todos eles estarão imbuídos da “lógica” da guerra, em que a “vitória” de uns é “legitimada” pela “derrota” de outros. O preconceito é um exercício de segregação, e a segregação é alimentada pela lógica do poder, sendo a sua peça principal.

Conhecer esta máquina de ficção, sem máscaras, significa dar o primeiro passo em direção ao fim dos preconceitos.

Pode ser a luz no fim do “gueto”.



Sobre o autor

Marcelo Moraes Caetano é escritor, professor titular da Laureate International Universities, da Universidade de Freiburg e professor pesquisador do CNPq-UERJ. Membro da APPERJ, da União Brasileira de Escritores (SP), do PEN Club (RJ-Londres), da Académie des Arts-Sciences et Lettres (Paris), editor da revista de cultura ALIÁS, colunista da Revista da Cultura (SP, RS, Brasília,PE, Campinas). Pianista clássico (com primeiros lugares no Brasil e no exterior), membro da Orquestra Sinfônica de Viena, tradutor de inglês, francês, alemão, latim e grego, professor de português, grego e literatura brasileira, portuguesa e africana (bacharel pela UERJ e licenciado pela UNESA, especialista pela UFF, Mestre pela PUC-rio e Doutor por Coimbra). Possui 18 livros publicados: gramático ("Gramática para o vestibular", Editora Elite, "Gramática Reflexiva da Língua Portuguesa" (Editora Ferreira), lexicógrafo ("Instâncias do sentido o dicionário e a gramática - múltiplas interconexões semiológicas" -Editora Academia Brasileira de Filologia), crítico literário ("Literatura Brasileira", Editora Elite, "Caminhos do texto", Editora Ferreira), com diversas premiações nacionais e internacionais. Blogue: http://demarcelomoraescaetano.blogspot.com