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quinta-feira, 25 de abril de 2013

Nota da ANNEB – Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil contra o fundamentalismo religioso


Postado por Prª. Wall e Pr. Will em 14 abril 2013 às 17:30 (postado originalmente em http://negrosnegrascristaos.ning.com/profiles/blogs/anneb-ltimos-acontecimentos-em-torno-da-elei-o-da-presid-ncia-da e reproduzido aqui pela relevância) 



NOTA PÚBLICA Nº 01 - 2013 

Tema: Últimos acontecimentos em torno da eleição da Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal

Assunto: Pronunciamento


Nós, da ANNEB – Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil vimos reafirmar o nosso compromisso com as Sagradas Escrituras (AT e NT), cujos valores inspiram a nossa luta contra toda e qualquer forma de discriminação à dignidade humana. O próprio Senhor Jesus Cristo, em seu evangelho, nos constrange a buscar entre todas as pessoas e de forma integral (Corpo, Alma e Espírito) uma vivência marcada pelo amor, pela justiça e pela paz, como testemunho autêntico de fé e compromisso com o seu Reino, principalmente com aquelas e aqueles que são consideradas e considerados mais vulneráveis em nossa sociedade.

Afinal, como bem diz o evangelho de Lucas 9.56 “O Filho do homem não veio para destruir as almas das pessoas, mas, para salvá-las”. Consequentemente, Jesus Cristo, por não fazer acepção de pessoas, convida a todos à vida plena, ao continuar dizendo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mt.11.28).

Isto posto, é nesse espírito de paz, justiça e amor que, de forma firme e irrevogável, nós, afiliadas e afiliados da ANNEB, repudiamos veementemente os pronunciamentos injuriosos contra as mulheres, os afrodescendentes e os homossexuais, proferidos pelo atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Justificativa:

Nós, brasileiras e brasileiros, formamos um povo plural do ponto de vista étnico-racial. A diversidade assim compreendida é pauta atual e imprescindível nas relações sociais, institucionais e religiosas. Ao mesmo tempo é tão antiga como a imagem do corpo utilizada por Paulo (I Cor. 12.12), a qual evidencia a importância das diferenças das partes e a igualdade de valor de todas para o bom funcionamento do corpo, mesmo diante de classificações preconceituosas como: esta parte é melhor ou mais nobre que outras.
Embora afirmemos o ensino bíblico de que Deus criou a mulher e o homem e que esta é a sexualidade reconhecida pelas Igrejas Evangélicas, respeitamos o direito de escolha das pessoas homoafetivas, visto que vivemos numa sociedade democrática. Todavia, entendemos serem também inalienáveis os direitos iguais aos evangélicos no que tange à opção pela heterossexualidade.

Com efeito, o impasse que ora se estabelece na sociedade exige de todos nós, serenidade, maturidade e, sobretudo, responsabilidade em nossos discursos. Por isso, lamentamos a falta de preparo científico e amor fraterno do atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, ao se pronunciar sobre temas, que no mínimo, nos convida a uma reflexão mais criteriosa.

A propósito, segundo Freitas, Arantes e Perilo (2010), essa possível virada icônica; hetero-homo; deve ser vista tanto no sentido da sexualidade-afetiva, quanto numa perspectiva política. De certa forma, a homossexualidade é também uma proposta de reorganização social, implicando em remanejo do capital econômico. Nesse sentido, o movimento homossexual deixa de ser visto como uma mera reação ao moralismo e passa a ser uma resposta à repressão e à exploração perpetrada por um sistema econômico patriarcal que junto com a modernidade já dá sinais de exaustão. Por aí se vê, que meros reducionismos ou mesmo, a violência verbal, não servirão em nada para dignificar o debate democrático. Isto posto, entendemos que precisamos de um moderador, cujo perfil esteja profundamente comprometido com a diversidade cultural e religiosa do nosso país. Não vemos esse perfil na atual presidência.

Reconhecemos que o racismo, os preconceitos e as discriminações são tratados nas igrejas e nas instituições evangélicas como tabu e com restrições. O assunto tem ensejado idéias de demonização e negativismo a respeito do povo negro e de seus costumes e tradições. Um exemplo disso são as afirmações do atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, primeiro, atribuindo uma pseudo-maldição bíblica sobre as e os afro-descendentes, o que se constitui tanto uma perversidade, quanto um desrespeito crasso da exegese bíblica. Em tempo, a interpretação de textos sagrados a serviço da política ou mesmo da dominação e do controle social, não tem sido incomum na história da humanidade.

Nesta mesma linha de raciocínio, segue a segunda afirmação do Presidente em apreço, reforçando as representações machistas, ao propor a negação de direitos iguais às mulheres.  Certamente, o mesmo não conhece a realidade das mulheres brasileiras, a começar de sua própria comunidade de fé. Não sabe que no país em que vive, mais da metade das famílias são monoparentais, chefiadas por mulheres. O nobre Senhor, não acompanha os jornais que diuturnamente demonstram que nossas mulheres estão sendo assassinadas. Certamente, o mesmo não tem tido interesse de acompanhar os últimos relatórios do Conselho Mundial de Igrejas que demonstram que “68% dos atendimentos a mulheres vítimas de violência, a agressão aconteceu na residência”.

Portanto, é inadimissível um parlamentar tão inconsequente em seus discursos os quais certamente, não representa as evangélicas e os evangélicos, as brasileiras e os brasileiros, incluindo católicas e católicos, comprometidas  e comprometidos com uma vivência consciente dos valores do Reino de Deus (Paz, Justiça e Amor).

Nós da ANNEB entendemos, portanto, que dependendo da epistemologia cultural que uma dada sociedade alimente, haverá ou não respeito com a diversidade cultural de suas cidadãs e de seus cidadãos. E as religiões reúnem universos culturais simbólicos altamente diversos, por isso, a discussão dos direitos humanos certamente passa também pelo viés religioso. Do contrário, como bem nos lembra (Leitão e Vieira, 2010), “resta-nos a astúcia da ideologia da guerra e da classe oposta à outra”.


Referências

FREITAS, Fátima Regina Almeida; ARANTES, José Estevão Rocha; PERILO, Marcelo de Paula Pereira. Combatendo o preconceito: Discriminação e homofobia – Curso de Especialização, Diversidade Cultural e Cidadania, Universidade Federal de Goiás, 2010.

INFORMATIVO REGIONAL DA IGREJA METODISTA. 5ª RE. Ano 16. Janeiro-Fevereiro de 2013.

LEITÃO, Rosani  Moreira e  VIEIRA, Marisa Dama. Diversidade cultural e Cidadania In CIAR (Centro Integrado de Aprendizagem em Rede, UFG), 2010.

 
Assessoria:
Rev. José Roberto Alves Loiola
Relatoria Ministerial

Encaminhada para ANNEB-DF em 02/04/2013.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

[Notícia] Paim: discurso de Obama favorece debate contra homofobia


Por Raíssa Abreu (da Agência Senado, cfe. publicado originalmente em http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2013/01/22/paim-acredita-que-discurso-de-obama-favorece-debate-contra-homofobia/tablet)


Em seu discurso de posse nesta segunda-feira (21), em Washington, o presidente norte-americano, Barack Obama, assumiu o respeito às minorias como principal bandeira de seu segundo mandato. Mulheres, imigrantes e homossexuais estiveram no centro dos pronunciamentos de inauguração dos trabalhos, seja nas palavras do presidente, nas homenagens prestadas ou na benção proferida pelo reverendo.

Na avaliação do senador Paulo Paim (PT-RS), que nos últimos dois anos presidiu a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), o discurso desta segunda-feira foi “mais um dos pronunciamentos históricos” do presidente norte-americano. Obama deixou claro, na visão do senador, que o Estado deve estar sempre a serviço dos mais fracos.

- Presidente de nenhum país do mundo jamais assumiu uma postura tão ousada, de enfrentamento aos setores conservadores, em seu discurso de posse - observou Paim.

O senador chamou a atenção para a expressão “nossos irmãos gays”, utilizada por Barack Obama no pronunciamento. Essa atitude, disse Paim, sinaliza, em nível internacional, que é preciso combater o preconceito, e deverá contribuir, no Senado brasileiro, com a aprovação do PLC 122/2006, que criminaliza a homofobia. Paim assumiu a relatoria do projeto na CDH no ano passado.

- No Brasil, criou-se uma falsa polêmica entre liberdade de orientação sexual e liberdade religiosa. Isso não tem fundamento e não interessa a ninguém – disse o senador, a respeito do argumento de setores religiosos contrários a aprovação do projeto, segundo os quais o mesmo atentaria contra a liberdade de culto e expressão.

Como relator, Paim afirmou que pretende promover uma série de audiências públicas sobre o assunto nos estados, para que a discussão não fique restrita ao Parlamento.

- Vou trabalhar muito por esse projeto. 2013 vai ser o ano da aprovação do PLC 122 – disse.

Se aprovado pela CDH, o PLC 122/2006 deverá ser encaminhado à análise da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.


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Nota de Espiritualidade Inclusiva:

Esta notícia, veiculada pela Agência Senado, não deixa dúvidas sobre a posição do Senador Paulo Paim quanto ao PLC 122 e sua atuação no sentido de ajudar a aprová-lo. Realmente, a fala de Obama parece ser um divisor de águas internacional na questão dos direitos LGBT e esperamos que não fique só no discurso. O debate além do Parlamento que será promovido nos estados vai ser bastante intenso e polêmico, temos certeza. Este é o momento das forças pró-direitos humanos e direitos LGBT (que tem gente que insiste em ignorar que fazem parte dos direitos humanos) mostrarem a que vieram e o que realmente estão fazendo em prol de todos os LGBT neste país. Quando falamos destas forças do movimento nos referimos não apenas às ONGs que obtém verbas públicas, mas toda a sociedade civil LGBT e os apoiadores de direitos humanos, bem como os religiosos inclusivos. É hora de levantar das cadeiras e ir para a rua, a imprensa e os púlpitos!


sábado, 11 de agosto de 2012

[Notícia] Taiwan celebra primeira cerimônia budista de casamento gay




Lésbicas se casaram depois de sete anos de namoro.
Elas esperam que cerimônia simbólica ajude a legalizar esse tipo de união.

Taiwan celebrou neste sábado (11) a primeira cerimônia budista de casamento gay. As noivas You Ya-ting e Huang Mei-yu, de 30 anos, namoraram por sete anos antes de decidirem se casar no templo em Taoyuan, no nordeste de Taiwan.

O casal disse esperar que essa cerimônia, simbólica, ajude a fazer de Taiwan o primeiro local na Ásia a legalizar casamentos de pessoas do mesmo sexo.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

[Notícia] Movimento Espiritualidade Inclusiva recebido pela Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual no RS

Por Espiritualidade Inclusiva

(Paulo Stekel, coordenador geral do Movimento Espiritualidade Inclusiva e Fábulo Nascimento da Rosa, Coordenador Estadual de Diversidade Sexual, durante reunião em Porto Alegre - RS)

Ontem à tarde (30 de maio), o coordenador geral do Movimento Espiritualidade Inclusiva, o músico, escritor e jornalista Paulo Stekel, foi recebido pelo coordenador Fábulo Nascimento da Rosa, que está desde 2011 à frente da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual, uma coordenadoria recente mais muito ativa, ligada à também recente Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos pelo atual governo gaúcho.

O objetivo de Stekel com a reunião foi o de apresentar ao Estado do RS, através da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual, o recém criado Movimento Espiritualidade Inclusiva, suas propostas, ações e princípios. Ao mesmo tempo, Fábulo apresentou o intenso trabalho já desenvolvido pela Coordenadoria em tão pouco tempo, seja em parceira com o poder público ou com ONGs LGBTs: Programa Rio Grande Sem Homofobia, Disque Direitos Humanos 100, capacitação de servidores da educação em mais de 40 municípios sobre os temas diversidade sexual e bullying homofóbico, garantia do nome social para travestis e transexuais, dia estadual de enfrentamento a homofobia (17 de maio), Conferência Estadual LGBT, dignidade às travestis no sistema prisional, 1º encontro de gestores municipais LGBT, etc.


No caso do Programa Rio Grande Sem Homofobia, criado pela Secretaria de Estado da Justiça e dos Direitos Humanos para promover a cidadania e a diversidade, este consiste numa série de ações para dar um fim ao ódio, preconceito, discriminação, agressões e assassinatos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis ou transexuais. O Programa entende que a manifestação de identidade sexual, afetividade ou desejo não pode ser um direito exclusivo de heterossexuais, porque diz respeito ao bem-estar das pessoas. O Programa também inicia uma grande discussão para garantir a aprovação de leis que contribuam para que a população LGBT tenha os mesmos direitos, oportunidades e reconhecimento que os demais cidadãos e cidadãs têm garantidos.

Objetivando a visibilidade e a promoção da cidadania LGBT, a Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos, juntamente com a Coordenadoria, é parceira das atividades que promovam a livre orientação sexual e a cultura LGBT do RS. Por isso, o Movimento Espiritualidade Inclusiva, tendo se apresentado formalmente, passa agora a ser conhecido da Coordenadoria e a integrar o conjunto das força LGBT de combate ao preconceito e da promoção da cidadania plena para esta comunidade tão atacada por fundamentalistas e fanáticos de todo gênero.

Stekel demonstrou o quanto é importante, além de combater a homofobia em geral, dar uma atenção especial à homofobia religiosa, que parece estar se alastrando pelo país, incitada por líderes religiosos irresponsáveis e mal-intencionados, pouco ou nada preocupados com a dignidade da vida humana. Enfatizou que os objetivos do Movimento Espiritualidade Inclusiva são: confrontar a homofobia, em especial a homofobia religiosa; apoiar e dar visibilidade às iniciativas inclusivas dentro das diversas denominações religiosas no Brasil; fortalecer o laicismo de Estado, evitando assim que corra o risco de ser engolido por ações de origem religiosa que atentem contra os direitos humanos e os direitos LGBT em particular.

Em contrapartida, o Movimento Espiritualidade Inclusiva, que é apartidário e defende os direitos de todas as crenças, dos LGBT e dos que não possuem religião alguma, se comprometeu a apoiar as ações de políticas públicas no RS em prol da comunidade LGBT em todas as suas instâncias.


É mais uma parceria de sucesso que se inicia!

terça-feira, 22 de maio de 2012

[Notícia] Famoso psiquiatra pede desculpas por estudo sobre "cura" para LGBTs

Por Benedict Carey (jornalista do The New York Times. Tradução: George El Khouri Andolfato – link original http://mundo.gay1.com.br/2012/05/famoso-psiquiatra-pede-desculpas-por.html)

(Dr. Robert L. Spitzer)

O fato foi simplesmente que ele fez tudo errado, e ao final de uma longa e revolucionária carreira, não importava com quanta frequência estivesse certo, o quão poderoso tinha sido ou o que isso significaria para seu legado.

O Dr. Robert L. Spitzer, considerado por alguns como o pai da psiquiatria moderna, que completa 80 anos nesta semana, acordou recentemente às 4 horas da madrugada ciente de que tinha que fazer algo que não é natural para ele.

Ele se esforçou e andou cambaleando no escuro. Sua mesa parecia impossivelmente distante; Spitzer sofre de mal de Parkinson e tem dificuldade para caminhar, se sentar e até mesmo manter sua cabeça ereta.

A palavra que ele às vezes usa para descrever essas limitações –patéticas– é a mesma que empregou por décadas como um machado, para atacar ideias tolas, teorias vazias e estudos sem valor.

Agora, ali estava ele diante de seu computador, pronto para se retratar de um estudo que realizou, uma investigação mal concebida de 2003 que apoiava o uso da chamada terapia reparativa para “cura” da homossexualidade, voltada para pessoas fortemente motivadas a mudar.

O que dizer? A questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo estava sacudindo novamente a política nacional. O Legislativo da Califórnia estava debatendo um projeto de lei proibindo a terapia como sendo perigosa. Um jornalista de revista que se submeteu à terapia na adolescência, o visitou recentemente em sua casa, para explicar quão miseravelmente desorientadora foi a experiência.

E ele soube posteriormente que um relatório da Organização Mundial de Saúde, divulgado na quinta-feira (17), considera a terapia “uma séria ameaça à saúde e bem-estar –até mesmo à vida– das pessoas afetadas”.

Os dedos de Spitzer tremiam sobre as teclas, não confiáveis, como se sufocassem com as palavras. E então estava feito: uma breve carta a ser publicada neste mês, na mesma revista onde o estudo original apareceu.

“Eu acredito que devo desculpas à comunidade gay”, conclui o texto.

Perturbador da paz

A ideia de estudar a terapia reparadora foi toda de Spitzer, dizem aqueles que o conhecem, um esforço de uma ortodoxia que ele mesmo ajudou a estabelecer.

No final dos anos 90 como hoje, o establishment psiquiátrico considerava a terapia sem valor. Poucos terapeutas consideravam a homossexualidade uma desordem.

Nem sempre foi assim. Até os anos 70, o manual de diagnóstico do campo classificava a homossexualidade como uma doença, a chamando de “transtorno de personalidade sociopática”. Muitos terapeutas ofereciam tratamento, incluindo os analistas freudianos que dominavam o campo na época.

Ativistas LGBTs fizeram objeção furiosamente e, em 1970, um ano após os protestos de Stonewall para impedir as batidas policiais em um bar de Nova York, um grupo de manifestantes dos direitos LGBT confrontou um encontro de terapeutas comportamentais em Nova York para discutir o assunto. O encontro foi encerrado, mas não antes de um jovem professor da Universidade de Columbia sentar-se com os manifestantes para ouvir seus argumentos.

“Eu sempre fui atraído por controvérsia e o que eu ouvi fazia sentido”, disse Spitzer, em uma entrevista em sua casa na semana passada. “E eu comecei a pensar, bem, se é uma desordem mental, então o que a faz assim?”

Ele comparou a homossexualidade com outras condições definidas como transtornos, tais como depressão e dependência de álcool, e viu imediatamente que as últimas causavam angústia acentuada e dano, enquanto a homossexualidade frequentemente não.

Ele também viu uma oportunidade de fazer algo a respeito. Spitzer era na época membro de um comitê da Associação Americana de Psiquiatria, que estava ajudando a atualizar o manual de diagnóstico da área, e organizou prontamente um simpósio para discutir o lugar da homossexualidade.

A iniciativa provocou uma série de debates amargos, colocando Spitzer contra dois importantes psiquiatras influentes que não cediam. No final, a associação psiquiátrica ficou ao lado de Spitzer em 1973, decidindo remover a homossexualidade de seu manual e substituí-la pela alternativa dele, “transtorno de orientação sexual”, para identificar as pessoas cuja orientação sexual, lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual ou hétero, lhes causava angústia.

Apesar da linguagem arcana, a homossexualidade não era mais um “transtorno”. Spitzer conseguiu um avanço nos direitos civis em tempo recorde.

“Eu não diria que Robert Spitzer se tornou um nome popular entre o movimento LGBT mais amplo, mas a retirada da homossexualidade foi amplamente celebrada como uma vitória”, disse Ronald Bayer, do Centro para História e Ética da Saúde Pública, em Columbia. “‘Não Mais Doente’ foi a manchete em alguns jornais gays.”

Em parte como resultado, Spitzer se encarregou da tarefa de atualizar o manual de diagnóstico. Juntamente com uma colega, a dra. Janet Williams, atualmente sua esposa, ele deu início ao trabalho. A um ponto ainda não amplamente apreciado, seu pensamento sobre essa única questão –a homossexualidade– provocou uma reconsideração mais ampla sobre o que é doença mental, sobre onde traçar a linha entre normal e não.

O novo manual, um calhamaço de 567 páginas lançado em 1980, se transformou em um best seller improvável, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior. Ele estabeleceu instantaneamente o padrão para futuros manuais psiquiátricos e elevou seu principal arquiteto, então próximo dos 50 anos, ao pináculo de seu campo.

Ele era o protetor do livro, parte diretor, parte embaixador e parte clérigo intratável, rosnando ao telefone para cientistas, jornalistas e autores de políticas que considerava equivocados. Ele assumiu o papel como se tivesse nascido para ele, disseram colegas, ajudando a trazer ordem para um canto historicamente caótico da ciência.

Mas o poder tem seu próprio tipo de confinamento. Spitzer ainda podia perturbar a paz, mas não mais pelos flancos, como um rebelde. Agora ele era o establishment. E no final dos anos 90, disseram amigos, ele permanecia tão inquieto como sempre, ávido em contestar as suposições comuns.

Foi quando se deparou com outro grupo de manifestantes, no encontro anual da associação psiquiátrica em 1999: os autodescritos ex-gays. Como os manifestantes LGBTs em 1973, eles também se sentiam ultrajados por a psiquiatria estar negando a experiência deles –e qualquer terapia que pudesse ajudar.

A terapia reparativa

A terapia reparativa, às vezes chamada de terapia de “conversão” ou “reorientação sexual”, é enraizada na ideia de Freud de que as pessoas nascem bissexuais e podem se mover ao longo de um contínuo de um extremo ao outro. Alguns terapeutas nunca abandonaram a teoria e um dos principais rivais de Spitzer no debate de 1973, o dr. Charles W. Socarides, fundou uma organização chamada Associação Nacional para Pesquisa e Terapia da Homossexualidade (Narth, na sigla em inglês), no sul da Califórnia, para promovê-la.

Em 1998, a Narth formou alianças com grupos de defesa socialmente conservadores e juntos eles iniciaram uma campanha agressiva, publicando anúncios de página inteira em grandes jornais para divulgar histórias de sucesso.

“Pessoas com uma visão de mundo compartilhada basicamente se uniram e criaram seu próprio grupo de especialistas, para oferecer visões alternativas de políticas”, disse o dr. Jack Drescher, psiquiatra em Nova York e coeditor de “Ex-Gay Research: Analyzing the Spitzer Study and Its Relation to Science, Religion, Politics, and Culture”.

Para Spitzer, a pergunta científica no mínimo valia a pena ser feita: qual era o efeito da terapia, se é que havia algum? Estudos anteriores tinham sido tendenciosos e inconclusivos.

“As pessoas me diziam na época: ‘Bob, você vai arruinar sua carreira, não faça isso’”, disse Spitzer. “Mas eu não me sentia vulnerável.”

Ele recrutou 200 homens e mulheres, dos centros que realizavam a terapia, incluindo o Exodus International, com sede na Flórida, e da Narth. Ele entrevistou cada um profundamente por telefone, perguntando sobre seus impulsos sexuais, sentimentos, comportamentos antes e depois da terapia, classificando as respostas em uma escala.

Spitzer então comparou os resultados de seu questionário, antes e depois da terapia. “A maioria dos participantes relatou mudança de uma orientação predominante ou exclusivamente homossexual antes da terapia, para uma orientação predominante ou exclusivamente heterossexual no ano passado”, concluiu seu estudo.

O estudo –apresentado em um encontro de psiquiatria em 2001, antes da publicação– tornou-se imediatamente uma sensação e grupos de ex-gays o apontaram como evidência sólida de seu caso. Afinal aquele era Spitzer, o homem que sozinho removeu a homossexualidade do manual de transtornos mentais. Ninguém poderia acusá-lo de tendencioso.

Mas líderes LGBTs o acusaram de traição e tinham suas razões.

O estudo apresentava problemas sérios. Ele se baseava no que as pessoas se lembravam de sentir anos antes –uma lembrança às vezes vaga. Ele incluía alguns defensores ex-gays, que eram politicamente ativos. E não testava uma terapia em particular; apenas metade dos participantes se tratou com terapeutas, enquanto outros trabalharam com conselheiros pastorais ou em grupos independentes de estudos da Bíblia.

Vários colegas tentaram impedir o estudo e pediram para que ele não o publicasse, disse Spitzer.

Mas altamente empenhado após todo o trabalho, ele recorreu a um amigo e ex-colaborador, o dr. Kenneth J. Zucker, psicólogo-chefe do Centro para Vício e Saúde Mental, em Toronto, e editor do “Archives of Sexual Behavior”, outra revista influente.

“Eu conhecia o Bob e a qualidade do seu trabalho, e concordei em publicá-lo”, disse Zucker em uma entrevista na semana passada.

O artigo não passou pelo habitual processo de revisão por pares, no qual especialistas anônimos avaliam o artigo antes da publicação.

“Mas eu lhe disse que o faria apenas se também publicasse os comentários de resposta de outros cientistas para acompanhar o estudo", disse Zucker.

Esses comentários, com poucas exceções, foram impiedosos. Um citou o Código de Nuremberg de ética para condenar o estudo não apenas como falho, mas também moralmente errado.

“Nós tememos as repercussões desse estudo, incluindo o aumento do sofrimento, do preconceito e da discriminação”, concluiu um grupo de 15 pesquisadores do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, do qual Spitzer era afiliado.

Spitzer não deixou implícito no estudo que ser homossexual era uma opção, ou que era possível para qualquer um que quisesse mudar fazê-lo com terapia. Mas isso não impediu grupos socialmente conservadores de citarem o estudo em apoio a esses pontos, segundo Wayne Besen, diretor executivo da Truth Wins Out, uma organização sem fins lucrativos que combate o preconceito contra LGBTs.

Em uma ocasião, um político da Finlândia apresentou o estudo no Parlamento para argumentar contra as uniões civis, segundo Drescher.

“Precisa ser dito que quando este estudo foi mal utilizado para fins políticos, para dizer que os gays deviam ser curados –como ocorreu muitas vezes. Bob respondia imediatamente, para corrigir as percepções equivocadas”, disse Drescher, que é gay.

Mas Spitzer não conseguiu controlar a forma como seu estudo era interpretado por cada um e não conseguiu apagar o maior erro científico de todos, claramente atacado em muitos dos comentários: simplesmente perguntar para as pessoas se elas mudaram não é evidência de mudança real. As pessoas mentem, para si mesmas e para os outros. Elas mudam continuamente suas histórias, para atender suas necessidades e humores.

Resumindo, segundo quase qualquer medição, o estudo fracassou no teste do rigor científico que o próprio Spitzer foi tão importante em exigir por muitos anos.

“Ao ler esses comentários, eu sabia que era um problema, um grande problema, e um que eu não podia responder”, disse Spitzer. “Como você sabe que alguém realmente mudou?”

Reconhecimento

Foram necessários 11 anos para ele reconhecer publicamente.

Inicialmente ele se agarrou à ideia de que o estudo era exploratório, uma tentativa de levar os cientistas a pensarem duas vezes antes de descartar uma terapia de cara. Então ele se refugiou na posição de que o estudo se concentrava menos na eficácia da terapia e mais em como as pessoas tratadas com ele descreviam mudanças na orientação sexual.

“Não é um pergunta muito interessante”, ele disse. “Mas por muito tempo eu pensei que talvez não tivesse que enfrentar o problema maior, sobre a medição da mudança.”

Após se aposentar em 2003, ele permaneceu ativo em muitas frentes, mas o estudo da terapia reparativa permaneceu um elemento importante das guerras culturais e um arrependimento pessoal que não o deixava em paz. Os sintomas de Parkinson pioraram no ano passado, o esgotando física e mentalmente, tornando ainda mais difícil para ele lutar contra as dores do remorso.

E, em um dia em março, Spitzer recebeu um visitante. Gabriel Arana, um jornalista da revista “The American Prospect”, entrevistou Spitzer sobre o estudo sobre terapia reparativa. Aquela não era uma entrevista qualquer; Arana se submeteu à terapia reparativa na adolescência e o terapeuta dele recrutou o jovem para o estudo de Spitzer (Arana não participou).

“Eu perguntei a ele sobre todos os seus críticos e ele disse: ‘Eu acho que eles estão certos’”, disse Arana, que escreveu sobre suas próprias experiências no mês passado. Arana disse que a terapia reparativa acabou adiando sua autoaceitação e lhe induziu a pensamentos de suicídio. “Mas na época que fui recrutado para o estudo de Spitzer, eu era considerado uma história de sucesso. Eu teria dito que estava fazendo progressos.”

Aquilo foi o que faltava. O estudo que na época parecia uma mera nota de rodapé em uma grande vida estava se transformando em um capítulo. E precisava de um final apropriado –uma forte correção, diretamente por seu autor, não por um jornalista ou colega.

Um esboço da carta já vazou online e foi divulgado.

“Você sabe, é o único arrependimento que tenho; o único profissional”, disse Spitzer sobre o estudo, perto do final de uma longa entrevista. “E eu acho que, na história da psiquiatria, eu não creio que tenha visto um cientista escrever uma carta dizendo que os dados estavam lá, mas foram interpretados erroneamente. Que tenha admitido isso e pedido desculpas aos seus leitores.”

Ele desviou o olhar e então voltou de novo, com seus olhos grandes cheios de emoção. “Isso é alguma coisa, você não acha?”

segunda-feira, 9 de abril de 2012

[Notícia] Chile aprova lei anti-homofobia. E o Brasil?

Por Marcelo Cia (diretamente de MIXBRASIL - http://mixbrasil.uol.com.br/blogs/cia/2012/04/05/chile-aprova-lei-anti-homofobia-e-o-brasil.html)


Bastou UM assassinato de homossexual para os deputados chilenos aprovarem lei que criminaliza a homofobia no país. No Brasil são mais de 200 por ano, e nada acontece. Por que? Vamos aos fatos.

Vizinhos

A Câmara dos Deputados do Chile aprovou nesta quarta-feira, dia 4 de abril, a maioria dos artigos de uma lei que pune a discriminação por orientação sexual ou religiosa. O texto é tipo o do PLC 122, que tramita no Brasil há quase uma década. A aprovação da lei pelos deputados chilenos foi uma resposta à morte, na semana passada, de um jovem homossexual atacado por neonazistas. Daniel Zamudio, de 24 anos, era o nome do moço. Ele morreu depois de agonizar por três semanas no hospital. O crime abalou o país todo, não só a comunidade gay.

O texto aprovado diz que "se entende por discriminação arbitrária toda distinção, exclusão ou restrição sem justificativa razoável efetuada por agentes do Estado ou particulares que cause privação, perturbação ou ameaça ao exercício legítimo dos direitos fundamentais" por "motivos de raça ou etnia, nacionalidade, situação socioeconômica, idioma, ideologia ou orientação política, religião ou credo, participação em organizações gremiais, sexo, orientação sexual, identidade de gênero, estado civil, idade, filiação, aparência pessoal e doença ou incapacidade".

E aqui?

Você lembra do moço assassinado durante a Parada gay de 2009 por neonazistas? Lembra do Edson Neris, também assassinado em São Paulo no ano de 2000 por neonazistas? Enquanto agressões como essas acontecem na Paulista e no Rio de Janeiro, tantos outros crimes subnotificados acontecem pelo Brasil e nenhum deles conseguiu sensibilizar os deputados nem a opinião pública a respeito dessa violência toda. O Brasil é, tradicionalmente, um país que pouco protesta. É um povo resignado. E isso inclui a população gay. Fazemos pouco, protestamos pouco. Adoramos uma festa mas detestamos política. Não conseguimos eleger políticos, ficamos calados quando vemos uma discriminação. O "antes ele do que eu" impera. Somos todos um pouco calados. Somos todos um pouco culpados. Até quando?


Nota de Espiritualidade Inclusiva


Para entender quem foi Daniel Zamudio e como foi brutalmente agredido, morrendo em consequência dos ferimentos, leia nossa postagem:

http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/03/noticia-luto-morreu-daniel-zamudio-o.html
Ao aprovar a lei anti-discriminação, o Chile deu um exemplo que o Brasil deveria dar há muito tempo. Contudo, aqui esbarramos em obstáculos muito mais sérios que os do Chile. E, não estamos falando da patrulha fundamentalista católico-protestante, não! Esta, existe em todo o mundo Ocidental! Estamos falando do grau de corrupção política, da filosofia do "toma-lá-dá-cá", da barganha, do desvio, do leilão de votos e de apoios para aprovações legislativas, atitudes estas, sim, as verdadeiras responsáveis pelo atraso e indas e vindas na aprovação do PLC 122. Não fosse a ganância de nossos políticos pelos desvios de milhões, muitos deles inclusive realizados por políticos da chamada bancada evangélica, cuja maioria enfrenta processos por corrupção, os direitos humanos da comunidade LGBT brasileira já estariam garantidos e não seriam objeto de uma discussão diabólica incitada por dementes como Silas Malafaia, Magno Malta e o bobo da côrte, Jair Bolsonaro!

Quantos "Zamudios" brasileiros teremos que ter para que algo semelhante ao que se fez no Chile em tempo recorde venha a ser aprovado por aqui? E, como diz Luiz Mott (e não nos cansamos de repetir), o homocausto continua, sem qualquer barreira ou atitude do Estado. A quem podemos recorrer, então? A Deus não mais podemos, porque os que se autodeclaram seus portavozes dizem que não nos é franqueado reclamar-Lhe direitos que são impedidos por versículos bíblicos... Só nos resta reclamar em instâncias internacionais, o que será uma vergonha para o Brasil, que será visto como uma Uganda latina, em escala menor (ou não!)...

quarta-feira, 28 de março de 2012

[Notícia] Luto: Morreu Daniel Zamudio, o gay chileno atacado por neonazistas

Por Espiritualidade Inclusiva
(Daniel Zamudio, o homossexual chileno vítima de neonazistas, faleceu ontem, dia 27 de março)

Fonte: http://www.diversidadecatolica.blogspot.com.br/2012/03/carta-aberta-daniel-zamudio.html

Um jovem homossexual chileno que foi agredido por um grupo de neonazistas em Santiago foi declarado com morte cerebral no último domingo pelos médicos que o atendiam desde o ataque, no início do mês. Os assassinos, já detidos pela polícia chilena, agrediram brutalmente o rapaz, tendo lhe arrancado parte de uma orelha, marcado seu corpo com símbolos neonazistas, apedrejado-o e quebrado uma de suas pernas.

[Atualização em 28/03/12: Daniel Zamudio faleceu ontem, às 19:45h, horário do Chile. (Informação do amigo @realfpalhano) Mais um mártir. Até quando?]

O jesuíta Marcos Cárdenas escreveu-lhe uma carta aberta, que recebemos ontem via Twitter dos queridos @realfpalhano e @wrighini e reproduzimos aqui, com tradução nossa.

Estimado Daniel:

Permito-me te escrever estas linhas mesmo não te conhecendo e ainda que possivelmente você não lerá esta carta. Faço-o porque não posso permanecer calado diante do mal perpetrado por esses recalcitrantes, ou, melhor dizendo, canalhas - que, incapazes de reconhecer a grandeza e mistério do ser humano, te massacraram a golpes tão-somente pela sua orientação sexual.

Provavelmente, você vai se perguntar por que um religioso está te escrevendo, sabendo que pertenço a uma instituição que, desde tempos idos, condena moralmente e exclui os homossexuais. Por desgraça, vivemos em uma sociedade homofóbica, que não respeita essa orientação. Te digo que sou contrário às posições desrespeitosas, de censura, inquisidoras, obscurantistas. Minha atitude face a essa tendência é de diálogo. Está claro para mim que alguns setores da Igreja ainda adotam uma posição intolerante, da qual não compartilho: mas esse já é outro tema.

Te escrevo com a intenção de te contar que essa agressão bestial, cruel e desapiedada não passará para a história como mais um ataque apenas, ou como uma noticia a mais das páginas policiais. Te prometo que lutaremos e combateremos para que essa prática nefasta seja extirpada da nossa sociedade. Há instituições que têm sido proféticas na denúncia e condenação de atos desse gênero; a MovilH e a Fundación =Iguales, entre outras. Para mím, essas instituições são presença de Deus, pois as lésbicas, gays, transexuais e bissexuais são filhos e filhas prediletos de Deus,  perseguidos, pisoteados e excluídos que têm sido ao longo da história.

Tenho certeza, Daniel, de que Deus te ama profundamente, ama a tua vida, a tua família e a tua condição homossexual. Você é, para nós, causa de orgulho e  admiração. Se nós, cristãos, acreditamos em um Deus que é e se  manifesta no amor, será que o amor entre pessoas do mesmo sexo, portanto, não seria uma concretização - nada mais, nada menos - do amor de Deus? Creia-me: se a utopia do amor se concretizar, espero que as trincheiras do ódio e da violência desapareçam.

Me despeço com um abraço grande e te incluo em minhas orações.

Até sempre, Daniel.

- Marcos Cárdenas, jesuíta. Estudante de Filosofia na UAH.
Fonte: Sentidos Comunes, com informações do Terra


Para entender o que aconteceu:

Neonazistas agridem e tentam desenhar suásticas em jovem gay

Fonte: http://www.sosnoticias.com.br/2012/03/neonazistas-agridem-e-tentam-desenhar-suasticas-em-jovem-gay/

Um jovem homossexual chileno está em coma induzido, sem risco de morte, após ser agredido por um grupo de neonazistas que, além disso, marcaram seu corpo e arrancaram parte de uma orelha, segundo denunciaram nesta terça-feira entidades de defesa das minorias sexuais.

Enquanto o governo chileno repudiou os fatos, organizações de minorias sexuais anunciaram que apresentarão queixas contra os responsáveis e os pais do jovem afirmaram que o filho já tinha sido vítima de outras agressões e ameaças. A vítima, Daniel Zamudio, 24 anos, está internada na emergência de um hospital de Santiago desde sábado passado, disse hoje aos jornalistas o diretor do centro médico, Emilio Villalón.

Zamudio chegou ao hospital “com lesões graves, um traumatismo craniano severo, hemorragia e uma fratura na perna direita”, explicou Villalón. Perguntado pelas marcas gravadas em seu corpo, o médico detalhou que são lesões superficiais no tórax, no abdômen e no dorso, e que podem ter sido feitas com algum objeto cortante.

Segundo denunciou o Movimento de Integração e Libertação Homossexual (Movilh), a entidade mais ativa na defesa das minorias sexuais no Chile, com essas marcas os neonazistas pretendiam desenhar suásticas sobre seu corpo. Enquanto isso, em Valparaíso, o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, se solidarizou com o jovem e com sua família e manifestou seu “repúdio absoluto à violência assassina”. Anunciou, além disso, que o governo tratará com urgência o projeto de lei contra a discriminação, cujo texto original foi enviado ao Congresso em 2005 e que foi aprovado no Senado em novembro do ano passado.
Quem também rejeitou a agressão foi o cantor porto-riquenho Ricky Martin. “Chega de ódio, chega de discriminação. Espero que se faça justiça já. Muita luz para Daniel e toda sua família”, escreveu o artista em seu Twitter. Segundo um relatório do Movilh, em 2011 foram registrados 186 casos de discriminação, 48 a mais que em 2010, que incluem o assassinato de três pessoas, 13 agressões físicas ou verbais perpetradas por civis e cinco casos de abusos policiais.

Por outra parte, a organização AcciónGay denunciou hoje em comunicado que nas últimas semanas aconteceram “arrastões” neonazistas contra transexuais e prostitutas nas cidades de Valparaíso e Viña del Mar, a 125 quilômetros de Santiago.

Fonte: terra.com



Nota de Espiritualidade Inclusiva:


Antes de tudo, externamos nossos profundos pêsames pela morte de Daniel Zamudio. Ele foi mais uma das muitas vítimas da homofobia violenta que ocorre em todo o planeta diariamente. Isso nos entristece, mas ao mesmo tempo nos mostra que a luta pela erradicação do preconceito deve aumentar na mesma medida das agressões e dos assassinatos dos LGBT em todos os cantos da Terra.

Enquanto o Ministro do Interior do Chile anunciou que o governo tratará com urgência o projeto de lei contra a discriminação, aqui no Brasil o nosso PLC 122 esbarra frente ao fundamentalismo evangélico/católico que acaba sendo co-responsável pelos assassinatos brutais diários de muitos gays, lésbicas, travestis e transexuais, crimes impunes em quem sempre a vítima acaba por ser considerada culpada e causa da agressão. Parece até que a coisa se esgota assim e fica tudo por isso mesmo. Não! Basta! Temos que colocar um fim nesta impunidade, pois estão matando nossos jovens simplesmente por eles serem como são. Não são bandidos, nem drogados, nem traficantes, nem psicopatas. São apenas jovens buscando a felicidade. Por outro lado, seus algozes e assassinos são pessoas desequilibradas, violentas, bandidos que deveriam estar atrás das grades, como os responsáveis pelo site incitador de ódio Sílvio Koerich, desbaratado há poucos dias pela Polícia Federal, mas ainda no ar.

O que estão esperando? Que a comunidade LGBT una-se em frentes de segurança armada para poder sair às ruas em grandes bandos e, só assim, se sentir segura, já que a polícia, o poder público e a justiça não fazem nada de concreto para coibir este "homocausto", como muito bem define Luiz Mott? As autoridades brasileiras, os políticos, os legisladores e o judiciário estão minimizando a gravidade da situação, e isso trará consequências sociais graves muito em breve, se nada for feito. O que não se pode admitir é que pessoas sejam atacadas, agredidas e mortas por serem quem são, sem terem cometido crime algum. Quando teremos a Constituição Federal sendo realmente cumprida e o Estado Brasileiro defendendo nossas vidas como defende os direitos dos próprios assassinos de gays? Exigimos segurança, cidadania plena e condições de vida! BASTA!

quinta-feira, 22 de março de 2012

[Notícia] A casa homofóbica caiu! Sílvio Koerich desmascarado!

Por Espiritualidade Inclusiva

(Uma das muitas barbaridades preconceituosas e de incitação à violência no site do fake Sílvio Koerich, agora identificado pela PF)

Quem abomina a homofobia, a incitação à violência contra gays, negros, mulheres e minorias ou já sofreu preconceito violento, já deve ter ouvido falar do “fake” Sílvio Koerich e de seu website homofóbico, racista, anti-semita, misógino e xenófobo, em suma, NAZISTA! Pois, ele e seu comparsa acabam de ser identificados, conforme notícias reproduzidas abaixo:




Polícia Federal prende incitadores de ódio na internet

Joyce Carvalho

Pregação da violência contra homossexuais, mulheres, negros, nordestinos e judeus, além da incitação para extermínio destes grupos, levaram dois homens para a prisão nesta quinta-feira (22). Emerson Eduardo Rodrigues e Marcelo Valle Silveira Mello foram presos em Curitiba pela Polícia Federal (PF) e são suspeitos de alimentarem um site na internet com estas informações.

Os dois colocaram ofensas contra a presidente da República, Dilma Rousseff e outras autoridades de alto escalão. Ameaçaram de morte publicamente o deputado federal Jean Wyllys (PSOL/RJ). Aém disto tudo, há postagens no site sobre como matar uma pessoa, sendo de maneira lenta ou rápida. Ou ainda como abordar crianças para um posterior abuso sexual. Havia também citações de que lésbicas deveriam sofrer um "estupro corretivo", de acordo com a PF, que deflagrou a Operação Intolerância, na qual os dois foram presos. Os policiais federais ainda cumpriram três mandados de busca e apreensão, sendo dois no Paraná e um em Brasília.

As investigações começaram em dezembro do ano passado, após mais de 70 mil denúncias crimes por parte da sociedade civil sobre o conteúdo ofensivo do site. "Eles não pregavam apenas a discriminação, que por si só já é grave. Eles também pregavam extermínios em massa de negros, homossexuais, mulheres. As imagens no site são bastante fortes. Há, inclusive um manual de aliciamento de crianças. Tudo causa uma repugnância social. Em dez anos de atuação, é um dos casos mais graves que eu vi", afirma o delegado da PF Flávio Cardinelle Oliveira Garcia, chefe do núcleo de repressão a crimes cibernéticos da PF no Paraná.

Segundo o delegado, há indicativos de que as ofensas também eram reais e não ficavam apenas no mundo virtual. Há boletins de ocorrência contra os dois presos por agressões e ameaças. Garcia explica que Marcelo Mello foi condenado por discriminação pela internet em 2005 e que este seria o primeiro caso de uma punição em virtude de ofensas virtuais no País. Marcelo também tem R$ 500 mil reais na conta corrente e a PF vai tentar descobrir a origem do dinheiro. Eram solicitadas doações no site ofensivo.

De acordo com o delegado Wagner Mesquita, também da PF no Paraná, foi localizado um mapa de uma casa de festas perto do campus da Universidade de Brasília, muito conhecida pelos estudantes da instituiçã. Há citações no site de que uma ação contra alunos da universidade seria planejada e colocada em prática, semelhante ao massacre em uma escola municipal em Realengo, no Rio de Janeiro, há quase um ano. O alvo seria estudantes de cursos de Ciências Sociais, considerados pelos dois como "esquerdistas". Marcelo Mello é ex-estudante da Universidade de Brasília, segundo a PF.

Os presos se diziam parte de uma seita que tentava captar pessoas com estes mesmos pensamentos. Há insinuações de que o assassino Wellington Menezes de Oliveira, o responsável pelo massacre em Realengo, teria feito contato com os dois para obter informações para o crime. Mas ainda não há confirmação se houve realmente a ligação entre os três.

O site ainda permanece no ar porque está hospedado na Malásia e o processo depende do governo do país asiático. "Eles acharam que desta forma não seriam identificados. Mais gente pode estar envolvida, inclusive colaborando para as mensagens", revela Garcia.




Desmascarada identidade do homofóbico Silvio Koerich

Um Outro Olhar (Miriam Martinho, editora)

Há tempos, a pedido de várias pessoas físicas (ativistas ou não), onde se inclui a editora do Um Outro Olhar, e organizações não-governamentais, como o CLAM (Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos), a ABGLT, a SaferNet, órgãos governamentais como a Secretaria de Políticas para Mulheres e a Secretaria de Direitos Humanos vinham tentando identificar e punir os autores do site Silvio Koerich por suas postagens criminosas contra mulheres, homossexuais, negros, etc.

(Um dos fake Koerich, agora identificado como Emerson)

Hoje, sob o título PF prende incitadores de Ódio na Internet, do site Paraná Online, lê-se matéria que informa sobre a identificação dos criminosos Emerson Eduardo Rodrigues (Sílvio Koerich) e Marcelo Valle Silveira Mello, moradores de Curitiba e Brasília, respectivamente, e a expedição de mandados de prisão preventiva contra eles pela Justiça Federal. Segue trecho e link para a matéria completa. Apesar da demora, algo a comemorar. Mais informações devem surgir em breve.

PF prende incitadores de Ódio na Internet

A PF em Curitiba realiza nesta quinta-feira (22), a fase ostensiva da sua "Operação Intolerância" - por meio da qual identificou os responsáveis pelas postagens criminosas encontradas no site silviokoerich . org - , para o cumprimento dos mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça Federal contra Emerson Eduardo Rodrigues e Marcelo Valle Silveira Mello, moradores de Curitiba e Brasília, respectivamente.

As investigações, conduzidas pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Cibernéticos, uma Unidade Especializada da PF, permitiram a cabal identificação dos criminosos, que há meses vinham postando mensagens de apologia de crimes graves e da violência, sobretudo contra mulheres, negros, homossexuais, nordestinos e judeus, além da incitação do abuso sexual de menores.

Esta Unidade Especializada, que integra a Delegacia de Defesa Institucional da PF, recebera inúmeras denúncias relacionadas ao conteúdo discriminatório do referido site, bem como outras denúncias, de mesmo teor, foram dirigidas ao Ministério Público Federal e à ONG SaferNet, onde se registraram 69.729 (até 14.04.12) pedidos de providências a respeito do conteúdo criminoso do site investigado, um número recorde da participação de populares no controle do conteúdo da internet brasileira.

(Sílvio Koerich)
Também, nesta manhã, a PF dará cumprimento aos mandados de busca e apreensão expedidos pela JF, para examinar residências e locais de trabalho dos criminosos em busca de elementos materiais da responsabilidade criminal, já amplamente demonstrada ao longo da investigação e que, preliminarmente, permitiu identificar o cometimento dos crimes de incitação/indução à discriminação ou preconceito de raça, por meio de recursos de comunicação social (Lei 7716/89); incitação à prática de crime (art. 286 do Código Penal) e publicação de fotografia com cena pornográfica envolvendo criança ou adolescente (Lei 8069/90-ECA).

Consta da decisão judicial que decretou a prisão preventiva dos criminosos que "Elementos concretos colhidos na investigação demonstram que a manutenção dos investigados em liberdade é atentatória à ordem pública. A conduta atribuída aos investigados é grave, na medida em que estimula o ódio à minorias e à violência a grupos minoritários, através de meios de comunicação facilmente acessíveis a toda a comunidade. Ressalto que o conteúdo das ideias difundidas no site é extremamente violento. Não se trata de manifestação de desapreço ou de desprezo a determinadas categorias de pessoas (o que já não seria aceitável), mas de pregar a tortura e o extermínio de tais grupos, de forma cruel, o que se afigura absolutamente inaceitável."

Dentre os conteúdos publicados pelos criminosos e localizados pela PF, havia referência ao apoio prestado pelos criminosos ao atirador Wellington, que em 2011 atacou a tiros uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, matando diversas crianças, bem como à suposta incapacidade da Polícia Federal em o localizar e deter.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

[Notícia] “Curando” gays ou quando o ódio se traveste de amor ao próximo

Por Paulo Stekel


A cada dia surpreendo-me mais com a capacidade dos fundamentalistas evangélicos brasileiros de darem-se ao ridículo. Dão tiros em seus próprios pés o tempo todo. Agora, um projeto de decreto legislativo proposto pelo deputado João Campos (PSDB-GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica, quer sustar dois artigos instituídos em 1999 pelo Conselho de Psicologia que proíbem emitir opiniões públicas pessoais ou tratar a homossexualidade como sendo um transtorno ou uma doença.

Segundo João Campos, desconhecendo (por ignorância) ou desconsiderando (por má intenção evidente) o caráter laico da Psicologia em si e do Conselho de Psicologia como órgão regulador, este teria extrapolado seu poder regulamentar ao "restringir o trabalho dos profissionais e o direito da pessoa de receber orientação profissional". Ora, o que pretendem estes fanáticos? Contaminar com comportamentos religiosos fundamentalistas todos os setores da sociedade de natureza laica? Estão dando tiros para todos os lados, sem perceber que assim, incitam ainda mais o preconceito e a violência contra a comunidade LGBT! É isso o que a religião deles prega? Onde está o tão alardeado amor ao próximo como a si mesmo? Balela hipócrita, como se tem demonstrado facilmente ao analisar as denúncias de corrupção envolvendo vários membros da bancada evangélica...

Este projeto é totalmente inconstitucional, não pode passar e não passará, sob pena do Estado Laico ir parar na boca do lixo e o Brasil virar motivo de chacota e até de sanções por parte dos organismos internacionais de Direitos Humanos! Uma lei como esta jamais poderia interferir na autonomia do Conselho de Psicologia, que baixou as normas em vigência junto aos psicóloga para combater uma intolerância histórica que causou muito mal a gays e lésbicas por décadas. Aprovar uma lei descabida como essa seria regredir no tempo e colocar a comunidade LGBT novamente no rol de um grupo doente, transtornado e pervertido, o que já é repudiado oficialmente por todos os países civilizados do mundo que não são dominados por ditaduras religiosas!

(Dep. João Campos - PSDB/GO. Aviso: qualquer semelhança da foto de João Campos com a saudação nazista é mera coincidência, embora sua proposta legislativa tenha um viés nazistoide...)

Se os divãs estão cheios de gays, não é porque estes queiram “deixar de sê-lo”, mas porque precisam enfrentar seus medos causados pelo preconceito violento que sofrem em suas próprias famílias, na escola, nas igrejas e no mercado de trabalho.

Eu mesmo já passei por algumas situações de difícil decisão, em que assumir-me poderia colocar a perder uma boa oportunidade de trabalho. Contudo, esconder-me traria outra angústia, a de ter que lembrar a cada vez quais mentiras tinham sido criadas na vez anterior para ocultar minha orientação sexual. Minha impaciência com a mentira e com o inventar histórias críveis acabou e nunca mais o fiz. Mas, sei que muitos jovens ainda usam este artifício como forma de sobrevivência. Não se pode julgá-los, mas se tem a obrigação de ajudá-los a enfrentar os leões hipócritas da moralidade.

O relator do projeto de João Campos é o pastor e deputado Roberto de Lucena (PV-SP). Ele acha que uma pessoa não pode ser deixada em conflito, sem uma ajuda psicológica. Até aí, tudo bem. Mas, propor o que ele mesmo chama de “redirecionamento sexual” é a opinião mais nazistoide e perigosa que já vi, um atentado à saúde psicológica da diversidade LGBT.

Desde que a “psicóloga cristã” (?) Marisa Lobo foi instada pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná tempos atrás a retirar da Internet material vinculando psicologia e religião, percebi que a coisa ia ficar feia e que logo algum deputado tentaria inverter as coisas. O método de Marisa Lobo para alcançar os LGBT era seguir o exemplo de Cristo, ou trocando em miúdos, descer a lenha na orientação sexual da pessoal com palavras de “tolerância e amor”. Na verdade, um método aparentemente “limpo” de destilar o ódio contra seres humanos por conta de uma orientação que estes fanáticos não só não conseguem explicar como não conseguem extirpar da face da Terra!

Até agora, o único deputado que teve a coragem de enfrentar abertamente este descalabro do fundamentalista João Campos foi Jean Wyllys (PSOL-RJ), que escreveu em seu website o texto abaixo reproduzido:

Deputado Jean Wyllys se posiciona contra projeto da bancada evangélica que busca legalizar a “cura gay”

A intolerância dos fundamentalistas da bancada evangélica se mostra cada vez mais ameaçadora e passível de qualquer manobra para desviar a atenção da sociedade, com novas cortinas de fumaças, dos escândalos que envolvem alguns dos seus integrantes. Desta vez é o Projeto de Decreto de Lei (PDL) do deputado João Campos (PSDB/GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica, que busca sustar a aplicação do parágrafo único do Art. 3º e o Art. 4º, da Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 1/99 de 23 de Março de 1999, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual. A resolução do CFP que o deputado Campos quer derrubar por lei proíbe as mal chamadas “terapias” que prometem mudar a orientação sexual das pessoas, transformando magicamente gays em heterossexuais, como se isso fosse possível — aliás, como se isso fosse necessário.

Não bastasse a inconstitucionalidade do projeto, que contraria os princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988 (art. 1º, proteção da dignidade da pessoa humana; art. 3º promoção do bem de todos sem discriminação ou preconceito; art. 196º, direito à saúde, entre outros), a proposta vai contra todos os tratados internacionais de Direitos Humanos, que também têm como objetivo fundamental o direito à saúde, a não discriminação e a dignidade da pessoa humana, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, entre outros.

Com essa proposta, o deputado, por convicções puramente religiosas, se considera no direito não só de ir contra os direitos humanos de milhões de cidadãos e cidadãs brasileiras, mas também de desconstruir um ponto pacífico entre toda uma comunidade científica: nem a homossexualidade, nem a heterossexualidade, e nem a bissexualidade são doenças, e sim uma forma natural de desenvolvimento sexual. Nenhuma é melhor ou pior ou mais ou menos saudável do que as outras. São simplesmente diferentes e não há nenhuma dissidência quanto à isso. O argumento de que a homossexualidade pode ser “curada” é tão absurdo como seria dizer que a heterossexualidade pode ser “curada” e é usado sem qualquer tipo de embasamento teórico ou científico e sempre por fanáticos religiosos que tem com o objetivo confundir a população com suas charlatanices.

O PDL do deputado – o mesmo da PEC n° 99 de 2011, ou a “PEC da Teocracia” que pretende que as “associações religiosas” possam “propor ação de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos, perante a Constituição Federal” – é, no mínimo, criminoso, e vai também contra os direitos à saúde da população, pois sabemos que essas supostas terapias de “cura gay” nada mais são do que mecanismos de tortura que produzem efeitos psíquicos e físicos altamente danosos, que vão da destruição da auto-estima de um ser humano, até o suicídio de muitos jovens – como ocorreu recentemente nos Estados Unidos, onde mais um adolescente gay, de 14 anos, tirou sua própria vida apos ter sofrido assedio homofóbico na escola.

A tragédia ocorreu no Tennessee, estado dos EUA cujo Senado votava, há um ano, um projeto de lei que proibia professores de mencionar a homossexualidade em sala de aula e logo após outro adolescente gay do Tennessee, Jacob Rogers, tirar sua própria vida. Alguns dias antes, mais dois jovens norte-americanos também se suicidaram, depois de anos de sofrimento: Jeffrey Fehr, 18, e Eric James Borges, de 19 (este último cresceu em uma família fundamentalista cristã que inclusive tentou exorcizá-lo).

Essas supostas terapias, repudiadas unanimemente pela comunidade científica internacional, constituem um grave perigo para a saúde pública. Adolescentes e jovens são obrigados, muitas vezes pela própria família, a tentar mudar o que não pode ser mudado, são pressionados para isso por estes grupos que promovem as mal chamadas “terapias de reversão da homossexualidade” e acabam com graves transtornos psíquicos ou se suicidam. Os responsáveis desses crimes deveriam ser punidos, mas o deputado Campos propõe um amparo legal para que, além de fugir da responsabilidade penal pelos seus atos, possam dizer que a lei os protege e que suas atividades criminosas são lícitas.

Nos EUA, um dos mais conhecidos grupos que dizem “curar” a homossexualidade é Exodus. Mas os “ex gays” de Exodus, mais tarde ou mais cedo, acabam sendo “ex ex gays”, porque a orientação sexual não pode ser mudada ou escolhida a vontade (sobre isso também há absoluto consenso na comunidade científica). Vários ex líderes do grupo pediram publicamente perdão por seus crimes alguns anos atrás: “Peço desculpas a aqueles que acreditaram na minha mensagem. Tenho ouvido nos últimos tempos numerosas histórias de abuso e suicídio de homens e mulheres que não puderam mudar sua orientação sexual, apesar do que Exodus e outros ministérios lhes disseram. Uma participante que conheci caiu numa profunda depressão e preferiu saltar de uma ponte. Naquele momento, disseram-me que não era minha culpa, mas meu coração não acreditou”, declarou numa coletiva de imprensa Darlene Bogle, ex liderança da seita, junto a outros colegas que se arrependeram com ela.

Há uma preocupante confusão na sociedade, incitada por esse fundamentalismo religioso, que precisa ser esclarecida antes que a saúde física e psíquica de mais jovens seja afetada: ao contrario da religião, a orientação sexual de um indivíduo não é uma opção. Se o Estado é laico – como o é o brasileiro desde 1890 – questões de cunho moral e místico não podem ser parâmetro nem para a elaboração das normas nem para o seu controle. Valores espirituais não podem ser impostos normativamente ao conjunto da população.


Jean Wyllys

Deputado Federal

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

[Internacional] Para o gay muçulmano, o armário possui sete chaves

Por Miguel Ángel Medina (Traduzido por Espiritualidade Inclusiva do jornal espanhol El País cfe. http://sociedad.elpais.com/sociedad/2012/02/27/actualidad/1330310577_794728.html)

(Um casal homossexual em uma cidade do Marrocos / I. C. )

A homossexualidade continua sendo tabu no mundo islâmico
Muitos se rebelam, em especial na Europa


A homossexualidade é um tema tabu na maioria dos países de tradição islâmica: os vizinhos Argélia ou Marrocos, por exemplo, tipificam como delito os “atos homossexuais” e os cinco Estados que condenam os gays à morte são muçulmanos. Na Espanha, onde a maior parte desta comunidade está formada por imigrantes de primeira ou segunda geração, estes preconceitos continuam existindo e, em muitos casos, levam estas pessoas a negar sua identidade sexual ou ocultá-la de suas famílias. Mas, as vozes que reivindicam a compatibilidade entre o Alcorão e a realidade homossexual também começam a se fazer ouvir.

“Quando sabemos que alguém é gay o rejeitamos e paramos de falar com ele”, admite o marroquino Achraf el Hadri, de 27 anos e residente em Madri. A presidenta da União de Mulheres Muçulmanas da Espanha (UMME), Laure Rodríguez, vai mais além: “Existe uma lesbofobia e uma homofobia generalizada dentro das comunidades muçulmanas em nosso país”. “As escolas de jurisprudência islâmica sempre consideram a sodomia como algo proibido”, confirma Abdennur Prado, presidente da Junta Islâmica Catalã (JIC).

Neste contexto, os muçulmanos que planejam o que popularmente se chama sair do armário muitas vezes enfrentam um processo muito complexo. Como explica Manuel Ródenas, coautor do “Estudo sociológico e jurídico sobre homossexualidade e mundo islâmico” (Cogam, 2007): “A característica fundamental dos homossexuais muçulmanos é que vivem em dois mundos muito diferentes: por um lado, suas famílias, que não sabem de nada, e, por outro, com os amigos. São redes que jamais se tocam nem se misturam”. Lola Martín, coautora do estudo, considera que estas pessoas vivem em um “armário duplo” e destaca que alguns deles, inclusive, tratam de ocultar que procedem de países árabes.

A presidenta da UMME está realizando um estudo entre mulheres muçulmanas que vivem na Espanha, com as quais tem contato através das redes sociais. “O ponto em comum de todas as lésbicas que entrevistei é um processo longo, traumático e doloroso para decidirem-se entre sua religiosidade, sua sexualidade ou tentar viver de forma equilibrada”, conta Rodríguez, que já falou com umas 20 delas.

Esta trabalhadora social de 36 anos critica que em vários casos, quando alguma destas mulheres se atreveu a dar o passo e solicitar informação em qualquer associação LGBT, “a primeira mensagem que recebeu dizia que, para ser liberada, teria que abandonar sua crença”. Desde o Coletivo de Lésbicas, Gays, Transsexuais e Bissexuais de Madri (COGAM), negam que suas organizações ajam assim: “Acreditamos na liberdade do indivíduo”, respondem, “e não fazemos diferenciação por causa de religião”.

Shiraz (nome fictício) ilustra como este ambiente pode afetar uma mulher procedente de um país árabe, seja muçulmana ou não. No seu caso, chegou à Espanha há 17 anos e, naquele momento, não se considerava uma pessoa homossexual. “Desde jovem eu gostava de mulheres, mas ao viver na Tunísia, onde não tinha referências, não sabia o que me acontecia e tinha muitas dúvidas”, confessa. “No meu país gostava muito de uma professora, mas eu atribuía isso à admiração”, continua, “e até que emigrei, na verdade, não comecei a assimilar”.

Esta mulher, na casa dos 50 anos, tem o prazer de ter experimentado o processo de assumir sua lesbianidade na Espanha. “Na Tunísia teria padecido um calvário ou teria escondido”, assinala. Na verdade, ninguém de sua família —que vive naquele país— sabe nada sobre sua condição sexual, apesar de serem “muito abertos” para os padrões daquele lugar. “Ali, muitos homossexuais têm uma vida dupla, e alguns até chegam a contrair um matrimônio tradicional para escondê-la”. A tunisiana comenta que nunca se considerou uma pessoa religiosa. “Mas, a educação que lhe dão desde criança influi, e há coisas que lhe escapam mesmo sem se dar conta”, admite.

Ajudaria a mudar esta situação uma organização LGBT especificamente muçulmana? Na França, onde há imigrantes de terceira e quarta geração, a associação Homossexuais Muçulmanos da França (HM2F) tem lutado desde 2010 pelos direitos deste grupo. “Não temos que deixar de ser muçulmanos por sermos homossexuais”, explica seu fundador, Ludovic L. Mohamed Zahed, de 34 anos. Sua ação é centrada em trabalhar por um islã inclusivo no qual esta comunidade tenha lugar e em demonstrar que excluir da sociedade as mulheres ou os gays “não é islâmico”. Demonstram isso através do Alcorão, o livro sagrado do islã, e dos Hadith, a tradição oral sobre a vida do Profeta.

Para debater sobre estes assuntos, Zahed organizou um congresso europeu, chamado Calem, que celebrou sua segunda edição reunindo 250 pessoas em dezembro passado em Bruxelas (Bélgica), e cujas conclusões tem apresentado em conferências em Paris, Lisboa e Madri. O fundador da HM2F já prepara o terceiro Calem, que pretende levar também à Itália, Suíça e Luxemburgo.

Mas, na Espanha não existe una organização similar, segundo confirma a Federação Estatal de Lésbicas, Gays, Transsexuais e Bissexuais (Felglt). “Há alguns muçulmanos em associações LGBT e outros vinculados às organizações muçulmanas mais abertas”, conforme nota da Federação. O mais parecido é o grupo KifKif (“como iguais”, em árabe), que trabalha pelos direitos dos gays no Marrocos, mas também pelos dos que cruzam o Estreito [de Gibraltar]. “Nosso âmbito de atuação é fundamentalmente o país vizinho, mas tivemos que nos registrar como associação na Espanha porque lá a homossexualidade é considerada como delito”, explica Samir Bargachi.

A história deste marroquino de 24 anos é tão complexa quanto a de outros imigrantes que decidiram sair do armário ao emigrar: confessar sua condição sexual supõe que parte de sua família e muitos de seus amigos tenham deixado de lhe falar.

No entanto, Bargachi, que vive na Espanha há 12 anos, não se conformou que as coisas sejam sempre assim. Por isso, iniciou uma associação para defender os direitos dos homossexuais árabes. “Nosso trabalho na KifKif está focado principalmente na comunidade do magrebe e de outros países árabes, mas não nos consideramos uma associação muçulmana, mas leiga”, afirma Bargachi. “Na Espanha, temos um grupo de apoio da comunidade marroquina formado por umas 10 pessoas, mas nosso trabalho está centrado no Marrocos”.

Em sua opinião, “a comunidade muçulmana na Espanha ainda é homofóbica”, porque está formada, na sua maior parte, por imigrantes de primeira ou segunda geração. “Meus pais, por exemplo, não estão totalmente integrados, apesar de já viverem aqui há muito tempo”, acrescenta. Com seu trabalho, o marroquino pretende sensibilizar este grupo, assim como abrir o debate sobre a homossexualidade no Marrocos. Lá, este jovem criou a revista Mithly, a primeira que fala destes temas naquele país, e em língua árabe. Foram editados quatro números impressos e, atualmente, continuam sendo publicados na Internet.

As vozes contra a homofobia surgem de dentro do próprio islã espanhol. “Não há qualquer base que justifique a perseguição dos homossexuais no Alcorão”, afirma, taxativo, Abdennur Prado, que dedicou a este tema um capítulo de seu livro “O Islã antes do Islã” (Oozebap, 2008). Para Prado, aqueles que afirmam que a homossexualidade está proibida por esta tradição estão equivocados: “O hadith a que se referem fala dos seguidores de Ló, o mesmo episódio que na Bíblia concentra-se em Sodoma e Gomorra. Mas, lendo com atenção, se comprova que não fala de relações homossexuais, mas da violação de estrangeiros e do desrespeito à leis da hospitalidade”, afirma Prado, de 44 anos.

O presidente da Junta Islâmica Catalã, que participou do congresso em Bruxelas, defende que, segundo a tradição oral sobre a vida do profeta, nos tempos de Maomé existiam homossexuais, que se chamavam muhandazun e a quem o enviado de Alá sempre defendeu. Prado destaca, além disso, que, no mundo islâmico, há muitos exemplos de poesia e literatura homoerótica, isto é, erótica e de temática homossexual, uma tradição que decaiu com a chegada do colonialismo europeu aos países árabes.

O desafio, agora, é que o debate seja ampliado. E, parece que os primeiros passos poderiam ser dados em breve. “No futuro, sou favorável a que haja um debate sobre a homossexualidade nas comunidades muçulmanas da Espanha”, comenta Mohamed Hamed Alí, presidente da Federação Espanhola de Entidades Religiosas Islâmicas, que agrupa mais de 100 associações em toda a Espanha. “É uma questão que está aí e ninguém pode negar, ainda que possamos não estar de acordo em algo, mas sempre dentro dos parâmetros da democracia e da Constituição espanhola”, confirma Alí, de 58 anos. Prado ressalta: “O Alcorão diz que Deus está sempre com os perseguidos, e tenho claríssimo que é assim, que os crimes que estão sendo cometidos contra os homossexuais e as lésbicas são aberrantes. É para mim um dever religioso como muçulmano lutar contra essa injustiça”.

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“Parte de minha família deixou de falar comigo ao dizer-lhes que sou gay”

O marroquino Samir Bargachi (Nador, 1987), que vive na Espanha há 12 anos, fundou a associação Kifkif para defender os direitos dos gays no Marrocos.

Pergunta. Como você assumiu que era homossexual?

Resposta. O processo para assumir minha homossexualidade foi muito complicado, porque venho de um espaço cultural, Marrocos, onde a sexualidade não é tratada em público. Quando me dei conta do que sentia estava totalmente desinformado, não sabia o que me acontecia e nem sequer punha um nome ao que me passava. Meu caminho para chegar a esta conclusão se iniciou no meu país natal e continuou depois na Espanha, onde fui morar com minha família em 2000. E, na verdade, não pude contá-lo até que saí de casa. Mais adiante, quando passei a viver fora da casa de meus pais, então pude agir com mais liberdade.

P. Perdeu amigos por dizer que é gay?

R. Confessar minha condição sexual me custou muitas amizades e uma parte de minha família deixou de falar comigo.

P. Qual foi a reação de sua família naquele momento?

R. A princípio, decidi não contar a meus familiares, porque a maioria deles são conservadores e religiosos. Na verdade, temia mesmo que me expulsassem de casa se o confessasse; isto é, tinha alguns medo concretos e reais. Quando minha família soube, minha mãe entendeu, mais ou menos, e continuo tendo uma boa relação com ela e com minhas irmãs. Já meu pai, pelo contrário, foi muito afetado e perdi o contato com ele.

P. Conhece casos similares?

R. Sim, este padrão se repete com outros amigos árabes e muçulmanos, a quem ocorreu o mesmo; isto é, suas mães entendem, seus irmãos homens, menos, e seu pai, nada.

P. A comunidade muçulmana na Espanha é homofóbica?

R. Totalmente. Na Espanha, a imigração muçulmana ainda é uma imigração recente, de primeira ou, quando muito, de segunda geração, e por isso seu código cultural vem destes países. É muito diferente do caso da França ou Reino Unido, onde já vão para uma terceira ou quarta geração e, portanto, há muito mais integração que aqui.

P. Está proibida a homossexualidade no islã?

R. Eu não tenho a mesma opinião que os sábios muçulmanos que dizem isto, e tenho amigos que são religiosos e pensam como eu. No Alcorão unicamente se fala da história de Ló, e está claro que não se refere à homossexualidade, mas a violações, vexações… algo muito diferente.

P. Você se considera muçulmano?

R. Sou uma pessoa muçulmana culturalmente, isto é, que essa é a cultura na qual me eduquei. Entretanto, não me considero religioso.

P. Você já teve uma rede dupla de amigos?

R. Agora, a maioria de meus amigos são espanhóis que conheci no colégio, mas efetivamente, até pouco, tinha dois grupos de amigos: por um lado, os espanhóis, a quem contei de minha homossexualidade e, por outro, os de tradição muçulmana com que se relacionava minha família (amigos de meus irmãos, vizinhos…) que não sabiam de nada. Com eles era muito difícil encaixar todas as facetas de minha vida: imigrante, muçulmano e homossexual.