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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Como posso ser acusado de heterofóbico?

Por Walter Silva

[Um dos memes que rolam pela Internet ridicularizando a obviedade da falácia da "heterofobia"]


Um sujeito me acusou de ser heterofóbico uma ocasião, porque compartilhou comigo uma postagem homofóbica e eu reclamei. Uma tática pra lá de manjada usada pelos reacionários: tentar usar meu discurso contra mim mesmo - nenhuma novidade.

Ele, por outro lado, me garantiu que não era homofóbico; segundo ele, tinha ''amigos'' gays e sempre foi ''tranquilo'' em relação a eles. Outra falácia reacionária: ter ''amigos gays'' por alguma razão misteriosa se torna salvo conduto para se evitar o rótulo de homofóbico.

Ora essa, homofobia e heterofobia não é sobre com quem você se relaciona. Fosse simples assim, nenhum homem heterossexual seria machista, considerando que todos eles se relacionam com mulheres. Homofobia e heterofobia é sobre como você se comporta, como você vê o mundo, e como você se sente em relação a outros.

Eu não tenho NENHUMA aversão/medo/ódio por heterossexuais.

Eu não recuso filmes, livros, novelas e canções que descrevem o amor do sexo oposto. Eu me divirto com as aventuras amorosas de personagens heterossexuais na dramaturgia, mesmo quando os gays são completamente ausentes da trama e apagados ou invisibilizados. Eu e muitos outros gays somos fascinados pela obra de Tolkien, embora não haja um único homossexual na trama (bem, eu secretamente desconfio do Frodo, rs).

Eu ainda sinto muito tesão com filmes eróticos criados para heterossexuais.

Eu não sou ressentido da minha família heterossexual, apesar da homofobia cultural ter estado presente na minha educação familiar.

Eu nunca me envolvi em nenhum ativismo anti-heterossexual, no intuito de retirar os direitos civis dessas pessoas.

Não acho que o mundo seja gay, que todos são gays, que todos vão se tornar gays. Se gays pudessem se reproduzir, eu não discriminaria a adoção dos filhos de heterossexuais.

Por que eu falo o tempo todo sobre gays?

Suponha que uma mãe tenha dois filhos, e ame eles por igual; entretanto, suponha que um deles é atacado de forma estúpida e violenta numa briga e termine muito ferido. Naturalmente, a atenção desta mãe irá se concentrar mais sobre o filho ferido, e seus cuidados se redobrarão com ele. Mas, isso não significa desamor pelo outro filho.

Similarmente, por este motivo é que eu falo e me concentro mais na identidade gay. Porque ela foi ferida, escamoteada, silenciada, afogada...

Meus cuidados, atenção e interesse sobre a identidade gay não representam manifestação de desprezo para com a heterossexualidade.


Sobre o autor



Walter Silva é ativista LGBT  e mora em mora em Belém (Paraíba).

terça-feira, 7 de maio de 2013

“Ama o teu próximo como a ti mesmo”: a alteridade e os desafios para o século XXI


Por Luciano Freitas Filho


Desde o começo do mundo que o homem sonha com a paz. Ela está dentro dele mesmo. Ele tem a paz e não sabe. É só fechar os olhos e olhar pra dentro de si mesmo.
Todos estão surdos, Roberto Carlos.


Sejamos cristãos ou não, amar o próximo como a nós mesmos é o maior desafio que os sujeitos do século XXI podem promover a eles mesmos e ao mundo ao redor. A palavra-chave para a qualidade de vida e melhoria das relações humanas nos tempos atuais não é a tecnologia, nem o desenvolvimento econômico, mas sim a alteridade. Novas tecnologias e desenvolvimento econômico são essenciais, contudo são objetos, eles não são os sujeitos e nem os únicos meios para o bem-estar e a qualidade de vida. Não confundamos sujeitos com objetos.

Atualmente, no Brasil, estamos lidando com situações que para quem vê de fora acredita que o tão anunciado “fim dos tempos” já chegou. Para nós, que estamos do lado de dentro, há certa entorpecência, uma banalização de fatos que nos fazem dar passos largos para trás na história.

O que está acontecendo com o país quando as ideologias fundamentalistas religiosas impõem aos homossexuais e sua homossexualidade o véu de doença, patologia, ofertando “fraternalmente” a cura?   Ou quando os mesmos, através de suas bancadas parlamentares, fomentam e defendem a internação compulsória de usuários de Crack e outras drogas?

Afirmar-se fraterno, amar o próximo como Jesus ensinou, não implica amar o outro como queremos que ele seja ao nosso bel prazer ou ideologia. Amar o outro significa amá-lo como ele/ela é, na sua essência, sem apontar para sua sexualidade o cunho de sujeira ou doença. Amar o outro impondo a ele/ela o modo para ser um sujeito amado e/ou amável, é egoísmo, é violento e, sobretudo, não é amar.
         
Quando se evangeliza em nome do Sagrado para ofender e discriminar o outro, implica na interpretação avessa do que a Palavra significa(ou). Outro aspecto que salientamos é o fato de que, quando nos utilizamos da condição de parlamentares eleitos para discriminar uma parcela da população, ferimos a Constituição que rege o país. Existem tantas temáticas emergenciais a serem discutidas e sanadas pelos parlamentares, tais como violência urbana, fome, miséria e pobreza, exploração infantil e etc., por que, então, não há um coro “Gospel” para esses assuntos nos palanques legislativos?  Qual o objetivo de centrar atenção na discussão do que os LGBT fazem ou deixam de fazer com os seus corpos?

O que falta para muitos é o exercício da alteridade. O princípio da alteridade é ser fraterno reconhecendo em si o outro e a sua diferença, respeitando-a. Eis na alteridade a chave para um equilíbrio e harmonia entre as pessoas, uma qualidade de vida global. Uma prática real de amor com/para Cristo.


Sobre o autor


Luciano Freitas Filho é Secretário Nacional LGBT do PSB.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Nota da ANNEB – Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil contra o fundamentalismo religioso


Postado por Prª. Wall e Pr. Will em 14 abril 2013 às 17:30 (postado originalmente em http://negrosnegrascristaos.ning.com/profiles/blogs/anneb-ltimos-acontecimentos-em-torno-da-elei-o-da-presid-ncia-da e reproduzido aqui pela relevância) 



NOTA PÚBLICA Nº 01 - 2013 

Tema: Últimos acontecimentos em torno da eleição da Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal

Assunto: Pronunciamento


Nós, da ANNEB – Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil vimos reafirmar o nosso compromisso com as Sagradas Escrituras (AT e NT), cujos valores inspiram a nossa luta contra toda e qualquer forma de discriminação à dignidade humana. O próprio Senhor Jesus Cristo, em seu evangelho, nos constrange a buscar entre todas as pessoas e de forma integral (Corpo, Alma e Espírito) uma vivência marcada pelo amor, pela justiça e pela paz, como testemunho autêntico de fé e compromisso com o seu Reino, principalmente com aquelas e aqueles que são consideradas e considerados mais vulneráveis em nossa sociedade.

Afinal, como bem diz o evangelho de Lucas 9.56 “O Filho do homem não veio para destruir as almas das pessoas, mas, para salvá-las”. Consequentemente, Jesus Cristo, por não fazer acepção de pessoas, convida a todos à vida plena, ao continuar dizendo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mt.11.28).

Isto posto, é nesse espírito de paz, justiça e amor que, de forma firme e irrevogável, nós, afiliadas e afiliados da ANNEB, repudiamos veementemente os pronunciamentos injuriosos contra as mulheres, os afrodescendentes e os homossexuais, proferidos pelo atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Justificativa:

Nós, brasileiras e brasileiros, formamos um povo plural do ponto de vista étnico-racial. A diversidade assim compreendida é pauta atual e imprescindível nas relações sociais, institucionais e religiosas. Ao mesmo tempo é tão antiga como a imagem do corpo utilizada por Paulo (I Cor. 12.12), a qual evidencia a importância das diferenças das partes e a igualdade de valor de todas para o bom funcionamento do corpo, mesmo diante de classificações preconceituosas como: esta parte é melhor ou mais nobre que outras.
Embora afirmemos o ensino bíblico de que Deus criou a mulher e o homem e que esta é a sexualidade reconhecida pelas Igrejas Evangélicas, respeitamos o direito de escolha das pessoas homoafetivas, visto que vivemos numa sociedade democrática. Todavia, entendemos serem também inalienáveis os direitos iguais aos evangélicos no que tange à opção pela heterossexualidade.

Com efeito, o impasse que ora se estabelece na sociedade exige de todos nós, serenidade, maturidade e, sobretudo, responsabilidade em nossos discursos. Por isso, lamentamos a falta de preparo científico e amor fraterno do atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, ao se pronunciar sobre temas, que no mínimo, nos convida a uma reflexão mais criteriosa.

A propósito, segundo Freitas, Arantes e Perilo (2010), essa possível virada icônica; hetero-homo; deve ser vista tanto no sentido da sexualidade-afetiva, quanto numa perspectiva política. De certa forma, a homossexualidade é também uma proposta de reorganização social, implicando em remanejo do capital econômico. Nesse sentido, o movimento homossexual deixa de ser visto como uma mera reação ao moralismo e passa a ser uma resposta à repressão e à exploração perpetrada por um sistema econômico patriarcal que junto com a modernidade já dá sinais de exaustão. Por aí se vê, que meros reducionismos ou mesmo, a violência verbal, não servirão em nada para dignificar o debate democrático. Isto posto, entendemos que precisamos de um moderador, cujo perfil esteja profundamente comprometido com a diversidade cultural e religiosa do nosso país. Não vemos esse perfil na atual presidência.

Reconhecemos que o racismo, os preconceitos e as discriminações são tratados nas igrejas e nas instituições evangélicas como tabu e com restrições. O assunto tem ensejado idéias de demonização e negativismo a respeito do povo negro e de seus costumes e tradições. Um exemplo disso são as afirmações do atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, primeiro, atribuindo uma pseudo-maldição bíblica sobre as e os afro-descendentes, o que se constitui tanto uma perversidade, quanto um desrespeito crasso da exegese bíblica. Em tempo, a interpretação de textos sagrados a serviço da política ou mesmo da dominação e do controle social, não tem sido incomum na história da humanidade.

Nesta mesma linha de raciocínio, segue a segunda afirmação do Presidente em apreço, reforçando as representações machistas, ao propor a negação de direitos iguais às mulheres.  Certamente, o mesmo não conhece a realidade das mulheres brasileiras, a começar de sua própria comunidade de fé. Não sabe que no país em que vive, mais da metade das famílias são monoparentais, chefiadas por mulheres. O nobre Senhor, não acompanha os jornais que diuturnamente demonstram que nossas mulheres estão sendo assassinadas. Certamente, o mesmo não tem tido interesse de acompanhar os últimos relatórios do Conselho Mundial de Igrejas que demonstram que “68% dos atendimentos a mulheres vítimas de violência, a agressão aconteceu na residência”.

Portanto, é inadimissível um parlamentar tão inconsequente em seus discursos os quais certamente, não representa as evangélicas e os evangélicos, as brasileiras e os brasileiros, incluindo católicas e católicos, comprometidas  e comprometidos com uma vivência consciente dos valores do Reino de Deus (Paz, Justiça e Amor).

Nós da ANNEB entendemos, portanto, que dependendo da epistemologia cultural que uma dada sociedade alimente, haverá ou não respeito com a diversidade cultural de suas cidadãs e de seus cidadãos. E as religiões reúnem universos culturais simbólicos altamente diversos, por isso, a discussão dos direitos humanos certamente passa também pelo viés religioso. Do contrário, como bem nos lembra (Leitão e Vieira, 2010), “resta-nos a astúcia da ideologia da guerra e da classe oposta à outra”.


Referências

FREITAS, Fátima Regina Almeida; ARANTES, José Estevão Rocha; PERILO, Marcelo de Paula Pereira. Combatendo o preconceito: Discriminação e homofobia – Curso de Especialização, Diversidade Cultural e Cidadania, Universidade Federal de Goiás, 2010.

INFORMATIVO REGIONAL DA IGREJA METODISTA. 5ª RE. Ano 16. Janeiro-Fevereiro de 2013.

LEITÃO, Rosani  Moreira e  VIEIRA, Marisa Dama. Diversidade cultural e Cidadania In CIAR (Centro Integrado de Aprendizagem em Rede, UFG), 2010.

 
Assessoria:
Rev. José Roberto Alves Loiola
Relatoria Ministerial

Encaminhada para ANNEB-DF em 02/04/2013.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

A renúncia do Papa Bento XVI e os Direitos Humanos: onde estamos e para onde iremos?


Por Luciano Freitas Filho (publicado originalmente em http://www.psb40.org.br/art_det.asp?det=315)


A notícia da renúncia do Papa Bento XVI, a ser oficializada no próximo dia 28 de fevereiro, é de causar estranheza e nos pega de surpresa em plena folia com o Rei Momo, com os Pierrots e as Colombinas. Essa “saída de cena” intriga e provoca reflexões não somente nos católicos, mas também em todas as pessoas ao redor. Sejam quais forem os reais motivos que levaram o líder máximo da Igreja Católica a abdicar do Pontificado, essa renúncia implica em novas possibilidades para as sociedades que, embora laicas, se movem em torno dos preceitos e costumes do Catolicismo.

Justiça seja feita, por mais que tenha certa antipatia e discorde quase que plenamente dos valores difundidos nos discursos e práticas do atual Papa, tiro meu chapéu e aplaudo sua atitude em deixar a vaidade de lado e abdicar do poder. Abrir mão de poder é algo que é fácil no discurso, mas difícil na prática para qualquer que seja a pessoa e sua classe social. Reconhecer a hora de sair e abrir mão do poder tem um gosto amargo de fel .

Por outro lado, mesmo o aplaudindo, considero essa saída um alívio para a Diversidade e os Direitos Humanos, tendo em vista que Bento XVI é uma liderança polêmica, pouco simpática à emancipação da mulher, ao ser e estar dos LGBT, do atuar firmemente na defesa da recuperação dos países africanos ou no combate à exploração dos trabalhadores. Eis um líder que se afasta bastante de uma evangelização progressista que prima pela liberdade das pessoas de serem e estarem enquanto diferentes, do olhar para as pessoas para além do julgar, mas primordialmente colaborar com elas na perspectiva de seu bem-estar e uma vida no e para o amor. Não há como evitar estabelecer um paralelo entre o referido líder e demais líderes Católicos, a ver como exemplo o Papa João Paulo II, Dom Helder Câmara, entre outros. O Bento XVI de longe é um evangelizador carismático como os supracitados, líderes que entoaram o coro de um Catolicismo da libertação.

A notícia em questão nos traz certa esperança de que aquele que está por vir, o sucessor deste, traga aos Cristãos discursos que provoquem reais mudanças sociais. Para além de cultos e discursos “iluminados”, é preciso que o Vaticano mova seus fieis em prol das práticas que agreguem, que consigam ir além do julgar o certo e o errado, o moral e o imoral, porém que apontem uma ética que guie para a felicidade e o amor ao próximo, como é recorrente nas práticas de muitos setores da própria Igreja Católica, de muitos líderes e fieis cristãos. De nada adianta o Conclave quebrar padrões ao eleger uma Papa negro, latino ou oriental, se as práticas e os discursos do próximo eleito persistirem conservadoras, opressoras ou estimulando preconceitos. Desse modo, mudaremos o corpo, mas o espírito de longe será santo.

O que se espera dos Cardeais é o enxergar dos novos caminhos e desafios apresentados pelo Século XXI para a evangelização , um pregar que motive e desperte nas pessoas razões para crer na Palavra com uma fé inabalável, uma fé que se materialize na prática e cotidiano dessas pessoas. É preciso eleger um Papa que seja o porta-voz de propostas e caminhos igualmente para aqueles Ateus ou não Católicos, para que esses passem a não somente respeitar a Igreja Católica, mas também a concordar e simpatizar com ela, colaborar, mesmo que de fora, cooperar com um discurso que garanta a liberdade, a igualdade e uma real fraternidade.


Sobre o autor


Luciano Freitas Filho é Secretário Nacional LGBT do PSB.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

2012 - o ano em que o mundo acabará. Mesmo!


Por Marcelo Moraes Caetano

Stanley Kubrick ficou famoso por “2001, uma odisseia no espaço”, seu filme antológico com um quê de apocalíptico, tântrico, alucinatório, profético.

O homem sempre teve afeição pela previsão do futuro. Todas as religiões, sem nenhuma exceção (das que eu conheço no mundo, naturalmente), possuem profetas, vates, leitores do futuro.

Os maias e os egípcios, segundo está na mais alta voga comentar agora, previram o fim do planeta Terra no ano 2012, com uma precisão – ao que consta – assustadoramente milimétrica, chegando a dizer, segundo os mais vorazes defensores do vaticínio maia-egípcio, além do ano 2012, também o mês, o dia, a hora e os segundos em que o armagedon teria lugar.

Profetas e profecias à parte, farei algo mais simples: ao invés de olhar para a frente e tentar dizer o futuro, olharei para trás, e profetizarei, no passado, o fim do mundo.

O mundo que todas as pessoas com pelo menos dez anos de idade viram já acabou, e veio acabando não num grande e abrupto apocalipse de dimensões dantescas, mas em sub-reptícias e homeopáticas hecatombes nossas de cada dia.

2001 – ei-lo de novo – foi o “marco zero” do povo americano, por exemplo. O atentado às torres gêmeas, no entanto, não foi, como alguns propalam, o início do fim, mas, inversamente, foi a comprovação da fragilidade do neo-império romano que vinha ruindo há décadas. A onipotência estadunidense, assim como outrora fora a do Senatus Populus Que Romanus, o SPQR, nome oficial do império de Júlio César, Calígula, Nero, Constantino et alii, tal onipotência, nos dois casos, “como tudo o que começa, um dia chega ao fim”, no famoso aforismo de Tales, da Escola de Mileto.

Esse é o conceito de “entropia”, segundo o qual, repito, “tudo aquilo que nasce deve morrer”. Não é diferente com as nações e os impérios. Sou professor de filosofia grega, filologia e gramática. Muitos alunos, nas universidades, me perguntam por que a grande Grécia Ático-Jônica, ou Grécia Clássica, acabou. Eu respondo sempre: por uma razão muito simples. Assim como ela nasceu, do mesmo modo teve de morrer. A entropia não é privilégio ou exclusividade dos corpos biológicos; ela também está presente nas corporações (a literatura de Administração me confirma), nas instituições, nos países, nos planetas, no próprio universo, se ele realmente teve um início, algo de que os astrofísicos ainda não têm muita certeza.

A crise do “2001”, o “11 de setembro”, não foi o início do fim, digo mais uma vez. E faço isso porque, se retrocedermos – não muito, não é preciso – veremos que a derrocada da economia estadunidense se deu quando um certo continente (Europa) resolveu unificar sua moeda (para atual desespero dos mais fracos, e até dos mais fortes, que se viram esmagados pelo desequilíbrio monetário); unificada a moeda, algo que nem assustou tanto a superpotência norte-americana, um certo Sadam Hussein resolveu vender petróleo para a Europa – até aí, nenhuma novidade -, mas – eis o início da vertiginosa queda americana – esse tal senhor Hussein vendeu o “precioso líquido”, o “ouro negro”, o “sangue do planeta” (e todos esses epítetos hilariantes do petróleo), enfim, Sadam decidiu-se a vender o petróleo para os europeus EM EURO!

Paralisia em Wall Street. Dois muros caíram. O muro de Berlim e o muro da “wall” (“parede” ou “muro”, em inglês) street... Comunismo e capitalismo, dois sistemas baseados em totalitarismos (um, do dinheiro; o outro, do Estado) caíram, “coincidentemente”, juntos em uníssono, entoando a mesma cantilena fúnebre.

A venda do petróleo em euro tornou a moeda norte-americana vulnerável porque comprovou o que o Fort Knox só nos fazia suspeitar: o dólar não tinha lastro. Era papel inócuo. Folhas ao vento.

Não foi por outra razão que Bush não pôde descansar, certamente pressionado pelos especuladores da economia da época, enquanto não teve, literalmente, a cabeça de Hussein, fingindo que estava procurando armas químicas, nucleares, de quasares, magnetares, pulsares, supernovas e outras tantas de mera ficção científica que, até hoje, não foram encontradas. Simplesmente porque não existiam. Procurá-las foi um pretexto para caçar a cabeça do homem que arrancou a maquiagem do dólar a marretadas.

Quero dizer algo muito simples, para cujo preâmbulo me vali da nação estadunidense: o mundo já acabou. O mundo como o conhecíamos em 2000 acabou completamente. É outro totalmente distinto.

Ainda nas plagas dos E.U.A., ora cantando as merecidas loas de um povo, afinal, com História de democracia e conquistas importantes, a chefia da Casa Branca ser exercida por um homem negro descendente de médio-orientais é uma façanha que nenhum Kubrick ousaria colocar em seus roteiros mirabolantes.

Além disso, vários líderes de grandes potências, como o Brasil e a Alemanha, são mulheres. Precisamos reconhecer que Tatcher foi uma precursora nesse quesito.

“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão” – gritou Antônio Conselheiro na pena magistral do nosso Euclides da Cunha, em 1902, no seu épico “Os sertões”. Pois essa reviravolta já ocorreu.

Além dos negros e das mulheres, por tantos e tantos séculos ultrajados, outros grupos ganharam voz e vez. O povo do Oriente Médio repudiou seus ditadores e os tirou de cena. Os homossexuais no mundo inteiro vêm, pouco a pouco, rasgando livros fundamentalistas X, Y ou Z e fazendo valer seus direitos de cidadãos que se consubstanciam nos seus deveres de cidadãos. Voltamos, pois, à era napoleônica, à era da lei civil laica. Ela está gritando cada vez mais alto, e cada vez angariando mais pessoas de bom senso que não aceitam que um cidadão tenha sua vida íntima remexida como se o Estado, a igreja ou o que quer que seja possuísse o condão, a vara de Armida de cobrar impostos iguais, mas dar direitos diferentes.

Victor Hugo e Castro Alves sentiriam náuseas.

Napoleão falou, quando estava em Santa Helena: “De todos os meus feitos, o que mais será útil à humanidade será o meu código civil”. Por isso o código civil recebe o codinome de “código Napoleão”. O corso estava certo: é preciso dar aos cidadãos a força da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e não tratar pessoas de modo diferente pelo que elas fazem entre quatro paredes.

Sempre que se toca nesse assunto surge a antiga litania: "Mas e a liberdade de expressão?" Queridíssimos, Adolph Hitler teve liberdade de expressão, em nome do Estado, e evocando as forças do Asgard, para trucidar judeus, homossexuais, testemunhas de Jeová, ciganos e deficientes. Essa liberdade de expressão é legítima? Estava escrita na lei (as leis de Nuremberg), portanto era respaldada por um "direito" positivo ao gosto de Kelsen. Mas pergunto de novo: foi uma liberdade de expressão legítima? Queremos ou devemos repetir um erro tão grosseiro incorrendo na mesma exata estupidez de forjar uma pretensa liberdade de expressão que não passa de eufemismo para autoritarismo, insanidade, loucura e demência?

Bem, bem, bem, mas, para desespero das ortodoxias fundamentalistas e dementes supracitadas, o mundo já está enxergando isto: "gente é para brilhar", como canta o belo baiano Caetano Veloso. Os que são contra negros, mulheres ou homossexuais, por exemplo, são vistos, pela maioria da população global, como tiranossauros rex, como seres jurássicos, como subprodutos de uma comédia mal-ajambrada e de um simulacro de um dogma esmaecido pela ferrugem da estupidez.

Hoje, a maioria de nós não é mais manipulada pela mídia, impressa ou televisiva ou radiofônica. Temos acesso às informações VERDADEIRAS pelas redes sociais, pelos Wikileaks, sediada na forte Suécia – viva a Suécia do meu queridíssimo Carl Philip Edmund Bertil Bernadotte! Hoje, sabemos o que queremos saber. Se quisermos saber as verdades, sabê-las-emos. Hoje, não ficamos mais como navios a bel-prazer dos ventos que a mídia de outrora quisesse soprar. Hoje, fazemos nossos próprios Zéfiros, e sopramos para onde queremos. A mídia, inversamente do que acontecia há cerca de 10 anos, hoje se curva a nós, que de “espectadores” não temos muito a não ser o velho “título”. Somos agentes. Viemos, vimos, vencemos. Derrubamos a mídia com um belo “V”, de vingança, naturalmente...

Essas mudanças de que falei não são perfunctórias, superficiais. Pelo contrário: são profundas, se enraízam no cerne da questão de que o mundo que conhecíamos há 10 anos, o “marco zero”, o “2001” de Kubrick e de Bin Laden, aquele mundo acabou. O mundo acabou e muita gente não percebeu.

Os maias e os egípcios teriam dito que o mundo acabaria em 2012. Eles foram incrivelmente precisos, erraram por poucos anos. Talvez nem tenham errado. Com a mudança do calendário juliano para o gregoriano, muitas datas foram alteradas. Ademais, o ano lunar possui 13 meses, e não 12, e os maias se baseavam no ano lunar, então, seus cálculos são diferentes. Os egípcios usavam o calendário solar, de 12 meses exatos, de 30 dias exatamente cada um. Os hebreus, que nos legaram nosso atual calendário, usavam uma mescla dos dois calendários, o chamado calendário lunissolar, de 12 meses com 28, 30 ou 31 dias, e, a cada 4 anos, havendo a necessidade do ajuste de um mês com 29 dias (aliás, o povo hebreu também tem uma profecia na Torá: “A mil chegarás, de dois mil não passarás”).

Enfim, não passamos de 2000. O “2001”, tão emblemático, foi o fim do mundo, mas um fim lento...

Como gostamos de dar datas específicas aos acontecimentos, do mesmo modo que gostamos tanto de profetizar o futuro (e o passado...), que o dia 31 de dezembro de 2012 seja considerado como histórico. Que seja “2012: o ano em que o mundo acabou”. O mundo azinhavrado acabou. Jaz inerte e e incônscio.

O mundo novo que nós próprios fomos construindo (e tenho muito orgulho, modéstia à parte, da minha geração, que não teve vergonha de pintar a cara e derrubar onipotentes presidentes, igualar direitos), esse mundo que nós fizemos é um mundo novo. Não um “admirável mundo novo”, nem um “big brother” de “1984” de George Orwell. Embora seja um pouco disso também.

Mas entre perdas e ganhos, houve mais ganhos. Um mundo em que a mente e o raciocínio claro e justo estão finalmente vencendo o obscurantismo de livros velhos e mofados. Um mundo em que as pessoas estão vendo que o dinheiro é relativo e não compra as hipotecas estadunidenses especulativas e falaciosas, assim como não compra o que há de fundamental na vida: amizade, amor, fraternidade e ternura.

Um mundo em que as pessoas não têm vergonha de dizer “eu te amo”. Eu, pelo menos, escuto e falo essa frase diariamente, com pessoas diferentes envolvidas no meu diálogo. E creio que eu não seja o único. E creio, ainda, que quem não escuta e não fala não sabe o que está perdendo.

O mundo acabou. Viva o fim daquele mundo arranhado por milênios de descomunicação! Graças a nós! Viva o ser humano e todas as espécies benéficas que convivem conosco nesta nave-mãe que nos adotou e que singra o universo conosco numa linda odisseia no espaço!

Vivam os seres humanos que com brio e destemor fazem acabar o mundo das angústias e ausências de diálogos para fazer nascer a flor: do impossível chão.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

[Notícia] Bancada Evangélica na cruzada contra LGBT’s

Por Daniela Novais (publicado originalmente em http://camaraempauta.com.br/portal/artigo/ver/id/2766/nome/Bancada_Evangelica_na_cruzada_contra_LGBT%E2%80%99s)


Na próxima terça (15), o seminário “Diferentes, mas iguais” promovido pela presidência do senado vai discutir a equiparação da homofobia ao crime de racismo, como prevê o Projeto de Lei da Câmara 122/2006 e no dia seguinte, acontece a 3ª Marcha Nacional Contra a Homofobia. Enquanto o movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) se prepara para discutir a garantia de direitos, a bancada evangélica não descansa em sua cruzada para reverter as poucas conquistas. 

Desta vez, os parlamentares da bancada religiosa miram nas decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF), que foram de encontro à fé desses legisladores e se articulam no Congresso Nacional para aumentar o alcance de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que autoriza o Congresso a sustar atos normativos do Judiciário “que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa”.

Numa atitude minimamente revanchista, os evangélicos veem na PEC a possibilidade de que o Legislativo possa anular decisões do Judiciário que, em sua interpretação, tenham invadido a prerrogativa de legislar. Na mira, as decisões recentes que autorizam o aborto de fetos anencéfalos e o reconhecimento de uniões estáveis para casais do mesmo sexo. “Não consigo entender por que o Judiciário tem que ter mais poder do que os demais Poderes. O Supremo não é infalível, ele pode errar e nós devemos estar atentos para corrigir esses erros", diz o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO).

Seminário – O foco do seminário é a discussão da PLC 122/2006, que vem sendo objeto de uma série de embates desta cruzada dos evangélicos contra LGBT’s. A iniciativa é da presidente em exercício, Marta Suplicy (PT-SP) e devem participar a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
No evento, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) entregará aos senadores documento pedindo a aprovação do PLC 122/2006 na forma do substitutivo da ex- senadora Fátima Cleide (PT-RO), já aprovado na Comissão de Assuntos Sociais em novembro de 2009.

Serão debatidos temas como o papel do Estado na construção de uma sociedade de respeito à diversidade; políticas positivas de combate à homofobia e aspectos constitucionais e legais da criminalização da homofobia além dos testemunhos de vítimas da homofobia e de seus familiares. Marta Suplicy espera que o seminário sensibilize os senadores e a sociedade civil sobre a seriedade da violência homofóbica e da necessidade de aprovação do projeto de criminalização de tais atos. “As pessoas estão sendo vitimizadas não só em seus empregos, mas quando passeiam, quando se divertem, em todas as situações” afirmou.

Estratégia Fundamentalista – Do outro lado, a cruzada evangélica conta com a simpatia de outros parlamentares, que também não gostaram muito de algumas decisões do Supremo. É o caso, por exemplo, das regras de fidelidade partidária, que a CCJ aprovou por unanimidade o relatório sobre a admissibilidade da PEC o STF deu seu parecer acerca do tema, o que causou certo desconforto em alguns. “O Judiciário tem legislado com frequência e isso não pode acontecer, é algo que fere o equilíbrio entre os Poderes”, diz o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), autor da proposta.

Atualmente, a Constituição permite que Congresso tenha poder de sustar atos normativos do Executivo, quando forem considerados fora de sua atribuição normativa, mas não prevê o mesmo em relação ao Judiciário. Fonteles afirma que essa "lacuna" cria uma situação de desigualdade entre os Poderes. “O que o Supremo tem feito é interpretar a Constituição contra a própria Constituição. Se o STF legisla, ele fere a cláusula pétrea que impõe a separação entre os Poderes e, sem dúvida, coloca em risco o Legislativo”, afirma.

O relator da matéria, o deputado Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS), discorda da interpretação e da possibilidade de o Congresso interferir em decisões do Judiciário e além disso, ele acredita que qualquer alteração no texto, pode ser contestada judicialmente. “Existem posições inadequadas defendendo que o parlamento possa simplesmente suspender decisões judiciais. Isso não está escrito na PEC, não cabe na Constituição Federal”, argumenta Marchezan complementando que “não se pode tirar do Judiciário a capacidade de julgar”.

PLC 122 – O PLC 122 é de autoria da ex-deputada federal Iara Bernardi (PT-SP) e foi aprovado na Câmara em dezembro de 2006, alterando a Lei 7.716, de 1989, que tipifica "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional", incluindo entre esses crimes o de discriminação por gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero, igualando-os ao racismo.

O texto original foi modificado por substitutivo da ex-senadora Fátima Cleide, aprovado na Comissão de Assuntos Sociais em novembro de 2009, que inclui também a discriminação contra deficientes e idosos na Lei 7.716/89. Para ir a plenário, o texto tem que passar pelas Comissões de Direitos Humanos e Cidadania e Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Se aprovado, segue para o Plenário e, caso os senadores aprovem a matéria, ela retornará à Câmara.

Veremos quem vence essa Cruzada: o fundamentalismo religioso ou os direitos humanos e a cidadania.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Eu, Mulher, Hétero, Brasileira, Mãe, Crente em Nossa Senhora…

Por Maju Giorgi (cfe. Consta no link original em http://www.eleicoeshoje.com.br/eu-mae-mulher-hetero-brasileira-crente-em-nossa-senhora)


Resposta de uma mãe as acusações de um pastor


Relembremos alguns fatos:

“AFRICANOS DESCENDEM DE ANCESTRAL AMALDIÇOADO POR NOÉ. ISSO É FATO.”

(Pastor e Deputado Federal MARCO FELICIANO)

“O caso envolvendo o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que afirmou nessa quarta-feira (30/03/2011), no Twitter, que os “africanos descendem de um ancestral amaldiçoado”, deverá será analisado pela Corregedoria da Câmara dos Deputados. A presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, deputada Manuela d’Avila (PCdoB-RS), disse que irá encaminhar as mensagens do parlamentar para o órgão.” (Esta informação está disponível na internet para todos que queiram ver)

“Sem dúvida, avançamos muito na luta contra o racismo, mas não o extirpamos totalmente. Hoje, pelo menos, sabemos que não se deve discriminar ninguém e é de mau gosto alguém se proclamar racista. Mas nada disso existe no que se refere a gays, lésbicas e transexuais. Quanto a eles, podemos desprezar e maltratar impunemente. Eles são a demonstração mais reveladora de quão distante boa parte do mundo ainda está da verdadeira civilização.” (Mario Vargas Llosa)

As polêmicas ainda atuais envolvem outro pastor, o Malafaia.

Pastor Silas Malafaia, DISCURSO DE ÓDIO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO… É CRIME OU, PELO MENOS, DEVERIA SER!

O Pastor quer fazer crer que LGBTs, afrontam o povo negro quando pedem a aprovação do PCL122.

A alegação do Pastor Malafaia é que ser negro não é comportamento, ser gay é. E que querem equiparar o PCL 122 a lei do racismo. Desta forma acho que estamos afrontando a todo ser humano protegido por lei especial. Pastor, caso o senhor não acredite na palavra de milhões de mães e pais heterossexuais, de famílias heterossexuais, presentes, dedicados, livres da promiscuidade que o senhor tanto condena, muitas vezes religiosos praticantes e fervorosos que tiveram filhos gays pelo mundo afora, MAS que não teriam a suficiente credibilidade para o senhor, incontáveis, estudos científicos tem saído todos os dias para provar que homossexualidade NÃO é comportamento, é CONDIÇÃO.

Eu gostaria que o senhor me provasse a sua teoria. Vou fazer uma pergunta: Ser judeu é comportamento ou condição ou a que categoria pertence, para que eu possa entender melhor?

A grande diferença, Pastor, é que ser negro, mulher, pessoa com deficiência, criança ou idoso, É CONDIÇÃO VISTA A OLHO NU, ser gay, não. Mas vamos aos estudos.

Cito alguns recentes:

I - Dr. Jerome Goldstein, diretor do San Francisco Clinical Research Center (EUA) enfatizou que “A orientação sexual NÃO É UMA QUESTÃO DE ESCOLHA, é principalmente questão neurobiológica pré natal. Existem vínculos inegáveis. Nós queremos torná-los visíveis”.” Confira aqui: http://www.medicalnewstoday.com/releases/226963.php

II - A neurocientista sueca Ivanka Savic, do Instituto Karolinska de Estocolmo e os estudos com gêmeos homossexuais. Confira aqui: http://www.pnas.org/content/105/27/9403.abstract?sid=319b7033-3b4e-48bc-a3db-e8dba26b1260

III - O trabalho Anglo-Sueco da Queen Mary University of London. Leia aqui: http://www.qmul.ac.uk/qmul/news/newsrelease.php?news_id=1075

Então, muito rapidamente e só pra começar, podemos pelo menos colocar uma dúvida nessa sua VERDADE que LGBTS afrontam os negros por quererem uma lei que os proteja. Aliás, me parece que não são os gays que perseguem os seguidores das religiões Afro incansável, sistemática e dedicadamente.

O senhor acha dentro desse seu total entendimento de que uma atitude isolada de uma pessoa ou algumas pessoas em uma Parada que reúne milhões de pessoas pertencentes a um grupo que só no Brasil soma muito mais de 10 milhões de pessoas, lhe dá o direito de conclamar os católicos a “baixar o porrete” nos gays ou algo parecido? (fato pelo qual o senhor foi chamado ao ministério público)

Será que gays poderiam usar desta mesma artimanha, quando um pastor evangélico quebra a marteladas um dos símbolos mais amados da Igreja Católica?

Poderiam homossexuais conclamar os católicos a “baixar o porrete” nos evangélicos?

Ou neste específico caso seria uma atitude isolada?? “É” uma atitude isolada, Pastor. Julgar todo um povo por atitudes de um, não é arma justa nem legítima.

É neste tipo de mundo que o senhor quer viver Pastor Malafaia, uma guerra declarada entre tudo e todos??? Ou o que o senhor realmente quer é que todos abaixem a cabeça ao senhor, ao que o senhor ACHA, ao que o senhor SUPÕE, ao que o senhor IMAGINA, ao que o senhor ACREDITA?

De que forma o senhor ama os gays???

Desde que eles não sejam gays??? Desde que se limitem ao lugar de cidadão de segunda categoria reservado a eles, onde se tem muitos deveres, poucos direitos e as vozes caladas???

AH…A Mãe de Jesus Cristo, A Nossa Senhora, A Virgem Maria tão amada. Foi a ela que entreguei meus filhos quando nasceram. E é a ela que peço TODOS os dias que cubra com seu manto sagrado, MEU FILHO GAY, quando ele sai as ruas do país CAMPEÃO MUNDIAL EM CRIMES HOMOFÓBICOS, sem LEI que o proteja, sendo alvo certo e constante do ÓDIO incessantemente propagado. Porque Pastor, eu sei que NESTE caso o amor realmente é inconteste e incondicional. Foi ela A NOSSA SENHORA, a protetora dos MEUS filhos que eu vi ser quebrada a marteladas e pontapés, mas em nome dela, eu peço a PAZ, porque ela é AMOR.

O alento a meu coração de mãe, é que existem bons cristãos no mundo, vide o Padre Jesuíta Luís Corrêa Lima e o Pastor Ricardo Gondim que assopram vida e luz em almas torturadas por pessoas como o senhor! Isso é ser cristão, amar, compreender, evoluir, aceitar. Isso é ser HUMANO, isso é viver no AMOR. Ser gay não se escolhe, não se ensina, homossexualidade não se transmite por contágio.

Quando o senhor se refere a “ditadura gay”, o senhor se refere a que exatamente? Alguém já ouviu falar em Bancada Gay? Televisão Gay? Rádio Gay? Ministro Gay? Tem certeza que é gay a ditadura que esta sendo instaurada??

VIVA E DEIXE VIVER, PASTOR.

Gays são uma minoria e contam apenas com suas vozes nessa luta tão injusta.

Por isso eu peço a TODO O POVO LGBT, seus pais, suas famílias e seus amigos que se assumam num ato político por um Brasil e um mundo melhor.

Vamos lutar para que TODAS as brasileiras e brasileiros tenham seus direitos assegurados pela Constituição. Mesmo que para isso se criem leis especiais.

ATÉ O DIA 6 DO MÊS DE ABRIL DESTE ANO DE 2012, 106 JOVENS HOMOSSEXUAIS FORAM TORTURADOS CRUELMENTE COM TODO TIPO DE REQUINTE, OLHOS PERFURADOS, DEDOS ARRANCADOS, CRÂNIOS ESMAGADOS E FINALMENTE MORTOS. E ESSE NÚMERO NÃO PARA DE CRESCER. POR TUDO ISSO…

EU, MULHER, HETEROSSEXUAL, CASADA, BRASILEIRA, MÃE, CRENTE EM NOSSA SENHORA, CIDADÃ DE UM PAÍS LAICO E DEMOCRÁTICO, PEÇO A APROVAÇÃO DA PCL 122!!!

Eu dedico a minha luta às “MÃES PELA IGUALDADE”, algumas das quais já tiveram seus filhos levados pela homofobia e mesmo assim se levantam TODOS os dias para defender e proteger TODOS os filhos gays.


Sobre a autora

Maju Giorgi, uma das “Mães pela Igualdade”, um grupo de mães de todos os lugares do Brasil que estão unindo suas forças para dar um recado claro contra a discriminação, a violência e a homofobia crescentes, que estão saindo do controle no país.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ateus e Materialistas são muito diferentes - tão diferentes quanto religiões (cristã, muçulmana, hindu, budista...)

Por Marcelo Moraes Caetano (publicado originalmente em http://demarcelomoraescaetano.blogspot.com/2012/02/ateus-e-materialistas-sao-muito.html)


Numa discussão em aula universitária que eu dava sobre religiosidade e filosofia, uma aluna me indagou, com a mordacidade, sarcasmo, sentimento de superioridade e altivez que costumam acompanhar os fanáticos:

−“Engraçado, tem muito ateu que, na hora de um aperto, chama por Deus.”

Eu respondi:

−“Engraçado, e tem muito crente que, na hora de um infarto, chama o médico”.

Depois do pasmo inicial, resolvi esclarecer, à turma (que, afinal, possuía gente esclarecida) a falácia dessa minha aluna, e a consequente falácia presente, até, na minha resposta.

“Agora vamos ao discernimento?”, perguntei eu. Ao que a turma prontamente se comprometeu a ouvir. (“Discernir é sinônimo de inteligência para Sócrates”, lembrei eu aos alunos, trazendo à discussão o primeiro pensador do Ocidente que se preocupou com a questão que abaixo se esboçará, centenas de anos antes do nascimento de Jesus.).

É fundamental esclarecer a certas almas que “ateus” são totalmente diferentes de “agnósticos”, “céticos”, “materialistas”, que, por sua vez, são diferentes de “gnósticos”, de “espiritualistas”, de “teístas”, de “fideístas”, de “crentes”, de "transcendentalistas", de "imanentistas" etc. Não se pode (ou não se deve, para quem quer a luz e não a penumbra) colocar “tudo num saco só”.

Por isso mesmo, pode haver, sim, combinações dessas posturas filosóficas, que, muitas vezes (não todas), não são sequer excludentes. Einstein, para mim, por exemplo, era um homem espiritualista, gnóstico, porém cético, porque a Razão vinha em primeiro lugar, e imanentista, porque, para ele, a imanência da inteligência superior acompanhava a razão no âmago do homem; não era preciso olhar para fora para achá-la. Já Kardec, outro exemplo, seguiu uma religião (cristã), porém era igualmente cético, porque só aceitava o cristianismo na medida em que ele se esclarecia pela razão, e transcendentalista, pois achava que as verdades cristãs estavam presentes num mundo espiritual fora e além do homem. E os exemplos se proliferariam infinitamente.

Até “religião”, aliás, é muito diferente de “religiosidade”. Há, inclusive, uma religião, o Budismo, que é a religião que tem maior número de seguidores no mundo, que não acredita em Deus nem em Deuses. Mas para os, digamos, simples de inteligência, parcimoniosos das capacidades cognitivas, de interpretação maniqueista-subjetivista, é tudo “uma coisa só”: de preferência o “demo”.

Só uma distinção, porque não quero transformar um blog numa aula profunda de filosofia, apenas superficial (rs), e quero deixar claro que só escrevi este artiguete a pedido de alguns alunos, instigados que foram pelo senso crítico (graças a Deus! rsrs):

1) o “ateu” é aquele que não acredita, prioritariamente, em Deus, ou Deuses, em Deidades, ou Divindades, seja Jeová, Alá, Santa Rita, Xangô, Brahma, Hare Krishna, Zeus, Vênus. Daí que seu “oposto” é o “teísta”, o “fideísta” ou o “crente”, e não necessariamente o “religioso”, o “gnóstico”, o “espiritualista”. Etc. Etc. Etc.

2) O “agnóstico”, por seu turno, é seguidor da filosofia de Kant, e, com ele, afirma que “NÃO se pode comprovar, PELO MERO USO DA RAZÃO (ESTE é o ponto dos agnósticos), que Deus exista, NEM TAMPOUCO que NÃO exista”, donde se conclui que o agnóstico simplesmente não admite, pela racionalidade, a existência de Deus, porquanto não comprovável com aquela faculdade racional, mas tampouco a inexistência de Deus, porquanto tampouco comprovável pela mesma faculdade.

Então, voltando ao caso que deu ensejo a essa busca fundamental de discernimento, quando aquela pessoa fala de “muitos ateus que chamam por Deus” (e, detalhe: "muitos" não são todos; ademais, pergunto onde ela fez essa pesquisa, e o que exatamente ela chama de "muitos" no espaço amostral alpha da questão...?), enfim, "muitos ateus" que chamam por Deus numa situação difícil (e pode, sim, havê-los, sem contradição nenhuma, desde que I) estabeleçamos o que é "muitos"; II) percebamos que o "chamar por Deus" pode constituir um "chamado" instintivo, inconsciente, e o ateísmo é uma postura mental, consciente; e sabemos que pode haver, em certos momentos, sobreposição das estruturas psíquicas do ser humano; III) ateísmo não exclui completamente a presença de Deus, mas sim a sua existência transcendental e IV) o que será que significa "Deus" nesse "chamado"?), essa pessoa que critica "muitos ateus que chamam por Deus" (rimou à moda inversa de Mario Quintana hoho), pessoa porventura bem-intencionada (oh essa minha mania de ser utópico!), não deve saber que ela está colocando “num mesmo saco” uma miríade de posições espirituais/materiais diferentes para cacete!

Esse ateu que chama por Deus no aperto não poderia ser, isso sim, um materialista, um transcendentalista, porque, em tese, seria como imaginar um cristão que, na hora do aperto, clamasse por Hare Krishna ou por Oxalá, ou um Hindu que, na hora do sufoco, orasse à alta clemência de Jeová.

Agora eu pergunto: até isso (a situação desses chamados "sincréticos" descritos acima) é IM-possível?

Não!

Porque julgar um grupo (mesmo “religioso”) pela ação de “muitos” (palavra usada pela nossa amiguinha) é burrice no sentido socrático, porque não discerne. Ela teria que ser, no mínimo, ontológica, e ter julgado todos os indivíduos daquele grupo para afirmar que é uma característica subjacente a eles todos. (Mas, muito antes, como premissa maior, saber o que é um ateu, algo que sequer sabia.)

Parte precisamente desse tipo de falácia a mesma burrice de dizer que os negros (todos) são assim ou assado, os homossexuais (todos) são assim ou assado, as mulheres (todas) são assim ou assado, os teístas (todos) são assim, os (ateus) todos são assado... Etc.

Aqui me parece necessária uma intervenção metalinguística.

É importante que fique claro que as ideologias, sejam quais forem, devem ser respeitadas. Eu não posso desrespeitar a alguém que, no seu íntimo, por razões subjetivas ou de recalque ou seja lá o que for, não goste, por exemplo, das mulheres, dos negros, dos homossexuais, dos estadunidenses, dos judeus, dos nazistas, dos brasileiros... Indo mais profundamente, creio que, no futuro, aprenderemos, até!!! a nos expressar com ideologias distintas sem que isso interfira em nossa capacidade de conviver pacificamente numa sociedade.

Outra utopia? Sim, mas utopia não é o que não se pode alcançar (ao contrário do que muita gente pensa - "pensa"?), e sim o que deve idealmente se procurar para que se atinja a harmonia geral.

Liberdade de expressão sempre! O que é inadmissível é o desrespeito, e a falácia, num pseudo-argumento dentro dessa liberdade de expressão que eu tanto defendo, é, dentre outros, um enorme desrespeito.

Então, esse parêntese dialético: precisamos expor, sem falácias (please!) nossas ideologias, contrastá-las, mas sem que isso signifique, necessariamente, que queremos impô-las a quem há por bem outras ideologias alheias à nossa.

Momento chegará em que a legalidade e a liberdade se encontrarão, reproduzindo palavras de uma entrevista que Élisabeth Roudinesco me deu em Paris. Nesse momento, eu poderei me expressar livremente sem ser punido pela lei, porque, antes de saber que tenho liberdade de expressão, saberei que tenho que respeitar as outras liberdades de expressão. E, pois, a lei não precisará intermediar minha relação com outrem, nesse quesito. Será a união da legalidade e da liberdade.

Há distinção entre meu mundo de ideias, que pode até ser imutável, por "n" fatorial razões, e a tentativa fascista de imposição do meu mundo de ideias. Hoje, infelizmente, ainda se crê que a mera discussão de ideias antitéticas e dialéticas gera, necessariamente, conflito pessoal-social. Digo eu: só o gera em pessoas muito pouco esclarecidas e que não fazem a menor ideia da diferença entre espírito científico-crítico e senso comum-subjetivista.

Chomsky e Piaget nunca se digladiaram em congressos porque o primeiro acredita no inatismo e o segundo no construtivismo. Após discussões figadais, saíam para almoçar juntos... Chomsky me disse, numa entrevista que me deu, que Piaget foi um dos maiores pensadores da atualidade.

Nietzsche mesmo, em seu antieclesialismo, grita: "Bendita a Igreja! O que seria dos livre-pensadores se não fosse a Igreja?"

O ser humano é subjetivo, isso é até tautológico. É como dizer: o sujeito é subjetivo (rs). Mas o subjetiv-ISMO é praticamente uma doutrina teológica que crê que a liberdade de expressão ("express yourself", nas palavras de Nietzche-Madonna) gera inequivocamente conflito, balbúrdia e choque de "interesses" (! ui).

Publiquei um artigo na coluna "Papo sério" da revista G-Magazine, edição de aniversário, chamado "Luz no gueto", que procurava, por aí, responder à ontogênese do preconceito homofóbico. Era um pouco diferente, porque, lá, eu partia de uma distinção (como dito, "onto"-gênese) materialista, empirista, mais do que filosófica, o que faço aqui. Em breve publicarei neste blog o artigo "Luz no gueto", porque ainda acredito na sua eficácia (rs) e sou crente (rs) de que, hoje, ele terá uma repercussão até mais profunda nas consciências e almas (oh!) brasileiras, que, bem ou mal, abriram-se às discussões mais racionais, objetivistas e menos subjetivistas, religiosas; passaram mais do foro íntimo da religião para o status quo coletivo e racional do Estado e do bem-estar necessário à civilização.

Entenderam, agora, de onde nascem, basicamente, os preconceitos? Láááááá da falta de discernimento entre, basicamente, materialismo e espiritualismo. Lááááááá da noite dos tempos. Láááááááá da busca pelo poder de poder dizer o que é o certo e o errado (esta a tese que defendo na G-Magazine aludida.). Lááááááááá na inefável vontade de pertencer ao "grupo vencedor" e tripudiar sobre os grupos cuja posição de gueto evidencia e − mais! - comprova o establishment do "grupo vencedor".

Não discernir é o que cria preconceitos.

E NÃO CONHECER é o que cria NÃO DISCERNIR...

E etc. e tal...

Sobre o autor


Marcelo Moraes Caetano é escritor, professor titular da Laureate International Universities, da Universidade de Freiburg e professor pesquisador do CNPq-UERJ. Membro da APPERJ, da União Brasileira de Escritores (SP), do PEN Club (RJ-Londres), da Académie des Arts-Sciences et Lettres (Paris), editor da revista de cultura ALIÁS, colunista da Revista da Cultura (SP, RS, Brasília,PE, Campinas). Pianista clássico (com primeiros lugares no Brasil e no exterior), membro da Orquestra Sinfônica de Viena, tradutor de inglês, francês, alemão, latim e grego, professor de português, grego e literatura brasileira, portuguesa e africana (bacharel pela UERJ e licenciado pela UNESA, especialista pela UFF, Mestre pela PUC-rio e Doutor por Coimbra). Possui 18 livros publicados: gramático ("Gramática para o vestibular", Editora Elite, "Gramática Reflexiva da Língua Portuguesa" (Editora Ferreira), lexicógrafo ("Instâncias do sentido o dicionário e a gramática - múltiplas interconexões semiológicas" -Editora Academia Brasileira de Filologia), crítico literário ("Literatura Brasileira", Editora Elite, "Caminhos do texto", Editora Ferreira), com diversas premiações nacionais e internacionais. Blogue: http://demarcelomoraescaetano.blogspot.com


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A visão espírita da união estável homossexual segundo Divaldo Pereira Franco

Por Paulo Stekel

Nota de Espiritualidade Inclusiva – A matéria em questão foi apresentada em vídeo em maio de 2011 pela TV Mundo Maior (http://www.redemundomaior.com.br). Abaixo, incorporamos o vídeo com a matéria e, logo após, a transcrição ipsis literis das palavras do conhecido médium e palestrantre espírita Divaldo Pereira Franco, para análise de nossos leitores.



http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=aGB5FGWIuKE

Transcrição das palavras de Divaldo Franco sobre a legalização da união estável homossexual e a adoção de crianças:

“Legalizar é sempre uma forma de moralizar. Já que a união moral é feita pelo sentimento do amor, por que não legalizar uma coisa que existe, evitando que consequências danosas possam advir de um relacionamento que se pode tornar agressivo, suspeito pela sociedade e até mesmo para o meio social? (...)

A adoção de filhos é perfeitamente válida. A mim, me surpreende, por exemplo, uma questão psicológica: como será a imagem do pai, a imagem da mãe para essa criança? Quando ele atingir a adolescência, quando chegar à idade madura, que comportamento irá utilizar em face da conduta que ele vem mantendo no lar? Mas, isso é uma coisa que compete à psicologia do comportamento através dos tempos, quando se verificarão os resultados deste momento de transição. (…)

Os direitos da individualidade são inalienáveis. Não temos a prole que desejamos, que queremos, mas aquela de que temos necessidade para o processo de evolução. Se algum pai, alguma genitora considera isso um castigo divino, há de ter em mente que não chega às mãos o fruto de uma semeadura que não haja realizado. Então, amar é a solução. Amar sempre, seja qual for a condição do filho: drogado, sexualmente transtornado, com problemas de comportamento... Amá-lo, porque a função do pai é educar sempre, a da mãe igualmente. E, o amor é o melhor mecanismo, a ferramenta mais hábil para poder criar hábitos saudáveis e proporcionar ao indivíduo a plenitude, a felicidade.”


Comentário de Espiritualidade Inclusiva – Os três parágrafos da fala de Divaldo Franco possuem pontos polêmicos e pouco claros, deixando margens a muitas interpretações. No primeiro parágrafo, ao apoiar a legalização da união estável homossexual, Divaldo justifica com o fato de, assim, se evitar “... que consequências danosas possam advir de um relacionamento que se pode tornar agressivo, suspeito pela sociedade e até mesmo para o meio social”. O que a agressividade de um relacionamento tem a ver com sua legalização? Uma relação homossexual só deixa de ser “suspeita” para a sociedade quando legalizada? Estamos falando de índole de pessoas ou simplesmente resolvendo isso numa lei humana? A lei muda a índole de alguém? O que quis dizer com relacionamento “suspeito” “até mesmo para o meio social”? Estamos falando de pessoas “normais”, ainda que homossexuais, ou de psicopatas e tarados de todo gênero? Há de se ter muito cuidado com as palavras!

No segundo parágrafo, Divaldo apoia a adoção de filhos por homossexuais, mas pergunta: “como será a imagem do pai, a imagem da mãe para essa criança?” A mesma pergunta vale para crianças criadas só por um pai, ou só por uma mãe, ou só pelos avós, ou sem ninguém, num orfanato até os 18 anos! Mas, o trecho mais perigoso é este: “Quando ele atingir a adolescência, quando chegar à idade madura, que comportamento irá utilizar em face da conduta que ele vem mantendo no lar?” Como assim, “que comportamento irá utilizar”? Segundo a ciência, 90% das crianças criadas em lares heterossexuais manifestam o comportamento que lhes foi “ensinado”: o heterossexual! E, oficialmente falando, 100% delas são criadas em lares heterossexuais! Pesquisas mostram que este percentual se mantém estável mesmo no caso de crianças criadas em lares homossexuais. Ou seja, há que se desconfiar que a orientação sexual não seja simplesmente algo “ensinado” pelos pais, mas inclui um elemento interno ainda não perfeitamente estudado pela psicologia.

No terceiro parágrafo, ao instar aos pais que aceitem seu filhos como são, Divaldo confunde novamente ao dizer: “Amar sempre, seja qual for a condição do filho: drogado, sexualmente transtornado, com problemas de comportamento...” O que ele considera um filho “sexualmente transtornado”? Considerando todo o discurso nos dois parágrafos anteriores, isso induz o leitor a pensar que ele se refere à homossexualidade em si. Se não foi isso o que quis dizer, não tornou sua opinião clara e fica sujeito a várias interpretações. Parece-nos que sua fala foi uma mescla de opiniões pessoais não plenamente formadas sobre o assunto com bases da Doutrina Espírita. Gostaríamos muito que nossos leitores utilizassem o espaço de comentários logo abaixo para opinarem sobre a fala acima.