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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Homofobia Internalizada: O câncer que mata o meu Povo


Por Rev. Márcio Retamero (publicado originalmente em http://pastormarcioretamero.blogspot.com.br/2012/09/homofobia-internalizada-o-cancer-que.html)


Tudo nesta vida pode ser usado para o nosso bem ou para o nosso mal. A Rede Social mais famosa usada no mundo não foge à regra.

Foi no Facebook que ontem eu li uma manifestação muito contundente, vinda de um homossexual “cristão inclusivo” que era misoginia e homofobia internalizada 100%! Pura. Puríssima.

Misoginia é a aversão às mulheres ou a tudo o que é feminino, mesmo que essa aversão seja inconsciente. Contudo, ela manifesta-se na rejeição da feminilidade que pode ser expressa, por exemplo, num homossexual masculino cheio de trejeitos, ou seja, a famosa “pintosa” ou numa travesti.

Nossa sociedade é patriarcal e machista. Não é preciso ir muito longe para estarmos cientes disto. Basta lermos os jornais de todos os dias, assistirmos aos canais de televisão, ouvirmos as rádios ou acompanhar online as notícias. Podemos nos aprofundar e comparar o “valor de mercado” do homem e da mulher, muitas vezes na mesma área do conhecimento ou categoria trabalhista.

Geralmente, encontramos a homofobia internalizada nos/nas homossexuais egodistônicos (as), ou seja, aqueles e aquelas que ainda não se respeitam, não se amam e detestam sua orientação sexual. Homofobia Internalizada é acompanhada pela misoginia e pelo machismo e patriarcalismo.

A Homofobia Internalizada, num certo grau, atinge a todos e todas homossexuais, posto que, desde crianças, como diz Rubem Alves, a sociedade e a família, escrevem em nossos corpos, mentes e corações, suas falácias, preconceitos e todo tipo de injustiça e má interpretação da vida. Crescemos ouvindo que “azul é cor de homem; rosa, de mulher”; que “homem não chora”; que lugar de mulher é na cozinha ou é a auxiliadora do homem; inúmeras vezes presenciamos mães machistas, escravas do patriarcalismo ensinando as suas filhas a esconderem “as pererecas e não tocá-las”, enquanto ensinam aos meninos a botar o piru pra fora, mijar na rua e até mesmo acariciá-lo. Sim, eu fui criado assim!

A Homofobia Internalizada para ser curada é um longo processo, pois arrancar todo este lixo de dentro dos nossos corpos, mentes e corações, é doloroso e exige esforço para querermos nos libertar disso através da via do conhecimento. Portanto, aqui, ler, estudar é imprescindível. Contudo, tal qual os tóxicos-dependentes, é preciso querer, em primeiro lugar, ser liberto desse câncer que tem matado tantos e tantas homossexuais chamada “homofobia internalizada”.

Este câncer nos leva a rejeitar as “bichas pintosas”, as travestis, as transexuais, as “caminhoneiras”... e por aí vai... Leva-nos a querer enquadrar essa gente dentro do que chamamos de heteronormatividade, ou seja, o padrão social vigente: homem se comportando, sendo, vestindo, andando e falando como homem (ainda que gay) e mulher a mesma coisa (ainda que lésbica). A homofobia internalizada exclui, maltrata e faz das e dos homossexuais que não seguem a heteronormatividade alvos de preconceito até mesmo pelos seus pares homossexuais. Quando alguma “bicha pintosa” ou “sapatão caminhoneira” leva uma surra na rua dos homofóbicos ou quando atacados por lâmpadas na Avenida Paulista, as pessoas que sofrem de homofobia internalizada reproduzem o senso comum imbecil de culpar as vítimas, pois “mereceram”, “desrespeitaram a sociedade”, “se comportaram mal”.

A homofobia internalizada diz que a travesti é uma aberração, um monstro, pois não precisa um homem colocar peito, deixar crescer os cabelos, tomar hormônios femininos e falar igual a mulher. Logo, se a travesti é violentada na rua, vítima da homofobia social e religiosa, ela “mereceu”, pois para ser gay, não é preciso “se montar”.

Transexuais são alvos também dos que sofrem de homofobia internalizada; pois os que sofrem deste câncer dizem que é um absurdo um homem “extirpar o pênis” e a mulher “fazer crescer um pênis e arrancar os peitos”!

A homofobia internalizada divide a comunidade LGBT. Desune. Traz o sentimento de não pertencimento e joga à margem e às sombras, portanto, ao perigo dos homofóbicos que matam, as pessoas doentes deste câncer. Politicamente, a homofobia internalizada coloca o sujeito doente deste câncer contra os objetivos do Movimento Gay como o casamento civil igualitário e o PLC 122, que coíbe a manifestação homofóbica.

A homofobia internalizada leva gays e lésbicas cristãos a frequentarem igrejas convencionais na surdina, igrejas que não os aceitam, mas estão prontas e abertas para receberem seus fartos dízimos e ofertas. Tais igrejas fingem que não veem que entre eles existe uma lésbica, um gay, posto que estes se vestem como meninos e meninas “normais”, enquanto aguardam e oram para que sejam curados da “doença do homossexualismo (sic)”.

Lamentável é quando lemos as coisas que eu li ontem no Facebook, vindo de um homossexual membro de uma igreja dita inclusiva, ou seja, de uma igreja onde a homofobia internalizada deveria ser trabalhada a fim de ser exorcizada dos corpos e mentes destes doentes. Uma igreja que aceita calada manifestações homofóbicas vindas de homossexuais, não pode ser considerada inclusiva, mas, no mínimo, uma igreja gay heteronormatizada, ou seja, uma coisa que não presta serviço algum à inclusão, à libertação da pessoa homossexual cristã.

Devemos, em primeiro lugar, exercer o dom da misericórdia, do amor, da longanimidade e do perdão para com as pessoas homossexuais que sofrem do câncer da homofobia internalizada, mas não podemos parar por aí. Líderes eclesiásticos das igrejas ditas inclusivas devem trabalhar, em momentos oportunos, seja na escola dominical, seja em encontros e palestras o tema. É necessário, por exemplo, a ajuda profissional de psicólogos e psiquiatras; a leitura de textos sobre o assunto; as trocas de experiências como numa “terapia de grupo”, além de exibição de filmes como “Meninos não choram” e debates acerca desses filmes. Acima de tudo, a oração pela libertação e cura deste câncer chamado homofobia internalizada que atinge nosso povo.

Finalizando, não basta ser uma igreja que aceita homossexuais e que os/as enquadram na heteronormatividade para ser chamada de “igreja inclusiva”. Isso não é ser igreja inclusiva, mas igreja gay heteronormativa, uma “cangalhice” que reproduz o que temos de pior na nossa sociedade, que não liberta a pessoa homossexual, mas só reforça seus preconceitos inúteis, além de letais posturas.

Minha oração e desejo é que todas as igrejas que aceitam homossexuais abertamente trabalhem seriamente os corpos, mentes e corações das pessoas cancerosas da homofobia internalizada, libertando-as e curando-as, tornando-se assim, lugares seguros e saudáveis de adoração ao Senhor Uno e Trino, promovendo o Evangelho da Inclusão, sendo RADICALMENTE Inclusiva, como acontece, pela graça de Deus, nas Igrejas da Comunidade Metropolitana nos quatro cantos da Terra. Se assim não for, tais comunidades de fé não passarão de “igrejas gays heteronormativas”, lugar de gente doente, lugar de não libertação, lugar de exclusão, enfim, inferno existencial.


Deus nos abençoe e nos cure da homofobia internalizada todos os dias! Amém.


Sobre o autor


Márcio Retamero, 36 anos, é pastor da Comunidade Betel/ICM -RJ e da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo. As reuniões ocorrem na Praia de Botafogo, nº 430, 2º andar, próximo ao Botafogo Praia Shopping e à estação Botafogo do Metrô Rio. E-mail: revretamero@betelrj.com

terça-feira, 3 de abril de 2012

Machismo, Misoginia e Homofobia: raízes do preconceito histórico contra homossexuais

Por Paulo Stekel


Iniciou-se a semana e eu ainda não decidira qual artigo publicar em Espiritualidade Inclusiva. Temos recebido muito material bom, e vamos publicando aos poucos. Contudo, um debate iniciado ontem pela manhã na página pessoal de Luiz Mott no Facebook (onde aparece a foto postada acima) me fez decidir pelo presente texto.

Há muito que queria escrever sobre as relações estreitas existentes entre o machismo, a misoginia e a homofobia, especialmente a voltada contra os homossexuais masculinos.

Em sua postagem intitulada “Quem inventou a busca e as mutilações genitais femininas?”, Luiz Mott respondeu: “Os machos!!! Donos das mulheres. Portanto, mulher que defende tais abusos machistas, são alienadas, estão perpetuando sua servidão. Não me venham com o blablablá do respeito ao relativismo, às culturas tribais, o escambau. Escravidão e fogueira para sodomitas também eram traços de muitas culturas do passado, e quem é maluco de defender tais barbaridades?! Direitos humanos, cidadania e igualdade para todas, já!”

Entre os comentários a tal postagem, temos:

Paulo Stekel: “Por mais que pareça forte e anti-cultural, a opinião de Luiz Mott é a mesma minha. A forma como as mulheres são tratadas no Oriente (incluindo a Índia) não é mera questão cultural. É sobreposição da figura masculina sobre a feminina. Se as mulheres pudessem contestar essas "tradições" sem irem para a forca, sem serem agredidas ou condenadas a prisão perpétua, aí sim eu poderia até considerar isso como algo meramente "cultural". Mas, não é. Colocar todos os descalabros do mundo na conta da cultura é uma atitude simplista e evasiva que só beneficia os algozes, nunca as vítimas. Salve as mulheres do mundo que sofrem nas mãos do machismo/patriarcalismo! Somo-me à luta delas porque desejo viver num mundo em que haja oportunidades iguais para todos e todas!”

Anna: “De forma alguma antropólogos sérios defendem barbáries. É para isso que existe toda uma discussão acerca dos direitos humanos.” [Luiz Mott é antropólogo.]

J. T.: “Acho que nesses lugares todos os homens são homo[ssexuai]s, porque acho que eles não gostam de mulher.”

Paulo Stekel: “J. T., não confunda "homens homossexuais" com "homens misóginos". São duas coisas completamente diferentes! Em geral, a misoginia é algo praticado por homens heterossexuais, não homossexuais. Os homossexuais, em sua maioria, enaltecem a figura da mulher.

M. D.: “Ah, Paulo, obrigada pela piada! Os piores são os homens gays! O legal é que também tem muito que reconhece isto.”

Paulo Stekel: “Não sei quais são os homens gays que você conhece, M. D. Os que eu conheço, em sua grande maioria, apoiam as mulheres, as defendem, elogiam, enaltecem e não as consideram inferiores aos homens. Isso é estatístico!”

Espiritualidade Inclusiva: “A misoginia (inferiorização da mulher) tem origem nos homens heterossexuais, sim. Tanto que o histórico preconceito dos homens contra os gays masculinos se vale da inferiorização da mulher para atacar os gays, dizendo que não são homens completos ou que são aberrações por parecerem mulheres que, para tais heterossexuais machistas, são inferiores ao homem. Então, misoginia e homofobia são preconceitos historicamente entrelaçados.”

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Para entendemos melhor como estes três tipos de preconceito – machismo, misoginia e homofobia – se entremeiam, temos que defini-los (fonte: Wikipédia):

Machismo: Também chamado de “chauvinismo masculino” (especialmente nos países de língua inglesa) é a crença de que os homens são superiores às mulheres. O “feminismo” não é, de forma alguma, o equivalente direto ao machismo, pois o primeiro apenas busca a igualdade de direitos entre homens e mulheres e a libertação das mulheres no tocante aos padrões e opressões da sociedade patriarcal.

Misoginia: É o ódio ou desprezo ao sexo feminino. A palavra vem do grego misos ("ódio") e gyné ("mulher"). É paralelo à misandria, o ódio para com o sexo masculino. Misoginia é o antônimo de filoginia, que é o apreço, admiração ou amor pelas mulheres. Diferenciando misoginia de machismo, a primeira se baseia no ódio ou desprezo pela mulher, enquanto o machismo constitui-se numa crença na inferioridade da mulher.

Para o sociólogo Allan G. Johnson, "a misoginia é uma atitude cultural de ódio às mulheres porque elas são femininas." Johnson argumentou que: "A [misoginia] é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem. A misoginia é manifesta em várias formas diferentes, de piadas, pornografia e violência ao auto-desprezo que as mulheres são ensinadas a sentir pelos seus corpos."

Michael Flood define a misoginia como o ódio às mulheres: "Embora mais comum em homens, a misoginia também existe e é praticada por mulheres contra outras mulheres ou mesmo elas próprias. A misoginia funciona como uma ideologia ou sistema de crença que tem acompanhado o patriarcado ou sociedades dominadas pelo homem por milhares de anos e continua colocando mulheres em posições subordinadas com acesso limitado ao poder e tomada de decisões. (...) Aristóteles sustentou que mulheres existem como deformidades naturais e homens imperfeitos (...) Desde então, as mulheres em culturas Ocidentais tem internalizado seu papel como bodes expiatórios da sociedade, influenciadas no século 21 pela objetificação das mesmas pela mídia com seu auto-desprezo culturalmente sancionado e fixações em cirurgia plástica, anorexia e bulimia."

Homofobia: Neologismo criado pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, homofobia, de homo (pseudoprefixo de homossexual) e fobia (do grego “fóbos”, "medo", "aversão irreprimível") é uma série de atitudes e sentimentos negativos em relação a LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, intersexuais, etc.). Nas várias definições correntes sobre o termo encontramos desde as mais brandas (antipatia, desprezo, preconceito, aversão, medo irracional) até as mais críticas (comportamento hostil, discriminatório e violento com base em uma percepção de orientação não-heterossexual). Etimologicamente, o termo mais aceitável para a ideia expressa seria "Homofilofóbico", que é medo de quem gosta do igual. Em um discurso de 1998, a autora, ativista e líder dos direitos civis, Coretta Scott King, declarou: "A homofobia é como o racismo, o anti-semitismo e outras formas de intolerância na medida em que procura desumanizar um grande grupo de pessoas, negar a sua humanidade, dignidade e personalidade." Em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.

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Pois bem, o machismo tem relação com o patriarcalismo. Várias são as religiões de origem patriarcal, mas as que manifestam influência maior no mundo contemporâneo são o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, as chamadas “religiões abraâmicas”. Para estas religiões, os consensos são todos favoráveis ao homem: a criação do homem antes da mulher, apesar de, biologicamente, ser ela a geradora (?); o pecado no Paraíso e a posterior expulsão como um ato culposo da “curiosidade insubordinada” de Eva, a primeira mulher; a apresentação da mulher como moralmente fraca, dada a atos libidinosos e a manifestar sua opinião de modo intriguento; a negação da inteligência feminina em pé de igualdade com o homem. Estes são apenas alguns exemplos.

Se fôssemos seguir à risca as determinações bíblicas de Deuteronômio (algo que os muçulmanos mais radicais assim o fazem!), as mulheres cristãs não poderiam sair à rua sem véu, não poderiam andar à frente dos maridos, não poderiam sequer abrir a boca para dar opinião própria e muito menos contestar a “sabedoria” masculina soberana. No Cristianismo católico, não esqueçamos, até hoje a mulher não pode ser sacerdote, embora já haja pastoras e missionárias no Cristianismo Protestante há muito tempo! Como explicar tais discrepâncias, senão através de um machismo que insiste em se fazer valer? Até a Maçonaria possui ordens exclusivamente masculinas, e suas justificativas são praticamente as mesmas da Igreja Católica. Abismante! Felizmente, as Lojas Mistas (que aceitam homens e mulheres) vieram corrigir este absurdo do mesmo modo que as Igrejas Protestantes.

Tudo isso advém de uma ideia muito antiga, porém sem qualquer base científica, de que a mulher é inferior ao homem, moralmente fraca e pouco inteligente. As religiões abraâmicas argumentam que Eva, a primeira mulher, foi criada após o homem e a partir deste. Então, se seria uma serva e não poderia sobrepor-se a ele. Além disso, sua participação no episódio da Árvore do Conhecimento granjeou-lhe fama de ardilosa, curiosa e intrometida. A determinação natural da mulher parece ter causado desde os primeiros tempos um medo, um pavor terrível nos homens, que viam nisso ameaçada sua liderança e força de coesão da tribo. As inúmeras sociedades matriarcais comprovam o contrário.

Na Idade Média a mulher não tinha direito a uma alma. Então, como poderia ser salva, sem uma alma? Por beneplácito papal e para evitar a contradição óbvia, a existência da alma feminina foi reconhecida, ainda que tardiamente, para vergonha da humanidade...

A homofobia histórica, especialmente contra os gays masculinos, se insere exatamente neste quadro de inferiorização da mulher. Ao perceber em muitos homossexuais a tendência a um comportamento mais feminino, indo do sutil ao travestismo, os religiosos de praticamente todas as religiões teístas viram ali uma inferiorização do homem. Por isso, até hoje se ofende gays efeminados com expressões delicadas e que remetem ao universo feminino como “mulherzinha”, “frutinha”, “bichinha”, “bibinha”, etc. Estas ofensas se entranharam de tal forma em nossa cultura que até a mais “inocente” e não-preconceituosa das pessoas por vezes se pega utilizando tais termos de modo automático, como nas brincadeiras entre meninos e rapazes heterossexuais, sem sequer perceberem o que estão manifestando. Aprenderam culturalmente, desde a mais tenra idade, a manifestar ojeriza por atitudes femininas em homens, já que, como dissemos, isso remete em nosso inconsciente coletivo masculino à ideia da inferioridade do sexo feminino. E, nenhum homem “macho” quer ser comparado a uma mulher... Quanta ignorância!

A prova do que dizemos está no fato de que, quando um homossexual masculino não se mostra efeminado, ao saber de sua orientação, as pessoas em geral se surpreendem, pois foram educadas a associar homossexualidade masculina a “feminilidade”, afetação e “bichice”. Desconsiderando os gays enrustidos, escondidos no armário, há, sim, muitos homens homossexuais que naturalmente não apresentam qualquer afetação. Não há qualquer relação intrínseca entre afetação e homossexualidade. Mas, também não há nada de errado seja em ser um gay efeminado ou um gay não-efeminado. São características individuais que não devem ser confundidas com a orientação sexual. O mesmo vale para a suposta “masculinidade” das lésbicas.

O mundo religioso fundamentalista não consegue trabalhar bem com situações de gênero e de orientação sexual não-heterossexuais. Para a maioria dos fanáticos, ou se está entre os homens ou entre as mulheres, seja em características físicas, biológicas, orientação e direcionamento da afetividade. Para eles, não há meio termo (ai dos bissexuais!)... Talvez, por isso o Irã seja o país do mundo que mais paga cirurgias de adequação de gênero, especialmente a de gênero masculino para feminino. Afinal, ao permitir isso, a sociedade medieval iraniana deixa de se sentir desconfortável com a existência de pessoas que não se sentem adequadas em seus corpos originais e pode jogar a polêmica para debaixo do tapete. Para os transexuais, uma ótima situação. Mas, para os homossexuais que não querem mudar de gênero e mesmo assim relacionar-se com o mesmo sexo, o problema se agrava, pois o Irã é, paradoxalmente, o país do mundo que mais enforca e apedreja gays e lésbicas em via pública. Ou seja, ao recusarem-se a colocar-se compartimentados no status de gênero ditado pela heteronormatividade, são punidos como se culpados fossem por algo que lhes acompanha na essência desde a mais infância, pelo menos.

Por isso, digo que a luta contra o machismo e a misoginia também são lutas contra a homofobia e vice-versa, pois no inconsciente coletivo de nossa sociedade miso-homofóbica moderna tudo existe de modo interdependente: o homem é superior, a mulher deve ser desprezada e os não-heterossexuais são como as mulheres, ou seja, inferiores e desprezíveis.

Está na hora de mudarmos este quadro! Muitos gays masculinos, como disse no começo, enaltecem a imagem feminina, e isso deve irritar muito o inconsciente machista/misógino. Talvez, seja este o motivo dos crimes homofóbicos contra travestis, transexuais e gays efeminados serem tão cruéis, com desfiguração da face, castração e desmembramento do corpo. Sem uma re-educação da sociedade não é possível mudar esta situação para as próximas gerações. Quando tivermos uma lei anti-homofobia aprovada e uma reavaliação dos currículos escolares, incluindo educação para a diversidade, a violência vai diminuir. Talvez, devagar, mas vai diminuir. Para tal continuaremos lutando!

quinta-feira, 22 de março de 2012

[Notícia] A casa homofóbica caiu! Sílvio Koerich desmascarado!

Por Espiritualidade Inclusiva

(Uma das muitas barbaridades preconceituosas e de incitação à violência no site do fake Sílvio Koerich, agora identificado pela PF)

Quem abomina a homofobia, a incitação à violência contra gays, negros, mulheres e minorias ou já sofreu preconceito violento, já deve ter ouvido falar do “fake” Sílvio Koerich e de seu website homofóbico, racista, anti-semita, misógino e xenófobo, em suma, NAZISTA! Pois, ele e seu comparsa acabam de ser identificados, conforme notícias reproduzidas abaixo:




Polícia Federal prende incitadores de ódio na internet

Joyce Carvalho

Pregação da violência contra homossexuais, mulheres, negros, nordestinos e judeus, além da incitação para extermínio destes grupos, levaram dois homens para a prisão nesta quinta-feira (22). Emerson Eduardo Rodrigues e Marcelo Valle Silveira Mello foram presos em Curitiba pela Polícia Federal (PF) e são suspeitos de alimentarem um site na internet com estas informações.

Os dois colocaram ofensas contra a presidente da República, Dilma Rousseff e outras autoridades de alto escalão. Ameaçaram de morte publicamente o deputado federal Jean Wyllys (PSOL/RJ). Aém disto tudo, há postagens no site sobre como matar uma pessoa, sendo de maneira lenta ou rápida. Ou ainda como abordar crianças para um posterior abuso sexual. Havia também citações de que lésbicas deveriam sofrer um "estupro corretivo", de acordo com a PF, que deflagrou a Operação Intolerância, na qual os dois foram presos. Os policiais federais ainda cumpriram três mandados de busca e apreensão, sendo dois no Paraná e um em Brasília.

As investigações começaram em dezembro do ano passado, após mais de 70 mil denúncias crimes por parte da sociedade civil sobre o conteúdo ofensivo do site. "Eles não pregavam apenas a discriminação, que por si só já é grave. Eles também pregavam extermínios em massa de negros, homossexuais, mulheres. As imagens no site são bastante fortes. Há, inclusive um manual de aliciamento de crianças. Tudo causa uma repugnância social. Em dez anos de atuação, é um dos casos mais graves que eu vi", afirma o delegado da PF Flávio Cardinelle Oliveira Garcia, chefe do núcleo de repressão a crimes cibernéticos da PF no Paraná.

Segundo o delegado, há indicativos de que as ofensas também eram reais e não ficavam apenas no mundo virtual. Há boletins de ocorrência contra os dois presos por agressões e ameaças. Garcia explica que Marcelo Mello foi condenado por discriminação pela internet em 2005 e que este seria o primeiro caso de uma punição em virtude de ofensas virtuais no País. Marcelo também tem R$ 500 mil reais na conta corrente e a PF vai tentar descobrir a origem do dinheiro. Eram solicitadas doações no site ofensivo.

De acordo com o delegado Wagner Mesquita, também da PF no Paraná, foi localizado um mapa de uma casa de festas perto do campus da Universidade de Brasília, muito conhecida pelos estudantes da instituiçã. Há citações no site de que uma ação contra alunos da universidade seria planejada e colocada em prática, semelhante ao massacre em uma escola municipal em Realengo, no Rio de Janeiro, há quase um ano. O alvo seria estudantes de cursos de Ciências Sociais, considerados pelos dois como "esquerdistas". Marcelo Mello é ex-estudante da Universidade de Brasília, segundo a PF.

Os presos se diziam parte de uma seita que tentava captar pessoas com estes mesmos pensamentos. Há insinuações de que o assassino Wellington Menezes de Oliveira, o responsável pelo massacre em Realengo, teria feito contato com os dois para obter informações para o crime. Mas ainda não há confirmação se houve realmente a ligação entre os três.

O site ainda permanece no ar porque está hospedado na Malásia e o processo depende do governo do país asiático. "Eles acharam que desta forma não seriam identificados. Mais gente pode estar envolvida, inclusive colaborando para as mensagens", revela Garcia.




Desmascarada identidade do homofóbico Silvio Koerich

Um Outro Olhar (Miriam Martinho, editora)

Há tempos, a pedido de várias pessoas físicas (ativistas ou não), onde se inclui a editora do Um Outro Olhar, e organizações não-governamentais, como o CLAM (Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos), a ABGLT, a SaferNet, órgãos governamentais como a Secretaria de Políticas para Mulheres e a Secretaria de Direitos Humanos vinham tentando identificar e punir os autores do site Silvio Koerich por suas postagens criminosas contra mulheres, homossexuais, negros, etc.

(Um dos fake Koerich, agora identificado como Emerson)

Hoje, sob o título PF prende incitadores de Ódio na Internet, do site Paraná Online, lê-se matéria que informa sobre a identificação dos criminosos Emerson Eduardo Rodrigues (Sílvio Koerich) e Marcelo Valle Silveira Mello, moradores de Curitiba e Brasília, respectivamente, e a expedição de mandados de prisão preventiva contra eles pela Justiça Federal. Segue trecho e link para a matéria completa. Apesar da demora, algo a comemorar. Mais informações devem surgir em breve.

PF prende incitadores de Ódio na Internet

A PF em Curitiba realiza nesta quinta-feira (22), a fase ostensiva da sua "Operação Intolerância" - por meio da qual identificou os responsáveis pelas postagens criminosas encontradas no site silviokoerich . org - , para o cumprimento dos mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça Federal contra Emerson Eduardo Rodrigues e Marcelo Valle Silveira Mello, moradores de Curitiba e Brasília, respectivamente.

As investigações, conduzidas pelo Núcleo de Repressão aos Crimes Cibernéticos, uma Unidade Especializada da PF, permitiram a cabal identificação dos criminosos, que há meses vinham postando mensagens de apologia de crimes graves e da violência, sobretudo contra mulheres, negros, homossexuais, nordestinos e judeus, além da incitação do abuso sexual de menores.

Esta Unidade Especializada, que integra a Delegacia de Defesa Institucional da PF, recebera inúmeras denúncias relacionadas ao conteúdo discriminatório do referido site, bem como outras denúncias, de mesmo teor, foram dirigidas ao Ministério Público Federal e à ONG SaferNet, onde se registraram 69.729 (até 14.04.12) pedidos de providências a respeito do conteúdo criminoso do site investigado, um número recorde da participação de populares no controle do conteúdo da internet brasileira.

(Sílvio Koerich)
Também, nesta manhã, a PF dará cumprimento aos mandados de busca e apreensão expedidos pela JF, para examinar residências e locais de trabalho dos criminosos em busca de elementos materiais da responsabilidade criminal, já amplamente demonstrada ao longo da investigação e que, preliminarmente, permitiu identificar o cometimento dos crimes de incitação/indução à discriminação ou preconceito de raça, por meio de recursos de comunicação social (Lei 7716/89); incitação à prática de crime (art. 286 do Código Penal) e publicação de fotografia com cena pornográfica envolvendo criança ou adolescente (Lei 8069/90-ECA).

Consta da decisão judicial que decretou a prisão preventiva dos criminosos que "Elementos concretos colhidos na investigação demonstram que a manutenção dos investigados em liberdade é atentatória à ordem pública. A conduta atribuída aos investigados é grave, na medida em que estimula o ódio à minorias e à violência a grupos minoritários, através de meios de comunicação facilmente acessíveis a toda a comunidade. Ressalto que o conteúdo das ideias difundidas no site é extremamente violento. Não se trata de manifestação de desapreço ou de desprezo a determinadas categorias de pessoas (o que já não seria aceitável), mas de pregar a tortura e o extermínio de tais grupos, de forma cruel, o que se afigura absolutamente inaceitável."

Dentre os conteúdos publicados pelos criminosos e localizados pela PF, havia referência ao apoio prestado pelos criminosos ao atirador Wellington, que em 2011 atacou a tiros uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, matando diversas crianças, bem como à suposta incapacidade da Polícia Federal em o localizar e deter.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O beijo proibido do “amor que não ousa dizer o nome”

Por Paulo Stekel (artigo originalmente publicado em http://gayexpression.wordpress.com/2011/03/01/o-beijo-proibido-do-%E2%80%9Camor-que-nao-ousa-dizer-o-nome%E2%80%9D/)

Quem não conhece a famosa frase do polêmico escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900) que define o amor entre pessoas do mesmo sexo como “o amor que não ousa dizer o nome”? Em Wilde, quase tudo é audacioso, desde suas comédias, textos para crianças (sim, ele fez isso!) até seu autobiográfico “De Profundis”, publicado em versão completa mais de 70 anos após sua morte. Para muitos, um dos primeiros ícones homossexuais a inspirar os modernos movimentos LGBTs, ainda que tenha travado uma luta muito particular contra o preconceito, não uma luta articulada, como a que travamos hoje. Wilde viveu sua homossexualidade intensamente numa época em que isso era crime, e teve que arcar com as consequências de “amar o igual” em plena era das trevas da Londres de 1895. Ficou preso por dois anos e, por conta disso, teve sua saúde, vida financeira e até produção intelectual prejudicadas.


Wilde vinha de família protestante, o que, com certeza, lhe aumentou a pressão por causa de sua orientação sexual. Os protestantes, em geral, são muito mais radicais que os católicos no que tange ao sexo não-reprodutivo e, em especial, à homossexualidade. Ainda hoje é assim, e, se pudessem, todos nós estaríamos presos como Oscar Wilde, privados de nossos direitos fundamentais. Aliás, é o que intentam na surdina os pastores evangélicos fanáticos e mesmo alguns setores fundamentalistas do catolicismo.

Esses fanáticos querem negar-nos o direito mais consensual do amor entre dois seres: o beijo apaixonado em público. Todos sabemos que na televisão brasileira o beijo gay é um tabu absurdamente hipócrita. Novelas em horário nobre apresentam a um público indiscriminado as maiores baixarias sexuais, extra-conjugais e violência sado-masoquista sem o mínimo murmúrio dos que se auto-intitulam “baluartes da moral e dos bons costumes”, mas sequer apresentam um “selinho gay”, pois isso acabaria com a “demonização” das relações homoafetivas perante a sociedade brasileira, derrubando o cavalo de batalha caquético das “frentes cristãs” abertamente anti-gays. Na verdade, o beijo proibido, o beijo gay, se tornado frequente na televisão, e do modo correto, acabaria com o bicho-de-sete-cabeças na cabeça dos brasileiros, que possuem uma visão equivocada do universo homoafetivo. É um medo inconsciente de sabe-se lá o que a atormentar a mente de quem foi educado dentro de uma norma imposta por um costume que não é de todos. Se não é de todos, há de se dar voz ao diverso.
Recordo a primeira vez que dei o “beijo proibido” em plena rua, em Santa Maria, no interior do RS, lá pelos idos de 1995, ao sair de uma festa. Não esqueço da reação de um popular que passava e ia proferindo impropérios ladeira abaixo. Se fosse na Avenida Paulista, a coisa seria mais séria…

Dez anos depois, em 2005, repeti a cena em um shopping de Brasília, e a reação foi mais amistosa. Mereci até um ok e um sorriso de um atendente de empresa de celulares que assistia a tudo de um quiosque no centro do shopping. (Não, não sei se ele era gay ou apenas “simpatizante”. Rsrs.)

O fato é que, por mais que uma boa parcela da sociedade pareça hoje mais “tolerante” ao beijo gay em público, sempre se encontra aqueles “machões carentes de auto-afirmação” que só conseguem sentir virilidade batendo em quem pensam ser menos viris que eles, o que, me permitam esclarecer, nem sempre é a verdade dos fatos…

A grosso modo, eu divido os homofóbicos masculinos em três classes: os enrustidos (engaiolados em uma orientação sexual que não quer se revelar por conta da pressão do meio social em que vivem, o que os leva a “exorcizar” seus demônios sexuais através da violência contra quem demonstra claramente sua orientação), os fanáticos religiosos (que seguem de modo cego e medieval uma interpretação bíblica não conectada à realidade do mundo moderno, propagada por sacerdotes hipócritas que chegam ao cúmulo de associar homossexualidade com pedofilia) e os misóginos (sim, os misóginos, aqueles homens que, mesmo sendo heterossexuais, tem “nojo” das mulheres, as consideram seres inferiores ao homem e sua propriedade meramente reprodutiva; então, associando a homossexualidade ao feminino, o asco contra gays é duplicado).

Quanto às mulheres, a homofobia é bem menor por conta do preconceito que elas mesmo sofreram por milênios (e, ainda sofrem) sob a tutela de seus “senhores”. Vejo aí a explicação para gays masculinos possuírem muito mais amigas que amigos. As mulheres entendem melhor quem sofre preconceito porque elas mesmas o sofrem em muitas circunstâncias e lugares, por mais que nossa sociedade tenha evoluído no tocante aos direitos femininos. Podemos, então, concluir que gays masculinos não são misóginos, não consideram a mulher como inferior a eles, mas como uma referência de beleza, força, coragem e devoção, ou um misto de tudo isso. Não há qualquer relação de submissão, de superioridade ou de inferioridade, entre um gay masculino e uma amiga mulher, seja ela heterossexual ou lésbica. Tanto que Oscar Wilde escreveu: “As mulheres existem para que as amemos, e não para que as compreendamos.” Amar é a suprema aceitação…, pois, para Wilde, “amar é ultrapassarmo-nos”.

Ao elencar esses tipos masculinos de homofóbicos, pessoas que conseguem em público até sorrir para gays, mas que em circunstâncias outras lhes desferem tapas, socos e pontapés, me recordo das palavras de Oscar Wilde em “De Profundis”: “Por detrás da alegria e do riso, pode haver um temperamento vulgar, duro e insensível. Mas, por detrás do sofrimento, há sempre sofrimento. Ao contrário do prazer, a dor não usa máscara.”
E, não usa mesmo! A dor é evidente, é feroz, se instala e não apresenta opções: ou você a enfrenta, ou a enfrenta. Não cabem máscaras nessa luta. Então, em geral, gays falam o que pensam sem dó nem piedade. A dor lhes ensinou a “encurtar o caminho para a salvação” (desculpem, mas não resisti!): a verdade, o discurso direto sem hipocrisia, o saber “se virar” para sobreviver, a coragem para dar a cara a tapa… Afinal, não dizem que “A Verdade vos libertará”? Se existe um Deus, Ele deve se agradar dessa autenticidade, não da hipocrisia dos religiosos que se consideram salvos e que se utilizam da mentira o tempo todo para impedir que tenhamos direitos reconhecidos.

O que pensar, por exemplo, de um senador (diga-se, Magno Malta – PR/ES, pastor evangélico) que maldosamente tenta vincular a homossexualidade à pedofilia? As estatísticas não mentem: a maior parte dos pedófilos são homens heterossexuais! Nada mais lógico, uma vez que os gays são só cerca de 10% das pessoas. Ao dizer que, se aprovado o Projeto de Lei 122 (PLC/122) que criminaliza a homofobia, um pedófilo poderia alegar que “sua orientação sexual é transar com crianças”, o senador demonstra total desconhecimento do Direito e despreparo ao lidar com direitos civis. Na verdade, o que existe é má intenção pura de natureza religiosa!

E, nós, como podemos fazer frente a noções bizarras e mal-intencionadas como a deste pastor-senador e símiles malafaias que se locupletam em seus templos não taxados pelo Brasil afora? Dentro da lei podemos protestar, e o “beijaço” é uma das formas mais interessantes. Usar o “beijo proibido” para tornar evidente “o amor que não ousa dizer o nome” é uma forma pacífica e eficaz de preencher a lacuna que a mídia insiste em deixar vazia.
Pessoas que confundem o beijo gay com promiscuidade demonstram uma ignorância tal que não merece resposta. A promiscuidade existe nas relações humanas, sejam heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Aliás, a quantidade de maridos heterossexuais com suas amantes, algo que está presente em 100% das novelas e séries brasileiras, é a prova de que a promiscuidade é um evento, por dizer assim, democratizado em nossa sociedade, uma espécie de vício social aceitável, qual o “beber moderadamente” ou “socialmente”.

As relações afetivas gays não duram menos que as heterossexuais, e já há pesquisas demonstrando isso. O problema é que a mídia só mostra dos gays a “banda podre” ou o “circo de micos amestrados”. Me refiro à prostituição, aos excessos e aos gays caricatos em programas de humor. Contudo, a prostituição é uma instituição heterossexual praticamente universal! Não foram os gays que a inventaram! E, nos gays caricatos, há um “realce” do comportamento efeminado e do humor que agrada a uns e desagrada a outros. Sem problemas, há espaço para todas as tribos! Mas, querer definir todo o universo gay por uma parcela, com vistas a denegrir o todo, é uma tática “que não é de Deus” (desculpem, não resisti novamente)!

Está chegando a hora do “amor que não ousa dizer o nome” dizê-lo em voz alta, com todas as letras e exigir seus direitos até a última linha da Declaração Universal dos Direitos do Homem e da Constituição Federal. Não seremos encarcerados como o foi Oscar Wilde, a não ser que moremos em algum país islâmico, onde até assassinados sumariamente podemos ser. Então, saiamos às ruas e vamos exigir nossos direitos sociais todos, sem exceção. Temos que evidenciar todo o nosso descontentamento à sociedade. Lembremos do que escreveu Wilde:

O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação.”

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Hipocrisia papal... preconceito oficial

Por Paulo Stekel (publicado originalmente em http://revistahorizonte.blogspot.com/2008/11/hipocrisia-papal-preconceito-oficial.html)



Depois de afirmar com todas as letras que o Cristianismo (Católico, diga-se de passagem!) é a única religião verdadeira, jogando todas as demais no Inferno, o Papa Bento XVI resolveu se superar: acaba de aprovar medidas que levarão psicólogos a evitar que gays se tornem seminaristas. Isso seria uma resposta aos vários escândalos envolvendo pedofilia que custaram indenizações milionárias ao Vaticano nos últimos anos.

O infame documento divulgado recentemente pela Congregação para a Educação Católica, afirma que o emprego de psicólogos pode ser “útil em certos casos”. Neste caso, os psicólogos deverão detectar possíveis “sintomas” como “as dependências afetivas fortes”, a “identidade sexual incerta” e “a tendência arraigada à homossexualidade”, diz o texto, que dá ênfase à “rigidez de caráter” necessária aos futuros sacerdotes. Se necessário, os psicólogos poderão indicar terapias, no caso de se manifestarem problemas psicológicos (recorrerão ao mesmo expediente de certos grupos protestantes que pretendem “curar” gays?).

Contudo, o que o Vaticano entende por dependências afetivas? O que seria uma identidade sexual incerta? A identidade homossexual não é incerta. É uma identidade! E deve ser respeitada. Rigidez de caráter não tem nada a ver com a identidade sexual de alguém. E a rigidez de Bento XVI não se traduz, necessariamente, por rigidez ética. Aliás, seus antecessores deram vários sinais de falta de ética no trono de São Pedro, como no caso dos Papas que flertaram com o nazismo... que pretendia eliminar judeus, negros, ciganos e homossexuais...

Ainda que o procedimento de recorrer a psicólogos, que não farão parte do corpo docente, não venha a ser obrigatório e deva contar com “o consentimento prévio, livre e explícito do candidato”, o documento, intitulado “Orientações para o uso das competências da psicologia na admissão e formação dos candidatos ao sacerdócio”, e que foi preparado por seis anos até ser aprovado por Bento XVI, não deixa claro o que acontecerá no caso de um candidato se recusar a passar por uma junta de pessoas prontas a devassar suas inclinações pessoais.

As medidas foram ordenadas pelo papa João Paulo II (falecido em 2005), depois que vários escândalos envolvendo pedofilia e relações homossexuais de padres católicos chegaram a público pela imprensa internacional. A Igreja Católica, atualmente muito desgastada, em alguns casos foi obrigada a pagar indenizações milionárias.

A doutrina católica considera a homossexualidade algo intrinsecamente equivocado e, sendo assim, ensina que homossexuais não poderiam se tornar sacerdotes. Tanto que o cardel Zenon Grocholewski, prefeito da congregação vaticana para a educação afirmou sem qualquer receio que “a homossexualidade ainda que não praticada é um desvio, uma irregularidade, uma ferida”. Na verdade, a Igreja Católica só reproduz o preconceito evidente em vários trechos da Bíblia, que não reconhece nem os direitos dos homossexuais, nem os das mulheres, que são consideradas como inferiores e submissas ao homem. Aliás, por serem associados (equivocadamente) às mulheres em seu comportamento, é que os homossexuais masculinos são tão abominados no texto bíblico. Ou seja, uma dupla afronta à dignidade feminina, como se pode ver.

O preconceito vergonhoso da Igreja Católica chega ao ponto de considerar os sacerdotes com tendências homossexuais como mais frágeis e com tendência a ceder com mais facilidade ao ato sexual que os sacerdotes heterossexuais, o que não é confirmado por nenhuma pesquisa científica. Mas, desde quando a Igreja se mostra científica? Sua visão retrógrada neste âmbito já prejudicou a humanidade por muito tempo (lembre-se da Inquisição, da queima de Giordano Bruno, da quase queima de Galileu...). Para a Igreja, a homossexualidade é um comportamento "intrinsecamente ruim" e uma inclinação "objetivamente desordenada". Que belo jogo de palavras!

O livreto aprovado por Bento XVI, e que contém 17 páginas, afirma: “Muitas incapacidades psicológicas mais ou menos patológicas se pronunciam apenas depois da ordenação como sacerdote. (...) Os erros em discernir a vocação não são raros”. Mais ou menos patológicas? Se a Igreja se refere à incapacidade de aderir ao celibato, isso também não atinge os padres supostamente heterossexuais? Não há pedofilia e quebra de celibato por padres heterossexuais? Claro que sim! Agora, querer associar isso tudo a uma parcela minoritária (cerca de 10% das pessoas) é puro preconceito ou algo pior, como declarou Franco Grillini, presidente da associação homossexual italiana, Gaynet: “Isso é puro racismo, a típica obsessão homofóbica da hierarquia eclesiástica. (...) A homofobia na Igreja é cada vez mais evidente. (...) A orientação sexual de um padre deveria ser irrelevante, já que o que a igreja exige é sua castidade. Uma medida assim contribui apenas para alimentar a exclusão.”

Existem cerca de seis mil e quinhentos seminários no mundo e a expulsão dos seminaristas com tendências homossexuais já é uma regra aprovada desde 1961. Contudo, a regra é aplicada poucas vezes, e sabem por que? Por causa da diminuição nos últimos anos da ordenação de padres no Ocidente. Então, quando há falta de sacerdotes, os homossexuais servem? Por que, então, também não ordenam mulheres, se ambos são reprovados como sacerdotes pela doutrina católica?

Entre as recomendações estabelecidas no documento aprovado estão as que pedem que se exclua os candidatos que não tenham sido "castos" por pelo menos três anos, bem como os que tenham tido relações homossexuais, além dos que se declararem publicamente homossexuais, ostentem “atitudes gays” (???) ou que participem de reuniões, clubes ou manifestações desse tipo. É a nova caça às bruxas!

A condenação dos homossexuais por Bento XVI, o ex-soldado nazista, é algo presente em sua biografia mesmo antes deste ter sido ordenado Papa de uma Igreja que flertou com o nazismo sem dar maiores explicações à humanidade. Desde 1981, quando era o presidente da Congregação da Doutrina da Fé, o antigo Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, fez côro com João Paulo II na hipócrita condenação moral ao amor homossexual, tornando-se um dos maiores críticos católicos da homossexualidade. Eis algumas de suas palavras, presentes em vários documentos: “Segundo a ordem moral objetiva, as relações homossexuais são grave depravação e intrinsecamente desordenadas, não podendo em caso algum receber qualquer aprovação. (...) A igreja classifica os casamentos homossexuais como imorais, artificiais e nocivos. Fazem parte da ideologia do mal. (...) O homossexualismo é uma desordem moral!"

Duas atitudes desde sempre mancharam a autoridade e a moral da Igreja, que pretendeu um dia comandar o mundo com mão de ferro: a homofobia (intolerância à homossexualidade, manifestando reações diversas à mesma, como violência física, verbal ou psicológica) e a misoginia (discriminação às mulheres, consideradas como inferiores ao homem). Ambas as atitudes, defendidas por todos os Papas até aqui, são um atentado à razão e aos direitos humanos, um pensamento medieval arcaico e infame, abominável e desumano. Não há qualquer prova científica de que as mulheres sejam inferiores aos homens em qualquer capacidade que seja, assim como não há qualquer prova científica de que, em termos de normalidade, alguma coisa faça distinção entre os homossexuais e os heterossexuais. Portanto, ao afirmar que “o homossexualismo é intrinsecamente mau", como o fez Bento XVI e em outros termos seus antecessores, é tão obtuso e vil como a Inquisição, que era capaz de incinerar pessoas humildes simplesmente porque, sendo canhotas, estavam servindo ao Diabo...

Se a Igreja Católica deseja sobreviver ao Século XXI, é bom que reveja seus posicionamentos ultrapassados, aceitando a homossexualidade como uma via da natureza, reconhecendo o direito das mulheres de exercerem o sacerdócio, reconhendo a importância do uso de preservativos, etc. Continuar resistindo num tempo em que a humanidade está se libertando das antigas amarras que limitavam sua verdadeira felicidade como espécie, amarras muitas das quais foram criadas pela própria Igreja, é um suicídio para o Vaticano. Já há igrejas protestantes que realizam casamentos gays, que ordenam mulheres e que não condenam o uso de preservativos. Por que a Igreja Católica continua achando que é superior às outras e bate pé na arrogância, mesmo depois dos grandes fiascos do passado?

A demonização da homossexualidade pela Igreja é uma das causas do aumento dos grupos homofóbicos que agridem gays pelo mundo todo. A maior parte destes grupos é constituída de cristãos católicos, que acham que estão, com sua violência sem sentido e nada cristã, garantindo a supremacia de alguma coisa que valha a pena. É a mesma atitude de grupos cristãos racistas brancos, que receosos de perder terreno para a população negra, que consideram como inferior, saem desatinados a matar pessoas simplesmente por sua cor. Isto deve ser considerado abominável aos olhos de qualquer religião que se preze.