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sexta-feira, 5 de junho de 2015

Como o Budismo abraça toda forma de amor

Por Rev. Jean Tetsuji



Esta semana a comunidade LGBT faz mais uma vez validar seu pedido de respeito e compreensão junto à sociedade por meio da famosa Parada gay. O tema deste ano, "eu nasci assim, eu cresci assim" posiciona uma nova maneira de mostrar que a diversidade de identidade sexual é real, legítima e sobretudo humana. E vai de encontro a uma breve reflexão que gostaria de fazer.

O budismo não se preocupa com relação a este assunto, ele não é um dogma moral muito menos punitivo aos olhos de um ser superior. Na verdade, tanto faz você ser gay ou hétero, pois não é a sua condição, ao que se convencionou de moral, que o leva ao nascimento a Terra Pura e ao Nirvana. A propósito, esta ação de ir nascer na Terra Pura no budismo Shin é proporcionada pelo Voto do Buda e não pela pessoa com seu esforço próprio. Não esqueçamos ainda que esse conceito moral é uma criação abrahâmica da sociedade ocidental e vivamente incutida na mente coletiva, mesmo de quem não é praticante religioso.

O desejo sexual, assim como outros instintos ou comportamentos, estão baseados fundamentalmente nos cinco agregados, os chamados skandhas: forma, sensações, percepções, formações mentais e consciência . Eles são, como tudo no universo, impermanentes, interdependentes e efêmeros. E não são eles o sofrimento em si, mas o apego que damos a eles. Em suma, nos apegarmos a ideia do desejo ou não é que gera o sofrimento, não o fato em si. A compreensão sobre esses cinco agregados nos permite uma visão melhor da própria existência humana. Todas as sexualidades, homo ou hétero levam à inquietude, à insatisfação constante da mente e por consequência ao sofrimento pela angústia e aflição do eterno desejo insaciável. Logo, o desejo gay é tão doloroso quanto o desejo hétero. E a liberação do sofrimento é o alvo maior dos ensinamentos budistas. Poderíamos ficar horas falando sobre os Cinco agregados. Reproduzo aqui uma passagem interessante.

No Sutra Girando a Roda, o Buda diz: "Quando nos apegamos aos Cinco Agregados, eles produzem sofrimento". Ele não disse que os agregados são, por si mesmos, o sofrimento. Há uma imagem no SutraRatnakuta que nos pode ser útil. Um homem joga um bolo de terra para um cachorro. O cachorro olha para o bolo de terra e late furiosamente, porque não entende que é o homem, e não o bolo de terra, o responsável por sua frustração. O sutra continua: "Da mesma maneira, uma pessoa comum, presa a conceitos dualistas, pensa que os Cinco Agregados são a causa de seu sofrimento, enquanto na verdade a raiz do sofrimento está na falta de compreensão da natureza impermanente, sem existência separada, e interdependente dos Cinco Agregados. Não são os Cinco Agregados que nos fazem sofrer, mas a forma como nos relacionamos com eles. Ao observarmos a natureza impermanente, interdependente e sem existência própria de tudo o que existe, não sentimos aversão pela vida, mas, ao contrário, constatamos como a vida é preciosa".  (retirado do site Acesso ao insight, trecho do livro A essência dos ensinamentos de Buda – Thich Nhat Hahn)

Ainda ressalto que, para o budismo, não há o conceito de pecado nem culpa julgada por um ser divino, criador, superior ou demiurgo como o conceito de Deus. Logo, para budistas (gays), a vida se torna mais leve em entender e viver sua identidade sexual. O mesmo acontece com espíritas e anglicanos e algumas vertentes que, em paralelo às escrituras tradicionais, procuram interpretar seus ensinamentos de forma mais atual e holística.

O desejo pelo mesmo sexo não é algo previsível, assim como ser canhoto ou gostar mais de doce ou salgado. Esses conflitos são produto de uma mente discriminativa do próprio ego e de uma cultura imposta como verdade absoluta. Muito menos o sexo é visto como perpetuação da espécie humana para um projeto divino. É preciso ainda lembrar que somos um grande fluxo cármico de várias gerações e variedades, onde a Vida nos é concedida, em meio à causas e condições. Sempre brinco se alguém aqui pediu para nascer, rsrs, acho que não né?

Em nossas formações fisicas e mentais, eu vejo a sexualidade antes de tudo como uma identidade do desejo inato, não de uma influência de criação sócio-familiar, senão não haveriam individuos gays pois seus pais são héteros, nem uma opção pois a vida não é uma autoprogramação, e muito menos escolha, pois não há desejo pelo oposto como alternativa, salvo aqui os bissexuais. O desejo homoafetivo assim vem junto ao nascimento, aos que assim vieram, cedo ou tarde desvela seu instinto (o jargão "sair do armário"), mas pela força da sociedade que vivemos temos uma tendência a nos subjugar pela moral ditada pelos dogmas de culturas religiosas impostas e assim nos sentirmos culpados, confusos e castigados.

Nesse ponto, algo importante a se revelar: a crença e os dogmas de uma deteminada religião só tem validade se você nela crer, caso contrário, nenhum julgamento pode ser intimidador. Os dogmas e crenças são relativos, a verdade budista não é válida para judeus, nem a cristã para os muçulmanos, e nem preciso discorrer mais sobre o ponto visto os séculos de guerras. Portanto, a comunidade LGBT se faz posicionar no conceito de sociedade laica e assim respeitar sua presença junto à ela.

Logo, no budismo, o Buda o abraça em sua Luz e Sabedoria e o recebe em sua Terra Pura do jeito que é, por razões que brevemente discorri sobre os Agregados. Em breve analogia, é o que outras vertentes como anglicanos ou espíritas preconizam, aceitando a comunidade homoafetiva em suas sedes e os compreendendo como filhos de Deus. E, apenas para finalizar, as pessoas se preocupam tanto com o ato sexual em si, perpetuação da família (que aliás esse é outro assunto para mais tarde), plano divino, mas esquecem o mais profundo e fundamental, o Amor pelo outro expresso entre si no mais puro e belo afeto. E isso é absolutamente indiscutível, legítimo e relevante diante de qualquer religião.


Sobre o autor


Rev. Jean Tetsuji começou sua trajetória pela espiritualidade com a Igreja Messiânica, na qual chegou a ser pré-seminarista. Aos 30 anos começou a se interessar pelo Budismo. A questão de Criador e criatura sempre lhe foi alvo de inquietude, sobretudo com relação a culpa, pecado e sexualidade. Em 2002, começou a frequentar a Escola Terra Pura. Mudou-se para Maceió em 2005, onde firmou mais seus estudos, iniciando um pequeno grupo de estudos junto ao Rev. Wagner Bronzeri. Decidiu-se, então, a propagar o Dharma no sentido formal do Sangha. Foi ordenado em maio de 2013, no templo matriz (Honzan) em Kyoto, Japão, em uma cerimônia belíssima e solene junto a tantos outros com objetivo de propagar o Dharma, os ensinamentos do Mestre Shinran e do Buda Shakyamuni.
 
 


quarta-feira, 26 de março de 2014

Primeira Exortação do Papa Francisco




O Papa Francisco foi eleito pela revista LGBT mais importante do mundo, "The Advocate", como a personalidade do ano 2013. Dentre outras razões pesou sua declaração "Se alguém é gay e procura Deus com boa intenção, quem sou eu para julgá-lo?" Adiante, apresento trecho da sua primeira exortação, em que se percebe claramente a sua posição de autoridade máxima da Igreja Católica em relação a TODOS, SEM EXCLUSÕES.
(Marcelo Moraes Caetano)


Papa Francisco –

Exortação Apostólica EVANGELII GAUDIUM

sobre o ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ATUAL

Quando se assume um objetivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem exceções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. A proposta acaba simplificada, sem com isso perder profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiosa.

Todas as verdades reveladas procedem da mesma fonte divina e são acreditadas com a mesma fé, mas algumas delas são mais importantes por exprimir mais diretamente o coração do Evangelho. Neste núcleo fundamental, o que sobressai é a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado. Neste sentido, o Concílio Vaticano II afirmou que «existe uma ordem ou ‘hierarquia’ das verdades da doutrina católica, já que o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente». Isto é válido tanto para os dogmas da fé como para o conjunto dos ensinamentos da Igreja, incluindo a doutrina moral.

São Tomás de Aquino ensinava que, também na mensagem moral da Igreja, há uma hierarquia nas virtudes e ações que delas procedem. Aqui o que conta é, antes de mais nada, «a fé que atua pelo amor» (Gal 5, 6). As obras de amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do Espírito: «O elemento principal da Nova Lei é a graça do Espírito Santo, que se manifesta através da fé que opera pelo amor». Por isso afirma que, relativamente ao agir exterior, a misericórdia é a maior de todas as virtudes: «Em si mesma, a misericórdia é a maior das virtudes; na realidade, compete-lhe debruçar-se sobre os outros e – o que mais conta – remediar as misérias alheias. Ora, isto é tarefa especialmente de quem é superior; é por isso que se diz que é próprio de Deus usar de misericórdia e é, sobretudo nisto, que se manifesta a sua omnipotência».

É importante tirar as consequências pastorais desta doutrina conciliar, que recolhe uma antiga convicção da Igreja. Antes de mais nada, deve-se dizer que, no anúncio do Evangelho, é necessário que haja uma proporção adequada. Esta reconhece-se na frequência com que se mencionam alguns temas e nas acentuações postas na pregação. Por exemplo, se um pároco, durante um ano litúrgico, fala dez vezes sobre a temperança e apenas duas ou três vezes sobre a caridade ou sobre a justiça, gera-se uma desproporção, acabando obscurecidas precisamente aquelas virtudes que deveriam estar mais presentes na pregação e na catequese. E o mesmo acontece quando se fala mais da lei que da graça, mais da Igreja que de Jesus Cristo, mais do Papa que da Palavra de Deus.

A pregação moral cristã não é uma ética estoica, é mais do que uma ascese, não é uma mera filosofia prática nem um catálogo de pecados e erros. O Evangelho convida, antes de tudo, a responder a Deus que nos ama e salva, reconhecendo-O nos outros e saindo de nós mesmos para procurar o bem de todos. Este convite não há de ser obscurecido em nenhuma circunstância! Todas as virtudes estão ao serviço desta resposta de amor. Se tal convite não refulge com vigor e fascínio, o edifício moral da Igreja corre o risco de se tornar um castelo de cartas, sendo este o nosso pior perigo; é que, então, não estaremos propriamente a anunciar o Evangelho, mas algumas acentuações doutrinais ou morais, que derivam de certas opções ideológicas. A mensagem correrá o risco de perder o seu frescor e já não ter «o perfume do Evangelho».

A Igreja, que é discípula missionária, tem necessidade de crescer na sua interpretação da Palavra revelada e na sua compreensão da verdade. A tarefa dos exegetas e teólogos ajuda a «amadurecer o juízo da Igreja». Embora de modo diferente, fazem-no também as outras ciências.

No seu constante discernimento, a Igreja pode chegar também a reconhecer costumes próprios não directamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns muito radicados no curso da história, que hoje já não são interpretados da mesma maneira e cuja mensagem habitualmente não é percebida de modo adequado. Podem até ser belos, mas agora não prestam o mesmo serviço à transmissão do Evangelho. Não tenhamos medo de os rever! Da mesma forma, há normas ou preceitos eclesiais que podem ter sido muito eficazes noutras épocas, mas já não têm a mesma força educativa como canais de vida. São Tomás de Aquino sublinhava que os preceitos dados por Cristo e pelos Apóstolos ao povo de Deus «são pouquíssimos». E, citando Santo Agostinho, observava que os preceitos adicionados posteriormente pela Igreja se devem exigir com moderação, «para não tornar pesada a vida aos fiéis» nem transformar a nossa religião numa escravidão, quando «a misericórdia de Deus quis que fosse livre». Esta advertência, feita há vários séculos, tem uma actualidade tremenda. Deveria ser um dos critérios a considerar, quando se pensa numa reforma da Igreja e da sua pregação que permita realmente chegar a todos.

Portanto, sem diminuir o valor do ideal evangélico, é preciso acompanhar, com misericórdia e paciência, as possíveis etapas de crescimento das pessoas, que se vão construindo dia após dia. Aos sacerdotes, lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor que nos incentiva a praticar o bem possível. Um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vida externamente correcta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades. A todos deve chegar a consolação e o estímulo do amor salvífico de Deus, que opera misteriosamente em cada pessoa, para além dos seus defeitos e das suas quedas.

Um coração missionário está consciente destas limitações, fazendo-se «fraco com os fracos (...) e tudo para todos» (1 Cor 9, 22). Nunca se fecha, nunca se refugia nas próprias seguranças, nunca opta pela rigidez autodefensiva. Sabe que ele mesmo deve crescer na compreensão do Evangelho e no discernimento das sendas do Espírito, e assim não renuncia ao bem possível, ainda que corra o risco de sujar-se com a lama da estrada.

PAPA FRANCISCO

domingo, 19 de janeiro de 2014

Carta Aberta de afastamento do Movimento Free Tibet

Repostado cfe. original de: http://tibetelivrebrasil.blogspot.com.br/2014/01/cartaaberta-de-afastamento-do-movimento.html



Carta Aberta de afastamento do Movimento Free Tibet, no Brasil denominado “Tibete Livre – Brasil”, justificada a partir de um enfoque budista não-sectário

Paulo Stekel


Desde 1995, quando me converti ao Budismo, através do Budismo Vajraiana, já me considerava simplesmente um budista, independente de sectarismos. Ainda que tenha predileção pelo Mahaiana, estudo o teravada, o vajraiana e as novas escolas que estão se formando no Ocidente. Sou um budista, não um sectário. Inspirando-me no último ensinamento de Buda, suas palavras me servem de inspiração na busca do tornar-me mestre de mim mesmo. Também inspiro-me no movimento do Budismo Socialmente Engajado proposto pelo mestre Thich Nhat Hanh. Não sou um proselitista – o Budismo não é proselitista – , e busco conciliar minha busca espiritual budista com outras convicções, como a importância do Laicismo (para permitir a liberdade e a diversidade religiosa), dos Direitos Humanos, dos Direitos LGBT, da autonomia dos povos e da preservação ambiental. Nada disso contradiz o Budismo, até onde o estudei, e na opinião de muitos Mestres do Dharma.
Em 2008, após conversas com Gabriel Hartnell, da organização britânica Free Tibet Campaign (Londres), iniciei um movimento de apoio ao Tibete, que no Brasil se chamou “Tibete Livre – Brasil”. Alguns interessados na questão tibetana se associaram à ideia, mas o movimento no Brasil nunca obteve apoio realmente consistente, especialmente por parte de praticantes do Vajraiana, como também é conhecida a corrente tibetana do Budismo Mahayana. O motivo desta baixa adesão sempre me intrigou.

Em setembro de 2008 foi criado o blogue do movimento, que ainda está no ar, mas sem qualquer atualização desde 2011: http://tibetelivrebrasil.blogspot.com.br. Várias pessoas se tornaram colaboradoras dele, mas logo desistiram de continuar, evidenciando que algo a mais havia.

Na seção “Nossa Missão”, postada no blogue, estava escrito: “O Movimento Tibete Livre – Brasil luta pelo direito do povo tibetano de determinar seu próprio futuro. Nosso objetivo é clamar pelo fim da opressão chinesa no Tibete ocupado e pela garantia de respeito aos direitos humanos fundamentais dos tibetanos.”

Um dos responsáveis indiretos pelo desenvolvimento da postura que agora adoto em relação ao Movimento Free Tibet dentro de uma perspectiva budista não-sectária, é o Monge Joaquim Monteiro (Shaku Shoshin), do Budismo Shin, que ao conceder-me uma entrevista, em 2008, sabiamente abriu espaço para várias reflexões:

(…) Parece-me realmente que está em curso a formação de um Budismo especificamente ocidental. Como o Budismo se faz presente em muitas sociedades ocidentais de um caráter completamente diverso e praticamente todas as tradições budistas estão presentes no Ocidente acho difícil prever o rumo que esse “Budismo ocidental” em formação irá assumir. É mais fácil responder a respeito da formação de um “Budismo brasileiro”, pois não só participei diretamente de alguns períodos de sua formação como também estou engajado em suas atuais questões.

(…) Acredito que o desenvolvimento do “Budismo brasileiro” na sociedade do pós-guerra pode ser dividido grosseiramente em três períodos. O primeiro está centrado nas décadas de 60 e 70. Trata-se de um Budismo fortemente marcado pela mentalidade da contracultura e por uma perspectiva essencialmente individualista. (…)

O segundo se deu a partir dos meados da década de 90 através da introdução das diversas linhagens do Budismo tibetano em nosso país. Nesse período o Budismo começou a ter uma visibilidade social bem maior e sua influência se expandiu bastante para além das comunidades étnicas de origem oriental.

Acredito que o terceiro período, que agora vivenciamos, se constitua em uma avaliação crítica dos avanços e dos obstáculos presentes nos dois períodos anteriores. Com a expansão das comunidades budistas brasileiras e com sua crescente presença na sociedade não será possível evitar a questão da relação dessas comunidades com a sociedade brasileira. Acredito assim, que o essencial no momento é fortalecer a educação e o estudo sistemático do Budismo. Acredito também que só existirá um “Budismo brasileiro” no momento em que os budistas começarem a pensar a sociedade brasileira a partir das premissas da tradição budista.”

Durante o levante tibetano de março de 2008, o Monge Joaquim Monteiro foi um dos poucos praticantes budistas do Brasil a falar e escrever abertamente sobre a questão, condenando a repressão patrocinada pelo regime chinês. Mas, algo parece ter impedido que outros líderes budistas se manifestassem com a mesma veemência, e ele respondeu a isso em sua entrevista:

As posturas que assumi durante o levante tibetano foram derivadas em parte do estudo e da reflexão que venho desenvolvendo há mais de duas décadas sobre a questão tibetana e em parte de um sentimento de urgência que me fez perceber que estava enfrentando um momento de importância decisiva. Senti que era chegado o momento de passar à ação. No que diz respeito às lideranças budistas a que você se refere não posso dizer nada de conclusivo a respeito dos eventuais obstáculos que as impediram de agir. Com umas poucas exceções os líderes budistas brasileiros responderam à atual situação através de um silêncio para mim incompreensível. Não quero e não posso dar uma resposta conclusiva a respeito da postura dessas lideranças a que se refere, mas acredito que seu silêncio talvez seja uma expressão da mentalidade individualista que tem bloqueado tanto o estudo sistemático do Budismo em sua relação com a sociedade contemporânea quanto a formação de uma visão comunitária conducente à práxis social.”

Quando inquirido sobre a omissão (à época do levante) de boa parte dos líderes budistas, em especial a comunidade brasileira do Budismo Tibetano, constituindo-se isso num contrassenso, o Monge Joaquim respondeu:

Levantando uma hipótese a ser confirmada, essa postura dos budistas de tradição tibetana pode ser uma falha circunstancial da introdução dessa tradição ou pode ser a expressão de que o processo de introdução do Budismo tibetano no Brasil possui aspectos mais problemáticos do que geralmente se pensa. Tive até hoje muito pouco contato com os budistas de tradição tibetana no Brasil, mas percebi através desses contatos alguns pontos extremamente positivos e alguns aspectos possivelmente problemáticos. O que sinto como a contribuição mais consistente do Budismo tibetano em nosso meio é que ele conseguiu formar uma minoria de estudiosos sérios do pensamento budista em um nível jamais divisado em nosso país. No entanto, sinto que o senso comunitário centrado nas linhagens talvez tenha sérias dificuldades na passagem para a práxis social concreta. Todas essas são questões que gostaria de compartilhar em um eventual diálogo com os líderes das tradições tibetanas no Brasil.”

Este “senso comunitário centrado nas linhagens” se fez demonstrar em nossas atividades quando nos demos conta de que os membros das sangas tibetanas no Brasil eram orientados a não se envolver, nem a apoiar diretamente as ações do Free Tibet em nosso país. Após esta entrevista, e mais alguns fatos, perdemos apoios de vários ativistas pró-tibete sem um motivo aparente. Pareciam ter sido realmente orientados a se afastar...

Depois de muito insistir, consegui do Chagdud Gonpa Brasil uma resposta por e-mail sobre o motivo do pouco engajamento da sanga Niyngmapa na causa tibetana que parece comprovar o que digo. A resposta foi enviada pela secretária da Lama Chagdud Khadro e a torno pública pela primeira vez aqui:

(...) sobre a questão Tibetana. Abaixo vai o que a Khadro respondeu há pouco para alguém sobre esta questão (…).

Although your compassionate concern for the Tibetan people is deeply appreciated, we follow the tradition established in the time of the late Chagdud Rinpoche to help with private contributions to monasteries in Tibet and to limit our public expressions to prayers and ceremonies. [Embora sua preocupação compassiva pelo povo tibetano seja muito apreciada, seguimos a tradição estabelecida na época do falecido Chagdud Rinpoche de ajudar com contribuições privadas os mosteiros no Tibete e limitar nossas expressões públicas a orações e cerimônias.]

A última atualização do blogue do Movimento Tibete Livre – Brasil é de março de 2011. Nesta época, já fazia várias reflexões sobre a questão tibetana, o Dalai Lama e o Budismo Tibetano. Anunciei a alguns apoiadores que deixaria o movimento Free Tibet e que revelaria logo meus motivos, mas nestes quase três anos refleti um pouco mais e, para minha surpresa, descobri mais motivos para um afastamento definitivo. Por isso, escrevo agora esta carta pública de afastamento. E, a faço analisando os fatos sob uma perspectiva budista não-sectária.

A baixa resposta dos praticantes do Budismo Tibetano (e de budistas de outras linhagens) ao Movimento Free Tibet no Brasil me chamou a atenção. Isso começou a revelar os detalhes da política tibetana no exílio. A resposta do Chagdud Gonpa alertou-me para uma questão: os meandros da política tibetana antes e pós-Tibete anexado.

A gota d'água foi quando o secretário do Dalai Lama disse para um de nossos apoiadores em evento internacional que o ativismo do Dalai Lama em prol do Tibete era a “via pacífica” e que o Free Tibet era a outra via, insinuando que não seria pacífica. Por isso, não apoiavam com tanta ênfase o movimento e ainda pediam que as comunidades vajraianas não se engajassem oficialmente no mesmo. Para mim, isso soou como muita hipocrisia, uma vez que, no website oficial do Governo Tibetano no Exílio, entre as organizações que apoiam a liberdade para o Tibete ali listadas, constava o site da ONG Free Tibet Campaign. Ainda hoje, no novo site do Governo Tibetano (http://tibet.net), é possível achar várias referências positivas às ações da ONG inglesa Free Tibet Campaign (conferir em: http://tibet.net/?s=%22free+tibet+campaign%22&x=0&y=0). Como pode alguém dizer que não éramos a via pacífica e ainda assim incluir o site do movimento entre os links relacionados?

Quando, a partir de 1988, o Dalai Lama reconheceu a Bönpa como a quinta linhagem tibetana de ensinamentos vajraiana, isso evidenciou um preconceito existente anteriormente por parte dos mosteiros e do próprio governo tibetano. Essa linhagem não havia sido reconhecida no Tibete livre por questões político-religiosas. Mas, agora que a situação é outra, o reconhecimento dos Bönpos se tornou interessante para o Governo Tibetano no Exílio, pois os traz para a luta em prol do Tibete.

Poderíamos dizer que, ao fomentar uma visão não-sectária com relação às cinco linhagens tibetanas, o Dalai Lama se mostrava totalmente favorável à diversidade religiosa (budista ou não) e mesmo ao diálogo interreligioso. Mas, e a polêmica questão da prática do Protetor Dorje Shugden?

Dorje Shugden é uma deidade do vajraiana, especialmente da escola Gelugpa, onde é visto como um Protetor do Darma e a encarnação do Lama Dragpa Gyaltsen do Mosteiro de Drepung, um contemporâneo do 5º Dalai Lama (1617–1682). Shugden é um Protetor do Darma das tradições Sakya e Gelugpa, venerado por mais de trezentos anos. A controvérsia de Shugden surgiu no fim da década de 1970, quando o atual Dalai Lama começou a se pronunciar contra a prática, e foi intensificada deste 1996, quando ele publicou uma “proibição explícita”, reprimindo a prática dentro da comunidade de exilados tibetanos e considerando Shugden como um não-iluminado e um ser das trevas, um “espírito das forças negras”.

A proibição desta prática com veemência por parte do Dalai Lama (embora tenha sido apresentada como “conselho” - ver: http://tibet.net/2008/06/05/his-holiness-the-dalai-lamas-advice-concerning-dolgyal/) e a posterior discriminação e violência dos tibetanos no exílio para com seus praticantes, lamas, leigos e até crianças, é algo inadmissível num mundo democrático, laico e que busca a paz, quanto mais para budistas que possuem a não-violência como uma de suas práticas basilares. O próprio governo tibetano no exílio se posicionou oficialmente, favorecendo a opinião do Dalai Lama: http://tibet.net/2007/07/10/statement-by-the-cta-on-shugdendholgyal-followers-from-tibet/.

O Lama Geshe Rabten, se pronunciou a respeito: “O Dalai Lama permanece o líder temporal dos tibetanos no exílio, mas, não é mais o líder espiritual indiscutível.” Outros alegam que tal “discriminação de deidade” é ilegal de acordo com a Constituição do Tibete, a Constituição da Índia e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

A origem da prática de Dorje Shugden está envolvida em uma disputa política no período do 5º Dalai Lama. Portanto, não há motivos religiosos para a prática ser proibida, mas tão somente motivos políticos, controvérsias de poder – algo temporal e impermanente, ao qual não se deve dar tanta ênfase. Parece que o Dalai Lama e seu staff não admitem qualquer contrariedade e isso não é nada democrático. Ele só abdicou recentemente de suas tarefas como líder da nação tibetana por sentir a pressão da juventude nascida no exílio, uma juventude que vê as coisas sob outro viés, mais moderno e abrangente. Mas, sua proibição da prática de Shugden continua de pé.

Na verdade, a despeito da controvérsia sobre o Tibete ser totalmente independente da China antes da invasão ou não, o fato é que sua anexação foi facilitada por seu governo ser muito frágil e não ter promovido em centenas de anos nenhuma melhoria social considerável para a imensa maioria miserável da população. Esta falha foi muito bem aproveitada pela China comunista na hora de justificar sua invasão. Contudo, isso não justifica a violação dos direitos humanos e a morte de quase um terço da população tibetana. E, o que o Dalai Lama e seu staff conseguiram até hoje fazer pelos tibetanos oprimidos? Quase nada, a não ser um exílio que transfere o governo inerte de antes para o norte da Índia. Agora, o Dalai Lama diz ter abandonado a ideia de independência em prol de uma autonomia do Tibete. Acho que ele deveria ir mais longe. O que me proponho a apoiar é um Tibete independente ou autônomo, mas que seja totalmente laico e governado pelo próprio povo tibetano, não pelos lamas nem pelos chineses. Assim, o Budismo no Tibete voltaria a ter o status original: o de prática religiosa sem ligação direta com a política, onde cada linhagem teria a plena liberdade para se desenvolver e se expandir.

Atualmente, a própria comunidade tibetana pelo mundo se anda dividida por causa de decisões arbitrárias como: a decisão unilateral do Dalai Lama de desistir do objetivo de independência do Tibete, sem consulta ao governo ou ao povo tibetano, o maior interessado; sua incapacidade de cumprir o compromisso declarado de democratizar o governo tibetano; sua aquiescência à censura da imprensa e à repressão da liberdade de expressão; a supressão impiedosa da liberdade de religião através da proibição da prática de Shugden unicamente por razões políticas.

Contudo, o que mais deve estranhar a qualquer um que defenda o Estado Laico no tocante à questão tibetana é que a própria natureza e função do Dalai Lama no governo tibetano o transforma num sistema teocrático feudal - com sua mistura endêmica de religião e política, a sua tradução de idéias religiosas nas políticas de governo, a sua profunda confusão sobre os papéis de líder religioso e
chefe de Estado, e sua visão retrógrada da posição do Dalai Lama como o “Deus-Rei” ou “Buda Vivo” do Tibete.

Se o Governo Tibetano no Exílio se considera um governo democrático e laico, então a proibição da prática de Shugden além dos muros dos mosteiros gelugpas é uma afronta à liberdade religiosa. A proibição da prática não pode extrapolar o ambiente religioso dos mosteiros e aparecer no website oficial do Governo Tibetano, pois isso significa que o Governo apoia a proibição, sepultando qualquer imparcialidade laica. Não há um peso e duas medidas. Se o Governo Tibetano no Exílio não se considera um governo laico, então, também não é democrático e não podemos apoiá-lo de modo algum. A constituição tibetana no exílio foi retirada do atual site oficial do governo tibetano, mas pode ser acessada aqui: http://www.servat.unibe.ch/icl/t100000_.html. Ali, fica claro que a constituição tibetana prevê liberdade religiosa e diz estar de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos e com as disposições da ONU. Além disso, considera que o futuro Tibete livre seria uma República Democrática Federal.

Agora que o Dalai Lama abdicou de suas funções como líder político e ficou apenas com as funções religiosas, a constituição tibetana sofreu alterações, mas tais alterações a deixam ainda menos laica (ver: http://www.thetibetpost.com/en/news/international/1728-new-changes-to-the-constitution-of-tibet-after-his-holiness-decision-). O caminho a ser seguido deveria ser outro, o do completo laicismo.

Para onde foi todo o dinheiro do “Free Tibet” europeu? Por décadas, grupos de apoio e organizações em todo o Ocidente foram angariando fundos para o Movimento “Free Tibet”. A partir de doações de governos para a promoção de bottoms, adesivos, bolsas e bonés; através da organização de concertos, jantares e exposições; e através de qualquer outro dispositivo de angariação de fundos que se possa imaginar, essas organizações continuam a levantar grande quantidade de dinheiro para o que a maioria dos benfeitores ocidentais acredita ser o objetivo: um Tibete livre, independente. Mas, não é mais isso que o Dalai Lama busca...

Além disso, é esperado de todos os tibetanos, onde quer que vivam, que paguem uma “taxa de independência” para o governo tibetano no exílio. O registro desses pagamentos é mantido no “Livro Verde” (Green Book) que cada tibetano carrega consigo. Este livro, uma espécie de passaporte-adesão ao governo no exílio, é essencial para os tibetanos na Índia que queiram uma autorização para viagens ao exterior, e os que não pagam perdem benefícios e serviços, e muitas vezes são condenados ao ostracismo, arriscando a perseguição e o exílio de sua própria comunidade. O governo tibetano também recebe grandes doações de outras fontes, incluindo governos nacionais, particulares de muitos países, instituições filantrópicas, empresas e muitos outros tipos de organizações.

Os recursos arrecadados a partir da “taxa de independência” e de todas estas outras atividades de angariação de fundos não são utilizados para o apoio ou alívio da comunidade tibetana. A maioria dos fundos para o alívio de refugiados, para o órfão, a educação, os cuidados médicos e os hospitais, são obtidos diretamente do governo indiano, a partir das principais agências humanitárias em todo o mundo, os governos ocidentais e fundos de caridade privados. Então, para que serve esta taxa? O texto oficial no website do Governo Tibetano no Exílio diz: “O pagamento da contribuição voluntária é uma condição para ganhar o direito de voto nas eleições parlamentares.” Se é voluntário, como pode ser condição para algo? E, o conceito budista de doação, que tem sua máxima expressão em Dana Paramita, a Perfeição da Generosidade?

Então, pergunto: Como pode o Dalai Lama defender os direitos humanos e a liberdade religiosa, enquanto se envolve em violação sistemática dos mesmos no tocante à prática de Dorje Shugden?

Como pode ele defender governos, valores e princípios democráticos, ao operar no exílio o mesmo tipo de teocracia autocrática do antigo Tibete?

Como pode continuar cobrando a “taxa de independência” e recebendo doações via “Free Tibet”, já tendo abandonado unilateralmente a idéia de independência do Tibete há anos?

Outra atitude do Dalai Lama que me desagradou enormemente tem relação com suas declarações a respeito da homossexualidade. Como gay (e budista) convicto, não posso concordar com elas.

No artigo “O Buda Gay”, que escrevi em 2012 (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/08/o-buda-gay-um-estudo-amplo-sobre-visao.html) apresentei as declarações contraditórias do Dalai Lama:

Numa entrevista de 1994, ele afirmou: "Se alguém vem a mim e pergunta se a homossexualidade é boa ou não, vou perguntar: 'Qual é a opinião do seu companheiro?' Se ambos concordam, então eu acho que eu diria 'se dois machos ou duas fêmeas concordam voluntariamente em ter satisfação mútua sem implicação de prejudicar outros, então é bom'." No entanto, em seu livro de 1996, Além do Dogma, ele afirma: "Um ato sexual é considerado adequado quando os casais usam os órgãos destinados à relação sexual e nada mais... a homossexualidade, seja entre homens ou entre mulheres, não é imprópria em si mesma. O que é impróprio é o uso de órgãos já definidos como impróprios para o contato sexual."

O Dalai Lama declarou que antes, esteve incerto sobre se uma relação de mesmo sexo não-abusiva e de acordo mútuo seria aceitável dentro dos princípios gerais do Budismo. Ao ter dificuldades em imaginar os mecanismos de sexo homossexual, dizendo que a natureza tinha arranjado órgãos masculinos e femininos "de tal maneira que é muito apropriado... órgãos do mesmo sexo não podem funcionar bem", o Dalai Lama tem dito repetidamente aos grupos LGBT que ele não pode reescrever os textos. O mesmo dizem padres e pastores cristãos fundamentalistas sobre os textos bíblicos.

Em 1999, numa entrevista com Alice Thompson, ele declarou de modo enfático: "Eles querem que eu tolere a homossexualidade. Mas, eu sou um budista e, para um budista, um relacionamento entre dois homens é errado. Algumas condutas sexuais no casamento também são erradas.", falando sobre masturbação e sexo oral. Também disse que "Se uma pessoa não tem fé, é uma questão diferente"... "Se dois homens realmente se amam e não são religiosos, então, está OK para mim." Um discurso moderno de exclusão? Afinal, o que o Dalai Lama deixa claro é que, se os LGBTs querem ser como são, mas não forem religiosos budistas, tudo OK. O alento é que ele não representa a palavra de todos os budistas – mestres, monges e leigos – no mundo.

(…) Certa vez, o monge budista Theravada Ajahn Brahmavamso escreveu para o Jornal West Australian, respondendo a um artigo publicado ali, em que o Dalai Lama foi citado como tendo dito que a homossexualidade era imoral. Eis o que ele escreveu ao jornal:

"Caro senhor/senhora, o Dalai Lama estava fora de sintonia quando disse (de acordo com o seu artigo no West, 15 de abril, página 7) 'se você é um budista, a homossexualidade é errada. Ponto final.' O Dalai Lama não é o 'papa' do Budismo e, encantador como ele muitas vezes é, às vezes ele erra. (...)

A grande maioria dos budistas em todo o mundo moderno são inspirados a aprender que o Buda certamente não discriminou a homossexualidade. Os ensinamentos fundamentais do Budismo original mostram claramente que não é se a pessoa é heterossexual, homossexual ou celibatária que é boa ou ruim, mas é como uma pessoa usa a sua orientação sexual que contribui para bom ou mau karma.

Portanto, o fato é que o Buda, e, portanto, o Budismo, abraça gays e lésbicas e transexuais com equidade e respeito. Por muito tempo o fanatismo religioso tem causado sofrimento a grupos minoritários em nossa sociedade. Todas as religiões devem ser mais amorosas. Ponto final!" - Ajahn Brahm

Vários mestres do Budismo Tibetano têm se manifestado favoráveis à questão homossexual, o que é mais uma prova de que a declaração do Dalai Lama é apenas a sua opinião, não um decreto.

Concluindo, os motivos que me levaram a um afastamento do Movimento Free Tibet e, agora, a anunciar meu desligamento em caráter definitivo, iniciando um ativismo em prol dos direitos humanos do povo tibetano na esfera laica, são:

  • Sou um laicista e prefiro uma democracia laica para o Tibete, seja ele independente, região autônoma ou seja lá o que for. Não concordo com uma “teocracia budista”, se me permitem o termo, assim como não concordo com teocracias cristãs, islâmicas, judaicas, etc. Ainda neste item, sendo politicamente laico, discordo da proibição da prática de Dorje Shugden pelo Dalai Lama por motivos claramente políticos. Não sou praticante de Dorje Shugden, mas me solidarizo com seus adeptos, assim como me solidarizaria com os adeptos de qualquer culto pacífico que sofresse discriminação.
  • A afronta aos direitos humanos dos tibetanos pelo governo da China desde a anexação do Tibete é, realmente, muito grave, mas a postura não-laica do Dalai Lama e seu staff tem contribuído para piorar a situação, que fica parecendo uma querela de poder, quando na verdade, envolve a morte de milhares de pessoas miseráveis, desassistidas (por ambos os lados) e inocentes.
  • O preconceito homofóbico apresentado pelo Dalai Lama em suas declarações contraditórias. Contraditórias porque tentam colocar panos quentes na polêmica e acabam por causar mais confusão. Isso realça a discriminação e incita o preconceito, o que não é budista.

Dito isto, me desligo definitivamente do movimento global conhecido por “Free Tibet”, apoiador do Dalai Lama e de sua visão política que continua a fomentar uma “teocracia budista (?)”, e continuo defendendo os direitos humanos do povo tibetano de forma laica, sem viés religioso, mas com ênfase na preservação da vida humana, da cultura, da religião e da língua tibetanas. O blogue do “Tibete Livre – Brasil” será encerrado, mas não excluído. E, dito isto, continuo budista!

Sarva Mangalam! (Haja benefício para todos os seres!)

Canoas, 21 de Janeiro de 2014.

Paulo Stekel

(Escritor, jornalista, músico, ex-coordenador geral do Movimento Tibete Livre – Brasil, coordenador do Movimento Espiritualidade Inclusiva)

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ENGLISH VERSION

Open Letter of renouncement to the "Free Tibet Movement", in Brazil called "Tibete Livre – Brasil"


Paulo Stekel


Since 1995, when I converted to Buddhism, via Vajrayana, I've considered myself a simply Buddhist, regardless of any sectarianism. Though I have a predilection for Mahayana, I study Theravada, Vajrayana and the new schools that are appearing in the West. I am a Buddhist, not a sectarian. With reference to the ultimate teaching of the Buddha, his words serve me as an inspiration in search for the goal to make me a master of myself. I also base myself on Socially Engaged Buddhism movement proposed by Master Thich Nhat Hanh.
I am not a proselytist - Buddhism is not proselytist - and I search to reconcile my Buddhist spiritual quest with other convictions, such as the importance of Laicism (to allow freedom and religious diversity), Human Rights, LGBT Rights, the autonomy of the peoples and environmental preservation. None of it contradicts Buddhism, far as I have studied, and also in the opinion of many Masters of Dharma.

In 2008, after talks with Gabriel Hartnell, from the British NGO “Free Tibet Campaign” (London), I started a movement in support of Tibet in Brazil called "Tibete Livre - Brasil". Certain stakeholders in the Tibet issue associated themselves with this idea, but the movement in Brazil never really got consistent support, especially from practitioners of Vajrayana, the Tibetan development of Mahayana Buddhism. The reason for this low support has always intrigued me.

In September 2008, the blog of the movement, which is still on, was created but is no update since 2011: http://tibetelivrebrasil.blogspot.com.br. Several people became his collaborators, but soon dropped out to continue, showing that there was something more.

In the "Our Mission" section posted on the blog, was written: "The Movement 'Tibete Livre - Brasil' fights for the right of the Tibetan people to determine their own future. Our goal is to call for an end of Chinese oppression in occupied Tibet and to ensure respect for the fundamental human rights of Tibetans."

One of the indirect individuals responsible for developing posture I now adopt regarding Free Tibet Movement within a non-sectarian Buddhist perspective, is the Brazilian Monk Joaquim Monteiro (Shaku Shoshin), from Shin Buddhism, which when has given me an interview in 2008 wisely opened up space for some reflection:

"(...) It seems to me that is actually under way the formation of a specifically Western Buddhism. As Buddhism is present in many western societies a completely different and almost all Buddhist traditions are present in the West character, I find it hard to predict the direction that "Western Buddhism" in formation will take. It is easier to answer regarding the formation of a "Brazilian Buddhism" because I not only participated directly in some periods of their formation as I am also engaged in their current issues.

(...) I believe that the development of the "Brazilian Buddhism" in postwar society can be divided roughly into three periods. The first is focused in the 60s and 70s. This is a Buddhism strongly influenced by the counterculture mentality and an essentially individualistic perspective. (...)

The second took place from the mid 90s through the introduction of various lineages of Tibetan Buddhism in our country. During this period Buddhism began to have a much greater social visibility and its influence was expanded well beyond the ethnic communities of Eastern origin (...)

I believe that the third period, which we experience now, it constitutes a critical review of the advances and obstacles present in the two previous periods. With the expansion of Brazilian Buddhist communities and their growing presence in society, you can not avoid the question of the relationship of these communities with Brazilian society. I believe therefore, that essential at the moment is to strengthen education and systematic study of Buddhism. I also believe that there will only be a 'Brazilian Buddhism' at the time the Buddhists start thinking Brazilian society from the premises of the Buddhist tradition."

During the Tibetan uprising of March 2008, the Monk Joaquim Monteiro was one of the few Buddhists in Brazil to speak and write openly about the issue, condemning the repression sponsored by the Chinese regime. But something seems to have prevented other Buddhist leaders to manifest with the same vehemence, and he answered to it during his interview:

"The positions I took during the Tibetan uprising were derived in part from study and reflection I have been developing for more than two decades on the Tibetan issue and partly in a sense of urgency that made me realize that I was experiencing a moment of decisive importance. I felt that the moment had come to take action. With regard to the Buddhist leaders you refer to, I can not say anything conclusive about the possible obstacles that prevented them from acting. With a few exceptions Brazilian Buddhist leaders responded to the current situation through a silence to me incomprehensible. I do not want and can not give a conclusive answer regarding the attitude of the leaders referred to, but I believe their silence is perhaps an expression of individualistic mentality that has blocked both the systematic study of Buddhism in its relation to contemporary society as formation of a community vision conducive to social praxis." 
When asked about the failure (at the time of the uprising) of most of the Buddhist leaders, in particular the Brazilian community of Tibetan Buddhism, something so nonsense, Monk Joaquim said:

"Raising a hypothesis to be confirmed, this posture of the Buddhists of Tibetan tradition can be a circumstantial failure of the introduction of this tradition or it may be expressing that the process of introduction of Tibetan Buddhism in Brazil is more problematic than is generally thought. I've had to date very little contact with the Buddhist Tibetan tradition in Brazil, but I realized through these contacts some extremely good points and some potentially problematic aspects. What I feel like the more consistent contribution of Tibetan Buddhism in our environment is that it was able to form a minority of serious scholars of Buddhist thought on a level never sighted in our country. However, I feel a sense of community centered on lineages may have serious difficulties in the transition to the concrete social praxis. All these are questions I would like to share in a possible dialogue with the leaders of the Tibetan traditions in Brazil."

This "sense of community centered on lineages" has turned out to be demonstrated in our activities when we realized that members of Tibetan sanghas in Brazil were instructed to not engage, or to directly not support the actions of the Free Tibet in our country. After this interview, and a few more facts, we lost the support of several pro-Tibet activists for no apparent reason. They seemed to have been really oriented to move away...

After insistent questioning, I received from Chagdud Gonpa Brazil a response by e-mail about why little engagement of Niyngmapa Sangha in the Tibetan cause that seems to prove what I say. The reply was sent to me by the secretary of Lama Chagdud Khadro and I'll show it publicly here, for the first time:

"(...) On the Tibet issue. Below is what Khadro just replied to someone about this issue (...).

Although your compassionate concern for the Tibetan people is deeply appreciated, we follow the tradition established in the time of the late Chagdud Rinpoche to help with private contributions to monasteries in Tibet and to limit our public expressions to prayers and ceremonies.”

The last update of Free Tibet Movement – Brazil's blog is of March 2011. At this time, I've made several reflections on the Tibetan issue, Dalai Lama and Tibetan Buddhism. Announced to some supporters that I would leave the Free Tibet Movement and soon I would reveal my reasons, but these almost three years I reflected a little more, and to my surprise I've found more reasons for final renouncement. So now I write this public letter of renouncement. And I do this by analyzing the facts in a non-sectarian Buddhist perspective.

The low response of practitioners of Tibetan Buddhism (and other Buddhist lineages) to the Free Tibet Movement in Brazil struck me. This began to reveal details of Tibetan politics in exile. The answer of Chagdud Gonpa prompted me to a question: the intricacies of Tibetan politics before and after Tibet annexed to China.

The final straw was when the Dalai Lama's secretary said to one of our supporters at an international event that Dalai Lama's activism in support of Tibet was the "peaceful path" and the Free Tibet was the other path, implying that it no would be peaceful. Therefore, they do not strongly support the movement and still demand that vajraiana communities officially not to engage themselves in it.

It sounded to me like a lot of hypocrisy, since, on the official website of the Tibetan Government in Exile, among the various organizations listed there that support freedom for Tibet, appeared the website of the NGO Free Tibet Campaign. Today within the new website of the Tibetan Government (http://tibet.net), you can find several positive references to the actions of the British NGO Free Tibet Campaign (check in: http://tibet.net/?s =% 22free+tibet+campaign%22&x=0&y=0). How can anyone may say we were not the peacefull path and still include the website of the movement in the related links?

When, after 1988, the Dalai Lama recognized the Bönpa as the fifth Tibetan Vajrayana lineage of teachings, it showed a bias existing previously in the monasteries and Tibetan government. This lineage had not been recognized in the original Tibet due to political and religious issues. But now that the situation is different, the recognition of Bonpos became interesting for the Tibetan Government in Exile, as it brings them to the struggle for Tibet.

We could say that, by encouraging a non-sectarian vision with regard to five Tibetan lineages, the Dalai Lama could be totally favorable to religious diversity (Buddhist or not) and even inter-religious dialogue. But what about the controversial issue of the practice of the Protector Dorje Shugden?

Dorje Shugden is a deity of Vajrayana, especially of the Gelugpa school, where he is seen as a Dharma Protector and the incarnation of Lama Dragpa Gyaltsen of Drepung Monastery, a contemporary of the 5th Dalai Lama (1617-1682). Shugden is a Dharma Protector of the Sakya and Gelugpa, venerated for over three hundred years. The Shugden controversy arose in the late 1970s, when the current Dalai Lama started to speak out against the practice, and this was intensified in 1996, when he published an "explicit ban", suppressing the practice within the Tibetan exile community and considering Shugden as a non-illuminated and a being of darkness, a "spirit of the dark forces."

The vehement prohibition of the practice by the Dalai Lama (although it was presented as "advice" - see: http://tibet.net/2008/06/05/his-holiness-the-dalai-lamas-advice-concerningdolgyal-/) - and subsequent discrimination and violence by Tibetans in exile to their practitioners, lamas, laypeople and even children, is something unacceptable in a democratic and secular world who seeks peace, let alone to Buddhists who have non-violence as one of its basic practices. The Tibetan government in exile officially positioned itself, favoring the opinion of the Dalai Lama: http://tibet.net/2007/07/10/statement-by-the-cta-on-shugdendholgyal-followers-from-tibet/.

The Lama Geshe Rabten made the following observations: "The Dalai Lama remains the temporal leader of Tibetans in exile, but is no longer undisputed Their spiritual guide." Others claim that such "discrimination against the deity" is illegal according to the Tibetan Constitution, the Indian Constitution and the Universal Declaration of Human rights.

The origin of the Dorje Shugden's practice is involved in a political dispute in the period of the 5th Dalai Lama. So there is no religious reasons for the practice to be banned, but only political reasons, power controversies - something temporal and impermanent, at which should not be given much emphasis. It seems that the Dalai Lama and his staff do not tolerate any opposition and that's nothing democratic. He only recently has abdicated your tasks as leader of the Tibetan nation because he felt the pressure of youth born in exile, a youth that looks things from another perspective, most modern and comprehensive. But the ban on Shugden practice still stands.

In fact, despite the controversy over Tibet be totally independent from China before the invasion or not, the fact is that its annexation was facilitated by their government be very fragile and not have promoted in hundreds of years, significant social improvement for the vast majority of miserable people. This failure was very well used by Communist China in time to justify the invasion. However, this does not justify the violation of human rights and the death of nearly a third of the Tibetan population. And what the Dalai Lama and his staff were able to do today for the oppressed Tibetans? Virtually nothing, except an exile that transfers inert government prior to northern India.

Now, the Dalai Lama said to have abandoned the idea of independence in favor of autonomy for Tibet. I think he should go further. What I propose to support is an independent or autonomous Tibet, but totally secular and governed by the Tibetan people, not by Lamas or the Chinese government. Thus, Buddhism in Tibet would return to the original status: religious practice without direct connection to the policy, where each lineage would have the full freedom to develop and expand itself.

Currently, the Tibetan community around the world goes divided because of arbitrary decisions: the unilateral decision of the Dalai Lama of giving up the goal of independence for Tibet without consulting the government or the Tibetan people, the biggest stakeholder; his inability to meet the declared commitment to democratize the Tibetan government; his acquiescence to censorship of the press and the repression of freedom of expression, the ruthless suppression of freedom of religion by prohibiting the Shugden's practice just for political reasons.

However, what else should surprise any one who defends the Lay State regarding the Tibetan issue is that the very nature and function of the Dalai Lama in the Tibetan government transforms it into a feudal theocratic system - with its endemic mixing of religion and politics, its influence of religious ideas in government policies, its deep confusion about the roles of religious leader and head of state, and its retrograde view of the position of the Dalai Lama as the "God-King" or "Living Buddha" in Tibet.

If the Tibetan Government in Exile is considered a democratic and laic government, then, the ban on Shugden's practice beyond the walls of the Gelugpa monasteries is an affront to religious freedom. The prohibition of the practice can not extrapolate the religious atmosphere of the monasteries and to appear on the official website of the Tibetan Government, because that means the Government supports the ban, burying any laic impartiality. There are two measures and a weight. If the Tibetan Government in Exile is not considered a secular government, then, is not democratic and we can not support it in any way. The Tibetan in Exile Constitution was removed from the current official website of the Tibetan government, but can be accessed here: http://www.servat.unibe.ch/icl/t100000_.html. Here, it remains clear that the Tibetan constitution provides freedom for religious and stands according to the Universal Declaration of Human Rights and the provisions of the UN. Furthermore, it considers that the future free Tibet would be a Federal Democratic Republic.

Now that the Dalai Lama has abdicated his duties as a political leader and remained with religious functions only, the Tibetan Constitution was changed, but these changes even makes it less laic (see: http://www.thetibetpost.com/en/news/international/1728-new-changes-to-the-constitution-of-tibet-after-his-holiness-decision-). The path to follow should be other, the complete laicism.

Where was it all the money applied in the European "Free Tibet"? For decades, support groups and organizations throughout the West raised money for the Movement "Free Tibet". From donations from governments to promote bottoms, stickers, bags and caps, by organizing concerts, dinners and exhibitions, and through any other fundraising device imaginable, these organizations continue to raise large amounts of money for what most Western benefactors believed to be the goal: a free and independent Tibet. But is not that what the Dalai Lama seeks...

Moreover, it is expected of all Tibetans, wherever they live, to pay a "tax of independence" for the Tibetan government in exile. The record of these payments is kept in the "Green Book" that brings every Tibetan. This book, a kind of passport-membership to government in exile, is essential for Tibetans in India who want an authorization to travel abroad, and those who not pay, they lose benefits and services, and are often ostracized, risking persecution and exile from his own community. The Tibetan government also receives large donations from other sources, including national, private governments of many countries, charities, companies and many other types of organizations.

The funds raised from the "tax of independence" and all these other fundraising activities are not used for the support or relief of the Tibetan community. The majority of funds for the relief of refugees, for the fatherless, education, health care and hospitals, are obtained directly from the Indian government, from the main humanitarian agencies around the world, Western governments, and private charity funds. So, what is this tax? The official text on the website of the Tibetan Government in Exile says: "Payment of the voluntary contribution is a condition to gain the right to vote in parliamentary elections." But if it is voluntary, how it may to conditionate something? And the Buddhist concept of giving, which has its maximum expression in Dana Paramita, the Perfection of Generosity?

So I ask: How can the Dalai Lama defend human rights and religious freedom, while engaging himself in systematic violation of them regarding the practice of Dorje Shugden?

How can he defend governments, democratic values and principles, operating in exile the same kind of autocratic theocracy of ancient Tibet?

How he can continue to charge the "tax of independence" and receiving donations via "Free Tibet", if he has unilaterally abandoned the idea of Tibetan independence years ago?

Another attitude from Dalai Lama which displeased me greatly relates to his statements on homosexuality. As a gay (and Buddhist) convinced, I can not agree with them.

In the article "The Gay Buddha", which I wrote in 2012 (see:


"In a 1994 interview, he said: “If anyone comes to me and asks whether homosexuality is good or not, I'll ask: 'What is your companion's opinion?' If both agree, then I think I would say 'if two males or two females voluntarily agree to have mutual satisfaction without implication of harming others, then it is good.'” However, in his book 'Beyond Dogma' (1996), he states, “A sexual act is deemed proper when the couples use the organs intended for sexual intercourse and nothing else ... homosexuality, whether between men or between women, not is improper in itself. What is improper is the use of organs already defined as inappropriate for sexual contact.”

The Dalai Lama said that before he was unclear about whether a relationship even non-abusive sex and mutual agreement would be acceptable within the general principles of Buddhism. When having difficulty in imagining the mechanisms of homosexual sex, saying that nature had arranged male and female organs "in a way that is very suitable... same-sex organs can not function well", the Dalai Lama has repeatedly said to the LGBT groups he can not rewrite the texts. The same thing say fundamentalist priests and Christian pastors on biblical texts.

In 1999, in an interview with Alice Thompson, he declared emphatically: "They want me to tolerate homosexuality. But, I'm a Buddhist and, to a Buddhist, a relationship between two men is wrong. Some sexual behaviors in marriage also are wrong.", talking about masturbation and oral sex. He also said that "If a person has no faith, is a different matter"... "If two men really love each other and are not religious, then, is OK with me." A modern discourse of exclusion? After all, what the Dalai Lama makes clear is that if LGBT people want to be as they are, but are not Buddhist religious, all OK. The encouragement is that it is not the word of all Buddhists - teachers, monks and lay people - in the world.

(...) Once the Theravada Buddhist monk Ajahn Brahmavamso wrote for the West Australian newspaper, responding to an article published there, where the Dalai Lama was quoted as saying that homosexuality was immoral. Here's what he wrote to the newspaper:

Dear Sir/Madam,

The Dalai Lama was out of line when he said (according to your article in the West, April 15, Page 7) “if you are a Buddhist, homosexuality is wrong. Full stop.” The Dalai Lama is not the ‘Pope’ of Buddhism and, charming as he often is, he sometimes gets it wrong. (...)

The greater majority of Buddhists throughout the modern world are inspired to learn that the Buddha certainly did not discriminate against homosexuality. The core teachings of original Buddhism clearly show that it is not whether one is heterosexual, homosexual or celibate that is
good or bad, but it is how a person uses their sexual orientation that makes for good or bad karma. (...)

So the fact is that the Buddha, and therefore Buddhism, embraces gays and lesbians and transsexuals with equity and respect. Too long has religious bigotry caused suffering to minority groups in our society. All religions should be more loving. Full stop!
Ajahn Brahm"

Several masters of Tibetan Buddhism have been speaking favorably to the homosexual issue, which is further evidence that the statement of the Dalai Lama is just an opinion, not a decree. 
In conclusion, the reasons that lead me to move away from Free Tibet Movement and now to announce my disconnection definitively, starting an activism on behalf of human rights of the Tibetan people in the secular sphere, are:

  • I'm a laicist and I prefer a secular democracy for Tibet - independent, autonomous region or whatever it is. I do not agree with a "Buddhist theocracy", if you allow me to use this term, as I do not agree with Christian, Islamic, Jewish theocracies, etc.. Also in this item, being politically laic, I disagree with the ban on the practice of Dorje Shugden by the Dalai Lama for clearly political reasons. I'm not a practitioner of Dorje Shugden, but I sympathize with their adherents, as I symphatize with the supporters of any peaceful worship suffering discrimination.
  • The insult to the Tibetan human rights by the Chinese government since the annexation of Tibet is really very serious, but non-laic attitude of the Dalai Lama and his staff contributes to worsen the situation, which looks like a quarrel of power, when in fact, involves the death of thousands of miserable, neglected (for both sides) and innocent people.
  • The homophobic prejudice presented by the Dalai Lama in his contradictory statements. Contradictory because they try to put on warm cloths the controversy and eventually cause more confusion. This highlights the discrimination and encourages prejudice, which is not Buddhist.

Having said that, I am definitely leaving the global movement known as "Free Tibet", supporter of the Dalai Lama and his political vision which continues to promoting "Buddhist theocracy" (?), and I keep defending the human rights of the Tibetan people in a laic way, without religious bias, but with emphasis on the preservation of human life, culture, religion and Tibetan language. The blog of "Free Tibet - Brazil" will be closed, but not deleted. And with that, I still buddhist!

Sarva Mangalam! (Let there be benefit to all beings!)

Canoas, January 21, 2014.

Paulo Stekel

(Author, journalist, musician, ex-coordinator of the Free Tibet Movement - Brazil, coordinator of Movement “Espiritualidade Inclusiva” [Inclusive Spirituality])

sexta-feira, 17 de maio de 2013

[Onde somos notícia] Paim diz que criminalização da homofobia será lei no Brasil ainda em 2013

Por Espiritualidade Inclusiva

Saiu no site do Sul21 hoje (link original http://www.sul21.com.br/jornal/2013/05/paim-diz-que-criminalizacao-da-homofobia-sera-lei-no-brasil-ainda-em-2013/):


Paim diz que criminalização da homofobia será lei no Brasil ainda em 2013


Senador Paulo Paim defende consenso para aprovação do PLC 122 na base da lei do racismo para garantir aprovação em 2013./ Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Rachel Duarte
O aumento dos crimes de ódio no Brasil coloca o país na liderança mundial de mortes por preconceito em relação à orientação sexual. No Dia Internacional Contra a Homofobia, nesta sexta-feira (17), o senador Paulo Paim (PT-RS) disse que pretende colocar o PLC 122 em votação em agosto deste ano. Engavetado no Congresso Nacional desde 2001, o texto prevê a criminalização da homofobia e, se passar pelo Parlamento, tem a garantia da sanção da presidenta Dilma Rousseff, garantiu Paim. “Ela sanciona ainda este ano. É só conseguirmos o consenso”, falou o senador.
Encontrar um meio-termo entre o que quer o movimento social LGBT, o que o relator acredita ser possível de aprovar e o que a bancada conservadora do Congresso aceitará para aprovar o texto em Plenário é o desafio dos próximos meses para o senador petista. Terceiro na relatoria do PLC 122 no Senado Federal, Paulo Paim pediu a unidade do movimento social na luta pela aprovação do projeto. “Se nós não tivermos entendimento e chegarmos lá divididos, não teremos chance. Temos que nos entender e aprovar o possível agora”, pediu aos representantes gaúchos em debate na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A intenção do relator é encaminhar um texto que coloque a discriminação contra homossexuais dentro da legislação sobre racismo no país. “Quero trabalhar dentro da lei atual, para mexer o mínimo possível no PL. Se fosse pela vontade do movimento social eles queriam uns 20 pontos novos. Eu consigo contemplar todos eles com a dureza do item do Estatuto da Igualdade Racial, que diz ser um crime imprescritível, inafiançável e com previsão de prisão”, explica.

Travestis fazem performances diante das autoridades e colorem o Dia Internacional de Combate à Homofobia./ Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
A ideia não foi bem aceita por parte do movimento negro, o que levou a Coordenadoria Nacional de Diversidade Sexual a elaborar um texto substitutivo. De acordo com Paulo Paim, o consenso com o movimento negro já foi alcançado e os argumentos jurídicos feitos pela Coordenadoria serão aproveitados. “Estamos na busca de pelo menos um entendimento para poder fazer um acordo de procedimento. Votamos o texto que eu vou apresentar e se houver divergência votamos algum destaque. Questões específicas podem ser aperfeiçoadas depois com a futura legislação aprovada. Temos que garantir que o preconceito por orientação sexual seja lei primeiro”, reafirmou.
O representante do movimento Espiritualidade Inclusiva, Paulo Stekel concordou que um recuo agora pode significar uma estratégia de avanço para finalmente aprovar o texto. “Ele pode criar o conceito sobre orientação sexual, discriminação por gênero e finalmente o que seria a homofobia a partir da lei do racismo ou uma lei específica para homofobia. Mas não creio que devamos tipificar as discriminações. Todas são discriminações”, defendeu.
Movimentos LGBT não querem mudança no texto para evitar retorno do PL à Câmara 

Ex-desembargadora do TJ-RS, Maria Berenice Dias argumenta que alterações no texto levariam PLC 122 às mãos do pastor Marcos Feliciano./ Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Já a ex-desembargadora do Tribunal de Justiça do RS, Maria Berenice Dias discorda da alteração do PLC 122 tal qual ele foi aprovado na Câmara Federal. “Este PL levou cinco anos para chegar ao Senado e já está lá há sete anos esperando para aprovação. Se houver alterações no Senado terá que voltar para a Câmara e, com a presidência do jeito que está (Marco Feliciano) ele será arquivado. Portanto, o desejo do movimento gay é de aprovar este texto como está”, disse a advogada da Comissão de Diversidade Sexual da OAB.
O maior entrave para o avanço do projeto que criminaliza a homofobia no Brasil, bem como qualquer outra iniciativa para reparar na legislação federal privações de direitos desta parcela da sociedade, é a numerosa bancada religiosa do Congresso Nacional. Para o representante do Ministério Público do RS, Miguel Velasques, que compareceu ao debate na UFRGS, antes de serem evangélicos, os parlamentares são políticos e devem seguir uma coerência com os princípios das siglas das quais são eleitos. “Eles têm partido político. E estes partidos, principalmente os que são de esquerda, têm que cobrar deles uma postura a favor dos direitos humanos”, falou.
De acordo com o Velasques, o governo federal não pode se omitir em pressionar os líderes e a base aliada sobre o tema da homofobia. “São dez anos de uma administração de esquerda. O Congresso tem que dar sua resposta com a aprovação deste PL. Tivemos uma demonstração da força da base governista na votação da MP dos Portos. Compreendo a importância desta medida para o desenvolvimento do país, mas seres humanos que morrem cotidianamente pela intolerância são, para mim, mais importantes’, criticou.

Debate sobre PLC 122 com senador Paulo Paim na Ufrgs busca consenso para aprovação do texto no Congresso Nacional. Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Os dados de mortes e agressões por homofobia estão aumentando no país, relatou o representante da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Bruno Monteiro. Segundo ele, de 2011 para 2012 houve um aumento de 160% nas denúncias do Disque 100 relacionadas ao preconceito por orientação sexual. “Isso é bom por um lado porque revela que as pessoas estão tendo a coragem de denunciar. Estamos cientes desta realidade e sabemos que precisamos avançar mais”, admitiu.
Uma das iniciativas do governo federal para mudar a cultura preconceituosa relacionada a liberdade sexual foi abolida depois de gerar polêmica na sociedade e desconforto entre os fundamentalistas da base governista. “O Kit anti-homofobia nas escolas era uma importante ação para formar uma sociedade menos preconceituosa e combater o bullying nas escolas e o governo recuou nesta medida. Nós lamentamos isto profundamente. O Brasil está atrasado em termos de legislação e de campanhas sobre homofobia”, lamentou a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Porto Alegre, vereador Fernanda Melchionna (PSOL).
Mortes de homossexuais deve ser tema de audiência com Tarso Genro

Movimentos LGBT cobram resposta do governo gaúcho sobre mortes de travestis no RS./ Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
No Rio Grande do Sul, apenas no começo deste ano seis travestis foram mortas por preconceito. As mortes, segundo a presidente da Associação de Travestis e Transexuais no RS – Igualdade, Marcelly Malta, ocorrem com muita violência. “O último caso, de uma travesti de 38 anos morta na Redenção no último final de semana, foi com uma pancada na cabeça. Estamos acompanhando este caso e queremos uma atitude das autoridades”, cobrou.
O coletivo ‘Todos pela Criminalização da Homofobia’ se uniu na cobrança às autoridades presentes no debate e pediu audiência com o governador gaúcho Tarso Genro (PT). “Precisamos de lei para que não fique impune o preconceito e a violência. O caso do jovem de Tapes que levou 28 facadas está ainda vivo em nós. Nós temos expectativa de que o manifesto seja levado ao governador. Ele é assinado por mais de 30 entidades que não são apenas ligadas ao movimento LGBT”, explica a representante Jucele Azzolin.
O secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, Fabiano Pereira disse que o governo reconhece que os crimes contra a vida de homossexuais como o ocorrido na Redenção, ‘são inadmissíveis’. Para ele, a aprovação do PLC 122 é urgente. “Este projeto representa mais que a punição de crimes por homofobia, será um processo civilizatório. A sociedade do pensamento único não evolui, a que evolui é a da diversidade, da pluralidade e sem intolerância”, afirmou.