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terça-feira, 14 de agosto de 2012

A visão da Homossexualidade na Fé Bahá'í


Por Paulo Stekel


Sempre tive alguma simpatia pela Fé Bahá'í. Mas, depois de alguma pesquisa, seguiu-se a decepção. Como ela mesma se define em seu website oficial em Português (http://www.bahai.org.br):

“É uma religião mundial, independente, com suas próprias leis e escrituras sagradas, surgida na antiga Pérsia, atual Irã em 1844. A Fé Bahá’í foi fundada por Bahá’u’lláh, título de Mirzá Husayn Ali (1817-1892) e não possui dogmas, rituais, clero ou sacerdócio.

A Comunidade Bahá’í, com aproximadamente 7 milhões de adeptos, é a segunda religião mais difundida no mundo, superada apenas pelo Cristianismo, conforme afirma a Enciclopédia Britânica. Os bahá’ís residem em 178 países do mundo, em praticamente todos os territórios e ilhas do globo.

A Comunidade Bahá’í está estabelecida no Brasil desde fevereiro de 1921, com a vinda da Sra. Leonora Holsapple Armstrong.

Mas, o que ensina a Fé Bahá'í? O mesmo website esclarece:

A Unidade da Humanidade: "... hoje todos os horizontes do mundo estão iluminados com a luz da unidade... fomos criados para levar avante uma civilização em constante evolução..."

A livre e independente busca da verdade: "A luz é boa, não importa em que lâmpada brilhe... uma flor é bela, não importa em que jardim floresça..."

A eliminação de todas as formas de preconceitos e discriminação: "...somos as folhas e os ramos de uma mesma árvore... as gotas de um único mar..."

A igualdade de direitos e oportunidades para o homem e a mulher: "A humanidade assemelha-se a um pássaro, uma asa é o homem e a outra, a mulher. O pássaro não pode alçar vôo sem o equilíbrio dessas duas asas..."

A harmonia essencial entre a religião, a razão e a ciência: "A verdade é uma só e é indivisível... o progresso da humanidade depende desses fatores..."

Educação compulsória universal: "O homem é uma mina rica em jóias de inestimável valor, a educação, tão somente, poderá fazê-la revelar seus tesouros..."

A revelação divina é progressiva: "Deus é um, a religião é uma, a humanidade é uma... o objetivo da criação humana é conhecer e adorar a Deus... Todas as religiões provêm de um mesmo Deus..."

(Todas as frases entre aspas citadas nesta página, são Sagradas Escrituras Bahá'ís)

Com toda esta proposta praticamente “universalista” seria de imaginar que a Fé Bahá'í seja uma religião inclusiva para LGBTs. Correto? Não.

Eu mesmo fiz um curso de oração com os Bahá'í há cerca de 20 anos, e percebi que não se tratava de uma religião inclusiva. Apesar de ter corrigido em sua doutrina muitos erros que as demais religiões insistem em manter, no tocante aos gays a Fé Bahá'í mantém a tendência judaico-cristã-islâmica de considerar a prática homossexual um pecado ou um ato reprovável, ainda que se “ame o pecador”, clichê típico dos fundamentalistas cristãos brasileiros.

Não é muito difícil provar que a visão Bahá'í da homossexualidade é tão preconceituosa quanto a cristã, e o faremos citando trechos de vários links Bahá'ís disponíveis.

Comecemos pelo que diz a Wikipédia, a enciclopédia livre, no link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_e_a_F%C3%A9_Bah%C3%A1%27%C3%AD:

“A Fé Bahá'í define que a expressão sexual é aceitável somente dentro do casamento, e os escritos Bahá'ís relativos ao casamento definem exclusivamente o casamento entre um homem e uma mulher. Reforça ainda a importância da castidade absoluta para qualquer pessoa solteira.

Referências sobre a homossexualidade na Fé Bahá'í descrevem como uma condição em que um indivíduo deve controlar e superar. Os Bahá'ís são livres para ensinar da maneira que achar melhor, e é reconhecido ser condenada a discriminação contra qualquer pessoa para abraçar a Causa Bahá'í, sejam homossexuais, alcoólatras ou agente de outras trangressões, mas serem apenas avisados que, ao se tornarem Bahá'ís, estão automaticamente procurando se adaptar ao padrão de vida 'designado por Deus'.

(…) Quando um indivíduo homossexual se torna Bahá'í ou se é descoberto posteriormente que um indivíduo Bahá'í é homossexual, esse assunto é tratado em particular com as Assembléias Espirituais Locais. As AELs irão procurar ajudar o indivíduo a superar suas dificuldades, entretanto, nem os indivíduos, nem as instituições podem investigar a vida de outra pessoa. Somente quando alguma trangressão aos ensinamentos Bahá'ís estiver exposta ou prejudicar de alguma forma as instituições ou outros indivíduos, é que a AEL deve tomar alguma providência. É comumente deixado à consciência individual em relação aos seus atos e espera-se que com o tempo Deus possa ajudá-la a superar alguma dificuldade.

(…) A Fé Bahá'í muitas vezes recebe críticas de pessoas que defendem ou consideram a prática da homossexualidade moralmente correta.

(…) Os Bahá'ís costumam expressar que a prática homossexual é condenável, não o homossexual ou a homossexualidade.

"Não obstante quão belo e devotado o amor entre pessoas do mesmo sexo possa ser, permitir que ele se expresse através de atos sexuais é errado. Afirmar que esse amor é ideal não é desculpa. Bahá'u'lláh efetivamente proíbe toda a sorte de imoralidade, e Ele assim considera as relações homossexuais." (Resposta de Shoghi Effendi para um indivíduo, 26 de março de 1950, citado em Lights of Guidance)”

Aqui, já teríamos a tônica da visão Bahá'í da homossexualidade. O ato homossexual é considerado LITERALMENTE errado nas Escrituras Bahá'ís.

No website Vida Bahá'í, no link http://www.vidabahai.com/homossexualismo, lemos sobre a homossexualidade e a transexualidade:

“Hoje existe uma consciência mundial quanto à importância da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. Entendermos que o maior recurso da natureza é o próprio homem. Ele, também, precisa ser preservado contra uma série de agressões e distorções e, relação a sua própria essência. A homossexualidade é uma das distorções que afeta milhões de pessoas no mundo. Homossexualismo é um ato contra a natureza humana, e qualquer atitude contra a natureza, seja natureza mineral, vegetal, animal ou humano causa desequilíbrio no eco-sistema.

De acordo com as escrituras da Fé Bahá'í "homossexualidade não é uma condição com qual alguém se deva reconciliar, mas, sim, é uma distorção da natureza dele ou dela, que deveria ser controlada e superada". Com essa visão "muitos problemas sexuais, tais como homossexualidade e transsexualidade, e, em tais casos, certamente se deveria recorrer à melhor assistência médica".

Uma pessoa pode apresentar um comportamento homossexual, devido às alterações na produção de hormônios controladores das características sexuais do indivíduo; ou, quando a pessoa o adquire como um hábito, através das pessoas de seu contato. Neste caso, "os estados de sentimentos são, forçadamente, mal direcionados". Existem tratamentos para cada uma das modalidades do problema. O objetivo é aproximar a solução e o tratamento mais correto. O ideal é que o tratamento seja feito sob dois aspectos - clínico e espiritual. Segundo Dr. G. S. Larimer, no tratamento clínico a maioria dos psicoterapeutas considera o homossexualismo como um distúrbio de caráter e não uma doença emocional. Assim, a modalidade padrão de tratamento para a maioria dos profissionais é meramente ajudar o homossexual a se ajustar aos comportamentos existentes nele ou nela. Contudo, tal meta para o tratamento é inadequada.

O objetivo deve ser a modificação do comportamento, e não simplesmente ajudar a pessoa a se adaptar a sua situação. Ele confirma que atualmente existem várias terapias que produzem resultados aceitáveis, entre elas, a Análises Transacional e Terapia de Atuação.

(…) O homossexual deve ser compreendido, aconselhado e modificado. E para isso os pais, os educadores e os médicos têm maior responsabilidades, para livrarem a sociedade deste mal e ajudarem as pessoas a superarem esse obstáculo.”

[Texto de autoria de Felora Daliri Sherafat]

Observem os termos relacionados a homossexualidade e transexualidade: “agressões”, “distorções”, “ato contra a natureza humana”, “problemas sexuais”, “mal”, “obstáculo”.

Pasmem! Uma religião pacífica que tem sido perseguida há décadas no Irã, com milhares de mártires desde sua fundação, usa termos deste tipo para se referir a uma categoria de seres humanos? É, realmente, uma decepção! Vemos que, no final da contas, a visão Bahá'í da sexualidade LGBT é a mesma do Islamismo, faltando apenas a perseguição e a morte de gays... Inadmissível sob o ponto de vista da inclusão que defendemos!

Em outro artigo (http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_15877/artigo_sobre_homossexualismo_-_como_a_tendencia_homossexual_se_desenvolve?), a Bahá'í Felora Daliri Sherafat, que ao final é citada como pertencendo ao Instituto de Desenvolvimento da Nobreza Humana (homossexuais não são nobres, então?), pretende demonstrar como alguém se torna homossexual:

“(...) Uma pessoa não desenvolve o sentimento de homossexualidade do nada. Vários fatores desde o nascimento colaboram para formação de sentimentos sobre o sexo e do estado mental de definição sexual. A questão do sexo e da atração sexual se constrói pela experiência emocional que a pessoa viveu desde o momento do nascimento. Vamos ver alguns exemplos.

Tem muitas mães que brincam com o pinto de seu filho pequeno, na maior inocência, mesmo assim, isso afeta a sensualidade do bebê. Nesse caso, a sensualidade se confunde com a afetividade materna. Normalmente, tal criança quando se torna um adolescente terá problemas, se tornando às vezes muito obsessivo por sexo, e em outras vezes contra o sexo feminino. Tem mães que elogiam muito seu filho e o seu órgão masculino. Esta criança também terá problemas. Existem muitas distorções na natureza da criança causadas inconscientemente pelas mães, resultando em pessoas com uma variedade de problemas de ordem sexual.

Outra situação muito comum: as crianças, quando pequenas, gostam de mexer com seu órgão sexual, especialmente os meninos. Caso se deixe dois meninos juntos, eles podem sem perceber começar a brincarem juntos. Acontece que o sentimento e a emoção que gozam, suas mentes gravam. A mente cria a memória sexual e registra as primeiras sensações do prazer sexual, que foi feito junto com outro menino, isso é, com uma pessoa do mesmo sexo. Sendo assim, e com repetição de experiências semelhantes, estes dois meninos terão grandes chances de se tornarem homossexuais, por força desta memória.

(…) Existe outra categoria de atitudes erradas dos pais que indiretamente concorre para a má formação sexual dos adolescentes. São os casos que interferem na mente da criança e podem gerar um sentimento homossexual.

Por exemplo, a mãe que se produz muito, fala da sua beleza e de suas conquistas a parir desta, sem saber que pode criar na pequena cabeça de sua filhinha uma atração por beleza da mulher e sua memória gravar estes momentos da glória da mãe. Portanto, esta menina eventualmente ao crescer pode sentir atração por beleza feminina. As atitudes desta natureza de uma mãe também podem afetar a mente de um menino. O menino poder gostar do jeitinho da mãe e querer se produzir como ela, e assim ao crescer esta fantasia o acompanha e se desenvolve no seu interior.

(…) A agressividade do pai também pode causar o sentimento de fragilidade dos meninos pequenos, de modo que estes passem a se sentir dominados por sexo masculino, e mais tarde, ao crescer, assumirem o mesmo sentimento pelo sexo masculino e se colocarem à disposição de outros homens.”

Não lhes parece quase um discurso de Bolsonaro??? Foi a primeira impressão que tive ao ler estes absurdos recheados de conclusões infantis sobre a sexualidade humana.

No FAQ do website Bahá'í em Portugal, mais uma vez a palavra oficial (http://www.bahai.pt/faqs/home#FAQ20):

Qual a atitude dos Bahá’ís face à homossexualidade?

A lei Bahá'í define que as relações sexuais apenas devem realizar-se entre um homem e uma mulher, unidos pelo casamento. Os crentes devem abster-se de sexo fora do casamento. Os Bahá'ís não tentam impor os seus padrões morais sobre aqueles que não aceitarem a Revelação de Bahá'u'lláh. Apesar de exigirem rectidão em todas as questões de moralidade, seja sexual ou outra, os ensinamentos Bahá'ís também têm em conta a fragilidade humana e apelam à tolerância e compreensão em relação às falhas humanas. Neste contexto, olhar para os homossexuais com preconceito seria contrário ao espírito dos ensinamentos Bahá'ís.”

Ah, sim. Se, referir-se à homossexualidade com os termos usados pela Bahá'í Felora (“agressões”, “distorções”, “ato contra a natureza humana”, “problemas sexuais”, “mal”, “obstáculo”) não é preconceito, é o que, então??? Jogo de palavras que tenta desviar o foco do homossexual para o ato homossexual, como se ato e indivíduo pudessem ser separados, quando estamos tratando de uma condição de identidade, e não de moralidade!

Mas, a sutileza vai mais longe. Na Bahaikipedia (http://pt.bahaikipedia.org/Leis) é dito o seguinte sobre o casamento homossexual:

“No Kitáb-i-Aqdas o casamento é fortemente recomendado, porém não obrigatório. De acordo com os ensinamentos Bahá'ís, a sexualidade é tida como natural e uma extensão do casamento. Entretanto, as relações sexuais são permitidas somente entre homens e mulheres casados. Isto infere a proibição do casamento homossexual ou a poligamia ou qualquer outra relação sexual fora do casamento. Entretanto, o preconceito contra não-bahá'ís que optam pelo homossexualismo é considerado crime.

Os Bahá'ís podem casar quando atingem a idade da maturidade (que se fixou em 15 anos), sendo que as leis civis de cada país devem ser obedecidas. É necessário também o consenso dos pais biológicos de ambos os nubentes para que se casem. Para que se realize o casamento, é também requisitado que se pague um dote (do noivo para a noiva) de 19 mithqáls em puro ouro, o mesmo valor se fixa para os habitantes das aldeias, mas em prata. O casamento inter-religioso é permitido e incentivado. O divórcio é permitido, embora desencorajado, é concedido após um ano de separação, se o par for incapaz de reconciliar suas diferenças.”

Mais semelhanças com o Islamismo, inclusive na interdição ao casamento homossexual...

No final das contas, chegamos à conclusão de que praticamente todas as religiões teístas, antigas ou modernas, guardam um preconceito intrínseco quanto à diversidade de orientações sexuais, o diferente, o não-heteronormativo e qualquer padrão de comportamento não alinhado com o velho machismo patriarcal. O Bahaísmo tem uma inegável conexão doutrinária com o Islamismo, e vemos que o preconceito patriarcal contra a diversidade LGBT se mantém de maneira intocada, a despeito da inexistência da agressão física contra gays... Uma lástima para uma religião que, não fosse isso, teria boas condições de levar a humanidade a uma unidade definitiva...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

[Internacional] Para o gay muçulmano, o armário possui sete chaves

Por Miguel Ángel Medina (Traduzido por Espiritualidade Inclusiva do jornal espanhol El País cfe. http://sociedad.elpais.com/sociedad/2012/02/27/actualidad/1330310577_794728.html)

(Um casal homossexual em uma cidade do Marrocos / I. C. )

A homossexualidade continua sendo tabu no mundo islâmico
Muitos se rebelam, em especial na Europa


A homossexualidade é um tema tabu na maioria dos países de tradição islâmica: os vizinhos Argélia ou Marrocos, por exemplo, tipificam como delito os “atos homossexuais” e os cinco Estados que condenam os gays à morte são muçulmanos. Na Espanha, onde a maior parte desta comunidade está formada por imigrantes de primeira ou segunda geração, estes preconceitos continuam existindo e, em muitos casos, levam estas pessoas a negar sua identidade sexual ou ocultá-la de suas famílias. Mas, as vozes que reivindicam a compatibilidade entre o Alcorão e a realidade homossexual também começam a se fazer ouvir.

“Quando sabemos que alguém é gay o rejeitamos e paramos de falar com ele”, admite o marroquino Achraf el Hadri, de 27 anos e residente em Madri. A presidenta da União de Mulheres Muçulmanas da Espanha (UMME), Laure Rodríguez, vai mais além: “Existe uma lesbofobia e uma homofobia generalizada dentro das comunidades muçulmanas em nosso país”. “As escolas de jurisprudência islâmica sempre consideram a sodomia como algo proibido”, confirma Abdennur Prado, presidente da Junta Islâmica Catalã (JIC).

Neste contexto, os muçulmanos que planejam o que popularmente se chama sair do armário muitas vezes enfrentam um processo muito complexo. Como explica Manuel Ródenas, coautor do “Estudo sociológico e jurídico sobre homossexualidade e mundo islâmico” (Cogam, 2007): “A característica fundamental dos homossexuais muçulmanos é que vivem em dois mundos muito diferentes: por um lado, suas famílias, que não sabem de nada, e, por outro, com os amigos. São redes que jamais se tocam nem se misturam”. Lola Martín, coautora do estudo, considera que estas pessoas vivem em um “armário duplo” e destaca que alguns deles, inclusive, tratam de ocultar que procedem de países árabes.

A presidenta da UMME está realizando um estudo entre mulheres muçulmanas que vivem na Espanha, com as quais tem contato através das redes sociais. “O ponto em comum de todas as lésbicas que entrevistei é um processo longo, traumático e doloroso para decidirem-se entre sua religiosidade, sua sexualidade ou tentar viver de forma equilibrada”, conta Rodríguez, que já falou com umas 20 delas.

Esta trabalhadora social de 36 anos critica que em vários casos, quando alguma destas mulheres se atreveu a dar o passo e solicitar informação em qualquer associação LGBT, “a primeira mensagem que recebeu dizia que, para ser liberada, teria que abandonar sua crença”. Desde o Coletivo de Lésbicas, Gays, Transsexuais e Bissexuais de Madri (COGAM), negam que suas organizações ajam assim: “Acreditamos na liberdade do indivíduo”, respondem, “e não fazemos diferenciação por causa de religião”.

Shiraz (nome fictício) ilustra como este ambiente pode afetar uma mulher procedente de um país árabe, seja muçulmana ou não. No seu caso, chegou à Espanha há 17 anos e, naquele momento, não se considerava uma pessoa homossexual. “Desde jovem eu gostava de mulheres, mas ao viver na Tunísia, onde não tinha referências, não sabia o que me acontecia e tinha muitas dúvidas”, confessa. “No meu país gostava muito de uma professora, mas eu atribuía isso à admiração”, continua, “e até que emigrei, na verdade, não comecei a assimilar”.

Esta mulher, na casa dos 50 anos, tem o prazer de ter experimentado o processo de assumir sua lesbianidade na Espanha. “Na Tunísia teria padecido um calvário ou teria escondido”, assinala. Na verdade, ninguém de sua família —que vive naquele país— sabe nada sobre sua condição sexual, apesar de serem “muito abertos” para os padrões daquele lugar. “Ali, muitos homossexuais têm uma vida dupla, e alguns até chegam a contrair um matrimônio tradicional para escondê-la”. A tunisiana comenta que nunca se considerou uma pessoa religiosa. “Mas, a educação que lhe dão desde criança influi, e há coisas que lhe escapam mesmo sem se dar conta”, admite.

Ajudaria a mudar esta situação uma organização LGBT especificamente muçulmana? Na França, onde há imigrantes de terceira e quarta geração, a associação Homossexuais Muçulmanos da França (HM2F) tem lutado desde 2010 pelos direitos deste grupo. “Não temos que deixar de ser muçulmanos por sermos homossexuais”, explica seu fundador, Ludovic L. Mohamed Zahed, de 34 anos. Sua ação é centrada em trabalhar por um islã inclusivo no qual esta comunidade tenha lugar e em demonstrar que excluir da sociedade as mulheres ou os gays “não é islâmico”. Demonstram isso através do Alcorão, o livro sagrado do islã, e dos Hadith, a tradição oral sobre a vida do Profeta.

Para debater sobre estes assuntos, Zahed organizou um congresso europeu, chamado Calem, que celebrou sua segunda edição reunindo 250 pessoas em dezembro passado em Bruxelas (Bélgica), e cujas conclusões tem apresentado em conferências em Paris, Lisboa e Madri. O fundador da HM2F já prepara o terceiro Calem, que pretende levar também à Itália, Suíça e Luxemburgo.

Mas, na Espanha não existe una organização similar, segundo confirma a Federação Estatal de Lésbicas, Gays, Transsexuais e Bissexuais (Felglt). “Há alguns muçulmanos em associações LGBT e outros vinculados às organizações muçulmanas mais abertas”, conforme nota da Federação. O mais parecido é o grupo KifKif (“como iguais”, em árabe), que trabalha pelos direitos dos gays no Marrocos, mas também pelos dos que cruzam o Estreito [de Gibraltar]. “Nosso âmbito de atuação é fundamentalmente o país vizinho, mas tivemos que nos registrar como associação na Espanha porque lá a homossexualidade é considerada como delito”, explica Samir Bargachi.

A história deste marroquino de 24 anos é tão complexa quanto a de outros imigrantes que decidiram sair do armário ao emigrar: confessar sua condição sexual supõe que parte de sua família e muitos de seus amigos tenham deixado de lhe falar.

No entanto, Bargachi, que vive na Espanha há 12 anos, não se conformou que as coisas sejam sempre assim. Por isso, iniciou uma associação para defender os direitos dos homossexuais árabes. “Nosso trabalho na KifKif está focado principalmente na comunidade do magrebe e de outros países árabes, mas não nos consideramos uma associação muçulmana, mas leiga”, afirma Bargachi. “Na Espanha, temos um grupo de apoio da comunidade marroquina formado por umas 10 pessoas, mas nosso trabalho está centrado no Marrocos”.

Em sua opinião, “a comunidade muçulmana na Espanha ainda é homofóbica”, porque está formada, na sua maior parte, por imigrantes de primeira ou segunda geração. “Meus pais, por exemplo, não estão totalmente integrados, apesar de já viverem aqui há muito tempo”, acrescenta. Com seu trabalho, o marroquino pretende sensibilizar este grupo, assim como abrir o debate sobre a homossexualidade no Marrocos. Lá, este jovem criou a revista Mithly, a primeira que fala destes temas naquele país, e em língua árabe. Foram editados quatro números impressos e, atualmente, continuam sendo publicados na Internet.

As vozes contra a homofobia surgem de dentro do próprio islã espanhol. “Não há qualquer base que justifique a perseguição dos homossexuais no Alcorão”, afirma, taxativo, Abdennur Prado, que dedicou a este tema um capítulo de seu livro “O Islã antes do Islã” (Oozebap, 2008). Para Prado, aqueles que afirmam que a homossexualidade está proibida por esta tradição estão equivocados: “O hadith a que se referem fala dos seguidores de Ló, o mesmo episódio que na Bíblia concentra-se em Sodoma e Gomorra. Mas, lendo com atenção, se comprova que não fala de relações homossexuais, mas da violação de estrangeiros e do desrespeito à leis da hospitalidade”, afirma Prado, de 44 anos.

O presidente da Junta Islâmica Catalã, que participou do congresso em Bruxelas, defende que, segundo a tradição oral sobre a vida do profeta, nos tempos de Maomé existiam homossexuais, que se chamavam muhandazun e a quem o enviado de Alá sempre defendeu. Prado destaca, além disso, que, no mundo islâmico, há muitos exemplos de poesia e literatura homoerótica, isto é, erótica e de temática homossexual, uma tradição que decaiu com a chegada do colonialismo europeu aos países árabes.

O desafio, agora, é que o debate seja ampliado. E, parece que os primeiros passos poderiam ser dados em breve. “No futuro, sou favorável a que haja um debate sobre a homossexualidade nas comunidades muçulmanas da Espanha”, comenta Mohamed Hamed Alí, presidente da Federação Espanhola de Entidades Religiosas Islâmicas, que agrupa mais de 100 associações em toda a Espanha. “É uma questão que está aí e ninguém pode negar, ainda que possamos não estar de acordo em algo, mas sempre dentro dos parâmetros da democracia e da Constituição espanhola”, confirma Alí, de 58 anos. Prado ressalta: “O Alcorão diz que Deus está sempre com os perseguidos, e tenho claríssimo que é assim, que os crimes que estão sendo cometidos contra os homossexuais e as lésbicas são aberrantes. É para mim um dever religioso como muçulmano lutar contra essa injustiça”.

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“Parte de minha família deixou de falar comigo ao dizer-lhes que sou gay”

O marroquino Samir Bargachi (Nador, 1987), que vive na Espanha há 12 anos, fundou a associação Kifkif para defender os direitos dos gays no Marrocos.

Pergunta. Como você assumiu que era homossexual?

Resposta. O processo para assumir minha homossexualidade foi muito complicado, porque venho de um espaço cultural, Marrocos, onde a sexualidade não é tratada em público. Quando me dei conta do que sentia estava totalmente desinformado, não sabia o que me acontecia e nem sequer punha um nome ao que me passava. Meu caminho para chegar a esta conclusão se iniciou no meu país natal e continuou depois na Espanha, onde fui morar com minha família em 2000. E, na verdade, não pude contá-lo até que saí de casa. Mais adiante, quando passei a viver fora da casa de meus pais, então pude agir com mais liberdade.

P. Perdeu amigos por dizer que é gay?

R. Confessar minha condição sexual me custou muitas amizades e uma parte de minha família deixou de falar comigo.

P. Qual foi a reação de sua família naquele momento?

R. A princípio, decidi não contar a meus familiares, porque a maioria deles são conservadores e religiosos. Na verdade, temia mesmo que me expulsassem de casa se o confessasse; isto é, tinha alguns medo concretos e reais. Quando minha família soube, minha mãe entendeu, mais ou menos, e continuo tendo uma boa relação com ela e com minhas irmãs. Já meu pai, pelo contrário, foi muito afetado e perdi o contato com ele.

P. Conhece casos similares?

R. Sim, este padrão se repete com outros amigos árabes e muçulmanos, a quem ocorreu o mesmo; isto é, suas mães entendem, seus irmãos homens, menos, e seu pai, nada.

P. A comunidade muçulmana na Espanha é homofóbica?

R. Totalmente. Na Espanha, a imigração muçulmana ainda é uma imigração recente, de primeira ou, quando muito, de segunda geração, e por isso seu código cultural vem destes países. É muito diferente do caso da França ou Reino Unido, onde já vão para uma terceira ou quarta geração e, portanto, há muito mais integração que aqui.

P. Está proibida a homossexualidade no islã?

R. Eu não tenho a mesma opinião que os sábios muçulmanos que dizem isto, e tenho amigos que são religiosos e pensam como eu. No Alcorão unicamente se fala da história de Ló, e está claro que não se refere à homossexualidade, mas a violações, vexações… algo muito diferente.

P. Você se considera muçulmano?

R. Sou uma pessoa muçulmana culturalmente, isto é, que essa é a cultura na qual me eduquei. Entretanto, não me considero religioso.

P. Você já teve uma rede dupla de amigos?

R. Agora, a maioria de meus amigos são espanhóis que conheci no colégio, mas efetivamente, até pouco, tinha dois grupos de amigos: por um lado, os espanhóis, a quem contei de minha homossexualidade e, por outro, os de tradição muçulmana com que se relacionava minha família (amigos de meus irmãos, vizinhos…) que não sabiam de nada. Com eles era muito difícil encaixar todas as facetas de minha vida: imigrante, muçulmano e homossexual.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Islã e homossexualidade

Por Espiritualidade Inclusiva*


* Este artigo é uma adaptação ao Português Brasileiro e a realidade cultural do Brasil baseado nos dados constantes na entrada “Islão e homossexualidade, cfe. http://pt.wikipedia.org/wiki/Isl%C3%A3o_e_homossexualidade

As opiniões islâmicas sobre a homossexualidade são tão variadas como as das outras grandes religiões e as mesmas têm sofrido modificações ao longo da história. O Alcorão e alguns Hadith contêm condenações mais ou menos explícitas acerca das relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Duas suratas mencionam a história do "povo de Ló", o qual teria sido destruído por participar de atos homossexuais (ou, segundo outras acepções, por desrespeitar as regras da hospitalidade para com os forasteiros). O castigo legal para a sodomia foi alterado de acordo com as escolas jurídicas: alguns prescrevem pena capital, enquanto outros prescrevem a castigo arbitrário menor. A homossexualidade é considerada um crime e é punida com a morte em muitos países islâmicos, como na Arábia Saudita, no Sudão, na Somália, na Mauritânia ou no Irã. Em algumas nações islâmicas relativamente seculares como Egito, Tunísia, Indonésia, Líbano, Kosovo, Bósnia, Albânia, e Turquia há uma certa tolerância, raros sendo os episódios de perseguição explícita das autoridades. Porém, é dificílimo encontrar gays assumidos em todas as nações islâmicas, mesmo onde há cidades com uma certa cena gay (Beirute, Istambul, Cairo, Jacarta, Tunis, Lahore, etc). Em Bagdá, logo depois da queda do Baath, começaram a surgir cinemas onde se apresentam filmes eróticos, e a maioria dos frequentadores são homens sozinhos, nunca indo mulheres - fica óbvio que muitos são homossexuais reprimidos que encontram na margem da sociedade uma válvula de escape para suas fantasias. O assassinato de quem é descoberto pela família ou pelos vizinhos como homossexual é prática habitual em quase todos os lugares onde o Islã é a religião dominante (as exceções são os pequenos países muçulmanos dos Balcãs, na Europa).

A situação dos homossexuais muçulmanos em países não-islâmicos varia. Há aquelas comunidades onde poucos são assumidos (como entre os árabes do Brasil), pois há relativamente poucos muçulmanos e estes são pouco integrados à cultura dominante. Há outras em que não é tão difícil que se saiba de gays que sejam muçulmanos (um exemplo é a França, ou a Holanda também, onde há muitos muçulmanos, mas a maioria é relativamente secularizada, praticando atos que em seus países de origem não fariam, como o consumo de álcool). Recentemente, nos Estados Unidos, e em algumas nações europeias, surgiram até mesmo organizações de defesa dos direitos dos homossexuais muçulmanos. Em Israel, que oficialmente é secular, a minoria muçulmana não tem liberdade para condenar os homossexuais a penas desumanas, e, devido à pouca aceitação que encontram em suas aldeias natais, muitos gays árabes de Israel acabam por ir morar em Tel Aviv ou outras cidades israelitas, onde a tendência é distanciarem-se de sua herança cultural árabe.

Apesar do conservadorismo, a temática homoerótica tem estado presente na literatura muçulmana, especialmente na poesia árabe clássica e na poesia persa medieval, celebrando o amor masculino, sendo mais frequentes que as expressões de atração às mulheres e alguns aspectos de seus costumes sociais como o tradicional confinamento das mulheres ao nível de reprodutoras fizeram com que as práticas homossexuais não sejam infrequentes, ainda que sempre de forma clandestina e sob um véu de hipocrisia. O caso dos pashtun é emblemático: vivendo nas montanhas do Afeganistão e do Paquistão, esse povo pratica um islã ferrenho e obtuso, suas mulheres são segregadas dos homens em todos os lugares públicos e mesmo no contexto familiar não gozam de consideração por parte dos membros masculinos da casa, e é justamente entre os pashtuns (que foram inclusive os responsáveis pelo domínio do Talibã no Agefanistão) que a homossexualidade é mais frequente naquela região. Faz parte da cultura afegã um homem mais velho ter como amante um mais novo, que será tratado com mimos e regalias, muitas vezes convivendo na casa da família, até que um dia, ao ficar mais velho, se casa e parte, ou então casa-se mesmo com uma das filhas de seu amante mais velho. No livro "O Livreiro de Cabul", por exemplo, a jornalista Åsne Seierstad narra a disputa que os senhores da guerra daquele canto do mundo travavam entre si pela conquista de "jovens com roupas esvoaçantes, que andavam aos bandos pelas ruas a rebolar e com os olhos delineados com khol". O caso dos pashtuns se assemelha bastante com a maneira como a homossexualidade era encontrada na Grécia antiga, e encontra paralelos em muitos outros povos islâmicos tradicionalistas, como os sauditas. Nos países do Golgo, a homossexulidade é praticada em larga escala, em parte por haver menos mulheres do que homens, em parte por elas serem segregadas do convívio com os homens. Gays solteiros (ou casados) buscam encontros nos shoppings centers, nas grandes avenidas... todos sabem, mas ninguém comenta nada.

O poeta Abu Nuwas era homossexual, e recentemente sua obra foi alvo de banimento oficial no Egito. Como ele, muitos outros muçulmanos célebres podem ser citados como gays, e sempre houve gays no mundo islâmico, pois em todas as culturas e em todos os tempos se pode encontrar homossexuais. A condenação não extingue a realidade, apenas a mascara, a obriga a ser cautelosa. No Irã, onde pode acabar em condenação à forca, nem por isso deixa de haver vários homossexuais. Eles têm seus próprios códigos de identificação, não pode ser como no Ocidente, onde não há problema se o homem for efeminado. Na capital da Indonésia os gays já se reconheceram por um brinco pequeno numa das orelhas, ou por outras formas.

Certos muçulmanos liberais, como os membros da Fundação Al-Fatiha aceitam a homossexualidade e a consideram como natural, olhando a condenação religiosa como algo obsoleto no contexto da sociedade moderna, interpretando que o Alcorão se manifesta contra a luxúria homossexual, mas não dizendo nada sobre o amor homossexual. A escritora lésbica Irshad Manji tem manifestado a opinião de que a homossexualidade é permissível dentro do Islã, no entanto, esta continua a ser uma opinião minoritária. No xiismo islâmico, pensadores como o aiatolá Khomeini defenderam a legalização das operações de mudança de sexo se um homem se sente mulher, uma vez que o Alcorão não diz nada contra a mudança de sexo e, de fato, essas intervenções são legais atualmente no Irã.

A homossexualidade é tradicionalmente proibida pela lei islâmica. O Alcorão, o texto central do Islã, condena a homossexualidade, embora talvez não ela em específico, e sim a lascívia homossexual, como defendem os membros da Al-Fatiha. Os islamitas tradicionais alegam que o Islã é uma "religião da natureza", que só reconhece o que é "natural" e nesse contexto seria anti-natural ser homossexual. Admite somente as relações sexuais dentro do matrimônio heterossexual. Os textos específicos nos que se baseia a condenação são os da história de Ló, a sétima surata do Alcorão; trata-se de um texto religioso que lembra muito o relato bíblico.

A homossexualidade tem um status legal diferente em cada canto do mundo islâmico, mas ainda é um crime em muitos países muçulmanos; as penalidades aplicadas variam muito, conforme já mencionado, e podem incluir a pena de morte em execução pública como na Arábia Saudita ou nos Emirados Árabes Unidos. As grandes organizações de direitos humanos como a Human Rights Watch e Anistia Internacional condenam as leis que consideram as relações homossexuais consentidas entre adultos como crime. Desde 1994, o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas decidiu que tais leis violam o direito à privacidade garantida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. No entanto, a maioria das nações islâmicas afirmam que essas leis são necessárias para a manutenção da moralidade e da virtude muçulmanas. De todas as nações de maioria maometana somente a Turquia alterou a sua legislação para legalizar a homossexualidade e somente a Bósnia e Herzegovina tem legislação anti-discriminação. Em alguns países não há uma legislação específica para condenar os homossexuais, mas eles estão condenados sob as leis de moralidade pública, como no Egito ou então são vítimas de crimes de honra como na Jordânia, no Iêmem, no Senegal e na Síria. Por outro lado, há casos em que a homossexualidade continua a ser ilícita, porém é tolerada se não for pública como no Líbano ou na Tunísia, e mesmo no Kuwait, embora neste último não possa haver em hipótese alguma a descoberta de envolvimento sexual entre pessoas do mesmo sexo.

(clique na tabela para ampliar)

Deve-se mencionar que a adoção não é permitida não somente aos homossexuais, não é permitida a ninguém, segundo a Sharia. A adoção é uma instituição fora da cultura muçulmana, apenas prevê a colocação de crianças em orfanatos.


"Dentre as criaturas, achais de vos acercar dos varões, deixando de lado o que vosso Senhor criou para vós, para serem vossas esposas? Em verdade, sois um povo depravado!" — Alcorão, "Os Poetas" (26a. sura), 165-166

Todos os maiores setores islâmicos desaprovam a homossexualidade, e o sexo praticado entre pessoas do mesmo gênero é um crime que pode ser punido com a morte em algumas nações muçulmanas: Arábia Saudita, Iêmen, Irã, Mauritânia, Sudão e Somália. Durante o regime Talibã no Afeganistão a homossexualidade também era um crime punido com a morte. Em outras nações muçulmanas como Bahrain, Qatar, Algéria, Paquistão, Maldivas e Malásia, a homossexualidade é punida com prisão, multas ou punição corporal.

Os ensinamentos islâmicos (na tradição do hadith) promovem a abstinência e condenam a consumação do ato homossexual. De acordo com essa crença, nos países islâmicos, o desejo de homens por jovens atraentes é visto como uma característica humana esperável. No entanto, ensina-se que conter tais desejos é necessário pois garantirá o pós-vida no paraíso, onde se é presenteado com mulheres virgens (Alcorão,56: 34-38). O ato homossexual é visto como uma forma de desejo que viola o Alcorão. Apesar de que a atração homossexual não é contra a Charia (lei islâmica que governa as ações físicas, mas não os sentimentos e pensamentos), o ato sexual é, segundo esta, passivo de punição.

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Nota de Espiritualidade Inclusiva – Há algum tempo que vários leitores nos pedem algum material falando da visão islâmica da homossexualidade. Este é o primeiro deles, baseado no que há já publicado na Wikipedia. Como se pode perceber pelo texto acima, a questão é muito complexa e cada país muçulmano trata o assunto à sua maneira, mas, excetuando Bangladesh, nenhum país islâmico possui leis contra a discriminação por orientação sexual. Isso vem da força de uma sociedade ainda arcaica, não-reformada, onde pensamentos patriarcais impedem que se reconheça direitos civis plenos às mulheres, aos homossexuais, aos transgêneros e a minorias étnico-religiosas. Enquanto vários países do mundo ocidental estão entrando numa agenda pró-direitos humanos LGBT, os países islâmicos endurecem por vezes suas leis e a “caça às bruxas”.

O Irã, com o qual o governo Lula flertou muito, mas que o governo Dilma tem preferido manter a uma certa distância, é um dos mais radicais neste quesito. Enforcamento de adolescentes acusados de serem homossexuais simplesmente por terem sido pegos usando calções curtos é muito frequente naquele país. Contrasta com essa realidade aquela realidade afegã mostrada nos livros “O Livreiro de Cabul” e “O Caçador de Pipas”, conforme citado no texto acima. Como o Alcorão não foi claro sobre o assunto (nem a Bíblia o foi!), grupos muçulmanos acabam por não fechar questão e tratam do assunto (e dispõem de vidas humanas) cada um conforme suas interpretações. Lastimável que, neste caso, vidas humanas sejam sujeitas ao debate de teólogos engessados em seus preconceitos e em seu pouco apreço pelo sagrado dom de existir...