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quinta-feira, 31 de maio de 2012

Gays no mundo palestino-israelense

Por Espiritualidade Inclusiva


Muitos nos têm perguntado sobre a diferença em ser gay no mundo ocidental e em ser gay no mundo judeu-islâmico-cristão, em Israel e na Palestina. Dois artigos recentemente publicados em http://operamundi.uol.com.br relatam exatamente o que se quer saber.

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Não é fácil ser gay em nenhum lugar do mundo, diz ex-líder de ONG para lésbicas palestinas

Rauda Morcos ressalta que os muçulmanos não são melhores ou piores no trato com a comunidade gay



Palestina, mulher e homossexual. Rauda Morcos carrega um triplo estigma em um país cercado de controvérsias. Apesar de não estar mais à frente da Aswat, a primeira organização para as lésbicas palestinas em Israel, ela deixou uma grande marca na organização. Hoje Rauda dedica-se plenamente à Mantiqitna, uma rede social de ativistas no Oriente Médio formada por membros de destaque do movimento gay na região.

Cofundadora da Aswat, ela é a primeira palestina a assumir publicamente sua homossexualidade. Segundo Rauda, os desafios encontrados pelos homosexuais são bastante semelhantes, independentemente da localização geográfica. "Se me dizem que, por causa da crença, os muçulmanos são menos tolerantes com a homossexualidade, eu lhes direi o mesmo. Veja o Papa! O maior dirigente religioso do mundo não só não reconhece os homossexuais, como os condena", sublinha.

Rauda conversou com Opera Mundi sobre a organização que deu tanto apoio a uma das comunidades mais desprotegidas em Israel.

Opera Mundi: Como surgiu a ideia de criar uma organização para lésbicas palestinas?

Rauda Morcos: A Aswat começou em 2001 como um grupo de e-mails, para compartilhar ideias, projetos e ajudar umas às outras, porque não havia nenhum lugar ao qual recorrer naquela ocasião. Depois de algum tempo, decidimos organizar uma reunião para nos conhecermos. Em 2003, tivemos nosso primeiro encontro, cerca de nove mulheres que hoje formam o núcleo da organização. Depois de várias reuniões, nos demos conta da importância de atender adequadamente a comunidade lésbica palestina e decidimos nos organizar. O problema, então, foi que nenhuma tinha a menor ideia sobre como seria isso e nem sequer chegávamos a um acordo sobre como fazê-lo. Decidimos que o melhor na época era que alguma organização nos acolhesse, e entramos em contato com Kayan, uma organização feminista em Haifa que nos deu um escritório e o material necessário para começar.

Fui eleita coordenadora. A verdade, não vou mentir, é que eu não tinha ideia de como começar, estava totalmente perdida. A Kayan nos ajudou muito. Comecei a escrever nossa visão do projeto, objetivo, atividades e entrei em contato com organizações feministas e de lésbicas, até que em 2004 conseguimos nosso primeiro fundo do Global Women Fund e Mama Cash. Na ocasião, tínhamos o mesmo objetivo que temos hoje, o de alcançar a população palestina, assim como a israelense e internacional. Queremos prosperar como grupo. Aqui, já somos 15, e queremos ajudar os 10% da população gay palestina.

Estatisticamente, 10% de toda população é homossexual, e, naturalmente, os palestinos não seriam diferentes.

OM: É mais difícil ser homossexual em uma sociedade muçulmana, sobretudo quando se é mulher?

RM: (suspiro) Não acho que seja fácil ser gay em nenhuma parte do mundo, é sempre igual. Os ocidentais associam ser árabe a ser primitivo, ou seja, homofóbico. A maior parte das sociedades do mundo é patriarcal e isso significa que são homofóbicas. Costumo usar George W. Bush [ex-presidente dos Estados Unidos] como exemplo, um homem que dirigiu um dos países mais influentes do mundo. Para mim, é um dos homens mais racistas, machistas e homofóbicos que existem e era o presidente daquela que se supõe a superpotência do mundo ocidental.

Muitos países europeus não têm nenhuma organização para lésbicas. E na União Europeia, sabe quantas pessoas são assassinadas por ano por serem homossexuais? Centenas, todos os anos, só por serem gays. Mas as pessoas não querem saber, preferem continuar pensando em São Francisco, a capital gay dos Estados Unidos e em como são liberais e progressistas.

Até mesmo em Amsterdã há ataques contra homossexuais, enquanto se supõe que lá a mente seja mais aberta... Portanto, quando me perguntam isso, tenho que dizer que não acredito que dependa do local de nascimento, no Ocidente ou no Oriente, nem da religião. Tudo depende do uso que se dá à religião. Se me dizem que, por nossa crença, os muçulmanos são menos tolerantes com a homossexualidade, eu lhes direi o mesmo. Veja o Papa! O maior dirigente religioso do mundo não só não reconhece os homossexuais, como os condena.

Odeio que o Ocidente nos julgue por nossa religião, porque sei que utilizam isso como uma arma contra nós. Além disso, o modo de vida ocidental não significa nada para mim, não me atrai, e, ao menos na Aswat, não queria imitá-lo. Não teríamos sido bem sucedidas se pretendêssemos atingir nosso povo com os mesmos métodos. Cada país tem que encontrar um método para seu contexto cultural.

OM: Você foi a primeira mulher a dizer que era gay abertamente. Como foi “sair do armário”?

RM: Uau! Eu tinha certeza de que não podia ser homossexual na minha comunidade. Principalmente pela imagem que eu havia formado sobre isso, graças ao estereótipo dos meios de comunicação. Eu também, como palestina, ouvia a mídia falar do meu povo, e foi duro também porque eu era a primeira que fazia algo do tipo, a pioneira, e quando não há precedentes, é sempre mais difícil. Não tinha ideia de qual seria o resultado, mas a verdade é que sempre fui muito independente, até que finalmente resolvi me assumir.

Quando finalmente o tornei público, preciso dizer que me senti totalmente nua. De repente, todos me olhavam e me analisavam na rua, sem nenhuma vergonha. Foi difícil, claro, mas passado um tempo, me dei conta de que isso era na realidade muito bom, porque recebi todo tipo de respostas, desde as pessoas ao meu redor até pessoas que eu não conhecia e que me abordavam na rua. Com isso, finalmente as pessoas se atreveram a se aproximar de mim para perguntar tudo o que antes só pensavam, suspeitavam ou cochichavam.

Alguns me paravam na rua para me perguntar por que eu era lésbica, esclarecer dúvidas ou até expressar seu desagrado. No começo me senti um pouco oprimida, mas finalmente me dei conta do bem que é poder ter essa interação e falar abertamente. Até a minha avó, de 85 anos, me abordou e perguntou: “o que é isso que falam de você, que é uma Elisabetta? Me disseram que é algo muito ruim”. (Neste momento, Rauda começa a rir, jogando a cabeça para trás, e me explica que, em árabe, lésbica é lesbit e que sua avó nem sequer conhecia a palavra).

Achei realmente engraçado, alguém abordou a minha avó e disse a ela que eu era lesbit, e a pobre mulher nem sequer entendeu a palavra, ainda menos o conceito. Mas o que mais me surpreendeu foi a reação quando expliquei à ela o que é uma lésbica. Me disse: “Ah! Então não é tão ruim. Às vezes é melhor não se casar”. Se não tivéssemos esses estereótipos sobre os homossexuais, tenho certeza que todos reagiriam como a minha avó, que nunca ouviu falar sobre isso, nem viu na televisão.

A mesma coisa aconteceu com os meus pais. No começo foi um escândalo, até que me sentei com eles para falar sobre isso e pude explicar com calma. Deixou de ser um problema. Quando se vê a questão de outra maneira e tem a chance de explicar e se expressar abertamente, ela deixa de ser um problema, não tem que ser ampliada.

OM: Em relação ao tema da ocupação palestina, a Aswat tem algum ponto de vista?

RM: Acreditamos que tudo é político, nossa nacionalidade e nosso gênero, isso é o que somos. Não temos nenhuma agenda nem qualquer opinião política sobre isso, a não ser que afete a comunidade homossexual de alguma forma. A Aswat enquanto grupo não tem afiliação nem opinião política, logo, cada membro tem a sua própria opinião sobre isso.

Se há uma manifestação pela ocupação, o muro ou os direitos do povo palestino, que seja patrocinada por alguma organização de mulheres, nós estaremos lá para apoiá-las, mas nunca daremos início a nenhum evento desse tipo.

No verão passado, houve um grande alvoroço porque queriam celebrar a Parada Gay em Jerusalém, e nós fomos contra. Muita gente nos disse que isso significava perder uma oportunidade, mas acreditamos que não se pode celebrar este tipo de evento em um país em guerra, onde muitos grupos de outros países nem sequer poderiam passar devido à política de Israel. Além disso, no verão passado, tínhamos como sócia a organização lésbica libanesa Hellem, e decidimos apoiá-la durante a Guerra do Líbano.

OM: Quais são os principais objetivos da Aswat?

RM: Ajudar as lésbicas da nossa comunidade, mostrar que não estão sozinhas, que não é algo estranho nem desprezível ser gay e conscientizar a população sobre a homossexualidade. Em suma, gerar uma reação positiva sobre isso. Também organizamos reuniões mensais às quais todos podem comparecer, no norte de Israel, em Nazaré, e no sul. Hoje, ajudamos cerca de 30 mulheres e oferecemos cursos o ano todo, assim como publicações trimestrais em árabe sobre o que fazemos aqui. Temos um disk-ajuda 24 horas por dia.

Acredito que nossa luta é parte da luta internacional pelos nossos direitos e é muito importante conhecer as nossas diferenças assim como o que nos une. Também acredito fortemente que juntos podemos fazer um mundo muito melhor.

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Jerusalém: o desafio de ser gay na cidade "sagrada"

Apesar de reunir uma pluralidade de crenças e estilos de vida, a intolerância contra homossexuais ainda é grande


Uma terra de contrastes. Ao mesmo tempo em que Jerusalém é considerada sagrada por três religiões monoteístas – o cristianismo, o judaísmo e o islamismo – e reúne símbolos e pessoas tão diferentes entre si, é também terreno sinuoso para a manifestação de direitos civis. A cidade abriga uma comunidade homossexual vibrante, mas que frequentemente é alvo das camadas mais conservadoras.

Em Jerusalém, há apenas um bar gay e a realização da Parada do Orgulho Gay foi um direito conquistado após muito esforço. Ela reuniu quatro mil pessoas em 2011, que exigiram a aprovação de uma legislação que proteja os homossexuais em Israel. Indignados com o desfile, grupos de judeus ortodoxos protestaram em diversos pontos da cidade, controlados por cerca de mil policiais espalhados por Jerusalém - alguns chegaram a agredir os participantes do evento. Em junho daquele ano, a marcha em Tel Aviv conseguiu reunir 70 mil pessoas.

“Embora não existam tantos homossexuais quanto em Tel Aviv, todos os anos Jerusalém atrai milhares de ativistas gays para participar da marcha, para mostrar que, mesmo que os religiosos nos considerem ‘sujos’, esta é nossa cidade também”, comenta A.S. um membro da comunidade homossexual da cidade.

Apesar das diversas ameaças de morte que recebem ano após ano durante a parada, a marcha anual se supera cada vez mais em termos de assistência e organização. “A diferença entre a nossa marcha anual e a de Tel Aviv e outras partes do mundo é que, em Jerusalém, adquire também um significado de luta pelos nossos direitos e contra o ódio que uma ampla maioria da população de Jerusalém sente por nós”, acrescenta Natalie V., uma belga que desembarcou em Jerusalém há cinco anos.

Natalie, que há cinco anos namora uma mulher israelense, é prova da dualidade do estado de Israel em relação à homossexualidade. Embora Israel seja um país democrático, o judaísmo ortodoxo interfere em muitos assuntos civis, incluindo os casamentos. Em Israel, é impossível realizar um casamento civil, mesmo entre heterossexuais. No entanto, em uma distorção, estão permitidas as uniões homossexuais, inclusive se uma delas for estrangeira, como é o caso de Natalie.

“É curioso que isto seja possível em um país onde predomina tanto a religião. Eu quero deixar claro que em Jerusalém e Israel, até o momento, não tive nenhum problema por andar de mãos dadas com a minha namorada, nem por darmos um beijo”, diz. “No entanto, trabalho com uma família ortodoxa judia e não comentei nada sobre a minha orientação sexual em quase quatro anos", conta Natalie.

Ultraortodoxos caminhando ao lado de uma mulher muçulmana usando o véu e uma menina de minissaia logo atrás são cenas comuns nas ruas de Jerusalém. E é nessa heterogeneidade que, no final, reside uma espécie de acordo tácito de não agressão. Embora, às vezes, essa bolha possa estourar, como aconteceu durante a Parada do Orgulho Gay de 2005, quando um judeu ultraortodoxo esfaqueou vários participantes. Atentado pior aconteceu à comunidade gay de Tel Aviv, quando uma bomba matou duas pessoas e feriu uma. O culpado, um colono da Cisjordânia, afirmou que os homossexuais são “animais”.

Portanto, apesar da mescla aparentemente suave entre religiosos e seculares em Jerusalém, assim como no resto do país, uma tensão soterrada pulsa abaixo da superfície. “Aqui, em geral, como os gays não carregam um cartaz dizendo ‘sou gay’, não há tantos problemas, mas também você não vai dar um beijo em outro homem em Mea Shearim (o bairro ultraortodoxo), não queremos provocá-los em seu bairro”, diz Adam.

Segundo ele, porém, o resto da cidade é de todos. O bar Mikve, antes conhecido como Shushan, na rua Shushan, foi o primeiro voltado para o público gay a ser aberto na cidade. O lugar está vivendo uma nova era dourada depois de permanecer fechado durante muitos anos devido às pressões dos ortodoxos. Durante toda a semana há festas para clientes homossexuais e as segundas-feiras são exclusivas das drag queens.

“Em Jerusalém, não há muitas festas nem lugares para dançar, por isso sempre aparecem heterossexuais. Na cidade, todos nos conhecemos e amigos de todas as orientações sexuais se juntam a nós. Estamos misturados”, conta com um sorriso Daniel R., empresário.

A empresa encarregada de organizar as festas, Unibra, garante que é um sucesso, que atrai dezenas de pessoas a semana toda, embora as festas drag sejam as preferidas. “As pessoas querem se divertir, já estão cansadas de se esconder, mas infelizmente nesta cidade não há lugares para onde sair à noite”, lamenta a Unibra.

Palestinos

Para os membros da comunidade homossexual palestina os desafios são ainda maiores. “Para eles é mais difícil, pois vem de uma sociedade mais conservadora, em que a homossexualidade é punida ou humilhada em público. Por isso, a última coisa que querem é fazer uma declaração pública de que são gays, sejam homens ou mulheres”, explica Adam.

A organização para palestinos homossexuais em Israel Al Qaws organiza eventos para os palestinos e ajuda a criar uma rede de apoio e conscientização entre a comunidade árabe. Uma vez por mês organiza uma festa para que os gays e lésbicas palestinos que vivem em Israel possam se conhecer.

“Mesmo que os palestinos que vivem em Israel contem com os mesmos direitos que os cidadãos judeus, muitas vezes há racismo e incompreensão em relação aos gays palestinos”, comenta um porta-voz da Al Qaws. “Há também muita incompreensão por parte da comunidade internacional, que se foca na ocupação israelense. Além disso, a opinião da comunidade palestina pesa demais. Dessa forma, não podemos esperar que eles saiam do armário como no Ocidente.”

Às vezes, Israel chega a acolher como refugiados os palestinos homossexuais que correm risco de morte ou que tenham recebido ameaças, embora não seja algo tão frequente. Enquanto isso, em Jerusalém, continua a luta para que a comunidade religiosa aceite aos homossexuais, se não como iguais, como cidadãos com os mesmos direitos de todos.

“Este é o nosso objetivo. Não queremos nem mais nem menos do que têm os demais e poder passear tranquilamente de mãos dadas, sem ter medo que nos façam sentir inferiores, nem ter a nossa Parada do Orgulho Gay cercada por centenas de policiais”, diz Adam.

Para mostrar que, embora nem sempre venha à tona, o ódio contra os gays corre solto em Jerusalém, em 2006 foi a homofobia que uniu representantes das três religiões monoteístas para protestar contra a marcha gay daquele ano. “É uma pena. Poderiam ter se unido para protestar contra outras coisas mais importantes”, lamenta Adam.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

[Internacional] Para o gay muçulmano, o armário possui sete chaves

Por Miguel Ángel Medina (Traduzido por Espiritualidade Inclusiva do jornal espanhol El País cfe. http://sociedad.elpais.com/sociedad/2012/02/27/actualidad/1330310577_794728.html)

(Um casal homossexual em uma cidade do Marrocos / I. C. )

A homossexualidade continua sendo tabu no mundo islâmico
Muitos se rebelam, em especial na Europa


A homossexualidade é um tema tabu na maioria dos países de tradição islâmica: os vizinhos Argélia ou Marrocos, por exemplo, tipificam como delito os “atos homossexuais” e os cinco Estados que condenam os gays à morte são muçulmanos. Na Espanha, onde a maior parte desta comunidade está formada por imigrantes de primeira ou segunda geração, estes preconceitos continuam existindo e, em muitos casos, levam estas pessoas a negar sua identidade sexual ou ocultá-la de suas famílias. Mas, as vozes que reivindicam a compatibilidade entre o Alcorão e a realidade homossexual também começam a se fazer ouvir.

“Quando sabemos que alguém é gay o rejeitamos e paramos de falar com ele”, admite o marroquino Achraf el Hadri, de 27 anos e residente em Madri. A presidenta da União de Mulheres Muçulmanas da Espanha (UMME), Laure Rodríguez, vai mais além: “Existe uma lesbofobia e uma homofobia generalizada dentro das comunidades muçulmanas em nosso país”. “As escolas de jurisprudência islâmica sempre consideram a sodomia como algo proibido”, confirma Abdennur Prado, presidente da Junta Islâmica Catalã (JIC).

Neste contexto, os muçulmanos que planejam o que popularmente se chama sair do armário muitas vezes enfrentam um processo muito complexo. Como explica Manuel Ródenas, coautor do “Estudo sociológico e jurídico sobre homossexualidade e mundo islâmico” (Cogam, 2007): “A característica fundamental dos homossexuais muçulmanos é que vivem em dois mundos muito diferentes: por um lado, suas famílias, que não sabem de nada, e, por outro, com os amigos. São redes que jamais se tocam nem se misturam”. Lola Martín, coautora do estudo, considera que estas pessoas vivem em um “armário duplo” e destaca que alguns deles, inclusive, tratam de ocultar que procedem de países árabes.

A presidenta da UMME está realizando um estudo entre mulheres muçulmanas que vivem na Espanha, com as quais tem contato através das redes sociais. “O ponto em comum de todas as lésbicas que entrevistei é um processo longo, traumático e doloroso para decidirem-se entre sua religiosidade, sua sexualidade ou tentar viver de forma equilibrada”, conta Rodríguez, que já falou com umas 20 delas.

Esta trabalhadora social de 36 anos critica que em vários casos, quando alguma destas mulheres se atreveu a dar o passo e solicitar informação em qualquer associação LGBT, “a primeira mensagem que recebeu dizia que, para ser liberada, teria que abandonar sua crença”. Desde o Coletivo de Lésbicas, Gays, Transsexuais e Bissexuais de Madri (COGAM), negam que suas organizações ajam assim: “Acreditamos na liberdade do indivíduo”, respondem, “e não fazemos diferenciação por causa de religião”.

Shiraz (nome fictício) ilustra como este ambiente pode afetar uma mulher procedente de um país árabe, seja muçulmana ou não. No seu caso, chegou à Espanha há 17 anos e, naquele momento, não se considerava uma pessoa homossexual. “Desde jovem eu gostava de mulheres, mas ao viver na Tunísia, onde não tinha referências, não sabia o que me acontecia e tinha muitas dúvidas”, confessa. “No meu país gostava muito de uma professora, mas eu atribuía isso à admiração”, continua, “e até que emigrei, na verdade, não comecei a assimilar”.

Esta mulher, na casa dos 50 anos, tem o prazer de ter experimentado o processo de assumir sua lesbianidade na Espanha. “Na Tunísia teria padecido um calvário ou teria escondido”, assinala. Na verdade, ninguém de sua família —que vive naquele país— sabe nada sobre sua condição sexual, apesar de serem “muito abertos” para os padrões daquele lugar. “Ali, muitos homossexuais têm uma vida dupla, e alguns até chegam a contrair um matrimônio tradicional para escondê-la”. A tunisiana comenta que nunca se considerou uma pessoa religiosa. “Mas, a educação que lhe dão desde criança influi, e há coisas que lhe escapam mesmo sem se dar conta”, admite.

Ajudaria a mudar esta situação uma organização LGBT especificamente muçulmana? Na França, onde há imigrantes de terceira e quarta geração, a associação Homossexuais Muçulmanos da França (HM2F) tem lutado desde 2010 pelos direitos deste grupo. “Não temos que deixar de ser muçulmanos por sermos homossexuais”, explica seu fundador, Ludovic L. Mohamed Zahed, de 34 anos. Sua ação é centrada em trabalhar por um islã inclusivo no qual esta comunidade tenha lugar e em demonstrar que excluir da sociedade as mulheres ou os gays “não é islâmico”. Demonstram isso através do Alcorão, o livro sagrado do islã, e dos Hadith, a tradição oral sobre a vida do Profeta.

Para debater sobre estes assuntos, Zahed organizou um congresso europeu, chamado Calem, que celebrou sua segunda edição reunindo 250 pessoas em dezembro passado em Bruxelas (Bélgica), e cujas conclusões tem apresentado em conferências em Paris, Lisboa e Madri. O fundador da HM2F já prepara o terceiro Calem, que pretende levar também à Itália, Suíça e Luxemburgo.

Mas, na Espanha não existe una organização similar, segundo confirma a Federação Estatal de Lésbicas, Gays, Transsexuais e Bissexuais (Felglt). “Há alguns muçulmanos em associações LGBT e outros vinculados às organizações muçulmanas mais abertas”, conforme nota da Federação. O mais parecido é o grupo KifKif (“como iguais”, em árabe), que trabalha pelos direitos dos gays no Marrocos, mas também pelos dos que cruzam o Estreito [de Gibraltar]. “Nosso âmbito de atuação é fundamentalmente o país vizinho, mas tivemos que nos registrar como associação na Espanha porque lá a homossexualidade é considerada como delito”, explica Samir Bargachi.

A história deste marroquino de 24 anos é tão complexa quanto a de outros imigrantes que decidiram sair do armário ao emigrar: confessar sua condição sexual supõe que parte de sua família e muitos de seus amigos tenham deixado de lhe falar.

No entanto, Bargachi, que vive na Espanha há 12 anos, não se conformou que as coisas sejam sempre assim. Por isso, iniciou uma associação para defender os direitos dos homossexuais árabes. “Nosso trabalho na KifKif está focado principalmente na comunidade do magrebe e de outros países árabes, mas não nos consideramos uma associação muçulmana, mas leiga”, afirma Bargachi. “Na Espanha, temos um grupo de apoio da comunidade marroquina formado por umas 10 pessoas, mas nosso trabalho está centrado no Marrocos”.

Em sua opinião, “a comunidade muçulmana na Espanha ainda é homofóbica”, porque está formada, na sua maior parte, por imigrantes de primeira ou segunda geração. “Meus pais, por exemplo, não estão totalmente integrados, apesar de já viverem aqui há muito tempo”, acrescenta. Com seu trabalho, o marroquino pretende sensibilizar este grupo, assim como abrir o debate sobre a homossexualidade no Marrocos. Lá, este jovem criou a revista Mithly, a primeira que fala destes temas naquele país, e em língua árabe. Foram editados quatro números impressos e, atualmente, continuam sendo publicados na Internet.

As vozes contra a homofobia surgem de dentro do próprio islã espanhol. “Não há qualquer base que justifique a perseguição dos homossexuais no Alcorão”, afirma, taxativo, Abdennur Prado, que dedicou a este tema um capítulo de seu livro “O Islã antes do Islã” (Oozebap, 2008). Para Prado, aqueles que afirmam que a homossexualidade está proibida por esta tradição estão equivocados: “O hadith a que se referem fala dos seguidores de Ló, o mesmo episódio que na Bíblia concentra-se em Sodoma e Gomorra. Mas, lendo com atenção, se comprova que não fala de relações homossexuais, mas da violação de estrangeiros e do desrespeito à leis da hospitalidade”, afirma Prado, de 44 anos.

O presidente da Junta Islâmica Catalã, que participou do congresso em Bruxelas, defende que, segundo a tradição oral sobre a vida do profeta, nos tempos de Maomé existiam homossexuais, que se chamavam muhandazun e a quem o enviado de Alá sempre defendeu. Prado destaca, além disso, que, no mundo islâmico, há muitos exemplos de poesia e literatura homoerótica, isto é, erótica e de temática homossexual, uma tradição que decaiu com a chegada do colonialismo europeu aos países árabes.

O desafio, agora, é que o debate seja ampliado. E, parece que os primeiros passos poderiam ser dados em breve. “No futuro, sou favorável a que haja um debate sobre a homossexualidade nas comunidades muçulmanas da Espanha”, comenta Mohamed Hamed Alí, presidente da Federação Espanhola de Entidades Religiosas Islâmicas, que agrupa mais de 100 associações em toda a Espanha. “É uma questão que está aí e ninguém pode negar, ainda que possamos não estar de acordo em algo, mas sempre dentro dos parâmetros da democracia e da Constituição espanhola”, confirma Alí, de 58 anos. Prado ressalta: “O Alcorão diz que Deus está sempre com os perseguidos, e tenho claríssimo que é assim, que os crimes que estão sendo cometidos contra os homossexuais e as lésbicas são aberrantes. É para mim um dever religioso como muçulmano lutar contra essa injustiça”.

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“Parte de minha família deixou de falar comigo ao dizer-lhes que sou gay”

O marroquino Samir Bargachi (Nador, 1987), que vive na Espanha há 12 anos, fundou a associação Kifkif para defender os direitos dos gays no Marrocos.

Pergunta. Como você assumiu que era homossexual?

Resposta. O processo para assumir minha homossexualidade foi muito complicado, porque venho de um espaço cultural, Marrocos, onde a sexualidade não é tratada em público. Quando me dei conta do que sentia estava totalmente desinformado, não sabia o que me acontecia e nem sequer punha um nome ao que me passava. Meu caminho para chegar a esta conclusão se iniciou no meu país natal e continuou depois na Espanha, onde fui morar com minha família em 2000. E, na verdade, não pude contá-lo até que saí de casa. Mais adiante, quando passei a viver fora da casa de meus pais, então pude agir com mais liberdade.

P. Perdeu amigos por dizer que é gay?

R. Confessar minha condição sexual me custou muitas amizades e uma parte de minha família deixou de falar comigo.

P. Qual foi a reação de sua família naquele momento?

R. A princípio, decidi não contar a meus familiares, porque a maioria deles são conservadores e religiosos. Na verdade, temia mesmo que me expulsassem de casa se o confessasse; isto é, tinha alguns medo concretos e reais. Quando minha família soube, minha mãe entendeu, mais ou menos, e continuo tendo uma boa relação com ela e com minhas irmãs. Já meu pai, pelo contrário, foi muito afetado e perdi o contato com ele.

P. Conhece casos similares?

R. Sim, este padrão se repete com outros amigos árabes e muçulmanos, a quem ocorreu o mesmo; isto é, suas mães entendem, seus irmãos homens, menos, e seu pai, nada.

P. A comunidade muçulmana na Espanha é homofóbica?

R. Totalmente. Na Espanha, a imigração muçulmana ainda é uma imigração recente, de primeira ou, quando muito, de segunda geração, e por isso seu código cultural vem destes países. É muito diferente do caso da França ou Reino Unido, onde já vão para uma terceira ou quarta geração e, portanto, há muito mais integração que aqui.

P. Está proibida a homossexualidade no islã?

R. Eu não tenho a mesma opinião que os sábios muçulmanos que dizem isto, e tenho amigos que são religiosos e pensam como eu. No Alcorão unicamente se fala da história de Ló, e está claro que não se refere à homossexualidade, mas a violações, vexações… algo muito diferente.

P. Você se considera muçulmano?

R. Sou uma pessoa muçulmana culturalmente, isto é, que essa é a cultura na qual me eduquei. Entretanto, não me considero religioso.

P. Você já teve uma rede dupla de amigos?

R. Agora, a maioria de meus amigos são espanhóis que conheci no colégio, mas efetivamente, até pouco, tinha dois grupos de amigos: por um lado, os espanhóis, a quem contei de minha homossexualidade e, por outro, os de tradição muçulmana com que se relacionava minha família (amigos de meus irmãos, vizinhos…) que não sabiam de nada. Com eles era muito difícil encaixar todas as facetas de minha vida: imigrante, muçulmano e homossexual.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Islã e homossexualidade

Por Espiritualidade Inclusiva*


* Este artigo é uma adaptação ao Português Brasileiro e a realidade cultural do Brasil baseado nos dados constantes na entrada “Islão e homossexualidade, cfe. http://pt.wikipedia.org/wiki/Isl%C3%A3o_e_homossexualidade

As opiniões islâmicas sobre a homossexualidade são tão variadas como as das outras grandes religiões e as mesmas têm sofrido modificações ao longo da história. O Alcorão e alguns Hadith contêm condenações mais ou menos explícitas acerca das relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Duas suratas mencionam a história do "povo de Ló", o qual teria sido destruído por participar de atos homossexuais (ou, segundo outras acepções, por desrespeitar as regras da hospitalidade para com os forasteiros). O castigo legal para a sodomia foi alterado de acordo com as escolas jurídicas: alguns prescrevem pena capital, enquanto outros prescrevem a castigo arbitrário menor. A homossexualidade é considerada um crime e é punida com a morte em muitos países islâmicos, como na Arábia Saudita, no Sudão, na Somália, na Mauritânia ou no Irã. Em algumas nações islâmicas relativamente seculares como Egito, Tunísia, Indonésia, Líbano, Kosovo, Bósnia, Albânia, e Turquia há uma certa tolerância, raros sendo os episódios de perseguição explícita das autoridades. Porém, é dificílimo encontrar gays assumidos em todas as nações islâmicas, mesmo onde há cidades com uma certa cena gay (Beirute, Istambul, Cairo, Jacarta, Tunis, Lahore, etc). Em Bagdá, logo depois da queda do Baath, começaram a surgir cinemas onde se apresentam filmes eróticos, e a maioria dos frequentadores são homens sozinhos, nunca indo mulheres - fica óbvio que muitos são homossexuais reprimidos que encontram na margem da sociedade uma válvula de escape para suas fantasias. O assassinato de quem é descoberto pela família ou pelos vizinhos como homossexual é prática habitual em quase todos os lugares onde o Islã é a religião dominante (as exceções são os pequenos países muçulmanos dos Balcãs, na Europa).

A situação dos homossexuais muçulmanos em países não-islâmicos varia. Há aquelas comunidades onde poucos são assumidos (como entre os árabes do Brasil), pois há relativamente poucos muçulmanos e estes são pouco integrados à cultura dominante. Há outras em que não é tão difícil que se saiba de gays que sejam muçulmanos (um exemplo é a França, ou a Holanda também, onde há muitos muçulmanos, mas a maioria é relativamente secularizada, praticando atos que em seus países de origem não fariam, como o consumo de álcool). Recentemente, nos Estados Unidos, e em algumas nações europeias, surgiram até mesmo organizações de defesa dos direitos dos homossexuais muçulmanos. Em Israel, que oficialmente é secular, a minoria muçulmana não tem liberdade para condenar os homossexuais a penas desumanas, e, devido à pouca aceitação que encontram em suas aldeias natais, muitos gays árabes de Israel acabam por ir morar em Tel Aviv ou outras cidades israelitas, onde a tendência é distanciarem-se de sua herança cultural árabe.

Apesar do conservadorismo, a temática homoerótica tem estado presente na literatura muçulmana, especialmente na poesia árabe clássica e na poesia persa medieval, celebrando o amor masculino, sendo mais frequentes que as expressões de atração às mulheres e alguns aspectos de seus costumes sociais como o tradicional confinamento das mulheres ao nível de reprodutoras fizeram com que as práticas homossexuais não sejam infrequentes, ainda que sempre de forma clandestina e sob um véu de hipocrisia. O caso dos pashtun é emblemático: vivendo nas montanhas do Afeganistão e do Paquistão, esse povo pratica um islã ferrenho e obtuso, suas mulheres são segregadas dos homens em todos os lugares públicos e mesmo no contexto familiar não gozam de consideração por parte dos membros masculinos da casa, e é justamente entre os pashtuns (que foram inclusive os responsáveis pelo domínio do Talibã no Agefanistão) que a homossexualidade é mais frequente naquela região. Faz parte da cultura afegã um homem mais velho ter como amante um mais novo, que será tratado com mimos e regalias, muitas vezes convivendo na casa da família, até que um dia, ao ficar mais velho, se casa e parte, ou então casa-se mesmo com uma das filhas de seu amante mais velho. No livro "O Livreiro de Cabul", por exemplo, a jornalista Åsne Seierstad narra a disputa que os senhores da guerra daquele canto do mundo travavam entre si pela conquista de "jovens com roupas esvoaçantes, que andavam aos bandos pelas ruas a rebolar e com os olhos delineados com khol". O caso dos pashtuns se assemelha bastante com a maneira como a homossexualidade era encontrada na Grécia antiga, e encontra paralelos em muitos outros povos islâmicos tradicionalistas, como os sauditas. Nos países do Golgo, a homossexulidade é praticada em larga escala, em parte por haver menos mulheres do que homens, em parte por elas serem segregadas do convívio com os homens. Gays solteiros (ou casados) buscam encontros nos shoppings centers, nas grandes avenidas... todos sabem, mas ninguém comenta nada.

O poeta Abu Nuwas era homossexual, e recentemente sua obra foi alvo de banimento oficial no Egito. Como ele, muitos outros muçulmanos célebres podem ser citados como gays, e sempre houve gays no mundo islâmico, pois em todas as culturas e em todos os tempos se pode encontrar homossexuais. A condenação não extingue a realidade, apenas a mascara, a obriga a ser cautelosa. No Irã, onde pode acabar em condenação à forca, nem por isso deixa de haver vários homossexuais. Eles têm seus próprios códigos de identificação, não pode ser como no Ocidente, onde não há problema se o homem for efeminado. Na capital da Indonésia os gays já se reconheceram por um brinco pequeno numa das orelhas, ou por outras formas.

Certos muçulmanos liberais, como os membros da Fundação Al-Fatiha aceitam a homossexualidade e a consideram como natural, olhando a condenação religiosa como algo obsoleto no contexto da sociedade moderna, interpretando que o Alcorão se manifesta contra a luxúria homossexual, mas não dizendo nada sobre o amor homossexual. A escritora lésbica Irshad Manji tem manifestado a opinião de que a homossexualidade é permissível dentro do Islã, no entanto, esta continua a ser uma opinião minoritária. No xiismo islâmico, pensadores como o aiatolá Khomeini defenderam a legalização das operações de mudança de sexo se um homem se sente mulher, uma vez que o Alcorão não diz nada contra a mudança de sexo e, de fato, essas intervenções são legais atualmente no Irã.

A homossexualidade é tradicionalmente proibida pela lei islâmica. O Alcorão, o texto central do Islã, condena a homossexualidade, embora talvez não ela em específico, e sim a lascívia homossexual, como defendem os membros da Al-Fatiha. Os islamitas tradicionais alegam que o Islã é uma "religião da natureza", que só reconhece o que é "natural" e nesse contexto seria anti-natural ser homossexual. Admite somente as relações sexuais dentro do matrimônio heterossexual. Os textos específicos nos que se baseia a condenação são os da história de Ló, a sétima surata do Alcorão; trata-se de um texto religioso que lembra muito o relato bíblico.

A homossexualidade tem um status legal diferente em cada canto do mundo islâmico, mas ainda é um crime em muitos países muçulmanos; as penalidades aplicadas variam muito, conforme já mencionado, e podem incluir a pena de morte em execução pública como na Arábia Saudita ou nos Emirados Árabes Unidos. As grandes organizações de direitos humanos como a Human Rights Watch e Anistia Internacional condenam as leis que consideram as relações homossexuais consentidas entre adultos como crime. Desde 1994, o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas decidiu que tais leis violam o direito à privacidade garantida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pelo Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos. No entanto, a maioria das nações islâmicas afirmam que essas leis são necessárias para a manutenção da moralidade e da virtude muçulmanas. De todas as nações de maioria maometana somente a Turquia alterou a sua legislação para legalizar a homossexualidade e somente a Bósnia e Herzegovina tem legislação anti-discriminação. Em alguns países não há uma legislação específica para condenar os homossexuais, mas eles estão condenados sob as leis de moralidade pública, como no Egito ou então são vítimas de crimes de honra como na Jordânia, no Iêmem, no Senegal e na Síria. Por outro lado, há casos em que a homossexualidade continua a ser ilícita, porém é tolerada se não for pública como no Líbano ou na Tunísia, e mesmo no Kuwait, embora neste último não possa haver em hipótese alguma a descoberta de envolvimento sexual entre pessoas do mesmo sexo.

(clique na tabela para ampliar)

Deve-se mencionar que a adoção não é permitida não somente aos homossexuais, não é permitida a ninguém, segundo a Sharia. A adoção é uma instituição fora da cultura muçulmana, apenas prevê a colocação de crianças em orfanatos.


"Dentre as criaturas, achais de vos acercar dos varões, deixando de lado o que vosso Senhor criou para vós, para serem vossas esposas? Em verdade, sois um povo depravado!" — Alcorão, "Os Poetas" (26a. sura), 165-166

Todos os maiores setores islâmicos desaprovam a homossexualidade, e o sexo praticado entre pessoas do mesmo gênero é um crime que pode ser punido com a morte em algumas nações muçulmanas: Arábia Saudita, Iêmen, Irã, Mauritânia, Sudão e Somália. Durante o regime Talibã no Afeganistão a homossexualidade também era um crime punido com a morte. Em outras nações muçulmanas como Bahrain, Qatar, Algéria, Paquistão, Maldivas e Malásia, a homossexualidade é punida com prisão, multas ou punição corporal.

Os ensinamentos islâmicos (na tradição do hadith) promovem a abstinência e condenam a consumação do ato homossexual. De acordo com essa crença, nos países islâmicos, o desejo de homens por jovens atraentes é visto como uma característica humana esperável. No entanto, ensina-se que conter tais desejos é necessário pois garantirá o pós-vida no paraíso, onde se é presenteado com mulheres virgens (Alcorão,56: 34-38). O ato homossexual é visto como uma forma de desejo que viola o Alcorão. Apesar de que a atração homossexual não é contra a Charia (lei islâmica que governa as ações físicas, mas não os sentimentos e pensamentos), o ato sexual é, segundo esta, passivo de punição.

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Nota de Espiritualidade Inclusiva – Há algum tempo que vários leitores nos pedem algum material falando da visão islâmica da homossexualidade. Este é o primeiro deles, baseado no que há já publicado na Wikipedia. Como se pode perceber pelo texto acima, a questão é muito complexa e cada país muçulmano trata o assunto à sua maneira, mas, excetuando Bangladesh, nenhum país islâmico possui leis contra a discriminação por orientação sexual. Isso vem da força de uma sociedade ainda arcaica, não-reformada, onde pensamentos patriarcais impedem que se reconheça direitos civis plenos às mulheres, aos homossexuais, aos transgêneros e a minorias étnico-religiosas. Enquanto vários países do mundo ocidental estão entrando numa agenda pró-direitos humanos LGBT, os países islâmicos endurecem por vezes suas leis e a “caça às bruxas”.

O Irã, com o qual o governo Lula flertou muito, mas que o governo Dilma tem preferido manter a uma certa distância, é um dos mais radicais neste quesito. Enforcamento de adolescentes acusados de serem homossexuais simplesmente por terem sido pegos usando calções curtos é muito frequente naquele país. Contrasta com essa realidade aquela realidade afegã mostrada nos livros “O Livreiro de Cabul” e “O Caçador de Pipas”, conforme citado no texto acima. Como o Alcorão não foi claro sobre o assunto (nem a Bíblia o foi!), grupos muçulmanos acabam por não fechar questão e tratam do assunto (e dispõem de vidas humanas) cada um conforme suas interpretações. Lastimável que, neste caso, vidas humanas sejam sujeitas ao debate de teólogos engessados em seus preconceitos e em seu pouco apreço pelo sagrado dom de existir...