Por Paulo Stekel
Sempre tive alguma
simpatia pela Fé Bahá'í. Mas, depois de alguma pesquisa, seguiu-se a decepção. Como ela mesma se define em seu website
oficial em Português (http://www.bahai.org.br):
“É uma religião
mundial, independente, com suas próprias leis e escrituras sagradas,
surgida na antiga Pérsia, atual Irã em 1844. A Fé Bahá’í foi
fundada por Bahá’u’lláh, título de Mirzá Husayn Ali
(1817-1892) e não possui dogmas, rituais, clero ou sacerdócio.
A Comunidade Bahá’í,
com aproximadamente 7 milhões de adeptos, é a segunda religião
mais difundida no mundo, superada apenas pelo Cristianismo, conforme
afirma a Enciclopédia Britânica. Os bahá’ís residem em 178
países do mundo, em praticamente todos os territórios e ilhas do
globo.
A Comunidade Bahá’í
está estabelecida no Brasil desde fevereiro de 1921, com a vinda da
Sra. Leonora Holsapple Armstrong.”
Mas, o que ensina a Fé
Bahá'í? O mesmo website esclarece:
A Unidade da
Humanidade: "... hoje todos os horizontes do mundo estão
iluminados com a luz da unidade... fomos criados para levar avante
uma civilização em constante evolução..."
A livre e
independente busca da verdade: "A luz é boa, não importa
em que lâmpada brilhe... uma flor é bela, não importa em que
jardim floresça..."
A eliminação de
todas as formas de preconceitos e discriminação: "...somos
as folhas e os ramos de uma mesma árvore... as gotas de um único
mar..."
A igualdade de
direitos e oportunidades para o homem e a mulher: "A
humanidade assemelha-se a um pássaro, uma asa é o homem e a outra,
a mulher. O pássaro não pode alçar vôo sem o equilíbrio dessas
duas asas..."
A harmonia essencial
entre a religião, a razão e a ciência: "A verdade é uma
só e é indivisível... o progresso da humanidade depende desses
fatores..."
Educação
compulsória universal: "O homem é uma mina rica em jóias
de inestimável valor, a educação, tão somente, poderá fazê-la
revelar seus tesouros..."
A revelação divina
é progressiva: "Deus é um, a religião é uma, a
humanidade é uma... o objetivo da criação humana é conhecer e
adorar a Deus... Todas as religiões provêm de um mesmo Deus..."
(Todas as frases entre
aspas citadas nesta página, são Sagradas Escrituras Bahá'ís)
Com toda esta proposta
praticamente “universalista” seria de imaginar que a Fé Bahá'í
seja uma religião inclusiva para LGBTs. Correto? Não.
Eu mesmo fiz um curso
de oração com os Bahá'í há cerca de 20 anos, e percebi que não
se tratava de uma religião inclusiva. Apesar de ter corrigido em sua
doutrina muitos erros que as demais religiões insistem em manter, no
tocante aos gays a Fé Bahá'í mantém a tendência
judaico-cristã-islâmica de considerar a prática homossexual um
pecado ou um ato reprovável, ainda que se “ame o pecador”,
clichê típico dos fundamentalistas cristãos brasileiros.
Não é muito difícil
provar que a visão Bahá'í da homossexualidade é tão
preconceituosa quanto a cristã, e o faremos citando trechos de
vários links Bahá'ís disponíveis.
Comecemos pelo que diz
a Wikipédia, a enciclopédia livre, no link:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_e_a_F%C3%A9_Bah%C3%A1%27%C3%AD:
“A Fé Bahá'í
define que a expressão sexual é aceitável somente dentro do
casamento, e os escritos Bahá'ís relativos ao casamento definem
exclusivamente o casamento entre um homem e uma mulher. Reforça
ainda a importância da castidade absoluta para qualquer pessoa
solteira.
Referências sobre a
homossexualidade na Fé Bahá'í descrevem como uma condição em que
um indivíduo deve controlar e superar. Os Bahá'ís são livres para
ensinar da maneira que achar melhor, e é reconhecido ser condenada a
discriminação contra qualquer pessoa para abraçar a Causa Bahá'í,
sejam homossexuais, alcoólatras ou agente de outras trangressões,
mas serem apenas avisados que, ao se tornarem Bahá'ís, estão
automaticamente procurando se adaptar ao padrão de vida 'designado
por Deus'.
(…) Quando um
indivíduo homossexual se torna Bahá'í ou se é descoberto
posteriormente que um indivíduo Bahá'í é homossexual, esse
assunto é tratado em particular com as Assembléias Espirituais
Locais. As AELs irão procurar ajudar o indivíduo a superar suas
dificuldades, entretanto, nem os indivíduos, nem as instituições
podem investigar a vida de outra pessoa. Somente quando alguma
trangressão aos ensinamentos Bahá'ís estiver exposta ou prejudicar
de alguma forma as instituições ou outros indivíduos, é que a AEL
deve tomar alguma providência. É comumente deixado à consciência
individual em relação aos seus atos e espera-se que com o tempo
Deus possa ajudá-la a superar alguma dificuldade.
(…) A Fé Bahá'í
muitas vezes recebe críticas de pessoas que defendem ou consideram a
prática da homossexualidade moralmente correta.
(…) Os Bahá'ís
costumam expressar que a prática homossexual é condenável, não o
homossexual ou a homossexualidade.
"Não obstante
quão belo e devotado o amor entre pessoas do mesmo sexo possa ser,
permitir que ele se expresse através de atos sexuais é errado.
Afirmar que esse amor é ideal não é desculpa. Bahá'u'lláh
efetivamente proíbe toda a sorte de imoralidade, e Ele assim
considera as relações homossexuais." (Resposta de Shoghi
Effendi para um indivíduo, 26 de março de 1950, citado em Lights of
Guidance)”
Aqui, já teríamos a
tônica da visão Bahá'í da homossexualidade. O ato homossexual é
considerado LITERALMENTE errado nas Escrituras Bahá'ís.
No website Vida Bahá'í,
no link http://www.vidabahai.com/homossexualismo,
lemos sobre a homossexualidade e a transexualidade:
“Hoje existe uma
consciência mundial quanto à importância da preservação do meio
ambiente e dos recursos naturais. Entendermos que o maior recurso da
natureza é o próprio homem. Ele, também, precisa ser preservado
contra uma série de agressões e distorções e, relação a sua
própria essência. A homossexualidade é uma das distorções que
afeta milhões de pessoas no mundo. Homossexualismo é um ato contra
a natureza humana, e qualquer atitude contra a natureza, seja
natureza mineral, vegetal, animal ou humano causa desequilíbrio no
eco-sistema.
De acordo com as
escrituras da Fé Bahá'í "homossexualidade não é uma
condição com qual alguém se deva reconciliar, mas, sim, é uma
distorção da natureza dele ou dela, que deveria ser controlada e
superada". Com essa visão "muitos problemas sexuais, tais
como homossexualidade e transsexualidade, e, em tais casos,
certamente se deveria recorrer à melhor assistência médica".
Uma pessoa pode
apresentar um comportamento homossexual, devido às alterações na
produção de hormônios controladores das características sexuais
do indivíduo; ou, quando a pessoa o adquire como um hábito, através
das pessoas de seu contato. Neste caso, "os estados de
sentimentos são, forçadamente, mal direcionados". Existem
tratamentos para cada uma das modalidades do problema. O objetivo é
aproximar a solução e o tratamento mais correto. O ideal é que o
tratamento seja feito sob dois aspectos - clínico e espiritual.
Segundo Dr. G. S. Larimer, no tratamento clínico a maioria dos
psicoterapeutas considera o homossexualismo como um distúrbio de
caráter e não uma doença emocional. Assim, a modalidade padrão de
tratamento para a maioria dos profissionais é meramente ajudar o
homossexual a se ajustar aos comportamentos existentes nele ou nela.
Contudo, tal meta para o tratamento é inadequada.
O objetivo deve ser a
modificação do comportamento, e não simplesmente ajudar a pessoa a
se adaptar a sua situação. Ele confirma que atualmente existem
várias terapias que produzem resultados aceitáveis, entre elas, a
Análises Transacional e Terapia de Atuação.
(…) O homossexual
deve ser compreendido, aconselhado e modificado. E para isso os pais,
os educadores e os médicos têm maior responsabilidades, para
livrarem a sociedade deste mal e ajudarem as pessoas a superarem esse
obstáculo.”
[Texto de autoria de
Felora Daliri Sherafat]
Observem os termos
relacionados a homossexualidade e transexualidade: “agressões”,
“distorções”, “ato contra a natureza humana”, “problemas
sexuais”, “mal”, “obstáculo”.
Pasmem! Uma religião
pacífica que tem sido perseguida há décadas no Irã, com milhares
de mártires desde sua fundação, usa termos deste tipo para se
referir a uma categoria de seres humanos? É, realmente, uma
decepção! Vemos que, no final da contas, a visão Bahá'í da
sexualidade LGBT é a mesma do Islamismo, faltando apenas a
perseguição e a morte de gays... Inadmissível sob o ponto de vista
da inclusão que defendemos!
Em outro artigo
(http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_15877/artigo_sobre_homossexualismo_-_como_a_tendencia_homossexual_se_desenvolve?),
a Bahá'í Felora Daliri Sherafat, que ao final é citada como
pertencendo ao Instituto de Desenvolvimento da Nobreza Humana
(homossexuais não são nobres, então?), pretende demonstrar como
alguém se torna homossexual:
“(...) Uma pessoa não
desenvolve o sentimento de homossexualidade do nada. Vários fatores
desde o nascimento colaboram para formação de sentimentos sobre o
sexo e do estado mental de definição sexual. A questão do sexo e
da atração sexual se constrói pela experiência emocional que a
pessoa viveu desde o momento do nascimento. Vamos ver alguns
exemplos.
Tem muitas mães que
brincam com o pinto de seu filho pequeno, na maior inocência, mesmo
assim, isso afeta a sensualidade do bebê. Nesse caso, a sensualidade
se confunde com a afetividade materna. Normalmente, tal criança
quando se torna um adolescente terá problemas, se tornando às vezes
muito obsessivo por sexo, e em outras vezes contra o sexo feminino.
Tem mães que elogiam muito seu filho e o seu órgão masculino. Esta
criança também terá problemas. Existem muitas distorções na
natureza da criança causadas inconscientemente pelas mães,
resultando em pessoas com uma variedade de problemas de ordem sexual.
Outra situação muito
comum: as crianças, quando pequenas, gostam de mexer com seu órgão
sexual, especialmente os meninos. Caso se deixe dois meninos juntos,
eles podem sem perceber começar a brincarem juntos. Acontece que o
sentimento e a emoção que gozam, suas mentes gravam. A mente cria a
memória sexual e registra as primeiras sensações do prazer sexual,
que foi feito junto com outro menino, isso é, com uma pessoa do
mesmo sexo. Sendo assim, e com repetição de experiências
semelhantes, estes dois meninos terão grandes chances de se tornarem
homossexuais, por força desta memória.
(…) Existe outra
categoria de atitudes erradas dos pais que indiretamente concorre
para a má formação sexual dos adolescentes. São os casos que
interferem na mente da criança e podem gerar um sentimento
homossexual.
Por exemplo, a mãe que
se produz muito, fala da sua beleza e de suas conquistas a parir
desta, sem saber que pode criar na pequena cabeça de sua filhinha
uma atração por beleza da mulher e sua memória gravar estes
momentos da glória da mãe. Portanto, esta menina eventualmente ao
crescer pode sentir atração por beleza feminina. As atitudes desta
natureza de uma mãe também podem afetar a mente de um menino. O
menino poder gostar do jeitinho da mãe e querer se produzir como
ela, e assim ao crescer esta fantasia o acompanha e se desenvolve no
seu interior.
(…) A agressividade
do pai também pode causar o sentimento de fragilidade dos meninos
pequenos, de modo que estes passem a se sentir dominados por sexo
masculino, e mais tarde, ao crescer, assumirem o mesmo sentimento
pelo sexo masculino e se colocarem à disposição de outros homens.”
Não lhes parece quase
um discurso de Bolsonaro??? Foi a primeira impressão que tive ao ler
estes absurdos recheados de conclusões infantis sobre a sexualidade
humana.
No FAQ do website
Bahá'í em Portugal, mais uma vez a palavra oficial
(http://www.bahai.pt/faqs/home#FAQ20):
“Qual a atitude dos
Bahá’ís face à homossexualidade?
A lei Bahá'í define
que as relações sexuais apenas devem realizar-se entre um homem e
uma mulher, unidos pelo casamento. Os crentes devem abster-se de sexo
fora do casamento. Os Bahá'ís não tentam impor os seus padrões
morais sobre aqueles que não aceitarem a Revelação de Bahá'u'lláh.
Apesar de exigirem rectidão em todas as questões de moralidade,
seja sexual ou outra, os ensinamentos Bahá'ís também têm em conta
a fragilidade humana e apelam à tolerância e compreensão em
relação às falhas humanas. Neste contexto, olhar para os
homossexuais com preconceito seria contrário ao espírito dos
ensinamentos Bahá'ís.”
Ah, sim. Se, referir-se
à homossexualidade com os termos usados pela Bahá'í Felora
(“agressões”, “distorções”, “ato contra a natureza
humana”, “problemas sexuais”, “mal”, “obstáculo”) não
é preconceito, é o que, então??? Jogo de palavras que tenta
desviar o foco do homossexual para o ato homossexual, como se ato e
indivíduo pudessem ser separados, quando estamos tratando de uma
condição de identidade, e não de moralidade!
Mas, a sutileza vai
mais longe. Na Bahaikipedia (http://pt.bahaikipedia.org/Leis)
é dito o seguinte sobre o casamento homossexual:
“No Kitáb-i-Aqdas o
casamento é fortemente recomendado, porém não obrigatório. De
acordo com os ensinamentos Bahá'ís, a sexualidade é tida como
natural e uma extensão do casamento. Entretanto, as relações
sexuais são permitidas somente entre homens e mulheres casados. Isto
infere a proibição do casamento homossexual ou a poligamia ou
qualquer outra relação sexual fora do casamento. Entretanto, o
preconceito contra não-bahá'ís que optam pelo homossexualismo é
considerado crime.
Os Bahá'ís podem
casar quando atingem a idade da maturidade (que se fixou em 15 anos),
sendo que as leis civis de cada país devem ser obedecidas. É
necessário também o consenso dos pais biológicos de ambos os
nubentes para que se casem. Para que se realize o casamento, é
também requisitado que se pague um dote (do noivo para a noiva) de
19 mithqáls em puro ouro, o mesmo valor se fixa para os habitantes
das aldeias, mas em prata. O casamento inter-religioso é permitido e
incentivado. O divórcio é permitido, embora desencorajado, é
concedido após um ano de separação, se o par for incapaz de
reconciliar suas diferenças.”
Mais semelhanças com o
Islamismo, inclusive na interdição ao casamento homossexual...
No final das contas,
chegamos à conclusão de que praticamente todas as religiões
teístas, antigas ou modernas, guardam um preconceito intrínseco
quanto à diversidade de orientações sexuais, o diferente, o
não-heteronormativo e qualquer padrão de comportamento não
alinhado com o velho machismo patriarcal. O Bahaísmo tem uma
inegável conexão doutrinária com o Islamismo, e vemos que o
preconceito patriarcal contra a diversidade LGBT se mantém de
maneira intocada, a despeito da inexistência da agressão física
contra gays... Uma lástima para uma religião que, não fosse isso,
teria boas condições de levar a humanidade a uma unidade
definitiva...
3 comentários:
Nossa.. um monte de baboseiras.. uma psicologia de botequim e lugar comum, como "a mãe brinca com o pênis do filho e logo a sexualidade se distorce". Chorei com essa....
Os iranianos estão muito mal servidos!
Já conhecia a visão dos Bahai... Isso só prova que essa coisa de "amamos toda a humanidade" é PURA BALELA
Pois é, Revolucionário!
Muito me admira uma religião que tem uma proposta universalista e é atacada com pena de morte no Irã ser tão preconceituosa para com outros seres humanos por conta da orientação sexual com a qual nasceram e a qual não podem mudar, porque é algo tão natural quanto a heterossexualidade.
Os Bahá'í são mortos no Irã simplesmente por professarem sua religião, e eles chamam os gays dos adjetivos que você leu no artigo também simplesmente por serem gays, por terem nascido gays, embora a doutrina Bahá'í ache que é algo que possa ser mudado ou abafado por técnicas autoflagelantes que só são aceitas por quem acredita na "cura gay", a falácia sexual do século!
Nosso repúdio ao obscurantismo medieval ainda presente nas religiões teístas!
Realmente vcs acham que o ato homossexual normal? Essa desculpa que qualquer forma de amor, seja ela entre homem e mulher e pessoas do mesmo sexo é valido, não cola! Podemos e devemos amar a todos mas não podemos resumir o amor ao ato de fazer sexo. Eu amo minha mãe, meu pai, meu irmão e irmã, meus amigos, conhecidos, primos mas, isso não quer dizer que para demostrar esse amor tenho que praticar sexo com eles. Se o relacionamento sexual entre pessoas do mesmo sexo fosse normal nós teríamos nascido com os dois órgãos genitais! Temos o dever de respeitar o outro independentemente da orientação sexual!
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