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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Espiritismo e Homossexualidade


Por Rafael Nova (publicado originalmente em http://ponto0.wordpress.com/2012/07/29/espiritismo-e-homossexualidade)


Gostaria de dedicar este texto a todos os jovens que, cheios de dúvidas, tentam chegar à compreensão do que pode ser certo ou errado. Espero que estas palavras os ajudem.

Recentemente li um excelente livro chamado "O Preço de Ser Diferente", ditado pelo Espírito Leonel a Mônica de Castro. A história tem por tema central a história de um garoto que se descobre homossexual e tem de lidar com os problemas que isso traz na década de 70 no Brasil. Diferente de outras obras espíritas, talvez esteja seja a que mais se aprofunda no que se refere a situações de abuso, a explicar realmente o que é “causa e efeito”, e a colocar a homossexualidade como uma manifestação da diversidade do nosso planeta.

O Livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec, não aborda diretamente a questão da homossexualidade ou da bissexualidade. Contudo, uma das questões pergunta se os espíritos em sua natureza espiritual têm sexo; a resposta é “não“. Isso significa que homem e mulher são definições subjetivas ao nosso planeta, e mesmo nele, não se restringem ao sexo biológico. Tendo isso em vista, o espírito pode na Terra se manifestar de muitas maneiras de acordo com sua necessidade, com aquilo que precisa para sua evolução.

Alguns anos atrás quando iniciei no Espiritismo, não procurei exatamente obras que falassem sobre sexualidade, mas tive contato com algumas. Conheci obras “espíritas” que tanto insinuavam que o homossexual deveria se abster de qualquer tipo de relação afetiva ou sexual com outras pessoas, como outras que recomendavam o tratamento com passes e água fluidificada, além daquelas que salientavam que uma pessoa nestas condições não poderia de modo algum vir a trabalhar com sua mediunidade.

Embora não se fale sobre isso, a verdade é que alguns dos maiores médiuns da nossa história eram ou são homossexuais. Isso só mostra que Allan Kardec estava certo quando dizia que não se deveria aceitar tudo que se diz vir dos espíritos ou dos médiuns, e que era preferível rejeitar mil verdades do que aceitar uma mentira.

Hoje em dia, com base na razão e na ciência, sabemos que a homossexualidade e o comportamento bissexual se apresentam em diversas espécies na natureza como por exemplo entre os pinguins que chegam a constituir relações monogâmicas sólidas. Se o planeta Terra teve essa constituição, se Deus permitiu essas manifestações mesmo em nossa própria natureza humana, é porque elas têm em si algum tipo de funcionalidade que hoje pode não estar clara, mas que servem a um propósito maior no grande plano. Portanto, não há nada de opção aqui ao contrário do que muitos pensam… Ser homossexual é possuir uma tendência que fala a instintos naturais da pessoa.

Ao nascer homossexual, bissexual, ou em qualquer manifestação de orientação sexual incluindo a heterossexualidade, o que acontece é que seu espírito está manifestando aquilo que é melhor para sua evolução. Somente nascendo assim você terá os tipos de experiências, contatos, desafios, que te ajudarão a pensar e a firmar seus propósitos. Não há nada melhor ou pior aqui, existe apenas o que é o melhor para cada um individualmente. O importante é dar conta do recado, entender as mensagens que chegam para que possamos evoluir, e fazer de nossas vidas um marco de amor e de prática no bem.

Portanto, se você é homossexual ou identifica em si algo diferente de ser exclusivamente heterossexual, não se sinta culpado. Também, saiba que o importante é ter uma vida emocional saudável, livre da promiscuidade, cultivando valores e principalmente o amor e o valor por si mesmo. Ame a si muito, todos os dias, porque você é uma das mais perfeitas Obras da Criação.

Se você é pai, mãe, amigo, ou familiar de alguém que é diferente, também não se sinta culpado ou tente curar ou consertar essa pessoa. Como está dito, existe uma gama de intensa diversidade em nosso mundo… Todos temos nosso jeito, nossas particularidades. Aprender a respeitar e a acolher essas diferenças é o que nos aproxima e torna a convivência melhor. Ser diferente não é um castigo, às vezes pode ser até mesmo uma bênção!

Se em algum momento você ouvir em algum grupo de estudos ou leitura que a homossexualidade é desequilíbrio, castigo, doença da alma, ou qualquer outra conotação negativa, pense se aquela opinião não vem em primeiro lugar das próprias pessoas. O Espiritismo se baseia na razão, e não faz sentido diante das evidências científicas e do avanço no campo da diversidade que se continue dizendo o contrário.

Que estas palavras possam iluminar seus corações e que Deus esteja sempre conosco!


Sobre o autor


Rafael Nova é gaúcho, tem 27 anos, é bacharel em Naturologia Aplicada formado pela Unisul, estudante de especialização em Arteterapia no Contexto Social e Institucional pelo Infapa. Atende com terapias naturais numa visão de saúde holística em Camaquã/RS. Mantém um site sobre saúde, comportamento, livros, filmes: www.rafaelnova.com. Desde a adolescência estuda o Espiritismo e a mediunidade - onde aprendeu a reconhecer e a lidar com o seu lado sensitivo. Escreve sobre o assunto em ponto0.wordpress.com. Atualmente tem um livro recém publicado na área da homoafetividade e que também tem toques de espiritualidade: Cidade do Anjo (Editora Escândalo) - fb.com/cidadedoanjo.


quarta-feira, 6 de junho de 2012

Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal

Entrevista realizada pelo terapeuta e médium Wanderley Oliveira com o médico Presidente da Associação Médico-espírita de Minas Gerais, Andrei Moreira (link original: http://www.wanderleyoliveira.blog.br/artigos/entrevista-sobre-homossexualidade-com-andrei-moreira-15/09/2010)

1. Homossexualidade é ou não uma doença à luz do Espírito imortal?

“Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria. Em 1975 a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento, deixando de considerar a homossexualidade como doença. No Brasil, em 1985, o Conselho Federal de Psicologia deixa de considerar a homossexualidade como um desvio sexual e, em 1999, estabelece regras para a atuação dos psicólogos em relação à questões de orientação sexual, declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade. No dia 17 de Maio de 1990 a Assembléia-geral da Organização Mundial de Saúde (sigla OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação internacional de doenças (sigla CID). Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passa a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos” - Wikypedia

A Homossexualidade, segundo a ciência, é uma orientação afetivo-sexual normal. Sob o ponto de vista espírita, tem sido catalogada por muitos escritores espíritas como doença ou distúrbio da sexualidade, em franco desrespeito ao conhecimento científico atual. Não há base no conhecimento espírita para se afirmar tal coisa. Não há uma visão que seja consenso sobre o assunto no movimento espírita, mas há excelentes textos dos espíritos André Luiz e Emmanuel nos direcionando o pensamento e a reflexão para o respeito, acolhimento e inclusão da pessoa homossexual, entendendo a homossexualidade como uma condição evolutiva natural (e o termo “natural” como sinônimo de “presente na natureza”), decorrente de múltiplos fatores, sempre individuais para cada espírito, construída ou escolhida pelo espírito, em função de tarefas específicas ou provas redentoras, incluindo aí as condições expiativas e re-educativas devidas a abusos afetivo-sexuais no passado, que parecem ser a causa determinante da maior parte das condições homossexuais, segundo a literatura espírita.

2. Qual a diferença entre orientação e escolha sexual?

Orientação sexual representa o desejo e o interesse afetivo-sexual (note bem: não somente sexual, mas também afetivo) do indivíduo, decorrente de múltiplos fatores, os quais determinam com qual sexo ele se sente realizado para uma parceria íntima. A orientação sexual é fruto da história pessoal do indivíduo, presente e passada; é influenciada pela cultura e pelas identificações psicológicas, porém não controlada ou determinada conscientemente pelo indivíduo. Nasce-se com ela. Escolha é fruto da decisão consciente de se viver ou não a orientação, aceitá-la ou reprimi-la, de acordo com as idealizações e a pressão familiar-social-cultural do meio em que o indivíduo se encontra reencarnado.

3. O homem homossexual se sente uma mulher? A mulher homossexual se sente um homem?

De forma alguma. Identidade e orientação sexual são coisas distintas. Identidade é como o indivíduo se sente, a qual sexo pertence, com qual sexo se identifica psicologicamente. A orientação homossexual representa exclusivamente o direcionamento do afeto e do interesse sexual para indivíduos do mesmo sexo. O homem homossexual tem a sua identidade masculina, sente-se homem, embora possa ou não ter trejeitos afeminados, conforme sua história e identificação psicológica. Igualmente, a mulher homossexual tem a identidade feminina, embora possa ter ou não trejeitos masculinizados. Quando o indivíduo está em um corpo de um sexo, e sua identidade é a do sexo oposto, dizemos que ele é transexual, que é diferente do homossexual.

4. Em todos os casos, o espírito já renasce homossexual? É possível reverter essa orientação?

Há uma diferença entre comportamento homossexual e identidade afetivo-sexual homossexual. Observamos comportamentos homossexuais em indivíduos com doenças psiquiátricas, entre presidiários e soldados em guerra; nessas condições, na ausência da figura feminina, a prática sexual entre iguais praticada por muitos como campo de liberação das tensões sexuais e da busca do prazer. Isso não quer dizer que eles sejam homossexuais. O indivíduo com identidade homossexual é aquele que se sente atraído afetiva e sexualmente por pessoa do mesmo sexo, o que pode ser percebido ou descoberto em diferentes fases da vida do indivíduo. Não podemos afirmar que todos os homossexuais tenham nascido com essa orientação, pois a variedade de manifestações nessa área nos remete a múltiplas causas, embora a literatura mediúnica espírita nos informe de que em boa parte dos casos as pessoas homossexuais trazem de seu passado espiritual a fonte de sua orientação presente.

Não sendo, em si, uma condição maléfica para o indivíduo, mas neutra, podendo ser positiva ou não, dependendo da forma como for vivenciada, não há necessidade de reverter essa condição. A orientação da ciência médica e psicológica atual é de que o indivíduo homossexual que não se aceita e sofre com isso deve ser classificado como portador de transtorno egodistônico, e os esforços devem se direcionar no sentido de auxiliá-lo a se aceitar e se amar tal qual é, sentindo-se digno de amor e respeito, buscando relações que lhe fortaleçam o auto-amor e nas quais possa ser natural, espontâneo e verdadeiro, em busca de sua felicidade e de seu progresso.

Há religiosos e profissionais fundamentalistas que oferecem terapia e assistência espiritual, sobretudo em igrejas evangélicas, para que o indivíduo se “cure” da homossexualidade. Não há registros de casos bem sucedidos. O que frequentemente se observa são indivíduos bissexuais alterando o direcionamento do seu afeto para indivíduos do mesmo sexo, porém muitos deles têm relações sexuais clandestinas com pessoas do mesmo sexo e nos procuram nos consultórios cheios de culpa, medo e vergonha por não se sentirem “curados”. Além disso, há os indivíduos homossexuais que decidem vestir a máscara de heterossexuais e por algum tempo formam famílias; frequentemente, saem de casa após algum tempo para viverem o que sentem como sua real atração afetivo-sexual.

5. Existem casos de homossexualidade desenvolvida exclusivamente pela educação na infância? Em caso afirmativo, é possível reverter o processo?

Segundo Freud, sim, o que não significa que seja passível de reversão ou que haja necessidade disso. Segundo o Conselho Federal de Psicologia a identidade e a orientação sexual estruturadas na infância não são passíveis de reversão, e a homossexualidade não é uma condição que necessite reversão, já que não é uma doença e muito menos um desvio moral. Porém, na visão espírita, os benfeitores espirituais nos informam que o espírito, ao reencarnar, já escolhe a natureza de suas provas e as condições familiares sociais e pessoais necessárias ao seu progresso, conforme sua consciência indique a necessidade de reparação dos equívocos do passado e de melhoramento pessoal. Em outras situações, quando o espírito não se encontra maduro para definir suas provas, elas são estabelecidas por orientadores evolutivos, mas, ainda assim, são definidas previamente à reencarnação. Assim, a família, o corpo que a pessoa tem e os principais pontos da existência já estão definidos para patrocinar as condições necessárias ao progresso do indivíduo. Além disso, o espírito traz impressos em si o fruto de suas escolhas, o resultado de suas experiências passadas, em seu psiquismo e no corpo espiritual, a determinar a identidade e a orientação sexual da presente encarnação.

6. Muitos consideram que a abstinência é uma recomendação educativa no caso de homossexualidade. O que você acha?

Abstinência não representa educação do desejo e da prática sexual. Contudo, pode ser uma etapa necessária em certos casos, para a disciplina dos impulsos íntimos, de heterossexuais e homossexuais, quando se percebam necessitados de controle do desejo e da prática sem limites. Também pode acontecer que tenham a condição de abstinência imposta pela misericórdia divina como recurso emergencial de salvação perante circunstâncias de abusos reiterados nessa área.

Diz Ermance Dufaux, no livro Unidos para o Amor: “Abstinência nem sempre é solução e pode ser apenas uma medida disciplinar sem que, necessariamente, signifique um ato educativo. Por educar devemos entender, sobretudo, a desenvoltura de qualidades íntimas capazes de nos habilitar ao trato moral seguro e proveitoso com a vida. (...) A questão da sexualidade é pessoal, intransferível, consciencial e a ética nesse campo passa por muitas e muitas adequações.”

O Espiritismo recomenda a todas as criaturas a conscientização a respeito da sacralidade do corpo físico e da sexualidade, como fonte criativa e criadora, destinada a ser fonte de prazer físico e espiritual, sobretudo de realização íntima para o ser humano, em todas as suas formas de expressão.

Sintetiza Emmanuel, na introdução do livro Vida e Sexo: “(...) em torno do sexo, será justo sintetizarmos todas as digressões nas normas seguintes: Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade (grifos nossos). Fora disso, é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra da sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um”.

7. O homossexual não consegue de forma alguma ter atração por pessoa do sexo oposto ou isso pode acontecer de forma natural?

Segundo o relatório Kinsey, extensa pesquisa sobre o comportamento sexual humano realizada nos EUA na década de 60 do século XX, pelo biólogo Alfred Kinsey, tanto a homossexualidade como a heterossexualidade absoluta são condições raras em nossa sociedade. A grande maioria das pessoas tem uma condição de desejo predominante, em graus variáveis. Por exemplo, uma pessoa pode ser 80% heterossexual e 20% homossexual ou vice-versa. É natural, portanto, que uma atração heterossexual possa ocorrer na vida de um indivíduo homossexual, o que muitas vezes é entendido pelo leigo como “cura” da homossexualidade.

Emmanuel nos esclarece a respeito dessa realidade no livro Vida e Sexo, cap.21: “através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas. O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta.”

Podemos compreender assim que todos os indivíduos trazem em sua intimidade a possibilidade de se sentirem atraídos e se apaixonarem por alguém do mesmo sexo (afinal de contas, a pessoa se apaixona por um indivíduo completo, e não pelo seu corpo apenas). Isso não significa que vá ou necessite viver essa situação. O psiquismo atende e responde ao impulso do espírito, que é assexuado, mas que cumpre programas específicos em um ou outro sexo, conforme definição anterior e necessidade evolutiva, inserido em um contexto sociocultural que o limita na percepção e expressão do que vai em sua intimidade profunda.

8. Homem ou mulher que tenham fantasias com pessoas do mesmo sexo podem ser considerados homossexuais?

Na adolescência as experiências homossexuais são naturais, definidas pela psicologia como experiências de experimentação de uma identidade sexual em formação; não atestam, necessariamente, a orientação homossexual. Já no adulto a fantasia é uma das formas de expressão do desejo e da atração homoafetiva e atestam a intimidade da criatura, mesmo que não sejam aceitas pela personalidade consciente.

9. Qual sua avaliação sobre como a comunidade espírita trata a homossexualidade?

Em geral, observamos uma abordagem superficial e discriminatória por parte da comunidade espírita com os homossexuais e a homossexualidade. É compreensível que seja assim, pois todo meio religioso lida com idealizações e preconceitos seculares. Todavia, tal postura pode ser modificada por meio do que recomenda Allan Kardec: estudo sério e aprofundado de um tema para que se possa opinar sobre ele. É lamentável que nós, adeptos de uma fé raciocinada, nos permitamos o mesmo comportamento dos religiosos fundamentalistas.

Observa-se muita opinião pessoal sem fundamento tomada como regra e lei. Tais opiniões costumam ser destituídas de compaixão e amorosidade terminam por isolar o indivíduo homossexual, tachando-o de doente, perturbado, promíscuo e/ou obsediado. Às vezes ele é até mesmo afastado das atividades espíritas habituais, como se fosse portador de grave moléstia que devesse receber reprovação e crítica por parte da parcela heterossexual “normal” da sociedade. Tais posturas são frequentemente embasadas no tradicional preconceito judaico-cristão-ocidental de que a única e exclusiva função da sexualidade é a procriação humana, tomando a parte pelo todo.

O Espiritismo é uma doutrina livre e libertária, compromissada com o entendimento da natureza íntima do ser humano e o progresso espiritual. Nos dá bases muito ricas de entendimento do psiquismo e da sexualidade do espírito imortal, como instrumentos divinos dados por Deus ao homem para seu aprimoramento e felicidade. Além disso, nos oferece esclarecimento a respeito das condições e situações determinadas pela liberdade do homem, que desvia esses instrumentos superiores de suas funções sagradas.

É imprescindível que se extinga em nosso movimento o preconceito e que os homossexuais tenham campo de trabalho, se dediquem ao estudo e à prática da doutrina espírita, com a mesma naturalidade de heterossexuais. Isso, para que compreendam o papel de sua condição em seu momento evolutivo e a utilizem com respeito e dignidade com vistas ao equacionamento dos dramas internos, ao cumprimento dos planos de trabalho específicos em sua proposta encarnatória e ao seu progresso pessoal, da família e da sociedade da qual faz parte, da mesma maneira como deve fazer o heterossexual.

10. Como devem se comportar os pais espíritas de um indivíduo que se descubra homossexual?

Aos pais de uma pessoa homossexual cabe o acolhimento integral e amoroso do indivíduo, com aceitação de sua condição, que nada mais é que uma das características da personalidade. Ser homossexual não é sinônimo de ser promíscuo, inferior, afeminado (para homens) ou masculinizado (para mulheres). Simplesmente atesta que o indivíduo se realiza sexual e afetivamente no encontro entre iguais. A pessoa homossexual deve receber a mesma instrução e educação a respeito da sexualidade que os heterossexuais, a fim de bem direcionar as suas energias e esforços no sentido da construção do afeto com quem eleja como parceiro (a). A postura na vivência da sexualidade, para homossexuais, deve ser a mesma aconselhada pelos espíritos a heterossexuais: dignidade, respeito a si mesmo e ao outro, valorização da família, da parceria afetiva profunda no casamento e dedicação da energia sexual criativa em benefício da comunidade em que está inserido.

O acolhimento amoroso da família é fundamental para que o indivíduo homossexual possa se aceitar, se compreender, entendendo o papel dessa condição em sua vida atual, e para que se sinta digno e responsável perante suas escolhas. A luta, para aqueles que vivem essa condição, é grande, a fim de afirmar a sua autoestima em uma sociedade que banaliza a condição sexual e vulgariza a diferença. A família é o núcleo onde se encontram corações compromissados em projetos reencarnatórios comuns, com vínculos pessoais de cada um com o passado daqueles que com eles convivem, devendo ser cada membro dessa célula da sociedade, um esteio para que o melhor do outro venha à tona, por meio da experiência amorosa.

Os pais de homossexuais poderão ler e compartilhar interessantes experiências de outros pais no site e nos livros de Edith Modesto: http://www.gph.org.br e Livros em: http://www.gph.org.br/publica.asp

11. Gostaria de acrescentar algo?

Romanos 14:14 “Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nada é de si mesmo imundo a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo.”

Todas as experiências evolutivas onde estejam presentes o autorrespeito, a auto-consideração, a autovalorização e o auto-amor são experiências evolutivas promotoras de progresso e evolução, pois aquele que se oferece essas condições naturalmente as estende ao outro na vida. A homossexualidade, independentemente da forma como se haja estruturado como condição evolutiva momentânea do indivíduo, pode ser vivenciada com dignidade e ser um rico campo de experimentação do afeto e construção do amor, desde que aqueles que a vivam se lembrem de que são espíritos imortais e de que a vida na matéria é tempo de plantio para a eternidade, no terreno do sentimento e das conquistas evolutivas propiciadas pelo amor, em qualquer de suas infinitas manifestações.

Diz-nos Emmanuel no livro "Vida e Sexo", lição 21 – Homossexualidade, ed. Feb:

“A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinqüência.”

E complementa André Luiz, no livro Sexo e destino – Cap. 5, pág 155 - ed. Feb:

“(...) no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignidade humana, reparando-se as injustiças achacadas, há séculos, contra aqueles que renascem sofrendo particularidades anômalas, porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade humana lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir incessantemente para viver, sob o sol que a Bondade Divina acendeu em benefício de todos.”

Para saber mais, indico, entre outros, os seguintes livros espíritas, com abordagens responsáveis e bem fundamentadas sobre o assunto:

1- Vida e sexo, Emmanuel/Chico Xavier, em especial cap. 21 - ed. Feb

2- Sexo e destino e Ação e reação - ambos de André Luiz/Chico Xavier - ed. feb

3- Além do Rosa e do Azul - Gibson Bastos - Ed. Celd

4- O Preço de ser Diferente (romance) - Ed. Vida e Consciência

5- Quem Perdoa, Liberta – José Mário/Wanderley Oliveira – Capítulo: "Homoafetividade e Mediunidade"

Sobre Andrei Moreira


Andrei Moreira é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Integra, desde 2005, uma equipe do Programa de Saúde da Família, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Especializado em Homeopatia. Preceptor do Internato em Atenção Integral à Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Alfenas, campus BH, desde 2008. Participa ativamente do movimento espírita nacional e internacional, proferindo palestras e seminários. Integra equipes de atendimento a pacientes com a metodologia médico-espírita na Amemg. Presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, desde 2007. Autor do livro: "Cura e autocura – uma visão médico espírita" – AME Editora, 2010 e "Homossexualidade sob a ótica do espírito imortal" – 2012. Contatos: ammsouza@hotmail.com - www.amemg.com.br

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A visão espírita da união estável homossexual segundo Divaldo Pereira Franco

Por Paulo Stekel

Nota de Espiritualidade Inclusiva – A matéria em questão foi apresentada em vídeo em maio de 2011 pela TV Mundo Maior (http://www.redemundomaior.com.br). Abaixo, incorporamos o vídeo com a matéria e, logo após, a transcrição ipsis literis das palavras do conhecido médium e palestrantre espírita Divaldo Pereira Franco, para análise de nossos leitores.



http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=aGB5FGWIuKE

Transcrição das palavras de Divaldo Franco sobre a legalização da união estável homossexual e a adoção de crianças:

“Legalizar é sempre uma forma de moralizar. Já que a união moral é feita pelo sentimento do amor, por que não legalizar uma coisa que existe, evitando que consequências danosas possam advir de um relacionamento que se pode tornar agressivo, suspeito pela sociedade e até mesmo para o meio social? (...)

A adoção de filhos é perfeitamente válida. A mim, me surpreende, por exemplo, uma questão psicológica: como será a imagem do pai, a imagem da mãe para essa criança? Quando ele atingir a adolescência, quando chegar à idade madura, que comportamento irá utilizar em face da conduta que ele vem mantendo no lar? Mas, isso é uma coisa que compete à psicologia do comportamento através dos tempos, quando se verificarão os resultados deste momento de transição. (…)

Os direitos da individualidade são inalienáveis. Não temos a prole que desejamos, que queremos, mas aquela de que temos necessidade para o processo de evolução. Se algum pai, alguma genitora considera isso um castigo divino, há de ter em mente que não chega às mãos o fruto de uma semeadura que não haja realizado. Então, amar é a solução. Amar sempre, seja qual for a condição do filho: drogado, sexualmente transtornado, com problemas de comportamento... Amá-lo, porque a função do pai é educar sempre, a da mãe igualmente. E, o amor é o melhor mecanismo, a ferramenta mais hábil para poder criar hábitos saudáveis e proporcionar ao indivíduo a plenitude, a felicidade.”


Comentário de Espiritualidade Inclusiva – Os três parágrafos da fala de Divaldo Franco possuem pontos polêmicos e pouco claros, deixando margens a muitas interpretações. No primeiro parágrafo, ao apoiar a legalização da união estável homossexual, Divaldo justifica com o fato de, assim, se evitar “... que consequências danosas possam advir de um relacionamento que se pode tornar agressivo, suspeito pela sociedade e até mesmo para o meio social”. O que a agressividade de um relacionamento tem a ver com sua legalização? Uma relação homossexual só deixa de ser “suspeita” para a sociedade quando legalizada? Estamos falando de índole de pessoas ou simplesmente resolvendo isso numa lei humana? A lei muda a índole de alguém? O que quis dizer com relacionamento “suspeito” “até mesmo para o meio social”? Estamos falando de pessoas “normais”, ainda que homossexuais, ou de psicopatas e tarados de todo gênero? Há de se ter muito cuidado com as palavras!

No segundo parágrafo, Divaldo apoia a adoção de filhos por homossexuais, mas pergunta: “como será a imagem do pai, a imagem da mãe para essa criança?” A mesma pergunta vale para crianças criadas só por um pai, ou só por uma mãe, ou só pelos avós, ou sem ninguém, num orfanato até os 18 anos! Mas, o trecho mais perigoso é este: “Quando ele atingir a adolescência, quando chegar à idade madura, que comportamento irá utilizar em face da conduta que ele vem mantendo no lar?” Como assim, “que comportamento irá utilizar”? Segundo a ciência, 90% das crianças criadas em lares heterossexuais manifestam o comportamento que lhes foi “ensinado”: o heterossexual! E, oficialmente falando, 100% delas são criadas em lares heterossexuais! Pesquisas mostram que este percentual se mantém estável mesmo no caso de crianças criadas em lares homossexuais. Ou seja, há que se desconfiar que a orientação sexual não seja simplesmente algo “ensinado” pelos pais, mas inclui um elemento interno ainda não perfeitamente estudado pela psicologia.

No terceiro parágrafo, ao instar aos pais que aceitem seu filhos como são, Divaldo confunde novamente ao dizer: “Amar sempre, seja qual for a condição do filho: drogado, sexualmente transtornado, com problemas de comportamento...” O que ele considera um filho “sexualmente transtornado”? Considerando todo o discurso nos dois parágrafos anteriores, isso induz o leitor a pensar que ele se refere à homossexualidade em si. Se não foi isso o que quis dizer, não tornou sua opinião clara e fica sujeito a várias interpretações. Parece-nos que sua fala foi uma mescla de opiniões pessoais não plenamente formadas sobre o assunto com bases da Doutrina Espírita. Gostaríamos muito que nossos leitores utilizassem o espaço de comentários logo abaixo para opinarem sobre a fala acima.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Lista de livros sobre Homossexualidade no "Vade Mecum Espírita"

Esta é uma sugestão enviada por nosso amigo Eudison de Paula Leal, criador do excelente blogue  http://sinapseslinks.wordpress.com

Ele enviou-nos uma lista que consta no site "Vade Mecum Espírita" - http://www.vademecumespirita.com.br - e que informa quais são os livros espíritas em português que tratam do tema "homossexualismo" (sic), que na verdade, hoje, deve ser considerado um termo inadequado, sendo o correto, "homossexualidade". Mas, quando a maior parte dos livros da lista foi escrita, a palavra corrente era "homossexualismo". Para os interessados na visão espírita do assunto, e principalmente após a boa repercussão da reprodução do artigo da Dra. Giselle Fachetti Machado, aqui vai:

Busca por Assunto: HOMOSSEXUALISMO
46 ocorrência(s) encontrada(s)

TítuloAutor EncarnadoPágina
A MOÇA DA ILHA MARILUSA MOREIRA VASCONCELLOS140;201;252
A MULHER NA DIMENSÃO ESPÍRITA J.REGIS-N.PUHLMANN-M.NOBRE88
A QUEDA DOS VÉUS AMERICO DOMINGOS NUNES FILHO116
AÇÃO E REAÇÃO FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER209
ALERTA DIVALDO PEREIRA FRANCO60
APÓS A TEMPESTADE DIVALDO PEREIRA FRANCO37
ARQUIVOS PSÍQUICOS DO EGITO HERMÍNIO C. MIRANDA44
BÍBLIA DIVERSOSLev.18,v22; 20v13;IReis 15v12; Rom.1v26;I Cor.6v10
CONVITES DA VIDA DIVALDO PEREIRA FRANCO61
CURSO DINÂMICO DE ESPIRITISMO JOSÉ HERCULANO PIRES28
DARWIN E KARDEC Um Diálogo Possível HEBE LAGHI DE SOUZA117
DAS SOMBRAS PARA A LUZ TELMA MAGALHÃES33 - Cap.II
DE FRANCISCO DE ASSIS PARA VOCE HUMBERTO DE ARAUJO136
DE MÁRIO A TIRADENTES MARILUSA MOREIRA VASCONCELLOS78;213;289
DINÂMICA PSI JORGE ANDRÉA DOS SANTOS176
DOENÇAS DA ALMA DR ROBERTO BRÓLIO158
DOS HIPPIES AOS PROBLEMAS DO MUNDO FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER112
ENCONTRO COM A CULTURA ESPÍRITA DEOLINDO ª/ALEXANDRE S./ALTIVO F./J.ANDRÉA67;89
ESPÍRITO, PERISPÍRITO E ALMA HERNANI GUIMARAES ANDRADEXVIII;227;228
FLORAÇÕES EVANGÉLICAS DIVALDO PEREIRA FRANCO10
FORÇAS SEXUAIS DA ALMA JORGE ANDRÉA DOS SANTOS76;116;121;132
GENÉTICA E ESPIRITISMO EURÍPEDES KÜHL141
GESTAÇÃO SUBLIME INTERCÂMBIO RICARDO DI BERNARDI93;97
HIPNOTISMO E ESPIRITISMO CESAR LOMBROSO143
LASTRO ESPIRITUAL NOS FATOS CIENTÍFICOS JORGE ANDRÉA DOS SANTOS142 * ref.esp.
MANUAL E DICIONÁRIO BÁSICO DO ESPIRITISMO A.CAVERSAN/GEZIEL ANDRADE57
MEDIUNIDADE JOSÉ HERCULANO PIRES60;141
MEDIUNIDADE NA MOCIDADE CARLOS A.BACCELLI97(44); 99(45)
NA ERA DO ESPÍRITO F.C.XAVIER-HERCULANO PIRES144
O ALÉM E A SOBREVIVÊNCIA DO SER LÉON DENIS95
O HOMEM NOVO JOSÉ HERCULANO PIRES18
PINGA FOGO COM CHICO XAVIER DEPARTAMENTO CULTURAL EDICEL54
PSICOLOGIA ESPÍRITA - Volume II JORGE ANDRÉA DOS SANTOS29; 82
PSIQUIATRIA E MEDIUNISMO LEOPOLDO BALDUINO198
REENCARNAÇÃO E EVOLUÇÃO DAS ESPÉCIES RICARDO DI BERNARDI150
REPOSITÓRIO DE SABEDORIA DIVALDO PEREIRA FRANCO277
REVISTA ESPÍRITA 1866 ALLAN KARDEC04
SAÚDE E ESPIRITISMO ASSOCIAÇÃO MÉDICO ESPÍRITA DO BRASIL287;346
SEM MEDO DE SER FELIZ JOSÉ CARLOS DE LUCCA33
SEXO E DESTINO F.C.XAVIER - WALDO VIEIRA273
SEXO E EVOLUÇÃO WALTER BARCELOS43;78;104
SEXO SUBLIME TESOURO EURÍPEDES KÜHL41; 135
SISTEMA IMUNOLÓGICO J.CARLOS BAUMANN-M.L.ESPIRITO SANTO37; 59
VAMPIRISMO JOSÉ HERCULANO PIRES18;29;44 (cap.II;IV;V)
VELADORES DA LUZ DOLORES BACELAR42
VIDA E SEXO FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER89



Link original: http://www.vademecumespirita.com.br/goto/store/ver.aspx?SID=851f9a779bace829713021b0c69175e9&assunto=HOMOSSEXUALISMO&btnAssunto=Pesquisar

Por fim, deixo parte do texto enviado pelo amigo Eudison junto com a lista:

"Muito obrigado pela consulta. O assunto homossexualismo é multi-facetado, extremamente complexo.
Eu não tenho capacidade e conhecimento suficiente para opinar sobre este tema, mas, em se tratando de Seres Humanos...sofro com a questão.
*
O anexo é a minha contribuição para aqueles que empunham a bandeira. Desejo sucesso no empreendimento desafiante.
*
Rogo a Jesus, o Cristo, para que todos quanto possam pertencer à este Universo, direta ou  indiretamente, encarnados ou desencarnados, sejam Iluminados e Abençoados.
*
Fraternalmente,
Leal -71- aprendiz em todas as instâncias da Vida"

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Homossexualidade analisada pela ótica Espírita

Por Dra. Giselle Fachetti Machado (publicado originalmente em http://amigoespirita.ning.com/profiles/blogs/homossexualidade-analisada-pela-tica-esp-rita e reprodução em "espiritualidade inclusiva" devidamente autorizada pela autora)


Tenho uma postura que pode chocar alguns. Sou favorável ao contrato civil de união entre pessoas do mesmo sexo. Procurarei justificar minha posição nas linhas abaixo.
Com a lei da união civil entre pessoas do mesmo sexo uma união longa e estável de um "casal" homossexual seria reconhecida como uma sociedade civil gerando direitos legais tais como plano de saúde, pensão, herança... Isso não propicia e nem promove uma possível perversão, mas reconhece uma situação que existe de fato.

Todos sofremos quando assistimos cenas de discriminação em relação ás minorias. Temos horror daqueles que se julgam superiores a seus empregados e por isso precisam de um elevador exclusivo. Não entendo como estes seres superiores comem a comida preparada por pessoas com a qual não podem nem sequer dividir um elevador sob o risco de subversão da hierarquia social.

Quando nos defrontamos com uma cena de discriminação racial somos tomados de uma fúria politicamente correta. A mesma fúria se torna verde quando imaginamos a crueldade com animais para o simples prazer de se obter o mais belo casaco de peles ou para garantir que uma determinada maquiagem não é tóxica para o olho humano.
Só que não são apenas essas as cruéis discriminações que presenciamos em nossa sociedade. Discriminamos o feio, o magérrimo, o gordo. Discriminamos o pobre e o ignorante. Aceitamos apenas os nossos semelhantes. Aqueles que nos representem em uma espécie de espelho mágico dos seletos.

Proteger os animais e a mulheres são guerras “fashion”, chiques. Esta postura nos faz aceitos nas altas rodas. Se defendermos a união civil entre homossexuais em um ambiente que se diz familiar, seremos taxados de perversores da sexualidade humana, de desencaminhadores de indecisos.

Ora, ninguém passa a desejar fisicamente pessoas do mesmo sexo por imposição. O desejo sexual pode até ser reprimido em sua intensidade ou oportunidade. Agora, modificar sua qualificação, modificar a natureza do objeto que desperta esse desejo, isso não é uma possibilidade sujeita à simples vontade e decisão. O gosto pessoal é fruto de uma característica íntima, transcendente e intensa.
As pessoas não optam por serem homossexuais, elas o são. Nascem assim.

Imaginem um de nós que fosse fruto de um inusitado transplante total de corpo, uma experiência fantástica da ciência do faz de conta, e que acordasse em uma manhã qualquer, em um corpo do sexo oposto ao que utilizava. Nesta circunstância, estaríamos ainda impregnados de vivas impressões do corpo anterior e não seríamos capazes de mudar nosso foco de desejo sexual. Esta situação implicaria em uma transição instantânea, o que é um grande desafio. Portanto, seríamos, sim, de uma hora para outra, homossexuais.

Se, temos a nossa identificação sexual atual tão forte e nos gabamos disso, como se fosse um mérito, o que aconteceria se reencarnássemos em um corpo do sexo oposto? Certamente seríamos homossexuais. Quem garante que não passaremos por uma experiência assim um dia?

Ah! Diriam os pseudotolerantes:

- Isso não acontece, pois a homossexualidade se trata de punição “cármica” para quem usou mal a sexualidade em vidas pretéritas.

E quem usou mal do amor fraternal que deveria distribuir e discriminou seus irmãos homossexuais? Será que para correção desse equívoco, a experiência em um corpo discrepante em relação á sua identificação sexual atual, não propiciaria uma ótima oportunidade?

Se retirarmos do pool de dores morais que os homossexuais sofrem aquelas oriundas de nossa intolerância, estaremos exercendo a caridade cristã que permitirá que, eles, ao carregarem uma carga menor, consigam chegar mais longe.

A homossexualidade é descrita por Freud como conseqüência de uma identificação sexual inadequada por ausência da figura paterna ou por essa figura, se presente, ser fraca, dominada ou inexpressiva.

Mas nem sempre essa premissa está presente. Uma família com características predisponentes á construção de personalidades homossexuais pode assistir ao crescimento de crianças que se tornem adultos heterossexuais. Na realidade isso é o que acontece na maioria das vezes.
Temos, portanto, um componente ambiental, um emocional, um biológico e um espiritual envolvidos no complexo desenvolvimento de uma personalidade homossexual. Não acredito que se trate sempre de obsessão como querem muitos dos pseudotolerantes.
A obsessão só explica o aprofundamento de características já presentes nos indivíduos, ainda que latentes. Não é por sintonia que os obsessores agem? Nenhum obsessor é capaz de fazer uma mulher desejar outra, a não ser que ela já tenha, em si, trazido a tendência homossexual, o que abre as portas para obsessores afins. Existem obsessores de todos os matizes, conforme o número de seres humanos diferentes entre si.

A questão espiritual é importante nesta problemática. Um espírito ainda bastante identificado com as qualidades femininas vivendo em um copo masculino e vice-versa.
Outra forma de pseudotolerância é quando taxamos todos homossexuais de ex-perversos. Ou seja, estão colhendo os frutos de uma sexualidade transviada em encarnações anteriores. Sabemos que isto pode acontecer, em alguns casos, mas, se generalizamos, estamos construindo a estrutura básica dos preconceitos.

O que eu acredito que explica de forma mais fiel a situação é uma identificação intensa do espírito com o gênero sexual em que viveu na terra por muitas oportunidades, em geral seqüenciais. Em um determinado momento deve ser feita a transição para um corpo do sexo oposto com objetivo de possibilitar àquele espírito aprendizados mais próprios do outro gênero.
Quando o espírito já alcançou um grau de desmaterialização maior, ele consegue viver sua sexualidade conforme o corpo que recebe. Vemos muitos homens femininos e mulheres masculinas que não são homossexuais.

Se ainda está muito ligado ás experiências anteriores mantém o padrão que apresentava nestas outras oportunidades. Ele se sente prisioneiro em um corpo inadequado, estranho, impróprio.
Muitos de nós que nos vangloriamos de sermos “machos” ou “fêmeas” exemplares viveremos experiências semelhantes, no momento em que a transição se fizer compulsória.

Alguns homossexuais são verdadeiros missionários, enviados á terra para lutarem contra os preconceitos e para dignificarem seus irmãos homossexuais que ainda encontram-se perdidos na promiscuidade sexual. Muitas vezes isso se deve às intensas e profundas distorções de auto-imagem e auto-estima que a interação com uma comunidade preconceituosa geram.

Quando aceitamos o homossexual com a condição de que ele não pratique sua opção sexual, os estamos condenando á solidão. Quais de nós abriria mão de sua vida sexual de forma definitiva, no grau de evolução em que nos encontramos atualmente, em função de uma tese? Ou de um dogma? Apenas alguns ....

Qual o prejuízo que essa prática gera a sociedade?
É claro que não estamos falando de promiscuidade. Alguns homossexuais são promíscuos, e isso é um erro. Ser homossexual e praticar a relação homossexual com parceiros selecionados e de forma segura não pode ser considerado um pecado. É uma prática condizente com as necessidades físicas do ser humano.

O heterossexual promíscuo está errado, a mulher casada que mantém relação sexual com seu marido em troca de benefícios financeiros é prostituta. O heterossexual desleal também está em pecado. Se alguém assumiu um compromisso com um determinado parceiro e foge ao compromisso de forma desonesta, ele peca.

Trair não é um ato físico. Trair é descumprir um acordo. Se um casal hetero ou homossexual não respeita um acordo consensual feito previamente, eles estão sendo desleais e anticristãos. Se existe uma situação nova que impede o cumprimento do acordo inicial, este deve ser revisto de forma clara e até desfeito, se for o caso.

O ideal é que tenhamos um único parceiro em toda a nossa vida. Se tivermos a benção e a sabedoria de acharmos um par compatível com nossas expectativas e possibilidades podemos viver essa situação ideal. Só que neste mundo ela ainda é rara.

Estaremos todos em um grau maior de aproximação com a Divindade no momento em que tivermos a condição de praticar o que a Bíblia propõe, em termos de sexualidade, de forma natural, automática, plena.

Pessoas que tiveram inúmeros parceiros sexuais são aquelas que ainda não acertaram em sua busca. Ninguém tem o direito de tirar as esperanças de um irmão sedento de felicidade. É claro que a medida em que evoluímos, a nossa felicidade passa a depender mais de nós mesmos do que do objeto de nossa afeição ou de conquistas materiais. Mas ainda estamos na terra e não no paraíso.

Se ainda somos dominados por impulsos animais e estes serão vencidos por nossa evolução, creio que o processo, para ser bem sucedido envolve um caminhar conjunto e solidário.

Sem dúvida, quando eu me identificar menos com as necessidades materiais talvez eu possa entender a possibilidade de sublimação do desejo sexual de forma não perniciosa. Por enquanto, quando penso nisso, lembro-me dos pedófilos escondidos em uniformes respeitáveis.

A franqueza será sempre mais saudável que a dissimulação. Melhor um homossexual assumido do que um pseudo-sublimado corruptor e ocultado atrás de uma respeitabilidade fictícia.

Sei que um dia eu serei vencedora na luta pela perfeição, não sei se chegarei lá antes ou depois dos homossexuais que conheço. Mas isso não faz diferença....Estamos caminhando e é o que importa.

Amarmos ao próximo como a nós mesmos significa aceitar as opções e características individuais. Não exigir de ninguém o que não seríamos capazes de fazer. Quem de nós é capaz de abrir mão de sua vida sexual? Quem é livre do pecado e tem condição de atirar a primeira pedra?

Sobre a autora

Giselle Fachetti Machado  (Goiânia/GO)
Médica Ginecologista e Obstetra. Graduada pela Faculdade de Medicina da UFG e residência médica e especialização em Colposcopia no HC da UFMG. É responsável pelo Serviço de Colposcopia do Laboratório Atalaia de Goiânia. É membro da Comunidade Espírita Ramatís, em Goiânia e atuante no movimento em Defesa da Vida e na AME Goiás (Associação Médico Espírita). Nasceu em 20/05/1962 em Cianorte, no Paraná. Reside em Goiânia desde os 6 anos de idade. Oriunda de família espírita sendo que seu avô Osmany Coelho e Silva foi pesquisador espírita na década de 1940 no Rio de Janeiro.