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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A "morna" nota oficial do Conselho Nacional LGBT pela retirada de pauta do PLC 122

Por Espiritualidade Inclusiva



Isso mesmo! Quando comparada à Nota Oficial da ABGLT, postada aqui há pouco, a Nota Pública do Conselho Nacional LGBT soa muito morna, evidentemente para não ferir suscetibilidades partidárias. A culpa recai toda nos parlamentares e a nota do Conselho Nacional LGBT não cita uma única vez as artimanhas da Bancada Fundamentalista Evangélica para sepultar o PLC 122, algo que ficou claro na Nota da ABGLT. Nosso repúdio a uma nota tão morna, reproduzida abaixo:

Fonte: http://www.sdh.gov.br/noticias/2013/novembro/nota-publica-do-conselho-nacional-lgbt-sobre-retrocessos-no-ambito-legislativo

Novembro

NOTA PÚBLICA do Conselho Nacional LGBT sobre retrocessos no âmbito legislativo

21/11/2013
Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção de Direitos Humanos de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais – CNCD/LGBT, órgão colegiado voltado ao enfrentamento às
discriminações e ao preconceito contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, vem a
público manifestar sua preocupação com a retirada do PLC 122/06 da pauta da reunião da Comissão
de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado Federal desta quarta-feira (20),
bem como pela aprovação de projetos contrários aos direitos desta população na Comissão de Direitos
Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, nesta mesma data.
O dia 20 de novembro é um dia de celebração da luta do povo negro, Dia da Consciência Negra, e seria
também a data ideal para comemorarmos a aprovação do PLC 122/06 na Comissão de Direitos Humanos
do Senado Federal, pois tal projeto altera a Lei do Racismo, Lei 7716/89, unindo assim a luta do povo
negro contra o preconceito e a discriminação com a da população LGBT. Haja vista que justamente os
jovens negros LGBT são as maiores vítimas da violência homofóbica. Segundo dados do “Relatório
de Violência Homofóbica: ano de 2012” elaborado pela SDH/PR em parceria com o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, os LGBT negros são duas vezes mais vítimas de violência
homofóbica do que os LGBT brancos.
Os números falam por si: 9.982 violações de caráter homofóbico foram registradas pelo Governo
Federal em 2012 contra a população LGBT. 166,06% a mais do que em 2011. A violência cotidiana
contra a população LGBT é estrutural na sociedade brasileira, sendo os homicídios o seu reflexo mais
perverso. Foram registrados apenas pela contabilização de noticias em jornais de grande circulação
278 assassinatos em 2011 e 310 assassinatos em 2012 por motivação homofóbica.
É inaceitável que apesar de toda a mobilização e esforço dos militantes de direitos humanos, assim
como, do apoio valoroso, de inúmeros Senadores e Senadoras, não tenhamos conseguido aprovar
um projeto de lei que tão somente se volta a proteger a integridade física e psíquica da população
LGBT. Enquanto que na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados
tenham sido facilmente votados projetos que contrariam direitos já reconhecidos à população LGBT
pela mais alta Corte de Justiça do país, o Supremo Tribunal Federal.
O Projeto de Decreto Legislativo 232/11, aprova a realização de plebiscito sobre o casamento
entre pessoas do mesmo sexo, colocando assim uma minoria refém da decisão da maioria o que
contraria os principais postulados de direitos humanos que os reconhecem como inegociáveis. Por
outro lado, o PL n. 6.297/05, que garante em lei direitos previdenciários também já assegurados
pelo STF aos casais LGBT, foi rejeitado na Comissão da Câmara.
O Congresso Nacional tem uma grande responsabilidade para com o povo brasileiro neste momento,
essa responsabilidade não se refere tão somente proteção dos direitos da população LGBT, mas a
necessidade de demonstração inequívoca de que direitos humanos não são negociáveis e que
nenhum grupo populacional pode ter seus direitos violados sob qualquer pretexto.
O CNCD-LGBT recorre aos parlamentes brasileiros para que reconheçam a importância de um
projeto de lei que criminaliza o ódio e a intolerância resultantes de discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia, religião, origem, gênero, sexo, orientação sexual, identidade de gênero ou
condição de pessoa idosa ou com deficiência, assim como rejeitem iniciativas atentatórias a
direitos já consagrados a essa população.

Brasília, 21de novembro de 2013.

Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBT

NOTA OFICIAL DE INDIGNACAO DA ABGLT - PLC 122/2006

Cfe. postado originalmente em http://www.abglt.org.br/port/basecoluna.php?cod=320


Nota do Movimento Espiritualidade Inclusiva: O Movimento endossa integralmente o conteúdo da Nota Oficial da ABGLT


2013-11-20 21:46:12

Nota Oficial de Indignação da ABGLT contra a postura dos fundamentalistas na reunião da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado no dia 20/11/2013

"O que me preocupa não é nem o grito dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons." Martin Luther King.


A forma como um restrito grupo de fundamentalistas no Congresso Nacional está reagindo ao Projeto de Lei da Câmara nº 122/2006 que apenas acrescenta orientação sexual e identidade de gênero como motivos de discriminação e que visa simplesmente combater o ódio, a intolerância e a violência dos quais a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) tem sido vítima no Brasil é de uma extrema insensibilidade.

O Projeto diz “Art. 1º A ementa da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Define e pune os crimes de ódio e intolerância resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, gênero, sexo, orientação sexual, identidade de gênero ou condição de pessoa idosa ou com deficiência.”

Esse mesmo grupo de parlamentares fundamentalistas deve ser responsabilizado pelas mortes, pela violência e pelas discriminações que fazem vítimas de milhares de brasileiras e brasileiros todos os anos.

Para citar apenas dados oficiais contidos nos Relatórios Sobre a Violência Homofóbica no Brasil, elaborados pelo governo federal, o Relatório de 2011 registrou 6.809 violações contra a população LGBT nos seguintes serviços apenas naquele ano: Disque Direitos Humanos (Disque 100), Ligue 180, Disque Saúde e a Ouvidoria do Sistema Único de Saúde, mais 278 assassinatos identificados por meio do monitoramento dos meios de comunicação. Segundo o Relatório de 2012, foram reportadas 27,34 violações de direitos humanos de caráter homofóbico por dia no Brasil. A cada dia 13,29 pessoas foram vítimas de violências homofóbicas reportadas no país. Houve 9.982 denúncias de violações dos direitos humanos de pessoas LGBT, um aumento de 46,6% em comparação com 2011. Também foram identificados 310 assassinatos..

Houve, entre os parlamentares fundamentalistas, quem afirmou hoje que a aprovação do PLC 122/2006 seria um incentivo à pedofilia. A Classificação Internacional de Doenças (CID 10) da Organização Mundial da Saúde, item F65.4, define a pedofilia como “Preferência sexual por crianças, quer se trate de meninos, de meninas ou de ambos, geralmente pré-púberes”. Fazer afirmações que vinculam a pedofilia à homossexualidade é mais um exemplo de como os fundamentalistas semeiam o ódio contra as pessoas LGBT por meio de inverdades.

O que transparece na atuação dos fundamentalistas no Congresso Nacional é que obstruem, fazem manobras e impedem a aprovação do PLC 122/2006 porque veem nele uma ameaça à sua própria prática de segregação discriminatória e difamatória das pessoas LGBT.

Neste sentido, a ABGLT vem pedir àqueles parlamentares do Congresso Nacional que hoje se ausentaram do processo de votação, que se posicionem, votando favorável ou contrário ao combate à violência e à discriminação. Chega de hipocrisia. Nós não podemos aguardar mais. O projeto de lei em questão tramita há 12 anos – neste período de inércia e omissão por parte do Congresso Nacional, estimadas 4055 pessoas LGBT foram assassinadas no Brasil, segundo o Grupo Gay da Bahia, e segundo os Relatórios de 2011 e 2012 acima citados, apenas por serem LGBT, e os perpetradores destes crimes na sua maioria gozam da impunidade. Parlamentares que se colocam como defensores/as dos direitos humanos e da igualdade preconizada pela Constituição Federal não podem se esquivar de sua obrigação de votar a matéria – não é aceitável que se ausentem das votações. Se não querem representar na hora que for preciso parte da população que os elegeu, é melhor que se renunciem de seus mandatos. A cidadania plena e os direitos humanos não são objetos de barganha em negociações políticas e tampouco algo que se deixe de lado quando convém, por medo de perder votos nas próximas eleições. Todos somos cidadãos com direitos iguais, inclusive o direito de sermos representados inequivocamente nas instâncias legislativas.

Este povo fundamentalista não quer diálogo, este povo quer transformar o Brasil em uma ditadura fundamentalista que faz acepção a quem não siga seus dogmas. Este povo perdeu os valores: semeia o ódio contra a população LGBT. Basta ver conteúdos de determinados programas de televisão apresentados por pastores fundamentalistas, sem falar da vergonhosa Comissão da Câmara dos Deputados que não é digna do nome de Direitos Humanos e Cidadania.

Agora até querem interferir na atuação do Supremo Tribunal Federal, como é o caso da PEC 99/2011, que permitiria que as associações religiosas tivessem a capacidade para propor ação de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos. Uma proposição dessa natureza é um acinte à cidadania, uma ameaça à essência da democracia.

Este povo não entende o significado de democracia, apenas quer impor a teocracia.

Este povo dissemina inverdades para mobilizar seus fiéis contra a população LGBT. Este povo se utiliza do nome de Deus para iludir e enganar seguidores ingênuos para se enriquecer ilicitamente. Este sim é o mal maior por trás da fachada da falsa cruzada dessas pessoas que pregam o fundamentalismo. Transparência já nas contas das igrejas no Brasil, qualquer seja sua denominação!

Está na hora de aprovar no Brasil legislação que desincompatibilize o exercício concomitante de pastor e parlamentar, como já ocorre no México, por exemplo, pelo evidente fato do conflito de interesses entre as convicções religiosas e a laicidade do estado que deveria caracterizar a atuação de quem legisla em nome dele.

Acorde Brasil! Veja o paralelo entre o avanço do fundamentalismo no Brasil e o surgimento do fascismo no século passado, que culminou nas atrocidades da 2ª Guerra Mundial e no genocídio das populações perseguidas pelos fascistas (inclusive a população LGBT). Nas palavras do Frei Beto “a postura do movimento político no meio evangélico fundamentalista é comparável com o surgimento dos regimes nazista e fascista na Europa do século XX”

Carlos Magno
Presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT 


sexta-feira, 11 de maio de 2012

[Notícia] Bancada Evangélica na cruzada contra LGBT’s

Por Daniela Novais (publicado originalmente em http://camaraempauta.com.br/portal/artigo/ver/id/2766/nome/Bancada_Evangelica_na_cruzada_contra_LGBT%E2%80%99s)


Na próxima terça (15), o seminário “Diferentes, mas iguais” promovido pela presidência do senado vai discutir a equiparação da homofobia ao crime de racismo, como prevê o Projeto de Lei da Câmara 122/2006 e no dia seguinte, acontece a 3ª Marcha Nacional Contra a Homofobia. Enquanto o movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) se prepara para discutir a garantia de direitos, a bancada evangélica não descansa em sua cruzada para reverter as poucas conquistas. 

Desta vez, os parlamentares da bancada religiosa miram nas decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF), que foram de encontro à fé desses legisladores e se articulam no Congresso Nacional para aumentar o alcance de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) que autoriza o Congresso a sustar atos normativos do Judiciário “que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa”.

Numa atitude minimamente revanchista, os evangélicos veem na PEC a possibilidade de que o Legislativo possa anular decisões do Judiciário que, em sua interpretação, tenham invadido a prerrogativa de legislar. Na mira, as decisões recentes que autorizam o aborto de fetos anencéfalos e o reconhecimento de uniões estáveis para casais do mesmo sexo. “Não consigo entender por que o Judiciário tem que ter mais poder do que os demais Poderes. O Supremo não é infalível, ele pode errar e nós devemos estar atentos para corrigir esses erros", diz o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado João Campos (PSDB-GO).

Seminário – O foco do seminário é a discussão da PLC 122/2006, que vem sendo objeto de uma série de embates desta cruzada dos evangélicos contra LGBT’s. A iniciativa é da presidente em exercício, Marta Suplicy (PT-SP) e devem participar a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral.
No evento, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) entregará aos senadores documento pedindo a aprovação do PLC 122/2006 na forma do substitutivo da ex- senadora Fátima Cleide (PT-RO), já aprovado na Comissão de Assuntos Sociais em novembro de 2009.

Serão debatidos temas como o papel do Estado na construção de uma sociedade de respeito à diversidade; políticas positivas de combate à homofobia e aspectos constitucionais e legais da criminalização da homofobia além dos testemunhos de vítimas da homofobia e de seus familiares. Marta Suplicy espera que o seminário sensibilize os senadores e a sociedade civil sobre a seriedade da violência homofóbica e da necessidade de aprovação do projeto de criminalização de tais atos. “As pessoas estão sendo vitimizadas não só em seus empregos, mas quando passeiam, quando se divertem, em todas as situações” afirmou.

Estratégia Fundamentalista – Do outro lado, a cruzada evangélica conta com a simpatia de outros parlamentares, que também não gostaram muito de algumas decisões do Supremo. É o caso, por exemplo, das regras de fidelidade partidária, que a CCJ aprovou por unanimidade o relatório sobre a admissibilidade da PEC o STF deu seu parecer acerca do tema, o que causou certo desconforto em alguns. “O Judiciário tem legislado com frequência e isso não pode acontecer, é algo que fere o equilíbrio entre os Poderes”, diz o deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), autor da proposta.

Atualmente, a Constituição permite que Congresso tenha poder de sustar atos normativos do Executivo, quando forem considerados fora de sua atribuição normativa, mas não prevê o mesmo em relação ao Judiciário. Fonteles afirma que essa "lacuna" cria uma situação de desigualdade entre os Poderes. “O que o Supremo tem feito é interpretar a Constituição contra a própria Constituição. Se o STF legisla, ele fere a cláusula pétrea que impõe a separação entre os Poderes e, sem dúvida, coloca em risco o Legislativo”, afirma.

O relator da matéria, o deputado Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS), discorda da interpretação e da possibilidade de o Congresso interferir em decisões do Judiciário e além disso, ele acredita que qualquer alteração no texto, pode ser contestada judicialmente. “Existem posições inadequadas defendendo que o parlamento possa simplesmente suspender decisões judiciais. Isso não está escrito na PEC, não cabe na Constituição Federal”, argumenta Marchezan complementando que “não se pode tirar do Judiciário a capacidade de julgar”.

PLC 122 – O PLC 122 é de autoria da ex-deputada federal Iara Bernardi (PT-SP) e foi aprovado na Câmara em dezembro de 2006, alterando a Lei 7.716, de 1989, que tipifica "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional", incluindo entre esses crimes o de discriminação por gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero, igualando-os ao racismo.

O texto original foi modificado por substitutivo da ex-senadora Fátima Cleide, aprovado na Comissão de Assuntos Sociais em novembro de 2009, que inclui também a discriminação contra deficientes e idosos na Lei 7.716/89. Para ir a plenário, o texto tem que passar pelas Comissões de Direitos Humanos e Cidadania e Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Se aprovado, segue para o Plenário e, caso os senadores aprovem a matéria, ela retornará à Câmara.

Veremos quem vence essa Cruzada: o fundamentalismo religioso ou os direitos humanos e a cidadania.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

[Notícia] “Curando” gays ou quando o ódio se traveste de amor ao próximo

Por Paulo Stekel


A cada dia surpreendo-me mais com a capacidade dos fundamentalistas evangélicos brasileiros de darem-se ao ridículo. Dão tiros em seus próprios pés o tempo todo. Agora, um projeto de decreto legislativo proposto pelo deputado João Campos (PSDB-GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica, quer sustar dois artigos instituídos em 1999 pelo Conselho de Psicologia que proíbem emitir opiniões públicas pessoais ou tratar a homossexualidade como sendo um transtorno ou uma doença.

Segundo João Campos, desconhecendo (por ignorância) ou desconsiderando (por má intenção evidente) o caráter laico da Psicologia em si e do Conselho de Psicologia como órgão regulador, este teria extrapolado seu poder regulamentar ao "restringir o trabalho dos profissionais e o direito da pessoa de receber orientação profissional". Ora, o que pretendem estes fanáticos? Contaminar com comportamentos religiosos fundamentalistas todos os setores da sociedade de natureza laica? Estão dando tiros para todos os lados, sem perceber que assim, incitam ainda mais o preconceito e a violência contra a comunidade LGBT! É isso o que a religião deles prega? Onde está o tão alardeado amor ao próximo como a si mesmo? Balela hipócrita, como se tem demonstrado facilmente ao analisar as denúncias de corrupção envolvendo vários membros da bancada evangélica...

Este projeto é totalmente inconstitucional, não pode passar e não passará, sob pena do Estado Laico ir parar na boca do lixo e o Brasil virar motivo de chacota e até de sanções por parte dos organismos internacionais de Direitos Humanos! Uma lei como esta jamais poderia interferir na autonomia do Conselho de Psicologia, que baixou as normas em vigência junto aos psicóloga para combater uma intolerância histórica que causou muito mal a gays e lésbicas por décadas. Aprovar uma lei descabida como essa seria regredir no tempo e colocar a comunidade LGBT novamente no rol de um grupo doente, transtornado e pervertido, o que já é repudiado oficialmente por todos os países civilizados do mundo que não são dominados por ditaduras religiosas!

(Dep. João Campos - PSDB/GO. Aviso: qualquer semelhança da foto de João Campos com a saudação nazista é mera coincidência, embora sua proposta legislativa tenha um viés nazistoide...)

Se os divãs estão cheios de gays, não é porque estes queiram “deixar de sê-lo”, mas porque precisam enfrentar seus medos causados pelo preconceito violento que sofrem em suas próprias famílias, na escola, nas igrejas e no mercado de trabalho.

Eu mesmo já passei por algumas situações de difícil decisão, em que assumir-me poderia colocar a perder uma boa oportunidade de trabalho. Contudo, esconder-me traria outra angústia, a de ter que lembrar a cada vez quais mentiras tinham sido criadas na vez anterior para ocultar minha orientação sexual. Minha impaciência com a mentira e com o inventar histórias críveis acabou e nunca mais o fiz. Mas, sei que muitos jovens ainda usam este artifício como forma de sobrevivência. Não se pode julgá-los, mas se tem a obrigação de ajudá-los a enfrentar os leões hipócritas da moralidade.

O relator do projeto de João Campos é o pastor e deputado Roberto de Lucena (PV-SP). Ele acha que uma pessoa não pode ser deixada em conflito, sem uma ajuda psicológica. Até aí, tudo bem. Mas, propor o que ele mesmo chama de “redirecionamento sexual” é a opinião mais nazistoide e perigosa que já vi, um atentado à saúde psicológica da diversidade LGBT.

Desde que a “psicóloga cristã” (?) Marisa Lobo foi instada pelo Conselho Regional de Psicologia do Paraná tempos atrás a retirar da Internet material vinculando psicologia e religião, percebi que a coisa ia ficar feia e que logo algum deputado tentaria inverter as coisas. O método de Marisa Lobo para alcançar os LGBT era seguir o exemplo de Cristo, ou trocando em miúdos, descer a lenha na orientação sexual da pessoal com palavras de “tolerância e amor”. Na verdade, um método aparentemente “limpo” de destilar o ódio contra seres humanos por conta de uma orientação que estes fanáticos não só não conseguem explicar como não conseguem extirpar da face da Terra!

Até agora, o único deputado que teve a coragem de enfrentar abertamente este descalabro do fundamentalista João Campos foi Jean Wyllys (PSOL-RJ), que escreveu em seu website o texto abaixo reproduzido:

Deputado Jean Wyllys se posiciona contra projeto da bancada evangélica que busca legalizar a “cura gay”

A intolerância dos fundamentalistas da bancada evangélica se mostra cada vez mais ameaçadora e passível de qualquer manobra para desviar a atenção da sociedade, com novas cortinas de fumaças, dos escândalos que envolvem alguns dos seus integrantes. Desta vez é o Projeto de Decreto de Lei (PDL) do deputado João Campos (PSDB/GO), líder da Frente Parlamentar Evangélica, que busca sustar a aplicação do parágrafo único do Art. 3º e o Art. 4º, da Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 1/99 de 23 de Março de 1999, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual. A resolução do CFP que o deputado Campos quer derrubar por lei proíbe as mal chamadas “terapias” que prometem mudar a orientação sexual das pessoas, transformando magicamente gays em heterossexuais, como se isso fosse possível — aliás, como se isso fosse necessário.

Não bastasse a inconstitucionalidade do projeto, que contraria os princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988 (art. 1º, proteção da dignidade da pessoa humana; art. 3º promoção do bem de todos sem discriminação ou preconceito; art. 196º, direito à saúde, entre outros), a proposta vai contra todos os tratados internacionais de Direitos Humanos, que também têm como objetivo fundamental o direito à saúde, a não discriminação e a dignidade da pessoa humana, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, entre outros.

Com essa proposta, o deputado, por convicções puramente religiosas, se considera no direito não só de ir contra os direitos humanos de milhões de cidadãos e cidadãs brasileiras, mas também de desconstruir um ponto pacífico entre toda uma comunidade científica: nem a homossexualidade, nem a heterossexualidade, e nem a bissexualidade são doenças, e sim uma forma natural de desenvolvimento sexual. Nenhuma é melhor ou pior ou mais ou menos saudável do que as outras. São simplesmente diferentes e não há nenhuma dissidência quanto à isso. O argumento de que a homossexualidade pode ser “curada” é tão absurdo como seria dizer que a heterossexualidade pode ser “curada” e é usado sem qualquer tipo de embasamento teórico ou científico e sempre por fanáticos religiosos que tem com o objetivo confundir a população com suas charlatanices.

O PDL do deputado – o mesmo da PEC n° 99 de 2011, ou a “PEC da Teocracia” que pretende que as “associações religiosas” possam “propor ação de inconstitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade de leis ou atos normativos, perante a Constituição Federal” – é, no mínimo, criminoso, e vai também contra os direitos à saúde da população, pois sabemos que essas supostas terapias de “cura gay” nada mais são do que mecanismos de tortura que produzem efeitos psíquicos e físicos altamente danosos, que vão da destruição da auto-estima de um ser humano, até o suicídio de muitos jovens – como ocorreu recentemente nos Estados Unidos, onde mais um adolescente gay, de 14 anos, tirou sua própria vida apos ter sofrido assedio homofóbico na escola.

A tragédia ocorreu no Tennessee, estado dos EUA cujo Senado votava, há um ano, um projeto de lei que proibia professores de mencionar a homossexualidade em sala de aula e logo após outro adolescente gay do Tennessee, Jacob Rogers, tirar sua própria vida. Alguns dias antes, mais dois jovens norte-americanos também se suicidaram, depois de anos de sofrimento: Jeffrey Fehr, 18, e Eric James Borges, de 19 (este último cresceu em uma família fundamentalista cristã que inclusive tentou exorcizá-lo).

Essas supostas terapias, repudiadas unanimemente pela comunidade científica internacional, constituem um grave perigo para a saúde pública. Adolescentes e jovens são obrigados, muitas vezes pela própria família, a tentar mudar o que não pode ser mudado, são pressionados para isso por estes grupos que promovem as mal chamadas “terapias de reversão da homossexualidade” e acabam com graves transtornos psíquicos ou se suicidam. Os responsáveis desses crimes deveriam ser punidos, mas o deputado Campos propõe um amparo legal para que, além de fugir da responsabilidade penal pelos seus atos, possam dizer que a lei os protege e que suas atividades criminosas são lícitas.

Nos EUA, um dos mais conhecidos grupos que dizem “curar” a homossexualidade é Exodus. Mas os “ex gays” de Exodus, mais tarde ou mais cedo, acabam sendo “ex ex gays”, porque a orientação sexual não pode ser mudada ou escolhida a vontade (sobre isso também há absoluto consenso na comunidade científica). Vários ex líderes do grupo pediram publicamente perdão por seus crimes alguns anos atrás: “Peço desculpas a aqueles que acreditaram na minha mensagem. Tenho ouvido nos últimos tempos numerosas histórias de abuso e suicídio de homens e mulheres que não puderam mudar sua orientação sexual, apesar do que Exodus e outros ministérios lhes disseram. Uma participante que conheci caiu numa profunda depressão e preferiu saltar de uma ponte. Naquele momento, disseram-me que não era minha culpa, mas meu coração não acreditou”, declarou numa coletiva de imprensa Darlene Bogle, ex liderança da seita, junto a outros colegas que se arrependeram com ela.

Há uma preocupante confusão na sociedade, incitada por esse fundamentalismo religioso, que precisa ser esclarecida antes que a saúde física e psíquica de mais jovens seja afetada: ao contrario da religião, a orientação sexual de um indivíduo não é uma opção. Se o Estado é laico – como o é o brasileiro desde 1890 – questões de cunho moral e místico não podem ser parâmetro nem para a elaboração das normas nem para o seu controle. Valores espirituais não podem ser impostos normativamente ao conjunto da população.


Jean Wyllys

Deputado Federal

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

É fato: o entrave é o fundamentalismo evangélico!

Por Paulo Stekel

Esta semana dois fatos chamaram a atenção da comunidade LGBT e, por força do que representam, não tivemos como não escrever este artigo.

A primeira notícia foi o suposto veto a uma das peças institucionais em vídeo de prevenção a DST/AIDS elaborada pelo Programa de AIDS, do Ministério da Saúde, para ser exibida durante a campanha do Carnaval. Ainda que isso não tenha aparecido publicamente, muitos ativistas LGBT desconfiaram da “mão fundamentalista evangélica” neste sumiço do vídeo que apresenta dois homens gays em um flerte prestes a culminar em ato sexual sem camisinha, finalizando com um “quase-beijo” diante de uma “fada madrinha da camisinha” que resolve a situação de risco.

Segundo o Ministério da Saúde, não era para o filme ser divulgado na internet, e será exibido apenas em espaços fechados frequentados por homossexuais. Ou seja, ele não teria sido vetado. Exatamente por ter ido parar na internet podemos imaginar a “patrulha da moral religiosa” fazendo pressão para a retirada do mesmo. Fica evidente a tentativa do fundamentalismo evangélico no Brasil de condicionar a guetos tudo o que se refere à Comunidade LGBT, à prevenção de DST/AIDS e à Cultura Gay em geral. Parece que querem “limpar” a sociedade heteronormatizada de qualquer percepção de nossa existência, de nossos direitos e nossas necessidades.

No site do Ministério da Saúde está escrito que a “Campanha busca sensibilizar público para reduzir vulnerabilidade”. Mas, ao que parece, a bancada evangélica mais radical não só não se sensibilizou quanto à necessidade de prevenção, como pode ter forçado uma “limpeza clínica” na campanha original. O mais preocupante é que a campanha, sendo voltada principalmente a jovens gays de 15 a 24 anos durante o Carnaval, e sendo esfacelada deste modo, deixa nossos jovens a mercê da contaminação e de vários riscos sociais, já que de 1998 a 2010, o percentual de casos na população homossexual de 15 a 24 anos aumentou em 10,1%, conforme último boletim divulgado.

A forma como a campanha foi elaborada é bastante inclusiva, pois há um cartaz com dois heterossexuais, outro com dois homossexuais e um com uma travesti (veja abaixo). Então, o ataque por todos os flancos já era esperado.



A segunda notícia tem a ver com as recentes declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre a necessidade de se travar uma espécie de “disputa ideológica” com os evangélicos. A bancada evangélica ameaçou obstruir pautas até que Gilberto Carvalho se retratasse.

Durante um debate no Fórum Social Temático (FST), ocorrido em Porto Alegre (RS), entre 25 e 29 de janeiro, Gilberto Carvalho teria dito que é preciso montar uma rede para enfrentar de modo ideológico os evangélicos. Para ele, tal segmento religioso possui uma visão de mundo controlada por pastores de televisão. “É preciso fazer uma disputa ideológica com os líderes evangélicos pelos setores emergentes”, disse.

No debate, ao ser questionado sobre o motivo de o governo ser conservador em certos temas como aborto e casamento gay, Carvalho respondeu que o entrave para avançar na discussão eram os evangélicos.

Talvez a afirmação do ministro tenha sido infeliz apenas por ter faltado uma palavra: “o entrave para avançar na discussão são os FUNDAMENTALISTAS evangélicos”. Quando se diz deste modo, se faz uma clara separação entre os evangélicos comuns e os setores mais radicais entre eles, que buscam demonizar gays, impedir acesso a direitos fundamentais e negar-lhes acesso a maior segurança contra ações violentas de homofobia.

Temos toda a clareza necessária para afirmar que não são todos os evangélicos que demonizam gays, ou que são contrários a união civil entre pessoas do mesmo sexo, ou que acham que gays não sofrem tanto preconceito assim para postularem lei especial anti-homofobia (PLC 122). Mas, os que se opõem à agenda LGBT são vociferantes líderes insanos que berram aos quatro cantos em seus programas de TV, colocando a população evangélica em geral contra outros cidadãos que sofrem preconceito em várias frentes (família, escola, trabalho, meio social), sem ter a quem recorrer para sua defesa plena. É, portanto, uma covardia sem limites, um ato impensável quando vindo de cristãos que se consideram “à parte do mundo”, mas tão preocupados em como o mundo do qual se apartaram vive.

Os líderes evangélicos mais radicais, e são estes os barulhentos de plantão, precisam parar de se autodeclarar fiscais daquilo que os que não são evangélicos podem ou não podem fazer. E, como o Estado é laico, isso nem deveria fazer parte de discussões parlamentares.

Estes líderes radicais possuem três frentes de combate muito claras atualmente.

A primeira frente é contra as outras religiões. Demonizam os cultos de matriz africana (Umbanda, Candomblé, etc.), o Espiritismo e as religiões orientais, mais recentes no Brasil. Dizem que os deuses do africanismo são demônios, que os “pais-de-santo” são “pais-de-encosto”, que o Espiritismo deixa baixar diabos no corpo e que as religiões como o Budismo são importação de demônios estrangeiros à nossa terra. Ou seja, não há qualquer abertura para diálogo inter-religioso com esses radicais! Extrapolam a noção de “o estranho é o outro” e a reescrevem “o demônio é o outro”...

A segunda frente é contra os ateus, aqueles que decidem não praticar qualquer religião e que não acreditam em Deus e nos dogmas e rituais religiosos. Num Estado Laico isso é perfeitamente aceitável. Cada cidadão tem o direito de professar a crença que quiser, ou nenhuma. É o caso dos ateus. Mas, geralmente, vemos evangélicos (e católicos) fundamentalistas dizendo que quem não tem “Deus no coração” é vil, perverso e suscetível ao crime. Então, como ficam os budistas, que não têm “Deus no coração” porque o Budismo não tem a noção de um Deus Criador? E, os ateus? Os ateus humanistas, por exemplo, aceitam uma ética que se assemelha muito à ética professada por praticamente todas as grandes religiões. Alguns conhecem ética e religiões muito mais do que os próprios religiosos.

A terceira frente é contra a comunidade LGBT. Considerando o homossexual como um pecador que age conscientemente em sua orientação sexual, os fundamentalistas evangélicos propõem até “curas gays” pelo Espírito Santo que, conforme “ex-curados”, são uma lavagem cerebral e uma flagelação tão cruel como as torturas medievais ou as experiências nazistas de lobotomia em gays nos campos de concentração. Como bem diz Luiz Mott, há um “homocausto” ocorrendo no Brasil (e em várias partes do mundo) neste momento e, declaramos mais uma vez, os fundamentalistas evangélicos com seu radicalismo nada solidário nem amoroso, estão contribuindo indiretamente para que venha a aumentar.

Ao demonizar as outras religiões, os fundamentalistas evangélicos ressuscitam o proselitismo violento do antigo Judaísmo dentro da Palestina antiga e do Islamismo mais radical. Ao atacar os ateus, desejam reforçar seus dogmas como sendo a Verdade Única. Ao negar direitos aos LGBT, se arvoram de arautos de um moralismo e de costumes que sequer praticam (pesquisem o nível de corrupção entre os membros da bancada evangélica e a história pregressa de muitos destes líderes radicais).

Então, permitir em um Estado Laico que a retórica do Cristianismo mais radical seja argumento para decisões políticas e estabelecimento de políticas públicas que atingem minorias em situação de risco, é uma temeridade. Combata-se o fundamentalismo evangélico, católico ou o que o valha, e estaremos retirando o entrave que impede a cidadania plena da comunidade LGBT. Precisamos urgentemente de uma Declaração de Reafirmação do Estado Laico, antes que seja tarde demais...



Notícias relacionadas: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/bancada-evangelica-quer-explicacoes-de-gilberto-carvalho/?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter&utm_campaign=Feed%3A+congresso+%28Congresso+em+Foco%29 (“Evangélicos se rebelam e querem retratação de Gilberto Carvalho”); http://colunistas.ig.com.br/poderonline/2012/02/09/gilberto-carvalho-se-desculpa-com-magno-malta (“Gilberto Carvalho se desculpa com Magno Malta”); http://www.youtube.com/watch?v=I_sjiFHwi1w&feature=youtu.be (“Ministério da Saúde Campanha carnaval 2012”); http://oglobo.globo.com/pais/ministerio-veta-video-de-homens-gays-na-campanha-do-carnaval-3916357#ixzz1lqDH93dq (“Ministério veta vídeo de homens gays na campanha do Carnaval”); http://www.aids.gov.br/noticia/2012/saude_mobiliza_jovens_gays_na_prevencao_aids (“Saúde mobiliza jovens gays na prevenção à aids” [Site do Ministério da Saúde]).

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012 - um ótimo ano para exercer a inclusão LGBT?

Por Paulo Stekel


Assim, espero! O ano de 2011 foi particularmente interessante. Algumas conquistas, muita oposição dos fanáticos, a mesma violência de sempre contra gays pelo Brasil afora, uma atitude apática (quando não evasiva) do governo federal (diga-se, executivo!) fazendo de conta que apoia os LGBT e que estes merecem consideração NA MESMA MEDIDA que qualquer outro cidadão brasileiro, mas não agindo para que isto ocorra de modo definitivo... Se a nosso próprio governo a questão de trazer aos LGBT a cidadania plena parece secundária, o que podemos esperar dos demais? Contudo, nossos impostos e nosso voto devem ser considerados de primeira, não é mesmo? Até para os corruptos políticos da frente evangélica nosso voto é divino! Mas, do diabólico dinheiro corrupto deles não quero um só centavo!

Penso que 2012 é um ótimo ano para exercermos nossos direitos de cidadãos, independente de leis especiais que ratifiquem o óbvio declarado na Constituição Federal de 1988 de que somos todos iguais e temos os mesmos direitos e deveres. Na verdade, já estamos em todos os lugares da sociedade, mas muitas vezes, escondidos, no armário, acuados por vários fatores determinantes (medo de familiares, dos amigos, do patrão, do pastor da igreja...), fatores estes que devem ser eliminados para que possamos exercer nossa cidadania de modo pleno. E, isso, depende de nossas atitudes individuais no dia-a-dia, não de atitudes necessariamente coletivas. Impor-se como indivíduo pode ser mais efetivo que uma parada gay!

Então, meu anseio para 2012 é que, dentro do possível, todos os cidadãos LGBT possam sair do armário e impor-se nesta sociedade com toda a força de suas almas. Há riscos? Sim, claro que há! E, muitos! Mas, os resultados compensam os riscos. Os resultados de se perceber quem são os verdadeiros amigos, os familiares que realmente nos amam, os colegas de trabalho que nos consideram, os pastores ou padres que superam a homofobia implícita em seus livros sagrados... Só com estes temos algo a partilhar mais do que a ganhar. Com os demais, não temos nada a ver. Se dizem que “não somos de Deus”, dizemos: “Não queremos ser do Deus de vocês, preconceituoso e que se compraz na infelicidade de filhos gays que ele mesmo fez nascerem assim! Na verdade, com este Deus não temos qualquer contrato!”

Desde que me dispus a não me esconder de quem quer que fosse – família, amigos, trabalho, religião, etc. – posso dizer que venci barreiras antes intransponíveis. No meu trabalho todos sabem de minha natureza (pois, penso ser natural a diversidade de orientação sexual!) e, pelo menos ao que vejo, aceitam sem qualquer condição. De quem não aceita já me afastei faz tempo. Nas redes sociais não escondo que tenho um relacionamento com alguém do mesmo sexo – relação de dez anos já! Portanto, quem me adiciona, já sabe, pois isso é público. Mesmo assim, raramente recebo algum email ou post ofensivo ou do tipo trollagem. Dizem que é porque “tenho atitude”, embora tenha dúvidas sobre o que querem dizer com isso. Eu apenas sou como sou, não me escondo, não nego a mim mesmo, sei do meu valor, dos meus direitos, não tento impôr nada a ninguém e não deixo imporem nada a mim, não vivo em guetos e não os incentivo, sei que o mundo é diverso e me agrada que assim seja...

Quanto à religião, sou de origem católica, me tornei espírita aos 15 anos e budista aos 25. Aliás, no Budismo encontrei uma visão não preconceituosa que me agrada. A outros amigos, lhes agrada a visão inclusiva do Candomblé, da Umbanda, do Santo Daime ou das Religiões Neo-Pagãs (Wicca). Sem esquecer, é claro, os amigos pertencentes a Igrejas evangélicas inclusivas! Sou budista desde 1995 – especificamente o Budismo Tibetano –, e descobri que no templo onde estive em retiro no sul do Brasil realizam-se, por vezes, casamentos budistas entre casais gays. Estas cerimônias são restritas por causa do preconceito dos membros de outras religiões na região, o que não impressiona pela obviedade! Já cobrei um pouco mais de coragem dos lamas deste centro budista, lembrando que em centros de umbanda e candomblé é comum a realização de casamentos religiosos públicos, até televisionados. Afinal, um centro budista comandado por uma lama dos EUA cujo séquito quase exclusivo de mulheres é composto por 99% de lésbicas (palavras de quem as viu na intimidade) não pode continuar no armário para evitar problemas. É um centro budista inclusivo de fato e ainda quer esconder-se? O Buda não ensinou o esquivar-se, mas a coragem indômita para defender a verdade, o direito dos seres vivos à felicidade e ao amor pleno. Assim, também penso...

Na família, não há mais o que considerar. No momento em que se conta para os mais próximos e estes contam a “especialistas”, diga-se, aquelas “tias” nascidas para o “jornalismo de sacada”, todos os demais familiares ficam sabendo tão rápido quanto espalhar notícias pelo Twitter. Rsrs. Na verdade, quanto aos mais próximos – familiares e amigos – percebi que, geralmente, contada a verdade, cessam as curiosidades. Escondida a verdade, parece que a curiosidade é insaciável. Rsrs. Portanto, eis meu conselho (gratuito): contem o mais rápido possível para as pessoas certas, as que mais os amam. Se não conseguem distinguir quais são as pessoas que mais os amam, não contem até terem certeza, pois neste caso, ou realmente não os amam ou vocês é que são insensíveis a ponto de não perceberem o amor que lhes é dispensado.

Um dos objetivos da criação deste blogue Espiritualidade Inclusiva foi exatamente o de poder compartilhar com vocês experiências gays ligadas à espiritualidade. E, não só as minhas, mas as de todos os que quiserem colaborar com este projeto. Quero que seja algo de toda a comunidade LGBT e não de uma só pessoa. Aos poucos as sugestões, críticas e colaborações estão chegando. Queremos mais, precisamos mais, e faremos mais! Uma saída do armário no campo espiritual é o que nos propomos por aqui. Houve, há e sempre haverá gays nas tradições espirituais, em todas elas. Tenho certeza de que há santos gays, padres gays, imames gays, rabinos gays, pastores gays, profetas gays, brâmanes gays... Queremos ajudar a todos os LGBT que querem buscar uma espiritualidade, um caminho viável sem preconceito embutido. E, conseguiremos, com a ajuda de todos vocês!


Um Feliz 2012 a todos os que respeitam a diversidade!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Gays: cidadãos de segunda classe num Estado laico?

Por Paulo Stekel (artigo postado originalmente em http://gayexpression.wordpress.com/2010/10/24/gays-cidadaos-de-segunda-classe-num-estado-laico/)

Vivemos num Estado laico? Então, por que a Constituição da República Federativa do Brasil (1988), em seu Preâmbulo diz “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, (…) e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, (…) promulgamos, SOB A PROTEÇÃO DE DEUS, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL”?

Ora, se o Estado é laico, significa que não há uma “religião do Estado”. Então, qual o motivo de se invocar a proteção de Deus? Por que não invocar também a proteção de Buda, de Alá, de Krishna ou Oxalá?
O Estado laico ou secular tem como uma de suas principais características a separação entre Igreja e Estado, mantendo-se este último completamente neutro no que tange a temas religiosos de qualquer religião, é bom frisar. Mesmo assim, o Estado laico tende a promover, através de leis e programas, a convivência pacífica entre os credos, fomentando atividades em prol da tolerância e combatendo a discriminação religiosa. Mas deve, também, sob pena de comprometer sua laicidade, combater ações de grupos religiosos que venham a interferir na vida de todos cidadãos por conta de suas crenças. Não é o que temos visto neste período de eleições no Brasil, especialmente no segundo turno das eleições presidenciais.
Grupos religiosos fundamentalistas, vulgarmente chamados de “evangélicos”, há muito tentam interferir nas decisões políticas e na aprovação de leis em nosso país sempre que estas estejam em desacordo com suas crenças. Não vamos nem entrar no mérito destas crenças, se estão alinhadas com os tempos ou se são ainda resquícios de um pensamento medieval e atrasado. Cada um crê no que quiser! O problema reside no fato de tais crenças serem defendidas a ferro e fogo e praticamente impostas de forma sutil a todos os cidadãos através de um “lobby fundamentalista” crescente. Assim, o debate de leis em favor da liberdade de decisão das mulheres quanto ao aborto e aquelas em favor dos direitos de minorias como o “povo de santo” (praticantes de religiões afrobrasileiras) e os homossexuais acabam virando mote para batalhas apocalípticas na mídia, regadas a sórdidos argumentos de “ameaça à família”, “permissão de práticas diabólicas”, “institucionalização da pedofilia” e “conversão à iniqüidade”, propagados principalmente por pastores pentecostais “podres de ricos” (não há como definir melhor!) – e não falo em riqueza espiritual – objetivando unir os evangélicos nesta “cruzada contra o Diabo”, bem como confundir os brasileiros de outras religiões.

O pior de tudo, misto de lástima, vergonha e constrangimento para todos os cidadãos brasileiros, é termos que assistir os argumentos patéticos dos dois candidatos a presidente no segundo turno: nenhum comprometimento real e explícito com a laicidade do estado, com os direitos dos homossexuais, com o combate à homofobia que vem especialmente de DENTRO das Igrejas fundamentalistas e, pelo contrário, termos que ver às claras todos os tipos de conchavos com pastores demagogos, visitas a eventos cristãos (incluindo católicos) com uma “devoção” de cortar o coração (eu prefiro chamar isso de “curtir com a cara de Deus”) saída sabe-se lá de onde… A vergonha é tanta e tão explícita que nem as ONGs LGBT, geralmente “cabresteadas” por suas ligações partidárias (quase) veladas (pois, só não as percebe quem não quer), tiveram como evitar de se pronunciar em cartas abertas, condenando o ataque aos direitos LGBT e ao laicismo do Estado.

Alguém que aceite o argumento de que a aprovação da união civil gay e a aprovação da lei contra a homofobia vá “acabar com a família” e colocar na cadeia qualquer um que pense diferente da comunidade gay é um sinal de ignorância ou de má fé. Pior, isso pode acabar mal e incitar ações violentas em algum grau nos momentos cruciais das aprovações de ambas as leis, por parte dos dois lados. Se argumentos como “fim da família” e “onda de prisões perpetradas por uma patrulha gay” (argumentos patéticos não têm limites neste Brasil) fossem verdadeiros, isso já teria ocorrido em todos os países que aprovaram a união civil gay e leis contra a homofobia. Todos sabemos que nada disso ocorreu na Suécia, na Holanda, nem em nenhum outro. A Argentina, décadas à frente do Brasil nestas questões, também não corre esse risco.
É interessante ambos os candidatos fecharem “convênios” com líderes religiosos homofóbicos, quando o artigo 19 da Constituição diz: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (…) estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou MANTER COM ELES OU SEUS REPRESENTANTES RELAÇÕES DE DEPENDÊNCIA OU ALIANÇA, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse PÚBLICO.” Interesse público, não eleitoreiro!!! Este artigo constitucional é o que define nosso Estado como laico.

A grande verdade é que os fundamentalistas religiosos em todo o mundo, sejam no Brasil, EUA ou nas repúblicas islâmicas, cada um com um grau maior ou menor de violência, consideram os gays como cidadãos de segunda classe, aberrações da natureza (Deus não os teria criado?) e não merecedores de quaisquer direitos de expressão. Para eles, os gays não podem se reunir, se organizar, se casar entre si, ter direito a herança, adotar crianças, emprego digno em casas e empresas de cristãos e sequer reclamar quando são xingados por quem não lhes aceite como nasceram. Os mais radicais querem eliminar os gays “à moda Hitler” (aliás, muitos gays morreram nos campos de concentração e foram hostilizados por nazistas e judeus!), enquanto os que se consideram mais “amorosos” querem “curar” os gays de algo que não é uma doença. Ou seja, querem uma lavagem cerebral para manter as aparências. Esse é o pensamento (já não mais velado) de Malafaia, Macedo, Dadeus Grings e muitos outros fundamentalistas por aí. Estamos nos aproximando de um conflito fora de época com as forças fundamentalistas e homofóbicas neste país? Será um “stonewall” atrasado? Esperamos que não se chegue a tanto, mas uma coisa podemos “profetizar”: a comunidade gay brasileira conquistou muito mais visibilidade e vários direitos civis nestes últimos vinte anos para assistir calada a uma eventual política de retrocesso propagada por religiosos medievos aliados a políticos inescrupulosos e sem apreço pela vida humana. Contra uma “bancada evangélica” temos já uma nascente “bancada gay”, que foi muito reforçada nestas recentes eleições pela aprovação no pleito de vários candidatos homossexuais e muitos outros que podemos chamar de “simpatizantes”, geralmente deputados ligados aos direitos humanos.

Os últimos cidadãos considerados de segunda classe que tivemos no Brasil foram os escravos negros, que conseguiram o reconhecimento legal de sua igualdade em 1888, cem anos antes de nossa atual Constituição. Antes disso, a Igreja apoiava o escravagismo e os Jesuítas se calavam sobre o assunto para não abalar o delicado status político do Século XIX. Afinal, o própria Bíblia cita os escravos e em nenhum momento condena o escravagismo. Por que os pastores não revelam isso a seus fiéis? Se, hoje não existem mais escravos não será porque a consciência da humanidade se transformou? Os religiosos não se adaptaram a isso também? Por que com os gays isso será diferente quando o preconceito acabar? Contudo, reflita-se, com o fim da escravidão acabou o preconceito contra os negros?…

Não somos cidadãos de segunda classe e não precisamos de uma Isabel para nossa alforria porque os tempos são outros. Podemos nos organizar e exigir que a lei seja igual para todos. Podemos exigir respeito e segurança. Podemos exigir tratamento digno e humano. Podemos, devemos e vamos exigir todos os direitos facultados aos seres humanos, cidadãos e contribuintes de uma nação livre, laica e soberana. Guardem estas palavras todos aqueles que estão acostumados a demonizar os gays para esconder a sua própria hipocrisia religiosa que não tem escrúpulos na hora de colocar na boca de Deus todos os impropérios contra a vida humana e a liberdade. Guardem estas palavras também aqueles acostumados a usar os gays como massa de manobra eleitoral, prometendo muito mais do que realmente estão dispostos a fazer por uma comunidade que, ainda que minoria, é sabidamente culta, politicamente decidida, com boa escolaridade, tem suas próprias opiniões e não se vende por ninharias ou “bolsas”, nem por sorrisos marqueteiros no horário eleitoral. Se isso é ser cidadão de segunda classe… não é à toa que países como Suécia e Holanda têm tão elevada qualidade de vida…