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quarta-feira, 26 de março de 2014

Bíblia Sagrada, Pretensionismo e Homossexualidade

Por Victor Orellana


Ao analisar o vasto número de traduções da Bíblia na Língua Portuguesa e a crescente oposição do protestantismo fundamentalista militante em relação aos gays (me refiro principalmente aqueles que usam de seus cargos públicos para reforçar preconceitos, crimes de ódio, repressão às minorias sexuais, etc, etc) cresceu em mim o interesse de fazer um texto onde abordasse os famosos "versículos do terror". Bem, é notório como as igrejas fundamentalistas usam tais versículos, descolando-os de seu contexto bíblico e, inclusive, de seu contexto histórico também, diga-se de passagem, para utilizá-los como instrumento ideológico, com o objetivo de apagarem, se não, reduzirem pessoas perante a sociedade como "cidadãos de segunda classe", "categoria imoral" ou até mesmo "inumanos". A Igreja Batista de Westboro inclusive, sai em eventos públicos com cartazes nos EUA onde afirma taxativamente "Deus odeia gays", tomando ao pé da letra os textos de Levítico 18:22, onde diz "Não se deitará homem com homem (...), abominação é". No dicionário deles abominação é sinônimo de odiar, tsc tsc, um flagrante caso de pretensão quiçá no livro sagrado que foi traduzido. Será que a palavra moderna ou "equivalência dinâmica" para o original hebraico é "detestar", ou "odiar"? Evidente que não; então, temos aqui distorcedores da Palavra.

Apenas para adentrarmos ao tema, é bom lembrarmos que os cristãos não são unânimes em relação ao tratamento que a Bíblia Sagrada tem quanto a sua interpretação. Os católicos, por exemplo, vêem a Bíblia como um livro sagrado que precisa de pessoas especializadas com sofisticação teológica e autoridade eclesiástica para interpretá-la; os protestantes acreditam na doutrina do livre-exame da Bíblia onde, segundo eles, qualquer um é capaz de interpretá-la, mas para ambos os grupos, o livro é a Palavra de Deus.

Só que ambos os grupos não acreditam que seja um ditado de Deus descido dos céus, embora para grupos radicais de ambos os lados o livro seja tratado dessa forma, como algo "inerrante" a respeito de todos os temas onde possa adentrar. Será??

Óbvio que ao leitor não acostumado com os temas seria mais difícil entender as coisas se fôssemos descrevê-las com terminologias teológicas ou regras de exegese dos originais ou até mesmo de interpretação ou hermenêutica. Tentarei ser elucidativo sem adentrar em termos técnicos demasiados.

Para os eruditos católicos, o texto tem que ser traduzido literalmente, sendo necessário ao intérprete ter conhecimento necessário para poder entender o texto sem divorciá-lo do seu contexto e devido sentido. Não é à toa que as melhores traduções da Bíblia Sagrada são as católicas. Tomemos como exemplo o texto de Isaías 34:14 da Bíblia de Jerusalém (católica) que diz: "Os gatos selvagens conviverão ali com as hienas, os sátiros chamarão seus companheiros. Ali descansará Lilit, e achará um pouso para si". O texto alude a destruição de um povo e de como seria deixado em ruínas, etc. Pois bem, o texto usa de uma linguagem poética para descrever isso, aludindo inclusive a mitos comuns do povo hebreu, como sátiros e Lilit. Tais personagens poderiam ser reais ou míticos na mente do escritor do texto. Agora vejamos a tradução protestante João Ferreira de Almeira revista e corrigida: "E os cães bravos se encontrarão com os gatos bravos; e o sátiro clamará ao seu companheiro; e os animais noturnos ali pousarão e acharão lugar de repouso para si". Como vemos, houve um processo de naturalização do texto, já que os protestantes não são propensos a crerem em mitos no texto bíblico. Vejamos nas Bíblias mais modernas, como a Tradução Linguagem de Hoje, que diz: "Os gatos do mato e outros animais selvagens morarão ali; demônios chamarão uns aos outros, e ali a bruxa do deserto encontrará um lugar para descansar". A linguagem mítica e poética desaparece para dar lugar a uma naturalização e sobrenaturalização dos temas envolvidos, e na Nova Versão Internacional assim narra: "Criaturas do deserto se encontrarão com hienas, e bodes selvagens balirão uns para os outros, ali também descansarão as criaturas noturnas e acharão para si locais para descanso". Aqui tudo se torna naturalizado, e é uma mostra clara de como a Palavra de Deus através de suas traduções vai se adaptando ou acoplando ao nível cultural e informação do povo em sua maioria, ao senso comum.

Ou seja, para que o texto se torne mais compreensível ao leitor mediano, a forma (das escrituras) vai se afastando completamente do conteúdo original; daí nos perguntamos: onde está a fidelidade ao texto original nessas traduções??? Cadê a tão propalada equivalência dinâmica que tem que existir no processo de tradução deixando através de palavras modernas a aproximação maior ao sentido do texto original? Inexiste. As traduções modernas dessa forma vão se tornando quimeras adaptativas ao senso comum longe do original bíblico.

Outro exemplo que podemos citar dessa falsa equivalência dinâmica é o texto de II Reis 3:27: "Tomando então, seu filho primogênito, que devia suceder-lhe no trono, ofereceu-o em holocausto sobre a muralha. E houve uma grande cólera contra os israelitas, que se retiraram e voltaram para sua terra." Ora, é evidenciado aqui que, numa guerra entre os moabitas e israelitas, o rei de moabe sacrifica seu próprio filho, gerando uma ação direta de seu "Deus Camós", que se encoleriza contra os israelitas. Nas traduções mais pretensiosas, ou seja, que procuram adequar o texto à mentalidade moderna, essa crença no politeísmo tanto do povo de Israel como do escritor do texto desaparecem, para salvaguardar o monoteísmo israelita. Vejamos como João Ferreira de Almeida traduz o texto: "Então, tomou seu filho primogênito, que havia de reinar em seu lugar, e o ofereceu em holocausto sobre o muro; pelo que houve grande indignação em Israel; por isso retiraram-se dele e voltaram para sua terra". Aqui se perde o sentido original. A Linguagem de Hoje assim traduz: "Então pegou o seu filho mais velho, que iria ficar no lugar dele como rei, e o ofereceu em sacrifício ao deus de Moabe nas muralhas da cidade. Os israelitas ficaram apavorados e por isso saíram dali e voltaram para o seu país." Aqui desaparece qualquer ação direta do deus Camós e os israelitas ficam apavorados porque "acharam" que deveriam temer "alguma coisa", ou seja, o politeímo desaparece do relato do escritor e permanece somente na ação dos israelitas. Na Nova Versão Internacional: "Então pegou seu filho mais velho, que devia sucedê-lo como rei, e o sacrificou sobre o muro da cidade, isso trouxe grande ira contra Israel, de modo que eles se retiraram e voltaram para a sua própria terra". Ou seja, a ira provêm do contexto natural dos próprios moabitas contra Israel por causa da morte do herdeiro pelo rei.

Pretensionismo é quando, por conta da força do senso comum de alguém que é tradutor, traduz algo, fugindo da originalidade do texto para adaptá-lo à sua compreensão das coisas ou da realidade. Para melhor explicarmos, é quando a "nova forma" foge do "conteúdo original" para adaptar-se à "forma do tradutor", que por sua vez representa um senso comum de pessoas que pensam como ele em determinados assuntos.

A partir daí podemos perceber a má vontade em traduzir corretamente textos relacionados à homossexualidade, etc. Não que a Bíblia Sagrada aprove relações sexuais entre dois homens, porque isso não o faz, mas que as relações homossexuais que ela condena necessariamente não são aquilo que consentidamente se aceita hoje como uma relação entre dois adultos, consensual e conscienciosamente, plenamente aceita em países livres.

Vejam o "versículo do terror" muito usado pelos evangélicos fundamentalistas como está na Bíblia de Jerusalém: "Então não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais! Nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os depravados, nem as pessoas de costumes infames, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os injuriosos herdarão o Reino de Deus" - I Coríntios 6:9. Os termos gregos são bem traduzidos aqui pois denotam hábitos libertinos dos gregos e romanos, como bem se sabe a respeito da cultura helênica, ou seja, mancebos escravizados para fim sexual e pederastas, adultos que apesar de casados, se divertiam como tais escravos.

Na tradução João Ferreira de Almeida assim traduz: "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o Reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus".

A Linguagem de Hoje: "Com certeza vocês sabem que os maus não herdarão o Reino de Deus. Não se enganem, não herdarão o Reino de Deus os imorais, os que adoram ídolos, os adúlteros, os homossexuais, os ladrões, os avarentos, os bêbados, os difamadores, os marginais".

A Nova versão Internacional : "Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar, nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus".

Para quem não entendeu ainda, os homossexuais não são somente polêmicos, são revolucionários, e por serem assim eu já presenciei alguns que decidiram se anular para voltarem à pseudo-aceitação de suas famílias e de seus contextos sociais conservadores. É uma pena, mas eu os compreendo de todo coração. Somente os liberais puderam romper paradigmas, e dessa forma, mostrarem um novo horizonte nunca antes visto. Não será com lentes que os conservadores nos dão que conseguiremos enxergar essa liberdade, ou usando as próprias palavras de Jesus, "não se remenda pano novo com roupa velha". Reafirmar certo conservadorismo libertário ou neo-ortodoxia para mim é contraproducente. Cuidado com as mentalidades fundamentalistas, que vemos aparecerem por aí.

Afirmemos nossas vidas e existências, mesmo que "pretensas Palavras de Deus" nos digam o contrário, ou pretenciosos tradutores. Não precisamos dessas quimeras e nem de novas traduções que nada mais sabem ser que reflexos do senso comum da sociedade que tanto oprime e reprime os gays, e estes, muitas vezes se vêem sem coragem ou ânimo para exercerem o que de fato justifica suas vidas, que é a capacidade de amar e ser amados. Ou seja, cada um sabe viver a simplicidade da vida, não compliquemos.

Felicidade a todos.

Sobre o autor


Victor Orellana é Pastor e Mestre espiritual.


domingo, 24 de fevereiro de 2013

A renúncia do Papa Bento XVI e os Direitos Humanos: onde estamos e para onde iremos?


Por Luciano Freitas Filho (publicado originalmente em http://www.psb40.org.br/art_det.asp?det=315)


A notícia da renúncia do Papa Bento XVI, a ser oficializada no próximo dia 28 de fevereiro, é de causar estranheza e nos pega de surpresa em plena folia com o Rei Momo, com os Pierrots e as Colombinas. Essa “saída de cena” intriga e provoca reflexões não somente nos católicos, mas também em todas as pessoas ao redor. Sejam quais forem os reais motivos que levaram o líder máximo da Igreja Católica a abdicar do Pontificado, essa renúncia implica em novas possibilidades para as sociedades que, embora laicas, se movem em torno dos preceitos e costumes do Catolicismo.

Justiça seja feita, por mais que tenha certa antipatia e discorde quase que plenamente dos valores difundidos nos discursos e práticas do atual Papa, tiro meu chapéu e aplaudo sua atitude em deixar a vaidade de lado e abdicar do poder. Abrir mão de poder é algo que é fácil no discurso, mas difícil na prática para qualquer que seja a pessoa e sua classe social. Reconhecer a hora de sair e abrir mão do poder tem um gosto amargo de fel .

Por outro lado, mesmo o aplaudindo, considero essa saída um alívio para a Diversidade e os Direitos Humanos, tendo em vista que Bento XVI é uma liderança polêmica, pouco simpática à emancipação da mulher, ao ser e estar dos LGBT, do atuar firmemente na defesa da recuperação dos países africanos ou no combate à exploração dos trabalhadores. Eis um líder que se afasta bastante de uma evangelização progressista que prima pela liberdade das pessoas de serem e estarem enquanto diferentes, do olhar para as pessoas para além do julgar, mas primordialmente colaborar com elas na perspectiva de seu bem-estar e uma vida no e para o amor. Não há como evitar estabelecer um paralelo entre o referido líder e demais líderes Católicos, a ver como exemplo o Papa João Paulo II, Dom Helder Câmara, entre outros. O Bento XVI de longe é um evangelizador carismático como os supracitados, líderes que entoaram o coro de um Catolicismo da libertação.

A notícia em questão nos traz certa esperança de que aquele que está por vir, o sucessor deste, traga aos Cristãos discursos que provoquem reais mudanças sociais. Para além de cultos e discursos “iluminados”, é preciso que o Vaticano mova seus fieis em prol das práticas que agreguem, que consigam ir além do julgar o certo e o errado, o moral e o imoral, porém que apontem uma ética que guie para a felicidade e o amor ao próximo, como é recorrente nas práticas de muitos setores da própria Igreja Católica, de muitos líderes e fieis cristãos. De nada adianta o Conclave quebrar padrões ao eleger uma Papa negro, latino ou oriental, se as práticas e os discursos do próximo eleito persistirem conservadoras, opressoras ou estimulando preconceitos. Desse modo, mudaremos o corpo, mas o espírito de longe será santo.

O que se espera dos Cardeais é o enxergar dos novos caminhos e desafios apresentados pelo Século XXI para a evangelização , um pregar que motive e desperte nas pessoas razões para crer na Palavra com uma fé inabalável, uma fé que se materialize na prática e cotidiano dessas pessoas. É preciso eleger um Papa que seja o porta-voz de propostas e caminhos igualmente para aqueles Ateus ou não Católicos, para que esses passem a não somente respeitar a Igreja Católica, mas também a concordar e simpatizar com ela, colaborar, mesmo que de fora, cooperar com um discurso que garanta a liberdade, a igualdade e uma real fraternidade.


Sobre o autor


Luciano Freitas Filho é Secretário Nacional LGBT do PSB.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Opinião sobre Silas Malafaia no “De Frente com Gabi”


Por Rômulo Neiva


Achei por bem escrever sobre o assunto colocando meu ponto de vista, visto que todos nós gozamos das nossas faculdades mentais e temos o mínimo de instrução para, nos despindo de qualquer preconceito, poder examinar ambos os lados e tirarmos nossas próprias conclusões. Não com soberba, ódio e muito menos pregando a intolerância, mas com a plena certeza de que Deus nos deu um cérebro e inteligência o suficiente para usarmos, principalmente em casos como este, onde alguém se levanta para pregar a intolerância e o ódio, ao invés do evangelho de salvação e do amor de Cristo.

Vamos lá...

Eis o vídeo:



O vídeo por si só já mostra muita coisa, basta observar a expressão de ódio e intolerância quando o Sr. Silas Malafaia entra no assunto da homossexualidade, mas ainda assim gera perguntas e dúvidas de pessoas simples que querem viver uma vida de acordo com a vontade de Deus e estão cansadas de gente julgando e apontando o dedo devido à sua orientação sexual (orientação, não escolha como diz Silas, porque é irracional acreditar que uma pessoa escolha viver debaixo de preconceito e intolerância da sociedade e fanáticos religiosos).

Em primeiro lugar é necessário entender que a Bíblia começou a ser escrita há milênios e foi concluída ainda no primeiro século da Era Cristã. Não foi escrita em Português, foi escrita em hebraico com alguns trechos em aramaico (Antigo Testamento) e grego (Novo Testamento). O grego usado era o grego popular (grego coiné) e não o grego clássico, ou seja, possui trechos de difícil interpretação devido ao desuso de muitas palavras. A partir daí surgiram as traduções em diversas línguas, incluindo o nosso Português.

Em segundo lugar, vale também lembrar que o Sr. Silas Malafaia é envolvido com política e, segundo a Revista Forbes, o terceiro pastor mais rico do Brasil. Segundo a Forbes, a fortuna é avaliada em R$ 300.000.000,00 e segundo o próprio Silas, que disse ser inverídica essa informação, a sua fortuna seria de R$ 4.000.000,00. Independente de fortuna e envolvimento com a política, o que mais chama a atenção é sua veemência em acusar e condenar os homossexuais.

A pior mentira que existe é aquela que está embutida em uma verdade. Sim, muita coisa que ele diz é verdade e não queremos julgar a sua sinceridade em querer servir a Deus. O que estamos buscando aqui é, através da própria Bíblia, enxergar o quanto ele está sendo desonesto em interpretar determinados versículos a bel prazer e simplesmente ignorando outros tantos que sabemos que nenhuma igreja cristã hoje em dia segue.

Diz o Sr. Silas que ninguém nasce gay e que homossexualidade é um comportamento aprendido ou imposto. Diz também que 45% dos homossexuais foram abusados quando crianças e que os outros 54% escolheram ser. Diz também que não existe ordem cromossômica ou genética gay e somente ordem cromossômica de macho e fêmea.

Ora, quem é homossexual sabe muito bem que isso não é opção e muito menos uma escolha, visto que é difícil acreditar que alguém escolha sofrer agressões, preconceito e intolerância. Sabemos também através de nós mesmos e de amigos, quantas vezes passamos por situações ou uma fase da vida em que tentamos seguir por outro caminho, tentamos um relacionamento heterossexual e o quanto isso nos custou, justamente por ser perda de tempo.

Sabemos também que esses dados que ele passou são furados, porque milhares de crianças são abusadas diariamente e nem por isso se tornam homossexuais, muito pelo contrário, deram a volta por cima e seguem a sexualidade que sempre tiveram.

E, quanto à ordem cromossômica e gene, ninguém precisa avisá-lo que um homem não deixa de ser homem só porque é homossexual e nem uma mulher deixa de ser mulher porque é lésbica, apenas sente atração por pessoas do mesmo sexo, algo involuntário, não uma escolha, e a ciência até agora não tem nenhuma prova concreta sobre o assunto, nem dizendo que se nasce gay e nem dizendo o contrário.

Em vários momentos ele equipara homossexuais a bandidos e assassinos. É clara a desonestidade dele em relação a isso. A tentativa dele é levar a opinião pública em seu favor, pois Jesus mesmo disse que todo mandamento se resume em dois: Amar ao próximo como a si mesmo e amar a Deus sobre todas as coisas. Tudo se resume nisso. Um homossexual não está prejudicando ninguém por amar uma pessoa do mesmo sexo, mas sabemos muito bem que pedofilia, adultério, assassinato, etc., prejudica uma outra pessoa, e isso sim está fora dos propósitos de Deus.

O Sr. Silas Malafaia também disse que, na visão dele, é muito clara a condenação da Bíblia em relação à homossexualidade e que a Bíblia é para quem quiser crer e, que quem não quiser crer tem todo o direito.

Fica aqui uma pergunta então: se não somos obrigados a crer na bíblia, por que querem impor isso à sociedade impedindo que homossexuais tenham direito ao casamento e proteção?

Outra pergunta: que textos bíblicos são esses que ele tanto fala?

Já sabemos que não podemos interpretar a bíblia sem levar em consideração a língua em que foi escrita, época, autor, cultura da sociedade da época e pra quem aquele texto foi escrito.

Em Levítico, no Antigo Testamento, lemos: “Não te deitarás com homem como se fosse mulher, é abominação”, mas também diz no mesmo livro que é “abominação” comer animais do mar ou do rio sem barbatanas ou escamas. Por que a Igreja condena a homossexualidade mas não a ingestão de mariscos?

No Antigo Testamento também diz para apedrejar até a morte as crianças malcriadas, diz para a mulher no período de menstruação ficar separada do marido, diz para não comer carne de porco, etc... Porque eles usam um texto e simplesmente ignoram e não praticam outros?

Naquela época, quando a Bíblia diz para um homem não se deitar com outro como se fosse mulher, é bem claro que quando uma mulher estava em seu período de menstruação, alguns homens heterossexuais buscavam saciar seu prazer com outros homens que eram homossexuais, não porque eles também eram homossexuais, mas porque queriam se deitar com eles como se eles fossem mulheres para satisfazerem seus desejos. A condenação não está na homossexualidade e sim na promiscuidade e praticar algo que não era de sua natureza.

Quanto a Sodoma e Gomorra, não foram destruídas por causa da homossexualidade como costumam pregar. A Bíblia diz que o povo daquelas cidades abusava dos viajantes, independente de serem homens ou mulheres, simplesmente por prazer também. Não há condenação da homossexualidade e sim da inospitalidade (a hospitalidade era algo muito sagrado para os judeus) e por causa da promiscuidade.

Bom, vimos aqui que usam muito textos do Antigo Testamento para acusar os homossexuais, mas simplesmente ignoram outros textos que eles mesmos acreditam não valer para os nossos dias.

Vamos então ao Novo Testamento.

Trecho do livro de Romanos na versão da Bíblia Almeida Corrigida e Revisada, onde é usada uma linguagem culta e que causa más interpretações (usada pelos evangélicos):

“Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm; Estando cheios de toda a iniqüidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães; Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; Os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.” Romanos 1:18-32 (Versão Almeida Corrigida e Revisada)

Agora vamos ver o mesmo trecho do livro de Romanos, só que na versão da Bíblia A Mensagem, onde é usada uma linguagem contemporânea e mais usual para os nossos dias. Diz as mesmas coisas, mas com outras palavras (também usada pelos evangélicos):

“Mas o furor divino é despertado pela falta de confiança do ser humano em Deus, pelos erros repetidos, pela mentiras acumuladas e pela manipulação da verdade. Mas a verdade essencial sobre Deus é muito clara. Abram os olhos e poderão vê-la! Se analisarem com cuidado o que Deus criou, serão capazes de ver o que os olhos deles não enxergam: o poder eterno, por exemplo, e o mistério do ser divino. Portanto, ninguém tem desculpa. Vejam o que aconteceu: a humanidade conhecia Deus perfeitamente, mas deixou de tratá-lo como Deus, recusando-se a adorá-lo, e foi reduzida a um tão terrível estado de insensatez e confusão que a vida humana perdeu o sentido. Eles fingem saber tudo, mas são ignorantes sobre a vida. Trocaram a glória de Deus, que sustenta o mundo, por imagens baratas vendidas na feira. Então Deus se pronunciou: “Se é isso que vocês querem, é o que terão”. Não demorou muito para que fossem viver num chiqueiro, enlameados, sujos por dentro e por fora. Tudo porque trocaram o Deus verdadeiro por um deus falso e passaram a adorar o deus que fizeram no lugar do Deus que os fez - o Deus a quem bendizemos e que nos abençoa. Loucura total! Então aconteceu o pior. Como se recusaram conhecer Deus, logo perderam a noção do que significa ser humano: mulheres não sabiam mais ser mulheres, homens não sabiam mais ser homens. Sexualmente confusos, abusaram um do outro e se degradaram, mulheres com mulheres, homens com homens - pura libertinagem, pois de modo algum isso pode ser amor. Mas eles pagaram caro por isso, e como pagaram: são vazios de Deus e do amor divino, perversos infelizes e sem amor humano. Uma vez que eles não se importaram em reconhecer Deus, Deus desistiu deles e os deixou por conta própria. A vida deles agora é uma confusão só, um mal que desce ladeira abaixo. Eles tomam à força o que é alheio, são ambiciosos e caluniadores. Cheios de inveja, violência, brigas e trapaças, fizeram da vida um inferno. Olhem para eles: são maliciosos, venenosos, críticos ferozes de Deus, brigões, arrogantes, gente vazia e insuportável! Mestres em criar meios de destruir vidas e revoltados contra os pais. Não passam de seres tolos, asquerosos, cruéis e intransigentes. Até parece que eles não sabem o que fazem, mas têm plena consciência de que estão cuspindo no rosto de Deus - e não se importam! Pior ainda, premiam quem faz as piores coisas com eficiência.” Romanos 1:18-32 (Versão A Mensagem)

Ambas as traduções acima são aceitas e usadas pelos evangélicos, mas há uma nítida clareza no segundo texto (versão A Mensagem), onde a tradução e linguagem é muito mais fiel ao original e mostra a verdadeira condenação do texto.

A condenação está na prática da idolatria, trocar a adoração a Deus pela adoração de criaturas. Qualquer pessoa que concluiu o primeiro grau sabe que naquela época, no império romano, as pessoas adoravam vários deuses e praticavam cultos que envolviam a prostituição. Eram pessoas heterossexuais que iam contra a natureza e praticavam a homossexualidade por adoração a outros deuses, essa prática é conhecida como prostituição ritualística e era comum e considerada normal naquela época. Não existe nenhuma condenação aos homossexuais e sim condenação à idolatria e à prática do sexo descontrolado, sem envolvimento de amor, a troca da natureza sexual por outra que não lhe condiz. Está muito claro isso, tanto é que logo em seguida há uma descrição de como são essas pessoas, e isso vale tanto para heterossexuais quanto para homossexuais.

Por isso não devemos interpretar a Bíblia ao pé da letra. Temos que levar em consideração época, língua, cultura e para quem foi escrita (Neste caso em particular, obviamente a carta foi escrita aos romanos).

Outro texto usado no Novo Testamento é o seguinte:

Trecho do livro de I Coríntios na versão da Bíblia Almeida Corrigida e Revisada, onde é usada uma linguagem culta e que causa más interpretações (usada pelos evangélicos):

“Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.” 1Coríntios 6:9-10 (Versão Almeida Corrigida e Revisada)

Agora vamos ver o mesmo trecho do livro de I Coríntios só que na versão da Bíblia A Mensagem, onde é usada uma linguagem contemporânea e mais usual para os nossos dias. Diz as mesmas coisas, mas com outras palavras (também usada pelos evangélicos):

“Não percebem que esse não é o caminho de se viver? Os injustos, que não se preocupam com Deus, não farão parte de seu Reino. Quem usa e abusa das pessoas, do sexo, da terra e de tudo que nela existe não se qualifica como cidadão do Reino de Deus. Estou falando de libertinagem heterossexual, devassidão homossexual, idolatria, ganância e vícios destruidores.” 1Coríntios 6:9-10 (Versão A Mensagem)

Novamente a segunda tradução deixa muito mais claro o que se refere o texto. Não há condenação aos homossexuais e sim à promiscuidade e devassidão heterossexual e homossexual.

As palavras no original são "Malakoi" e "Arsenokoitai", ficando assim: “Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem “malakoi”, nem “arsenokoitai”, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus.”

Porém, como disse anteriormente, são palavras no grego coiné, grego popular, onde muitas palavras perderam seu sentido com o passar do tempo, significando respectivamente: mole ou “pele macia” e homem-cama.

Difícil entender né? Por isso usamos o contexto para usarmos uma palavra mais adequada em nossa língua. Mole ou “pele macia” naquela época eram homens covardes que agiam como mulheres para fugirem das responsabilidades, e não efeminados como alguns preferiram traduzir, e Homem-cama é relacionado a homens que se prostituíam e eram promíscuos, nada intimamente relacionado com a homossexualidade. Enfim, está relacionado com pessoas covardes e promíscuas (prostituição, pedofilia, pederastas, etc).

Muitos teólogos e igrejas hoje em dia reconhecem essa má interpretação dos textos originais e estão usando versões contemporâneas da Bíblia, justamente para não caírem nesse erro grotesco de condenarem os homossexuais onde a Bíblia não condena. Resultado disso tudo é a aceitação de homossexuais por partes da Igreja Anglicana, Luterana, Presbiteriana, Igrejas Inclusivas, entre outras...

Vimos acima que os evangélicos fanáticos usam versos do Novo Testamento para condenar os homossexuais, mas novamente vem aquela pergunta: por que eles usam uns versos para condenar os homossexuais e esquecem de outros versos com mandamentos claros referentes à igreja e que nenhuma delas praticam hoje em dia?

Exemplo:

“Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina”. I Cor. 14:34.

“Que a mulher aprenda em silêncio, com total submissão. A mulher não poderá ensinar nem dominar o homem.” I Timóteo 2:11-12

Ora, sabemos muito bem que existem pastoras em quase todas as igrejas, e nas igrejas que não tem pastoras tem diaconisas e líderes mulhres que pregam e ensinam.

“Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.” Mateus 19:21

Opaaaaa, como assim? Tenho R$ 4.000.000,00 em dinheiro e bens, venderei tudo e darei aos pobres??? Ahhh não, melhor pular esse trecho da Bíblia. (Imagino que o Sr. Silas ao ler este trecho deve pensar assim).

Óbvio que determinados conceitos no Novo Testamento não servem para nossos dias. Devemos levar em consideração que as coisas mudam e que permanece apenas o respeito a Deus e ao próximo que devemos ter. Tudo na Bíblia é inspirador e digno de total confiança, o que não se pode é confundir algo que foi escrito para determinada época e cultura e querer viver isso hoje.

Enfim, seria necessário várias páginas para abordar o assunto mais a fundo, mas acredito que as coisas ditas acima são o suficiente para abrir nossas mentes e entendermos mais honestamente o assunto. Existe muito material disponível na internet e que são muito mais esclarecedores.

Espero com isso ter ajudado algumas pessoas e incentivado outras a pesquisarem melhor sobre o assunto e não somente ouvir de um pastor qualquer absurdo grotesco e sair por aí divulgando preconceito e intolerância sem ao menos pesquisar. Existem, sim, muitas pessoas inteligentes pregando o contrário, mas o fato é que a inteligência pode ser usada para o bem e para o mal, cabe a nós escolher um dos caminhos.

Não há erro nenhum em ser homossexual e ser cristão. O erro e ignorância está na cabeça de quem quer acobertar os próprios pecados acusando os outros. Não revide esses tipos de ofensas, a melhor resposta é ignorar e demonstrar amor.

"Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor." Romanos 13:9-10


Sobre o autor


Rômulo Neiva tem 30 anos e nasceu em Santo André – SP. Aos 17 anos converteu-se à Igreja Batista, a qual ainda frequenta, mas sem envolvimento em liderança. Cursou Teologia por 4 anos na Faculdade Teológica Batista e hoje defende e crê na Teologia Inclusiva. Se considera apenas um cristão que ama Teologia, mas que dispensa o título de teólogo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O que todo cristão deve saber sobre homossexualidade

Por Luiz Mott (Homossexualidade: Mitos e Verdades. Salvador, Editora GGB, 2003, p.101-108)


"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!" (João, 8:32)

I. NÃO HÁ O TERMO HOMOSSEXUAL NA BÍBLIA

Não há, na Bíblia, nenhuma só vez as palavras homossexual, lésbica ou homossexualidade. Todas as Bíblias que empregam estas expressões estão erradas e mal traduzidas. A palavra homossexual só foi criada em 1869, reunindo duas raízes linguísticas: Homo (do Grego, significando "igual") e Sexual (do latim). Portanto, como a Bíblia foi escrita entre 2 e 4 mil anos atrás, não poderiam os escritores sagrados terem usado uma palavra inventada só no século passado. Se em tua bíblia aparece o termo homossexual, está errada. Elementar, irmão!

II. ANTIGUIDADE DA HOMOSSEXUALIDADE

A prática do amor entre pessoas do mesmo gênero, porém, é muito mais antiga que a própria Bíblia. Há documentos egípcios de 500 anos antes de Abraão, que revelam práticas homossexuais não somente entre os homens, mas também entre os Deuses Hórus e Seth. Segundo o poeta e escritor Goethe, "a homossexualidade é tão antiga quanto a humanidade". Certamente, cada tempo com sua experiência singular homossexual, mas com o mesmo direcionar de desejo: o sexo igual.

III. CONDENAÇÃO DA IDOLATRIA

No antigo Oriente, a homossexualidade foi muito praticada. Entre os Hititas, povo vizinho e inimigo de Israel, havia mesmo uma lei autorizando o casamento entre homens (1.400 anos antes de Cristo). Como explicar, então, que, entre as abominações do Levítico, apareça esta condenação: "O homem que dormir com outro homem como se fosse mulher, comete uma abominação, ambos serão réus de morte" (Levítico, 18:22 e 20:12). Segundo os mais respeitados Exegetas contemporâneos, (estudiosos das escrituras sagradas), fazia parte da tradição de inúmeras religiões de localidades circunvizinhas a Israel, a prática de rituais religiosos homoeróticos, de modo que esta condenação do Levítico visava fundamentalmente afastar a ameaça daqueles rituais idolátricos e não a homossexualidade em si. Prova disto é que estes versículos condenam apenas a homossexualidade masculina: teria Deus Todo Poderoso se esquecido das lésbicas ou, para Javé, a homossexualidade feminina não era pecado? Considerando que, do imenso número de leis do Pentateuco, apenas duas vezes há suposta referência à homossexualidade (e só à masculina), concluem os Exegetas que a
supervalorização que alguns judeus e cristãos mais fundamentalistas (que querem interpretar as Escrituras ao pé da letra) conferem a este versículos é sintoma claro e evidente da intolerância machista que permeia as sociedades regidas pela tradição abraâmica, um entulho histórico a ser desprezado, e não um desígnio eterno de Javé, do mesmo modo que inúmeras outras abominações do Levítico, como os tabus alimentares (por exemplo, comer carne de porco ou camarão) e os tabus relativos ao esperma e ao sangue menstrual, hoje foram completamente abandonadas e esquecidas. Por que católicos e protestantes conservam somente a condenação da homossexualidade, enquanto abandonaram dezenas de outras proibições decretadas pelo mesmo Senhor? Intolerância machista e ignorância que Freud explica!

IV. DAVI E JÔNATAS: O AMOR HOMOSSEXUAL

Se a homossexualidade fosse prática tão condenável, como justificar a indiscutível relação homossexual existente entre Davi e Jônatas?! Eis a declaração do santo rei salmista para seu bem-amado: "Tua amizade me era mais maravilhosa do que o amor das mulheres. Tu me eras deliciosamente querido!" (II Samuel, 1:26). Alguns crentes mais intolerantes argumentarão que se tratava apenas de um amor espiritual, ágape, quando muito de “homo-afetividade”. Preconceito primário, pois só as coisas materiais e sensuais costumam ser referidas com a expressão "delicioso", e não resta a sombra da menor dúvida que Davi, em sua juventude, foi adepto do "amor que não ousava dizer o nome". Não foi gratuitamente que o maior escultor de nossa civilização, Miguel Ângelo, ele próprio, também homossexual, escolheu o jovem Davi, nu, como modelo de sua famosa escultura de Florença, na Itália: um gay retratando o mais famoso gay do Antigo Testamento. Negar o amor homossexual entre Davi e Jônatas ("amizade mais maravilhosa que o amor (Eros) das mulheres") é negar a própria evidência dos fatos. "Tendo olhos, não vedes? E tendo ouvido, não ouvis?!" (Marcos, 8:18). Importantes e respeitados Exegetas identificam igualmente como homossexual/lésbica, a relação íntima de Ruth e Naomi. Confira Livro de Ruth, 1:16.

V. É BOM DOIS HOMENS DORMIREM JUNTOS...

Pelo visto, embora o Levítico fosse extremamente severo contra “dois homens dormirem juntos”, (determinando igualmente a pena de morte contra o adultério e a relação sexual com animais), outros livros sagrados revelam maior tolerância face ao homoerotismo. O Eclesiastes ensina: "É melhor viverem dois homens juntos do que separados. Se os dois dormirem juntos na mesma cama se aquecerão melhor" (4:11). Num país quente como a Palestina, o interesse em dormir junto só podia ser mesmo erótico. Portanto, na teoria o Levítico era uma coisa e a prática, desde os tempos bíblicos, parece ter sido outra. "Deus nos fez ministros da nova aliança, não a da letra e sim a do Espírito. Porque a letra mata, mas o Espírito vivifica." (II Coríntios, 3:6)

VI. O PECADO DE SODOMA E GOMORRA NÃO ERA A “SODOMIA”

E a destruição de Sodoma e Gomorra? Lembrarão os fundamentalistas de coração mais duro. Oferecemos três informações fundamentais e cientificamente comprovadas que, em geral, são propositadamente escondidas e desconhecidas pelos cristãos: 1) não há evidência histórica ou arqueológica que confirme a real existência dessas e das mais cinco cidades que circundavam Sodoma e Gomorra e que tais cidades teriam sido destruídas por uma catástrofe; 2) este relato é obra dos "Javistas" (escritores bíblicos do século X a.C.), que se apropriaram de relatos mitológicos de outros povos pagãos anteriores aos judeus; 3) a própria identificação da suposta intenção homoerótica dos habitantes de Sodoma em relação aos três visitantes de Abraão (anjos ou homens?) apresenta sérias dificuldades de interpretação, pois quando os habitantes de Sodoma declararam desejar “conhecer” os visitantes, maliciosamente se interpretou o verbo "conhecer" como sinônimo de "ato sexual". Segundo os Exegetas, das 943 vezes que aparece esta palavra no Antigo Testamento ("yadac" em hebraico), em apenas 10 ela tem significado de cópula heterossexual - nenhuma vez o sentido homossexual. A associação do pecado dos "sodomitas e gomorritas" com a homossexualidade é um grave erro histórico, que tem sua oficialização pela igreja católica apenas na Idade Média, a "idade das trevas".

VII. O VERDADEIRO PECADO DE SODOMA: INJUSTIÇA E FALTA DE AMOR

A própria Bíblia e o filho de Deus nos dão a chave para corrigir esta maliciosa identificação da destruição de Sodoma e Gomorra com a homossexualidade. Segundo os mais respeitados estudiosos das Sagradas Escrituras, o pecado de Sodoma é a injustiça e a anti-hospitalidade, nunca a violação homossexual. Prova disto, é que todos os textos que aludem à Sodoma no Antigo Testamento atribuem sua destruição a outros pecados e não ao "homossexualismo": falta de justiça (Isaías, 1:10 e 3:9), adultério, mentira e falta de arrependimento (Jeremias, 23:14); orgulho, intemperança na comida, ociosidade e "por não ajudar o pobre e indigente" (Ezequiel, 16:49); insensatez, insolência e falta de hospitalidade (Sabedoria, 10:8; 19;14; Eclesiástico, 16:8). No Novo Testamento, não há qualquer ligação da destruição de Sodoma com a sexualidade e, muito menos, com a homossexualidade (Mateus,10:14; Lucas, 10:12 e 17:29). Só nos livros neotestamentários tardios de Judas e Pedro, é que aparece em toda a Bíblia alguma conexão entre Sodoma e a sexualidade (Judas, 6:7, Pedro, 2:4 e 6;10). Mesmo aí, inexiste qualquer referência ao "homoerotismo". Foi só na Idade das Trevas que os católicos passaram a identificar “sodomia” com cópula anal, seja entre pessoas do mesmo sexo, seja de um homem com uma mulher.

VIII. MÁ TRADUÇÃO DAS EPÍSTOLAS DE SÃO PAULO

Dirão, agora, os crentes mais intolerantes: e as condenações de São Paulo aos homossexuais? Autorizados exegetas protestantes e católicos - como Macneill, Thevenot, Noth, Kosnik, e muitos outros, ao examinarem, cuidadosamente, na língua original, os textos das Epístolas aos Romanos 1:2, I Coríntios 6:9, Colossenses 3:5 e I Timóteo 1:10, textos usados pelos fundamentalistas para condenar o amor homossexual, concluíram inequivocamente que, até agora, os cristãos têm dado uma interpretação completamente errada e preconceituosa a estas passagens. Quando Paulo diz que certas categorias de pecadores não entrarão no Reino dos Céus - ao lado dos adúlteros, bêbados, ladrões etc... muitas Bíblias incluem nesta lista os "efeminados" e "homossexuais". Logo de início, há uma grave injustiça, pois muitos efeminados (assim como muitas mulheres masculinizadas no comportamento) não são necessariamente homossexuais. As mais modernas e abalizadas pesquisas exegéticas concluem que, se o ex-fariseu Paulo de Tarso quisesse condenar especificamente os praticantes do homoerotismo, teria empregado o termo corrente em sua época e de seu pleno conhecimento, "pederastas". Em vez desta palavra, Paulo usou as expressões gregas "malakoi", "arsenokoitai" e "pornoi" - que as melhores edições da Bíblia em português traduzem por "perversores", "pervertidos" e "imorais".

Portanto, foram estes pecadores que Paulo incluiu na lista dos afastados do Reino dos Céus, e não os "pederastas", e muito menos os "homossexuais", palavra desconhecida na Antiguidade. Segundo os historiadores, vivendo São Paulo numa época de grande licenciosidade sexual - tempo de Calígula, Nero e do Satiricon, esperando o próximo retorno do Cristo e o fim do mundo, ele condenou, sim, os excessos e abusos sexuais dos povos vizinhos, mas nunca o amor inocente e recíproco, tal qual o imortalizado por David e Jônatas. Há teólogos protestantes que chegam a diagnosticar Paulo de Tarso como homossexual latente (alusão feita por ele próprio ao misterioso "espinho na carne" que tanto o preocupava, além de sua manifesta e cruel "misoginia" ou desprezo pelas mulheres). E, se a condenação paulina inclui também os bêbados, corruptos, caluniadores, por que atirar tanta pedra somente nos homossexuais? Também aqui, Freud explica! Os “crentes” por não assumirem o padrão machista dominante, para “limpar a barra” e não serem acusados de pouco masculinos ou mesmo efeminados/homossexuais, atiram pedra nos gays como estratégia diabólica de auto-defesa. Aqui novamente, Freud ou um bom psicanalista ajudariam a solucionar tal neurose. E tem mais: o próprio Filho de Deus disse que "há eunucos que assim nasceram desde o seio de suas mães" (Mateus 19:12), ensinando, num sentido figurado, que faz parte dos planos do Criador que alguns homens tenham uma sexualidade não reprodutora biologicamente. Todos somos imagem de Deus e templos do Espírito Santo. Inclusive aqueles que hoje têm o mesmo gosto erótico do santo Rei Davi – que aliás, entrou em Jerusalém dançando em trajes sumaríssimos (II Samuel, 6:14)

IX. JESUS NUNCA CONDENOU OS AMANTES DO MESMO SEXO


O maior argumento para se comprovar que as Escrituras Sagradas não condenam o amor entre pessoas do mesmo gênero, é o fato de Jesus Cristo nunca ter falado nenhuma palavra contra os homossexuais! Se o "homossexualismo" fosse uma coisa tão abominável, certamente o Filho de Deus teria incluído esse tema em sua mensagem, e Javé nos dez mandamentos. O que Jesus condenou, sim, foi a dureza de coração, a intolerância dos fariseus hipócritas, a crueldade daqueles que dizem Senhor, Senhor!, mas esquecem da caridade e do respeito aos outros (Mateus, 7:21). E foi o próprio Messias quem deu o exemplo de tolerância em relação aos "desviados", andando e comendo com prostitutas, pecadores e publicanos. E tem mais: Jesus Cristo mostrou-se particularmente aberto à homossexualidade, revelando carinhosa predileção por João Evangelista, "o discípulo que Jesus amava", o qual, na última Ceia, esteve delicadamente recostado no peito do Divino Mestre. Há teólogos que chegam a sugerir que Jesus era homossexual, pois além de nunca ter condenado o homoerotismo, conviveu predominantemente com companheiros do seu próprio gênero, manifestou particular predileção pelo adolescente João, “o discípulo amado”, nunca se casou, além de revelar muita sensibilidade com as crianças e com os lírios do campo, comportamentos muito mais comuns entre homossexuais do que entre machões. Mais ainda: ao lavar os pés dos discípulos, desempenhou um gesto que homem algum faria, posto que na divisão sexual dos papeis de gênero, lavar os pés de um homem era privativo das mulheres. E Jesus mandou que imitássemos seu exemplo, abençoando assim a diversidade e liberdade dos/as transgêneros e da transexualidade. Outro detalhe importante que mostra o apoio do Filho de Deus à homossexualidade: segundo respeitáveis Exegetas, quando o Evangelho diz que Jesus curou o “escravo do centurião”, na verdade, não se tratava de um escravo qualquer, mas do “escravo amante” do centurião romano (Mateus, 8;5-8), comprovando inclusive o apoio de Cristo à união entre pessoas do mesmo sexo! Neste sentido, o ensinamento do Discípulo Amado não podia ser mais claro: "Filhinhos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e tudo o que é amor é nascido de Deus e conhece a Deus" (I João, 4:4).

X. OS FUNDAMENTALISTAS DETURPAM AS SAGRADAS ESCRITURAS

A Bíblia é um livro muito antigo, repleto de imagens simbólicas, parábolas e figurações. Interpretar as Escrituras ao pé da letra é fundamentalismo, isto é, ignorância, fanatismo e grave pecado, pois o próprio Filho de Deus garantiu: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á a verdade" (João, 16:12). Do mesmo modo como os cientistas Galileu ensinou-nos a verdade de que o sol, e não a terra, é o centro do nosso sistema planetário, e Darwin a respeito da evolução das espécies, ambos corrigindo a Bíblia e opondo-se à crença errada dos cristãos de sua época, assim também hoje todos os ramos da Ciência, da biologia à genética, da antropologia à psicologia, garantem que a homossexualidade é um comportamento normal, saudável e tão digno ética e moralmente como a heterossexualidade ou a bissexualidade. Negar esta evidência científica é repetir a mesma ignorância intolerante do Papa que condenou Galileu. Não devemos temer a verdade que liberta, pois o próprio Jesus nos mandou imitar "o escriba instruído nas coisas do Reino dos Céus, que como um pai de família, tira de seu tesouro coisas novas e velhas" (Mateus, 13:52). Mesmo que o Papa ou grande parte dos rabinos e pastores continuem a negar os direitos humanos dos gays e lésbicas, mesmo que cristãos ignorantes continuem a repetir as ultrapassadas abominações do Velho Testamento e as traduções erradas das epístolas paulinas, para os verdadeiros crentes o que vale é o exemplo do Filho de Deus, Jesus Cristo,que nunca condenou os homossexuais. "E conhecereis a verdade, e a verdade vos  libertará!" (João, 8:32).

Sobre o autor


Luiz Mott é antropólogo, historiador e pesquisador, e um dos mais conhecidos ativistas brasileiros em favor dos direitos civis dos LGBT. Estudou em Seminário Dominicano de Juiz de Fora. Formou-se em Ciências Sociais pela USP. Possui mestrado em Etnologia em Sorbonne e doutorado em Antropologia, pela Unicamp. Atualmente é professor titular aposentado do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, UFBA e é professor e orientador do programa de pós graduação em História da Universidade Federal da Bahia, UFBA. Assumiu sua orientação sexual em 1977. Luiz Mott é fundador do Grupo Gay da Bahia, uma das principais instituições que laboram em prol dos direitos humanos dos gays no Brasil. Conheça mais: http://www.ggb.org.br

terça-feira, 3 de abril de 2012

Machismo, Misoginia e Homofobia: raízes do preconceito histórico contra homossexuais

Por Paulo Stekel


Iniciou-se a semana e eu ainda não decidira qual artigo publicar em Espiritualidade Inclusiva. Temos recebido muito material bom, e vamos publicando aos poucos. Contudo, um debate iniciado ontem pela manhã na página pessoal de Luiz Mott no Facebook (onde aparece a foto postada acima) me fez decidir pelo presente texto.

Há muito que queria escrever sobre as relações estreitas existentes entre o machismo, a misoginia e a homofobia, especialmente a voltada contra os homossexuais masculinos.

Em sua postagem intitulada “Quem inventou a busca e as mutilações genitais femininas?”, Luiz Mott respondeu: “Os machos!!! Donos das mulheres. Portanto, mulher que defende tais abusos machistas, são alienadas, estão perpetuando sua servidão. Não me venham com o blablablá do respeito ao relativismo, às culturas tribais, o escambau. Escravidão e fogueira para sodomitas também eram traços de muitas culturas do passado, e quem é maluco de defender tais barbaridades?! Direitos humanos, cidadania e igualdade para todas, já!”

Entre os comentários a tal postagem, temos:

Paulo Stekel: “Por mais que pareça forte e anti-cultural, a opinião de Luiz Mott é a mesma minha. A forma como as mulheres são tratadas no Oriente (incluindo a Índia) não é mera questão cultural. É sobreposição da figura masculina sobre a feminina. Se as mulheres pudessem contestar essas "tradições" sem irem para a forca, sem serem agredidas ou condenadas a prisão perpétua, aí sim eu poderia até considerar isso como algo meramente "cultural". Mas, não é. Colocar todos os descalabros do mundo na conta da cultura é uma atitude simplista e evasiva que só beneficia os algozes, nunca as vítimas. Salve as mulheres do mundo que sofrem nas mãos do machismo/patriarcalismo! Somo-me à luta delas porque desejo viver num mundo em que haja oportunidades iguais para todos e todas!”

Anna: “De forma alguma antropólogos sérios defendem barbáries. É para isso que existe toda uma discussão acerca dos direitos humanos.” [Luiz Mott é antropólogo.]

J. T.: “Acho que nesses lugares todos os homens são homo[ssexuai]s, porque acho que eles não gostam de mulher.”

Paulo Stekel: “J. T., não confunda "homens homossexuais" com "homens misóginos". São duas coisas completamente diferentes! Em geral, a misoginia é algo praticado por homens heterossexuais, não homossexuais. Os homossexuais, em sua maioria, enaltecem a figura da mulher.

M. D.: “Ah, Paulo, obrigada pela piada! Os piores são os homens gays! O legal é que também tem muito que reconhece isto.”

Paulo Stekel: “Não sei quais são os homens gays que você conhece, M. D. Os que eu conheço, em sua grande maioria, apoiam as mulheres, as defendem, elogiam, enaltecem e não as consideram inferiores aos homens. Isso é estatístico!”

Espiritualidade Inclusiva: “A misoginia (inferiorização da mulher) tem origem nos homens heterossexuais, sim. Tanto que o histórico preconceito dos homens contra os gays masculinos se vale da inferiorização da mulher para atacar os gays, dizendo que não são homens completos ou que são aberrações por parecerem mulheres que, para tais heterossexuais machistas, são inferiores ao homem. Então, misoginia e homofobia são preconceitos historicamente entrelaçados.”

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Para entendemos melhor como estes três tipos de preconceito – machismo, misoginia e homofobia – se entremeiam, temos que defini-los (fonte: Wikipédia):

Machismo: Também chamado de “chauvinismo masculino” (especialmente nos países de língua inglesa) é a crença de que os homens são superiores às mulheres. O “feminismo” não é, de forma alguma, o equivalente direto ao machismo, pois o primeiro apenas busca a igualdade de direitos entre homens e mulheres e a libertação das mulheres no tocante aos padrões e opressões da sociedade patriarcal.

Misoginia: É o ódio ou desprezo ao sexo feminino. A palavra vem do grego misos ("ódio") e gyné ("mulher"). É paralelo à misandria, o ódio para com o sexo masculino. Misoginia é o antônimo de filoginia, que é o apreço, admiração ou amor pelas mulheres. Diferenciando misoginia de machismo, a primeira se baseia no ódio ou desprezo pela mulher, enquanto o machismo constitui-se numa crença na inferioridade da mulher.

Para o sociólogo Allan G. Johnson, "a misoginia é uma atitude cultural de ódio às mulheres porque elas são femininas." Johnson argumentou que: "A [misoginia] é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem. A misoginia é manifesta em várias formas diferentes, de piadas, pornografia e violência ao auto-desprezo que as mulheres são ensinadas a sentir pelos seus corpos."

Michael Flood define a misoginia como o ódio às mulheres: "Embora mais comum em homens, a misoginia também existe e é praticada por mulheres contra outras mulheres ou mesmo elas próprias. A misoginia funciona como uma ideologia ou sistema de crença que tem acompanhado o patriarcado ou sociedades dominadas pelo homem por milhares de anos e continua colocando mulheres em posições subordinadas com acesso limitado ao poder e tomada de decisões. (...) Aristóteles sustentou que mulheres existem como deformidades naturais e homens imperfeitos (...) Desde então, as mulheres em culturas Ocidentais tem internalizado seu papel como bodes expiatórios da sociedade, influenciadas no século 21 pela objetificação das mesmas pela mídia com seu auto-desprezo culturalmente sancionado e fixações em cirurgia plástica, anorexia e bulimia."

Homofobia: Neologismo criado pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, homofobia, de homo (pseudoprefixo de homossexual) e fobia (do grego “fóbos”, "medo", "aversão irreprimível") é uma série de atitudes e sentimentos negativos em relação a LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, intersexuais, etc.). Nas várias definições correntes sobre o termo encontramos desde as mais brandas (antipatia, desprezo, preconceito, aversão, medo irracional) até as mais críticas (comportamento hostil, discriminatório e violento com base em uma percepção de orientação não-heterossexual). Etimologicamente, o termo mais aceitável para a ideia expressa seria "Homofilofóbico", que é medo de quem gosta do igual. Em um discurso de 1998, a autora, ativista e líder dos direitos civis, Coretta Scott King, declarou: "A homofobia é como o racismo, o anti-semitismo e outras formas de intolerância na medida em que procura desumanizar um grande grupo de pessoas, negar a sua humanidade, dignidade e personalidade." Em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.

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Pois bem, o machismo tem relação com o patriarcalismo. Várias são as religiões de origem patriarcal, mas as que manifestam influência maior no mundo contemporâneo são o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, as chamadas “religiões abraâmicas”. Para estas religiões, os consensos são todos favoráveis ao homem: a criação do homem antes da mulher, apesar de, biologicamente, ser ela a geradora (?); o pecado no Paraíso e a posterior expulsão como um ato culposo da “curiosidade insubordinada” de Eva, a primeira mulher; a apresentação da mulher como moralmente fraca, dada a atos libidinosos e a manifestar sua opinião de modo intriguento; a negação da inteligência feminina em pé de igualdade com o homem. Estes são apenas alguns exemplos.

Se fôssemos seguir à risca as determinações bíblicas de Deuteronômio (algo que os muçulmanos mais radicais assim o fazem!), as mulheres cristãs não poderiam sair à rua sem véu, não poderiam andar à frente dos maridos, não poderiam sequer abrir a boca para dar opinião própria e muito menos contestar a “sabedoria” masculina soberana. No Cristianismo católico, não esqueçamos, até hoje a mulher não pode ser sacerdote, embora já haja pastoras e missionárias no Cristianismo Protestante há muito tempo! Como explicar tais discrepâncias, senão através de um machismo que insiste em se fazer valer? Até a Maçonaria possui ordens exclusivamente masculinas, e suas justificativas são praticamente as mesmas da Igreja Católica. Abismante! Felizmente, as Lojas Mistas (que aceitam homens e mulheres) vieram corrigir este absurdo do mesmo modo que as Igrejas Protestantes.

Tudo isso advém de uma ideia muito antiga, porém sem qualquer base científica, de que a mulher é inferior ao homem, moralmente fraca e pouco inteligente. As religiões abraâmicas argumentam que Eva, a primeira mulher, foi criada após o homem e a partir deste. Então, se seria uma serva e não poderia sobrepor-se a ele. Além disso, sua participação no episódio da Árvore do Conhecimento granjeou-lhe fama de ardilosa, curiosa e intrometida. A determinação natural da mulher parece ter causado desde os primeiros tempos um medo, um pavor terrível nos homens, que viam nisso ameaçada sua liderança e força de coesão da tribo. As inúmeras sociedades matriarcais comprovam o contrário.

Na Idade Média a mulher não tinha direito a uma alma. Então, como poderia ser salva, sem uma alma? Por beneplácito papal e para evitar a contradição óbvia, a existência da alma feminina foi reconhecida, ainda que tardiamente, para vergonha da humanidade...

A homofobia histórica, especialmente contra os gays masculinos, se insere exatamente neste quadro de inferiorização da mulher. Ao perceber em muitos homossexuais a tendência a um comportamento mais feminino, indo do sutil ao travestismo, os religiosos de praticamente todas as religiões teístas viram ali uma inferiorização do homem. Por isso, até hoje se ofende gays efeminados com expressões delicadas e que remetem ao universo feminino como “mulherzinha”, “frutinha”, “bichinha”, “bibinha”, etc. Estas ofensas se entranharam de tal forma em nossa cultura que até a mais “inocente” e não-preconceituosa das pessoas por vezes se pega utilizando tais termos de modo automático, como nas brincadeiras entre meninos e rapazes heterossexuais, sem sequer perceberem o que estão manifestando. Aprenderam culturalmente, desde a mais tenra idade, a manifestar ojeriza por atitudes femininas em homens, já que, como dissemos, isso remete em nosso inconsciente coletivo masculino à ideia da inferioridade do sexo feminino. E, nenhum homem “macho” quer ser comparado a uma mulher... Quanta ignorância!

A prova do que dizemos está no fato de que, quando um homossexual masculino não se mostra efeminado, ao saber de sua orientação, as pessoas em geral se surpreendem, pois foram educadas a associar homossexualidade masculina a “feminilidade”, afetação e “bichice”. Desconsiderando os gays enrustidos, escondidos no armário, há, sim, muitos homens homossexuais que naturalmente não apresentam qualquer afetação. Não há qualquer relação intrínseca entre afetação e homossexualidade. Mas, também não há nada de errado seja em ser um gay efeminado ou um gay não-efeminado. São características individuais que não devem ser confundidas com a orientação sexual. O mesmo vale para a suposta “masculinidade” das lésbicas.

O mundo religioso fundamentalista não consegue trabalhar bem com situações de gênero e de orientação sexual não-heterossexuais. Para a maioria dos fanáticos, ou se está entre os homens ou entre as mulheres, seja em características físicas, biológicas, orientação e direcionamento da afetividade. Para eles, não há meio termo (ai dos bissexuais!)... Talvez, por isso o Irã seja o país do mundo que mais paga cirurgias de adequação de gênero, especialmente a de gênero masculino para feminino. Afinal, ao permitir isso, a sociedade medieval iraniana deixa de se sentir desconfortável com a existência de pessoas que não se sentem adequadas em seus corpos originais e pode jogar a polêmica para debaixo do tapete. Para os transexuais, uma ótima situação. Mas, para os homossexuais que não querem mudar de gênero e mesmo assim relacionar-se com o mesmo sexo, o problema se agrava, pois o Irã é, paradoxalmente, o país do mundo que mais enforca e apedreja gays e lésbicas em via pública. Ou seja, ao recusarem-se a colocar-se compartimentados no status de gênero ditado pela heteronormatividade, são punidos como se culpados fossem por algo que lhes acompanha na essência desde a mais infância, pelo menos.

Por isso, digo que a luta contra o machismo e a misoginia também são lutas contra a homofobia e vice-versa, pois no inconsciente coletivo de nossa sociedade miso-homofóbica moderna tudo existe de modo interdependente: o homem é superior, a mulher deve ser desprezada e os não-heterossexuais são como as mulheres, ou seja, inferiores e desprezíveis.

Está na hora de mudarmos este quadro! Muitos gays masculinos, como disse no começo, enaltecem a imagem feminina, e isso deve irritar muito o inconsciente machista/misógino. Talvez, seja este o motivo dos crimes homofóbicos contra travestis, transexuais e gays efeminados serem tão cruéis, com desfiguração da face, castração e desmembramento do corpo. Sem uma re-educação da sociedade não é possível mudar esta situação para as próximas gerações. Quando tivermos uma lei anti-homofobia aprovada e uma reavaliação dos currículos escolares, incluindo educação para a diversidade, a violência vai diminuir. Talvez, devagar, mas vai diminuir. Para tal continuaremos lutando!