terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Preconceito: retrato de uma sociedade segregária

Por Valéria Nagy


Já dediquei outros posts em meu blog La Strega ao tema "preconceito", mas creio que é um tema que nunca se esgota, haja vista sua epidemia na sociedade. A cada época, momento, dia, hora, é "criado" um novo preconceito. Para quem se preocupa em viver e manter uma sociedade sadia, isso é preocupante.

É fato que os preconceitos existem há milênios, tomando forma especialmente a partir do momento em que a raça humana passa a conduzir a sociedade por meio de conceitos religiosos. De lá para cá (e já faz muito tempo mesmo, acreditem) um número imenso e crescente de preconceitos passou a existir. Atualmente vivemos no que eu chamo de "ditadura do preconceito", pois é ele, o preconceito, com sua grandiosa capacidade de mudar a forma de pensar de pessoas, por meio de suas imposições e julgamentos, quem manda no mundo hoje. Se observamos, notaremos que o pensamento das massas tem fundo em alguma "crença" que "alguém" falou que "leu" em algum lugar etc., etc., etc. E que sempre termina na ideia de que "Deus disse que é assim".

Infelizmente temos que aceitar o fato de que os humanos foram corrompidos pelo mal uso da palavra, pelas crenças e pelo hábito de julgar o próximo.

Em um triste momento da história, o homem (e aqui me refiro ao gênero masculino do ser humano) instituiu, pela força da palavra e blasfemando em nome de Deus, que as mulheres não tinham alma, rebaixando-as a meras reprodutoras e com a "obrigação" de cuidar deles, os homens. Estes homens passaram então a impor que o sexo masculino era naturalmente superior não só em força física, mas em capacidade intelectual e espiritual também. Imagino que isso tenha começado a ocorrer em priscas eras, antes mesmo de Moisés. É fácil notar que o Antigo Testamento da Bíblia é direcionado em totalidade à compreensão exclusivamente masculina, ou seja, foi escrito apenas para os homens. Porém, na Antiguidade isso não era assim, as mulheres eram valorizadas e havia equilíbrio entre os gêneros (como na sociedade celta, por exemplo).

Mas as coisas foram piorando ao longo do tempo, distorcendo o conceito de evolução. A palavra preconceito significa: Conceito ou opinião formados antes de ter os conhecimentos adequados. Opinião ou sentimento desfavorável, concebido antecipadamente ou independente de experiência ou razão. Superstição que obriga a certos atos ou impede que eles se pratiquem. Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos. Ou seja, preconceito é opinião sem conhecimento. Ora, como posso endossar algo que por si só já me diz que é errado? Afinal, se uma opinião é formada com base em algo que não se conhece, já começa não tendo credibilidade alguma. Portanto, é uma opinião morta, sem fundamento. E preconceito é isso, algo que se expressa sem fundamento algum. Algo que não se pode dar crédito, que não se pode acreditar.

Mas, infelizmente, na realidade, o preconceito, mesmo sem fundamento, tem força e promove a falta de entendimento entre as pessoas. Ele corrói a sociedade e transforma conceitos verdadeiros em erros de interpretação e faz nascer, assim, ódio nos corações. Isso ocorre porque ele foi tão bem "tatuado" na sociedade que se tornou algo quase impossível de ser retirado, isso porque dentro do "preconceito-pai", a origem de um pré-conceito, foram reproduzidos milhares de formas diferentes de preconceito. Uma verdadeira disseminação sem controle. O ódio que cria mais ódio que cria novos ódios e assim sucessivamente.

Vivemos assim, no meio de toda essa fábrica de ódios. Pessimista, você pensou? Não, isso é overdose de realismo. Mas não percamos a esperança. Há ainda meios para limpar essa sujeira criada por nós. E o jeito é mudar a mente e o coração. Dá trabalho, muito trabalho. Por certo que fará muitas vítimas ainda, mas a luta não pode ser interrompida.

O retrato da intolerância hoje é vasto, há preconceito contra os negros, os índios, os amarelos, os imigrantes, os migrantes. Há preconceito contra os deficientes físicos, os deficientes mentais, os baixos, os muito altos, os anões, os obesos, os inteligentes, os com inteligência mais limitada. Há preconceito contra os homossexuais, contra os transexuais. Há preconceito contra os judeus, os muçulmanos, os hindus, os espíritas, os umbandistas, os esotéricos. Há preconceito contra as mulheres. Há preconceito contra os pobres, os incultos.

Nomearam preconceitos: xenofobia, homofobia, bulliyng, racismo, etc. Há até preconceito contra quem torce para outro time de futebol, quem gosta de certos estilos musicais, quem gosta de se vestir de determinada maneira, quem tem tatuagem, quem gosta de pintar o cabelo, etc., etc., etc.!

E, com certeza ainda existem outros preconceitos dentro dos próprios preconceitos, que se vão multiplicando como coelhos pelas mentes e corações das pessoas!

Foi determinado que a maioria está certa e a minoria deve ser esmagada. Não se respeita direitos e não se cumpre deveres sociais, quais sejam o respeito, a tolerância entre as pessoas e suas escolhas. E muitos preconceituosos exaltados não se satisfazem apenas em ter o preconceito, precisam expô-lo e forçá-lo, como ocorre em atos violentos de intolerância.

É fácil perceber que preconceito é algo errado, pois se analisarmos morfologicamente, veremos que a preposição que rege a palavra "preconceito" é "contra". E "contra" significa algo em oposição hostil, em luta, na direção oposta. Portanto, o preconceito estará sempre agindo contra alguém ou algo.

Encontrei em alguns sites e blogs, pessoas que espantosamente defendem que existem "preconceitos bons", pois servem como um alerta à sociedade, fazendo com que ela se proteja de algo que não lhe será bom. Ora, como posso aceitar essa ideia? Se o preconceito é algo que se conceitua sem que se tenha conhecimento sobre determinado assunto ou comportamento, e que vai contra pessoas, como dizer que pode haver um lado bom nele? Como uma ideia que não é fundamentada em conhecimento sólido pode ser aceita como correta? Como algo que provoca a intolerância pode ter um lado bom? Portanto, não posso concordar com a ideia de que possam existir preconceitos "camaradas", ou seja, bons.

A meu ver, o primeiro passo para romper preconceitos é perder o medo de enfrentá-los. Não aceitar simplesmente ser excluído da sociedade, mas sim insistir em voltar para o meio e gritar: "Esse lugar é meu e ninguém vai me tirar o direito de existir, só porque acha que não devo existir!" Estamos vivos e temos direito à vida plena!

O muro de Berlim foi quebrado após muita luta e muitas lágrimas derramadas na Alemanha. Mas caiu! Os preconceitos também terão de ser quebrados, derrubados. Será assim feito à custa de lágrimas e sofrimento? Sem dúvida. Mas terá de ser feito! E para isso não precisaremos que enxofre e fogo sejam derramados sobre nossas cabeças, como em Sodoma, não! Serão nossas mãos unidas, nossa voz gritando em uníssono que todos têm direito a viver com respeito e dignidade social.

E Deus, aliás, é o puro Amor. Tenho que refutar quem diz que foi o próprio Deus quem estabeleceu os preconceitos. Refutarei sempre, pois é contraditório e foge à lógica simples acreditar que Deus manda seus filhos odiarem-se. Como se diz por aí: tenha dó!

Preconceito é a desculpa perfeita para justificar a intolerância. Justificar o injustificável é chover no molhado. E por que, então, o preconceito é tão forte e cresce cada vez mais na sociedade? Porque a ser humano tem pouquíssimo conhecimento sobre si mesmo. Essa é a resposta. Quem não conhece a si mesmo repete o que os outros falam, sem questionar e decretando aquilo como a verdade absoluta. Há de se educar as massas, educar com a verdade, para que esses pré-conceitos sejam eliminados, pois educando com a verdade, impedimos que quaisquer preconceitos sequer nasçam naquela mente, e, consequentemente a sociedade vai mudar.

Por fim, este texto foi elaborado para que o leitor desperte o raciocínio e pense sobre os preconceitos, inclusive, os que ele próprio tenha e possa, com isso, refletir sobre o porquê de se ter preconceito seja lá do que for. Refletir, buscar entendimento, adquirir conhecimento e enxergar algo como de fato é, sem suprimir informações nem se basear em profecias bíblicas. Só assim para que possamos exercer nossa religiosidade plenamente e só assim para estabelecermos uma sociedade verdadeiramente fraterna e harmônica em sua diversidade.

Não se deixe excluir. Não exclua ninguém. É preciso ter tolerância no coração. Quanto mais a sociedade muda seus conceitos pré-concebidos, mas a Humanidade vai tornar-se realmente humana.

Que Assim Seja.
Paz Profunda!

Nenhum comentário: