segunda-feira, 1 de julho de 2013

Como posso ser acusado de heterofóbico?

Por Walter Silva

[Um dos memes que rolam pela Internet ridicularizando a obviedade da falácia da "heterofobia"]


Um sujeito me acusou de ser heterofóbico uma ocasião, porque compartilhou comigo uma postagem homofóbica e eu reclamei. Uma tática pra lá de manjada usada pelos reacionários: tentar usar meu discurso contra mim mesmo - nenhuma novidade.

Ele, por outro lado, me garantiu que não era homofóbico; segundo ele, tinha ''amigos'' gays e sempre foi ''tranquilo'' em relação a eles. Outra falácia reacionária: ter ''amigos gays'' por alguma razão misteriosa se torna salvo conduto para se evitar o rótulo de homofóbico.

Ora essa, homofobia e heterofobia não é sobre com quem você se relaciona. Fosse simples assim, nenhum homem heterossexual seria machista, considerando que todos eles se relacionam com mulheres. Homofobia e heterofobia é sobre como você se comporta, como você vê o mundo, e como você se sente em relação a outros.

Eu não tenho NENHUMA aversão/medo/ódio por heterossexuais.

Eu não recuso filmes, livros, novelas e canções que descrevem o amor do sexo oposto. Eu me divirto com as aventuras amorosas de personagens heterossexuais na dramaturgia, mesmo quando os gays são completamente ausentes da trama e apagados ou invisibilizados. Eu e muitos outros gays somos fascinados pela obra de Tolkien, embora não haja um único homossexual na trama (bem, eu secretamente desconfio do Frodo, rs).

Eu ainda sinto muito tesão com filmes eróticos criados para heterossexuais.

Eu não sou ressentido da minha família heterossexual, apesar da homofobia cultural ter estado presente na minha educação familiar.

Eu nunca me envolvi em nenhum ativismo anti-heterossexual, no intuito de retirar os direitos civis dessas pessoas.

Não acho que o mundo seja gay, que todos são gays, que todos vão se tornar gays. Se gays pudessem se reproduzir, eu não discriminaria a adoção dos filhos de heterossexuais.

Por que eu falo o tempo todo sobre gays?

Suponha que uma mãe tenha dois filhos, e ame eles por igual; entretanto, suponha que um deles é atacado de forma estúpida e violenta numa briga e termine muito ferido. Naturalmente, a atenção desta mãe irá se concentrar mais sobre o filho ferido, e seus cuidados se redobrarão com ele. Mas, isso não significa desamor pelo outro filho.

Similarmente, por este motivo é que eu falo e me concentro mais na identidade gay. Porque ela foi ferida, escamoteada, silenciada, afogada...

Meus cuidados, atenção e interesse sobre a identidade gay não representam manifestação de desprezo para com a heterossexualidade.


Sobre o autor



Walter Silva é ativista LGBT  e mora em mora em Belém (Paraíba).