sexta-feira, 20 de abril de 2012

Eu, Mulher, Hétero, Brasileira, Mãe, Crente em Nossa Senhora…

Por Maju Giorgi (cfe. Consta no link original em http://www.eleicoeshoje.com.br/eu-mae-mulher-hetero-brasileira-crente-em-nossa-senhora)


Resposta de uma mãe as acusações de um pastor


Relembremos alguns fatos:

“AFRICANOS DESCENDEM DE ANCESTRAL AMALDIÇOADO POR NOÉ. ISSO É FATO.”

(Pastor e Deputado Federal MARCO FELICIANO)

“O caso envolvendo o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que afirmou nessa quarta-feira (30/03/2011), no Twitter, que os “africanos descendem de um ancestral amaldiçoado”, deverá será analisado pela Corregedoria da Câmara dos Deputados. A presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, deputada Manuela d’Avila (PCdoB-RS), disse que irá encaminhar as mensagens do parlamentar para o órgão.” (Esta informação está disponível na internet para todos que queiram ver)

“Sem dúvida, avançamos muito na luta contra o racismo, mas não o extirpamos totalmente. Hoje, pelo menos, sabemos que não se deve discriminar ninguém e é de mau gosto alguém se proclamar racista. Mas nada disso existe no que se refere a gays, lésbicas e transexuais. Quanto a eles, podemos desprezar e maltratar impunemente. Eles são a demonstração mais reveladora de quão distante boa parte do mundo ainda está da verdadeira civilização.” (Mario Vargas Llosa)

As polêmicas ainda atuais envolvem outro pastor, o Malafaia.

Pastor Silas Malafaia, DISCURSO DE ÓDIO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO… É CRIME OU, PELO MENOS, DEVERIA SER!

O Pastor quer fazer crer que LGBTs, afrontam o povo negro quando pedem a aprovação do PCL122.

A alegação do Pastor Malafaia é que ser negro não é comportamento, ser gay é. E que querem equiparar o PCL 122 a lei do racismo. Desta forma acho que estamos afrontando a todo ser humano protegido por lei especial. Pastor, caso o senhor não acredite na palavra de milhões de mães e pais heterossexuais, de famílias heterossexuais, presentes, dedicados, livres da promiscuidade que o senhor tanto condena, muitas vezes religiosos praticantes e fervorosos que tiveram filhos gays pelo mundo afora, MAS que não teriam a suficiente credibilidade para o senhor, incontáveis, estudos científicos tem saído todos os dias para provar que homossexualidade NÃO é comportamento, é CONDIÇÃO.

Eu gostaria que o senhor me provasse a sua teoria. Vou fazer uma pergunta: Ser judeu é comportamento ou condição ou a que categoria pertence, para que eu possa entender melhor?

A grande diferença, Pastor, é que ser negro, mulher, pessoa com deficiência, criança ou idoso, É CONDIÇÃO VISTA A OLHO NU, ser gay, não. Mas vamos aos estudos.

Cito alguns recentes:

I - Dr. Jerome Goldstein, diretor do San Francisco Clinical Research Center (EUA) enfatizou que “A orientação sexual NÃO É UMA QUESTÃO DE ESCOLHA, é principalmente questão neurobiológica pré natal. Existem vínculos inegáveis. Nós queremos torná-los visíveis”.” Confira aqui: http://www.medicalnewstoday.com/releases/226963.php

II - A neurocientista sueca Ivanka Savic, do Instituto Karolinska de Estocolmo e os estudos com gêmeos homossexuais. Confira aqui: http://www.pnas.org/content/105/27/9403.abstract?sid=319b7033-3b4e-48bc-a3db-e8dba26b1260

III - O trabalho Anglo-Sueco da Queen Mary University of London. Leia aqui: http://www.qmul.ac.uk/qmul/news/newsrelease.php?news_id=1075

Então, muito rapidamente e só pra começar, podemos pelo menos colocar uma dúvida nessa sua VERDADE que LGBTS afrontam os negros por quererem uma lei que os proteja. Aliás, me parece que não são os gays que perseguem os seguidores das religiões Afro incansável, sistemática e dedicadamente.

O senhor acha dentro desse seu total entendimento de que uma atitude isolada de uma pessoa ou algumas pessoas em uma Parada que reúne milhões de pessoas pertencentes a um grupo que só no Brasil soma muito mais de 10 milhões de pessoas, lhe dá o direito de conclamar os católicos a “baixar o porrete” nos gays ou algo parecido? (fato pelo qual o senhor foi chamado ao ministério público)

Será que gays poderiam usar desta mesma artimanha, quando um pastor evangélico quebra a marteladas um dos símbolos mais amados da Igreja Católica?

Poderiam homossexuais conclamar os católicos a “baixar o porrete” nos evangélicos?

Ou neste específico caso seria uma atitude isolada?? “É” uma atitude isolada, Pastor. Julgar todo um povo por atitudes de um, não é arma justa nem legítima.

É neste tipo de mundo que o senhor quer viver Pastor Malafaia, uma guerra declarada entre tudo e todos??? Ou o que o senhor realmente quer é que todos abaixem a cabeça ao senhor, ao que o senhor ACHA, ao que o senhor SUPÕE, ao que o senhor IMAGINA, ao que o senhor ACREDITA?

De que forma o senhor ama os gays???

Desde que eles não sejam gays??? Desde que se limitem ao lugar de cidadão de segunda categoria reservado a eles, onde se tem muitos deveres, poucos direitos e as vozes caladas???

AH…A Mãe de Jesus Cristo, A Nossa Senhora, A Virgem Maria tão amada. Foi a ela que entreguei meus filhos quando nasceram. E é a ela que peço TODOS os dias que cubra com seu manto sagrado, MEU FILHO GAY, quando ele sai as ruas do país CAMPEÃO MUNDIAL EM CRIMES HOMOFÓBICOS, sem LEI que o proteja, sendo alvo certo e constante do ÓDIO incessantemente propagado. Porque Pastor, eu sei que NESTE caso o amor realmente é inconteste e incondicional. Foi ela A NOSSA SENHORA, a protetora dos MEUS filhos que eu vi ser quebrada a marteladas e pontapés, mas em nome dela, eu peço a PAZ, porque ela é AMOR.

O alento a meu coração de mãe, é que existem bons cristãos no mundo, vide o Padre Jesuíta Luís Corrêa Lima e o Pastor Ricardo Gondim que assopram vida e luz em almas torturadas por pessoas como o senhor! Isso é ser cristão, amar, compreender, evoluir, aceitar. Isso é ser HUMANO, isso é viver no AMOR. Ser gay não se escolhe, não se ensina, homossexualidade não se transmite por contágio.

Quando o senhor se refere a “ditadura gay”, o senhor se refere a que exatamente? Alguém já ouviu falar em Bancada Gay? Televisão Gay? Rádio Gay? Ministro Gay? Tem certeza que é gay a ditadura que esta sendo instaurada??

VIVA E DEIXE VIVER, PASTOR.

Gays são uma minoria e contam apenas com suas vozes nessa luta tão injusta.

Por isso eu peço a TODO O POVO LGBT, seus pais, suas famílias e seus amigos que se assumam num ato político por um Brasil e um mundo melhor.

Vamos lutar para que TODAS as brasileiras e brasileiros tenham seus direitos assegurados pela Constituição. Mesmo que para isso se criem leis especiais.

ATÉ O DIA 6 DO MÊS DE ABRIL DESTE ANO DE 2012, 106 JOVENS HOMOSSEXUAIS FORAM TORTURADOS CRUELMENTE COM TODO TIPO DE REQUINTE, OLHOS PERFURADOS, DEDOS ARRANCADOS, CRÂNIOS ESMAGADOS E FINALMENTE MORTOS. E ESSE NÚMERO NÃO PARA DE CRESCER. POR TUDO ISSO…

EU, MULHER, HETEROSSEXUAL, CASADA, BRASILEIRA, MÃE, CRENTE EM NOSSA SENHORA, CIDADÃ DE UM PAÍS LAICO E DEMOCRÁTICO, PEÇO A APROVAÇÃO DA PCL 122!!!

Eu dedico a minha luta às “MÃES PELA IGUALDADE”, algumas das quais já tiveram seus filhos levados pela homofobia e mesmo assim se levantam TODOS os dias para defender e proteger TODOS os filhos gays.


Sobre a autora

Maju Giorgi, uma das “Mães pela Igualdade”, um grupo de mães de todos os lugares do Brasil que estão unindo suas forças para dar um recado claro contra a discriminação, a violência e a homofobia crescentes, que estão saindo do controle no país.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Afeto - uma reflexão de Ari Teperman

Por Ari Teperman


Durante muitos anos me preocupei com os julgamentos e críticas dos outros. Tentando ser aceito, condicionava minhas emoções ou simplesmente as reprimia. Fazia o que os outros queriam e, apesar do meu esforço em ser bem educado, alguém sempre se mostrava insatisfeito... Percebi o quanto era inútil estar desconectado de mim mesmo.

Desse momento em diante, atrevo-me a ser como sou. Busco o amor, o humor, a coerência e a liberdade das minhas emoções.

Fui percebendo que o que eu mais reprimia era na verdade o bem mais valioso para minha vida: o AMOR. Tornei-me convicto da minha busca em ser apenas humano: o tocar, o comunicar, o afetar e o expressar apenas a minha natureza singular. Um ser apaixonado pela vida!

Liberto dessa prisão, deixei de questionar se minhas ações incomodavam aqueles que conviviam com o medo de ser, sentir, viver e amar. Percebi o quanto é comum encontrarmos indivíduos que privilegiam certas emoções e proíbem outras construindo, quer queiram, quer não, normas de comportamento que limitam a criatividade e a espontaneidade das emoções.

Por causa dessas ditas normas de comportamento, nós mascaramos nossas opiniões e sufocamos nossas preferências e aversões.

Não precisamos correr para algum lugar, apenas dar um primeiro passo para que esse caminho afetivo e espontâneo se construa diante de nós.

É possível nos tornarmos água fluindo, terra firme e fértil, fogo vívido e ar manifesto em emoções e pensamentos. É possível transformar a si mesmo ou o outro num simples gesto. Dessa forma, tento descobrir um modo saudável de existir e afetar o mundo humanamente.

Para que haja uma mudança é preciso descobrir um modo saudável de afetar a nós mesmos, ao outro e ao ambiente.

Quando observo a forma como as pessoas se relacionam com as outras, com as coisas, com a natureza, percebo que faltam gentileza, sensibilidade e compreensão das diferenças.

Se começamos a buscar isso em nós mesmos – sensibilizando o corpo e exercitando a espontaneidade na comunicação – vamos sentir que vivenciar emoções e expressá-las, espontânea e positivamente, nos faz humanos, mais conscientes, mais sensíveis e disponíveis. Para nós mesmos, para todos e tudo que nos cerca.

Parece que esta é a tão almejada qualidade de vida, ampliar a percepção e estar disponível. Assim é que se criam vínculos saudáveis tanto nas relações interpessoais quanto com o ambiente que nos cerca.

Um ser inteiro que sabe viver profundamente o aqui agora, de uma forma simples, afetiva e saudável.


Sobre o autor


Ari Teperman, nascido em 1962, em São Paulo, é Analista de Sistemas Junior e Analista de Comunicação Social Sênior. Sua origem é de uma família tradicional judaica. Ari estudou no I. L. Peretz e durante dez anos seguiu a linha ortodoxa. Em 1999 fundou o Grupo de Judeus Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis, Transgêneros e Simpatizantes Brasileiros para debater temas como direitos humanos, cidadania, união civil, judaísmo, sionismo e homossexualidade x religião.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A estratégia de Malafaia ou quando mentir é um bom negócio

Por Walter Silva

Nota de Espiritualidade InclusivaEste texto foi postado pelo amigo Walter Silva no Facebook nesta tarde e imediatamente percebemos a importância de repostá-lo aqui, dados os ótimos argumentos e informações úteis para confrontar o descalabro do tão noticiado livro do Reverendo Louis Sheldon (EUA), traduzido e publicado pelo Pastor Silas Malafaia como forma de tocar o horror homofóbico, aumentando a violência contra a comunidade LGBT e instabilizando a paz corrente em nosso país entre setores laicos, de defesa dos Direitos Humanos, movimento LGBT e religiosos em geral.

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Em resposta às acusações de ativistas gays junto ao Ministério Público Federal por conduta discriminatória e incitação à violência o pastor Silas Malafaia da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, da Penha, no Rio de Janeiro, lançou o livro “A estratégia: o plano dos homossexuais para transformar a sociedade’’.

O lançamento do livro, naturalmente, é uma cortina de fumaça e também vai de encontro às ambições de Malafaia na construção de uma ditadura de crentes e derrocada do secularismo. Com efeito, enquanto o pastor se ocupa de atacar o movimento gay e processar os ativistas LGBT, inexplicavelmente faz silêncio a respeito da bizarra associação das Assembleias de Deus com a seita do Reverendo Moon, envolvido nos escândalos mais burlescos, tais como prisão por sonegação fiscal e o aliciamento de menores.

O livro “A estratégia’’ foi escrito pelo reverendo Louis Sheldon, conhecido nos EUA como “Lou Sheldon’’, fundador da Traditional Values Coalition, uma organização categorizada pela Southern Poverty Law Center (entidade de defesa dos direitos civis) como grupo de ódio.

A Traditional values Coalition é um grupo pequeno, mas influente entre os conservadores, basicamente formada pelo Reverendo Lou Sheldon e sua filha, Andrea Sheldon Lafferty, tão maluca quanto o pai; certa ocasião ela afirmou ter enfrentado uma bruxa que jogou feitiços sobre o Senado.

Sheldon foi bastante longe no seu extremismo anti-gay, o suficiente até mesmo para o comentarista conservador Tucker Carlson que o entrevistava ficar chocado com o seu nível de ignorância. Carlson mencionou que Sheldon havia dito que o maior problema que os bairros negros enfrentam atualmente é a homossexualidade.

"A homossexualidade é o maior problema nos bairros de periferia e cidades do interior? Maior que o desemprego? Maior que a violência? Maior que a pobreza? O que o reverendo Lou tinha dito era bizarro e assustador também", reagiu Carlson posteriormente.

Ele também disse que Sheldon era um “esquisitão’’ e “charlatão’’, por pregar que os gays são imorais enquanto embolsava dinheiro corrupto de Abramoff. A fundação de Sheldon foi acusada de receber propina de um cliente do Lobista de cassinos Jack Abramoff como parte de um dinheiro empregado para derrubar uma lei que criminalizava a jogatina. Segundo o Washington Post, Abramoff chamava Sheldon de “Louie sortudo’’.

A Traditional Values Coalition há muito proclamava sua hostilidade contra o jogo, e envolveu-se também em uma cruzada contra ele. Então, enquanto Sheldon admoestava os americanos declarando que a agenda homossexual estava a destruir a fibra moral da América, ele secretamente tomava o partido dos interesses que publicamente rejeitava.

Essa hipocrisia descarada escandalizou a direita conservadora dos EUA, mas não parece deter os paladinos da moral e dos bons costumes em terras brasileiras, que continuam a apoiar-se em mentiras e apostando na difamação para negar os direitos civis de pessoas LGBT.

A imprensa gospel recebeu o lançamento do livro “A estratégia’’ com bastante animação, e geralmente em dando um tom de revelação “bombástica’’; e a imprensa gay? Marcelo Cia, do site MixBrasil, disse estar “louco’’ para ler o livro. Revelou que a sinopse era bastante sedutora, talvez gracejando. Afirmou que estava bastante ansioso para saber a respeito da estratégia que o autor do livro descobriu. Sobre a estratégia dos gays para dominar o mundo é mesmo aceitável que ele não saiba nada, posto que não há estratégia nenhuma.

A respeito da estratégia dos grupos de ódio para impor uma ditadura religiosa e deter o avanço dos direitos civis das minorias, porém, é lamentável e uma desgraça que os ativistas LGBT não consigam ser capazes de escrever uma única linha decente.

Sobre o autor


Walter silva é ativista LGBT (assim o reconhecemos, dada a qualidade do material acima) e mora em mora em Belém (Paraíba).

segunda-feira, 9 de abril de 2012

[Notícia] Chile aprova lei anti-homofobia. E o Brasil?

Por Marcelo Cia (diretamente de MIXBRASIL - http://mixbrasil.uol.com.br/blogs/cia/2012/04/05/chile-aprova-lei-anti-homofobia-e-o-brasil.html)


Bastou UM assassinato de homossexual para os deputados chilenos aprovarem lei que criminaliza a homofobia no país. No Brasil são mais de 200 por ano, e nada acontece. Por que? Vamos aos fatos.

Vizinhos

A Câmara dos Deputados do Chile aprovou nesta quarta-feira, dia 4 de abril, a maioria dos artigos de uma lei que pune a discriminação por orientação sexual ou religiosa. O texto é tipo o do PLC 122, que tramita no Brasil há quase uma década. A aprovação da lei pelos deputados chilenos foi uma resposta à morte, na semana passada, de um jovem homossexual atacado por neonazistas. Daniel Zamudio, de 24 anos, era o nome do moço. Ele morreu depois de agonizar por três semanas no hospital. O crime abalou o país todo, não só a comunidade gay.

O texto aprovado diz que "se entende por discriminação arbitrária toda distinção, exclusão ou restrição sem justificativa razoável efetuada por agentes do Estado ou particulares que cause privação, perturbação ou ameaça ao exercício legítimo dos direitos fundamentais" por "motivos de raça ou etnia, nacionalidade, situação socioeconômica, idioma, ideologia ou orientação política, religião ou credo, participação em organizações gremiais, sexo, orientação sexual, identidade de gênero, estado civil, idade, filiação, aparência pessoal e doença ou incapacidade".

E aqui?

Você lembra do moço assassinado durante a Parada gay de 2009 por neonazistas? Lembra do Edson Neris, também assassinado em São Paulo no ano de 2000 por neonazistas? Enquanto agressões como essas acontecem na Paulista e no Rio de Janeiro, tantos outros crimes subnotificados acontecem pelo Brasil e nenhum deles conseguiu sensibilizar os deputados nem a opinião pública a respeito dessa violência toda. O Brasil é, tradicionalmente, um país que pouco protesta. É um povo resignado. E isso inclui a população gay. Fazemos pouco, protestamos pouco. Adoramos uma festa mas detestamos política. Não conseguimos eleger políticos, ficamos calados quando vemos uma discriminação. O "antes ele do que eu" impera. Somos todos um pouco calados. Somos todos um pouco culpados. Até quando?


Nota de Espiritualidade Inclusiva


Para entender quem foi Daniel Zamudio e como foi brutalmente agredido, morrendo em consequência dos ferimentos, leia nossa postagem:

http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/03/noticia-luto-morreu-daniel-zamudio-o.html
Ao aprovar a lei anti-discriminação, o Chile deu um exemplo que o Brasil deveria dar há muito tempo. Contudo, aqui esbarramos em obstáculos muito mais sérios que os do Chile. E, não estamos falando da patrulha fundamentalista católico-protestante, não! Esta, existe em todo o mundo Ocidental! Estamos falando do grau de corrupção política, da filosofia do "toma-lá-dá-cá", da barganha, do desvio, do leilão de votos e de apoios para aprovações legislativas, atitudes estas, sim, as verdadeiras responsáveis pelo atraso e indas e vindas na aprovação do PLC 122. Não fosse a ganância de nossos políticos pelos desvios de milhões, muitos deles inclusive realizados por políticos da chamada bancada evangélica, cuja maioria enfrenta processos por corrupção, os direitos humanos da comunidade LGBT brasileira já estariam garantidos e não seriam objeto de uma discussão diabólica incitada por dementes como Silas Malafaia, Magno Malta e o bobo da côrte, Jair Bolsonaro!

Quantos "Zamudios" brasileiros teremos que ter para que algo semelhante ao que se fez no Chile em tempo recorde venha a ser aprovado por aqui? E, como diz Luiz Mott (e não nos cansamos de repetir), o homocausto continua, sem qualquer barreira ou atitude do Estado. A quem podemos recorrer, então? A Deus não mais podemos, porque os que se autodeclaram seus portavozes dizem que não nos é franqueado reclamar-Lhe direitos que são impedidos por versículos bíblicos... Só nos resta reclamar em instâncias internacionais, o que será uma vergonha para o Brasil, que será visto como uma Uganda latina, em escala menor (ou não!)...

terça-feira, 3 de abril de 2012

Machismo, Misoginia e Homofobia: raízes do preconceito histórico contra homossexuais

Por Paulo Stekel


Iniciou-se a semana e eu ainda não decidira qual artigo publicar em Espiritualidade Inclusiva. Temos recebido muito material bom, e vamos publicando aos poucos. Contudo, um debate iniciado ontem pela manhã na página pessoal de Luiz Mott no Facebook (onde aparece a foto postada acima) me fez decidir pelo presente texto.

Há muito que queria escrever sobre as relações estreitas existentes entre o machismo, a misoginia e a homofobia, especialmente a voltada contra os homossexuais masculinos.

Em sua postagem intitulada “Quem inventou a busca e as mutilações genitais femininas?”, Luiz Mott respondeu: “Os machos!!! Donos das mulheres. Portanto, mulher que defende tais abusos machistas, são alienadas, estão perpetuando sua servidão. Não me venham com o blablablá do respeito ao relativismo, às culturas tribais, o escambau. Escravidão e fogueira para sodomitas também eram traços de muitas culturas do passado, e quem é maluco de defender tais barbaridades?! Direitos humanos, cidadania e igualdade para todas, já!”

Entre os comentários a tal postagem, temos:

Paulo Stekel: “Por mais que pareça forte e anti-cultural, a opinião de Luiz Mott é a mesma minha. A forma como as mulheres são tratadas no Oriente (incluindo a Índia) não é mera questão cultural. É sobreposição da figura masculina sobre a feminina. Se as mulheres pudessem contestar essas "tradições" sem irem para a forca, sem serem agredidas ou condenadas a prisão perpétua, aí sim eu poderia até considerar isso como algo meramente "cultural". Mas, não é. Colocar todos os descalabros do mundo na conta da cultura é uma atitude simplista e evasiva que só beneficia os algozes, nunca as vítimas. Salve as mulheres do mundo que sofrem nas mãos do machismo/patriarcalismo! Somo-me à luta delas porque desejo viver num mundo em que haja oportunidades iguais para todos e todas!”

Anna: “De forma alguma antropólogos sérios defendem barbáries. É para isso que existe toda uma discussão acerca dos direitos humanos.” [Luiz Mott é antropólogo.]

J. T.: “Acho que nesses lugares todos os homens são homo[ssexuai]s, porque acho que eles não gostam de mulher.”

Paulo Stekel: “J. T., não confunda "homens homossexuais" com "homens misóginos". São duas coisas completamente diferentes! Em geral, a misoginia é algo praticado por homens heterossexuais, não homossexuais. Os homossexuais, em sua maioria, enaltecem a figura da mulher.

M. D.: “Ah, Paulo, obrigada pela piada! Os piores são os homens gays! O legal é que também tem muito que reconhece isto.”

Paulo Stekel: “Não sei quais são os homens gays que você conhece, M. D. Os que eu conheço, em sua grande maioria, apoiam as mulheres, as defendem, elogiam, enaltecem e não as consideram inferiores aos homens. Isso é estatístico!”

Espiritualidade Inclusiva: “A misoginia (inferiorização da mulher) tem origem nos homens heterossexuais, sim. Tanto que o histórico preconceito dos homens contra os gays masculinos se vale da inferiorização da mulher para atacar os gays, dizendo que não são homens completos ou que são aberrações por parecerem mulheres que, para tais heterossexuais machistas, são inferiores ao homem. Então, misoginia e homofobia são preconceitos historicamente entrelaçados.”

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Para entendemos melhor como estes três tipos de preconceito – machismo, misoginia e homofobia – se entremeiam, temos que defini-los (fonte: Wikipédia):

Machismo: Também chamado de “chauvinismo masculino” (especialmente nos países de língua inglesa) é a crença de que os homens são superiores às mulheres. O “feminismo” não é, de forma alguma, o equivalente direto ao machismo, pois o primeiro apenas busca a igualdade de direitos entre homens e mulheres e a libertação das mulheres no tocante aos padrões e opressões da sociedade patriarcal.

Misoginia: É o ódio ou desprezo ao sexo feminino. A palavra vem do grego misos ("ódio") e gyné ("mulher"). É paralelo à misandria, o ódio para com o sexo masculino. Misoginia é o antônimo de filoginia, que é o apreço, admiração ou amor pelas mulheres. Diferenciando misoginia de machismo, a primeira se baseia no ódio ou desprezo pela mulher, enquanto o machismo constitui-se numa crença na inferioridade da mulher.

Para o sociólogo Allan G. Johnson, "a misoginia é uma atitude cultural de ódio às mulheres porque elas são femininas." Johnson argumentou que: "A [misoginia] é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem. A misoginia é manifesta em várias formas diferentes, de piadas, pornografia e violência ao auto-desprezo que as mulheres são ensinadas a sentir pelos seus corpos."

Michael Flood define a misoginia como o ódio às mulheres: "Embora mais comum em homens, a misoginia também existe e é praticada por mulheres contra outras mulheres ou mesmo elas próprias. A misoginia funciona como uma ideologia ou sistema de crença que tem acompanhado o patriarcado ou sociedades dominadas pelo homem por milhares de anos e continua colocando mulheres em posições subordinadas com acesso limitado ao poder e tomada de decisões. (...) Aristóteles sustentou que mulheres existem como deformidades naturais e homens imperfeitos (...) Desde então, as mulheres em culturas Ocidentais tem internalizado seu papel como bodes expiatórios da sociedade, influenciadas no século 21 pela objetificação das mesmas pela mídia com seu auto-desprezo culturalmente sancionado e fixações em cirurgia plástica, anorexia e bulimia."

Homofobia: Neologismo criado pelo psicólogo George Weinberg, em 1971, homofobia, de homo (pseudoprefixo de homossexual) e fobia (do grego “fóbos”, "medo", "aversão irreprimível") é uma série de atitudes e sentimentos negativos em relação a LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, intersexuais, etc.). Nas várias definições correntes sobre o termo encontramos desde as mais brandas (antipatia, desprezo, preconceito, aversão, medo irracional) até as mais críticas (comportamento hostil, discriminatório e violento com base em uma percepção de orientação não-heterossexual). Etimologicamente, o termo mais aceitável para a ideia expressa seria "Homofilofóbico", que é medo de quem gosta do igual. Em um discurso de 1998, a autora, ativista e líder dos direitos civis, Coretta Scott King, declarou: "A homofobia é como o racismo, o anti-semitismo e outras formas de intolerância na medida em que procura desumanizar um grande grupo de pessoas, negar a sua humanidade, dignidade e personalidade." Em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.

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Pois bem, o machismo tem relação com o patriarcalismo. Várias são as religiões de origem patriarcal, mas as que manifestam influência maior no mundo contemporâneo são o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, as chamadas “religiões abraâmicas”. Para estas religiões, os consensos são todos favoráveis ao homem: a criação do homem antes da mulher, apesar de, biologicamente, ser ela a geradora (?); o pecado no Paraíso e a posterior expulsão como um ato culposo da “curiosidade insubordinada” de Eva, a primeira mulher; a apresentação da mulher como moralmente fraca, dada a atos libidinosos e a manifestar sua opinião de modo intriguento; a negação da inteligência feminina em pé de igualdade com o homem. Estes são apenas alguns exemplos.

Se fôssemos seguir à risca as determinações bíblicas de Deuteronômio (algo que os muçulmanos mais radicais assim o fazem!), as mulheres cristãs não poderiam sair à rua sem véu, não poderiam andar à frente dos maridos, não poderiam sequer abrir a boca para dar opinião própria e muito menos contestar a “sabedoria” masculina soberana. No Cristianismo católico, não esqueçamos, até hoje a mulher não pode ser sacerdote, embora já haja pastoras e missionárias no Cristianismo Protestante há muito tempo! Como explicar tais discrepâncias, senão através de um machismo que insiste em se fazer valer? Até a Maçonaria possui ordens exclusivamente masculinas, e suas justificativas são praticamente as mesmas da Igreja Católica. Abismante! Felizmente, as Lojas Mistas (que aceitam homens e mulheres) vieram corrigir este absurdo do mesmo modo que as Igrejas Protestantes.

Tudo isso advém de uma ideia muito antiga, porém sem qualquer base científica, de que a mulher é inferior ao homem, moralmente fraca e pouco inteligente. As religiões abraâmicas argumentam que Eva, a primeira mulher, foi criada após o homem e a partir deste. Então, se seria uma serva e não poderia sobrepor-se a ele. Além disso, sua participação no episódio da Árvore do Conhecimento granjeou-lhe fama de ardilosa, curiosa e intrometida. A determinação natural da mulher parece ter causado desde os primeiros tempos um medo, um pavor terrível nos homens, que viam nisso ameaçada sua liderança e força de coesão da tribo. As inúmeras sociedades matriarcais comprovam o contrário.

Na Idade Média a mulher não tinha direito a uma alma. Então, como poderia ser salva, sem uma alma? Por beneplácito papal e para evitar a contradição óbvia, a existência da alma feminina foi reconhecida, ainda que tardiamente, para vergonha da humanidade...

A homofobia histórica, especialmente contra os gays masculinos, se insere exatamente neste quadro de inferiorização da mulher. Ao perceber em muitos homossexuais a tendência a um comportamento mais feminino, indo do sutil ao travestismo, os religiosos de praticamente todas as religiões teístas viram ali uma inferiorização do homem. Por isso, até hoje se ofende gays efeminados com expressões delicadas e que remetem ao universo feminino como “mulherzinha”, “frutinha”, “bichinha”, “bibinha”, etc. Estas ofensas se entranharam de tal forma em nossa cultura que até a mais “inocente” e não-preconceituosa das pessoas por vezes se pega utilizando tais termos de modo automático, como nas brincadeiras entre meninos e rapazes heterossexuais, sem sequer perceberem o que estão manifestando. Aprenderam culturalmente, desde a mais tenra idade, a manifestar ojeriza por atitudes femininas em homens, já que, como dissemos, isso remete em nosso inconsciente coletivo masculino à ideia da inferioridade do sexo feminino. E, nenhum homem “macho” quer ser comparado a uma mulher... Quanta ignorância!

A prova do que dizemos está no fato de que, quando um homossexual masculino não se mostra efeminado, ao saber de sua orientação, as pessoas em geral se surpreendem, pois foram educadas a associar homossexualidade masculina a “feminilidade”, afetação e “bichice”. Desconsiderando os gays enrustidos, escondidos no armário, há, sim, muitos homens homossexuais que naturalmente não apresentam qualquer afetação. Não há qualquer relação intrínseca entre afetação e homossexualidade. Mas, também não há nada de errado seja em ser um gay efeminado ou um gay não-efeminado. São características individuais que não devem ser confundidas com a orientação sexual. O mesmo vale para a suposta “masculinidade” das lésbicas.

O mundo religioso fundamentalista não consegue trabalhar bem com situações de gênero e de orientação sexual não-heterossexuais. Para a maioria dos fanáticos, ou se está entre os homens ou entre as mulheres, seja em características físicas, biológicas, orientação e direcionamento da afetividade. Para eles, não há meio termo (ai dos bissexuais!)... Talvez, por isso o Irã seja o país do mundo que mais paga cirurgias de adequação de gênero, especialmente a de gênero masculino para feminino. Afinal, ao permitir isso, a sociedade medieval iraniana deixa de se sentir desconfortável com a existência de pessoas que não se sentem adequadas em seus corpos originais e pode jogar a polêmica para debaixo do tapete. Para os transexuais, uma ótima situação. Mas, para os homossexuais que não querem mudar de gênero e mesmo assim relacionar-se com o mesmo sexo, o problema se agrava, pois o Irã é, paradoxalmente, o país do mundo que mais enforca e apedreja gays e lésbicas em via pública. Ou seja, ao recusarem-se a colocar-se compartimentados no status de gênero ditado pela heteronormatividade, são punidos como se culpados fossem por algo que lhes acompanha na essência desde a mais infância, pelo menos.

Por isso, digo que a luta contra o machismo e a misoginia também são lutas contra a homofobia e vice-versa, pois no inconsciente coletivo de nossa sociedade miso-homofóbica moderna tudo existe de modo interdependente: o homem é superior, a mulher deve ser desprezada e os não-heterossexuais são como as mulheres, ou seja, inferiores e desprezíveis.

Está na hora de mudarmos este quadro! Muitos gays masculinos, como disse no começo, enaltecem a imagem feminina, e isso deve irritar muito o inconsciente machista/misógino. Talvez, seja este o motivo dos crimes homofóbicos contra travestis, transexuais e gays efeminados serem tão cruéis, com desfiguração da face, castração e desmembramento do corpo. Sem uma re-educação da sociedade não é possível mudar esta situação para as próximas gerações. Quando tivermos uma lei anti-homofobia aprovada e uma reavaliação dos currículos escolares, incluindo educação para a diversidade, a violência vai diminuir. Talvez, devagar, mas vai diminuir. Para tal continuaremos lutando!