* Este artigo é uma
adaptação ao Português Brasileiro e a realidade cultural do Brasil
baseado nos dados constantes na entrada “Islão e homossexualidade,
cfe. http://pt.wikipedia.org/wiki/Isl%C3%A3o_e_homossexualidade
As opiniões islâmicas
sobre a homossexualidade são tão variadas como as das outras
grandes religiões e as mesmas têm sofrido modificações ao longo
da história. O Alcorão e alguns Hadith contêm condenações mais
ou menos explícitas acerca das relações sexuais entre pessoas do
mesmo sexo. Duas suratas mencionam a história do "povo de Ló",
o qual teria sido destruído por participar de atos homossexuais (ou,
segundo outras acepções, por desrespeitar as regras da
hospitalidade para com os forasteiros). O castigo legal para a
sodomia foi alterado de acordo com as escolas jurídicas: alguns
prescrevem pena capital, enquanto outros prescrevem a castigo
arbitrário menor. A homossexualidade é considerada um crime e é
punida com a morte em muitos países islâmicos, como na Arábia
Saudita, no Sudão, na Somália, na Mauritânia ou no Irã. Em
algumas nações islâmicas relativamente seculares como Egito,
Tunísia, Indonésia, Líbano, Kosovo, Bósnia, Albânia, e Turquia
há uma certa tolerância, raros sendo os episódios de perseguição
explícita das autoridades. Porém, é dificílimo encontrar gays
assumidos em todas as nações islâmicas, mesmo onde há cidades com
uma certa cena gay (Beirute, Istambul, Cairo, Jacarta, Tunis, Lahore,
etc). Em Bagdá, logo depois da queda do Baath, começaram a surgir
cinemas onde se apresentam filmes eróticos, e a maioria dos
frequentadores são homens sozinhos, nunca indo mulheres - fica óbvio
que muitos são homossexuais reprimidos que encontram na margem da
sociedade uma válvula de escape para suas fantasias. O assassinato
de quem é descoberto pela família ou pelos vizinhos como
homossexual é prática habitual em quase todos os lugares onde o
Islã é a religião dominante (as exceções são os pequenos países
muçulmanos dos Balcãs, na Europa).
A situação dos
homossexuais muçulmanos em países não-islâmicos varia. Há
aquelas comunidades onde poucos são assumidos (como entre os árabes
do Brasil), pois há relativamente poucos muçulmanos e estes são
pouco integrados à cultura dominante. Há outras em que não é tão
difícil que se saiba de gays que sejam muçulmanos (um exemplo é a
França, ou a Holanda também, onde há muitos muçulmanos, mas a
maioria é relativamente secularizada, praticando atos que em seus
países de origem não fariam, como o consumo de álcool).
Recentemente, nos Estados Unidos, e em algumas nações europeias,
surgiram até mesmo organizações de defesa dos direitos dos
homossexuais muçulmanos. Em Israel, que oficialmente é secular, a
minoria muçulmana não tem liberdade para condenar os homossexuais a
penas desumanas, e, devido à pouca aceitação que encontram em suas
aldeias natais, muitos gays árabes de Israel acabam por ir morar em
Tel Aviv ou outras cidades israelitas, onde a tendência é
distanciarem-se de sua herança cultural árabe.
Apesar do
conservadorismo, a temática homoerótica tem estado presente na
literatura muçulmana, especialmente na poesia árabe clássica e na
poesia persa medieval, celebrando o amor masculino, sendo mais
frequentes que as expressões de atração às mulheres e alguns
aspectos de seus costumes sociais como o tradicional confinamento das
mulheres ao nível de reprodutoras fizeram com que as práticas
homossexuais não sejam infrequentes, ainda que sempre de forma
clandestina e sob um véu de hipocrisia. O caso dos pashtun é
emblemático: vivendo nas montanhas do Afeganistão e do Paquistão,
esse povo pratica um islã ferrenho e obtuso, suas mulheres são
segregadas dos homens em todos os lugares públicos e mesmo no
contexto familiar não gozam de consideração por parte dos membros
masculinos da casa, e é justamente entre os pashtuns (que foram
inclusive os responsáveis pelo domínio do Talibã no Agefanistão)
que a homossexualidade é mais frequente naquela região. Faz parte
da cultura afegã um homem mais velho ter como amante um mais novo,
que será tratado com mimos e regalias, muitas vezes convivendo na
casa da família, até que um dia, ao ficar mais velho, se casa e
parte, ou então casa-se mesmo com uma das filhas de seu amante mais
velho. No livro "O Livreiro de Cabul", por exemplo, a
jornalista Åsne Seierstad narra a disputa que os senhores da guerra
daquele canto do mundo travavam entre si pela conquista de "jovens
com roupas esvoaçantes, que andavam aos bandos pelas ruas a rebolar
e com os olhos delineados com khol". O caso dos pashtuns se
assemelha bastante com a maneira como a homossexualidade era
encontrada na Grécia antiga, e encontra paralelos em muitos outros
povos islâmicos tradicionalistas, como os sauditas. Nos países do
Golgo, a homossexulidade é praticada em larga escala, em parte por
haver menos mulheres do que homens, em parte por elas serem
segregadas do convívio com os homens. Gays solteiros (ou casados)
buscam encontros nos shoppings centers, nas grandes avenidas... todos
sabem, mas ninguém comenta nada.
O poeta Abu Nuwas era
homossexual, e recentemente sua obra foi alvo de banimento oficial no
Egito. Como ele, muitos outros muçulmanos célebres podem ser
citados como gays, e sempre houve gays no mundo islâmico, pois em
todas as culturas e em todos os tempos se pode encontrar
homossexuais. A condenação não extingue a realidade, apenas a
mascara, a obriga a ser cautelosa. No Irã, onde pode acabar em
condenação à forca, nem por isso deixa de haver vários
homossexuais. Eles têm seus próprios códigos de identificação,
não pode ser como no Ocidente, onde não há problema se o homem for
efeminado. Na capital da Indonésia os gays já se reconheceram por
um brinco pequeno numa das orelhas, ou por outras formas.
Certos muçulmanos
liberais, como os membros da Fundação Al-Fatiha aceitam a
homossexualidade e a consideram como natural, olhando a condenação
religiosa como algo obsoleto no contexto da sociedade moderna,
interpretando que o Alcorão se manifesta contra a luxúria
homossexual, mas não dizendo nada sobre o amor homossexual. A
escritora lésbica Irshad Manji tem manifestado a opinião de que a
homossexualidade é permissível dentro do Islã, no entanto, esta
continua a ser uma opinião minoritária. No xiismo islâmico,
pensadores como o aiatolá Khomeini defenderam a legalização das
operações de mudança de sexo se um homem se sente mulher, uma vez
que o Alcorão não diz nada contra a mudança de sexo e, de fato,
essas intervenções são legais atualmente no Irã.
A homossexualidade é
tradicionalmente proibida pela lei islâmica. O Alcorão, o texto
central do Islã, condena a homossexualidade, embora talvez não ela
em específico, e sim a lascívia homossexual, como defendem os
membros da Al-Fatiha. Os islamitas tradicionais alegam que o Islã é
uma "religião da natureza", que só reconhece o que é
"natural" e nesse contexto seria anti-natural ser
homossexual. Admite somente as relações sexuais dentro do
matrimônio heterossexual. Os textos específicos nos que se baseia a
condenação são os da história de Ló, a sétima surata do
Alcorão; trata-se de um texto religioso que lembra muito o relato
bíblico.
A homossexualidade tem
um status legal diferente em cada canto do mundo islâmico, mas ainda
é um crime em muitos países muçulmanos; as penalidades aplicadas
variam muito, conforme já mencionado, e podem incluir a pena de
morte em execução pública como na Arábia Saudita ou nos Emirados
Árabes Unidos. As grandes organizações de direitos humanos como a
Human Rights Watch e Anistia Internacional condenam as leis que
consideram as relações homossexuais consentidas entre adultos como
crime. Desde 1994, o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas
decidiu que tais leis violam o direito à privacidade garantida pela
Declaração Universal dos Direitos Humanos e pelo Pacto
Internacional de Direitos Civis e Políticos. No entanto, a maioria
das nações islâmicas afirmam que essas leis são necessárias para
a manutenção da moralidade e da virtude muçulmanas. De todas as
nações de maioria maometana somente a Turquia alterou a sua
legislação para legalizar a homossexualidade e somente a Bósnia e
Herzegovina tem legislação anti-discriminação. Em alguns países
não há uma legislação específica para condenar os homossexuais,
mas eles estão condenados sob as leis de moralidade pública, como
no Egito ou então são vítimas de crimes de honra como na Jordânia,
no Iêmem, no Senegal e na Síria. Por outro lado, há casos em que a
homossexualidade continua a ser ilícita, porém é tolerada se não
for pública como no Líbano ou na Tunísia, e mesmo no Kuwait,
embora neste último não possa haver em hipótese alguma a
descoberta de envolvimento sexual entre pessoas do mesmo sexo.
(clique na tabela para ampliar)
Deve-se mencionar que a adoção não é permitida não somente aos homossexuais, não é permitida a ninguém, segundo a Sharia. A adoção é uma instituição fora da cultura muçulmana, apenas prevê a colocação de crianças em orfanatos.
Adendo (cfe. trecho de
http://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_e_religi%C3%A3o)
"Dentre as
criaturas, achais de vos acercar dos varões, deixando de lado o que
vosso Senhor criou para vós, para serem vossas esposas? Em verdade,
sois um povo depravado!" — Alcorão, "Os Poetas"
(26a. sura), 165-166
Todos os maiores
setores islâmicos desaprovam a homossexualidade, e o sexo praticado
entre pessoas do mesmo gênero é um crime que pode ser punido com a
morte em algumas nações muçulmanas: Arábia Saudita, Iêmen, Irã,
Mauritânia, Sudão e Somália. Durante o regime Talibã no
Afeganistão a homossexualidade também era um crime punido com a
morte. Em outras nações muçulmanas como Bahrain, Qatar, Algéria,
Paquistão, Maldivas e Malásia, a homossexualidade é punida com
prisão, multas ou punição corporal.
Os ensinamentos
islâmicos (na tradição do hadith) promovem a abstinência e
condenam a consumação do ato homossexual. De acordo com essa
crença, nos países islâmicos, o desejo de homens por jovens
atraentes é visto como uma característica humana esperável. No
entanto, ensina-se que conter tais desejos é necessário pois
garantirá o pós-vida no paraíso, onde se é presenteado com
mulheres virgens (Alcorão,56: 34-38). O ato homossexual é visto
como uma forma de desejo que viola o Alcorão. Apesar de que a
atração homossexual não é contra a Charia (lei islâmica que
governa as ações físicas, mas não os sentimentos e pensamentos),
o ato sexual é, segundo esta, passivo de punição.
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Nota de Espiritualidade
Inclusiva – Há algum tempo que vários leitores nos pedem algum
material falando da visão islâmica da homossexualidade. Este é o
primeiro deles, baseado no que há já publicado na Wikipedia. Como
se pode perceber pelo texto acima, a questão é muito complexa e
cada país muçulmano trata o assunto à sua maneira, mas, excetuando
Bangladesh, nenhum país islâmico possui leis contra a discriminação
por orientação sexual. Isso vem da força de uma sociedade ainda
arcaica, não-reformada, onde pensamentos patriarcais impedem que se
reconheça direitos civis plenos às mulheres, aos homossexuais, aos
transgêneros e a minorias étnico-religiosas. Enquanto vários
países do mundo ocidental estão entrando numa agenda pró-direitos
humanos LGBT, os países islâmicos endurecem por vezes suas leis e a
“caça às bruxas”.
O Irã, com o qual o
governo Lula flertou muito, mas que o governo Dilma tem preferido
manter a uma certa distância, é um dos mais radicais neste quesito.
Enforcamento de adolescentes acusados de serem homossexuais
simplesmente por terem sido pegos usando calções curtos é muito
frequente naquele país. Contrasta com essa realidade aquela
realidade afegã mostrada nos livros “O Livreiro de Cabul” e “O
Caçador de Pipas”, conforme citado no texto acima. Como o Alcorão
não foi claro sobre o assunto (nem a Bíblia o foi!), grupos
muçulmanos acabam por não fechar questão e tratam do assunto (e
dispõem de vidas humanas) cada um conforme suas interpretações.
Lastimável que, neste caso, vidas humanas sejam sujeitas ao debate
de teólogos engessados em seus preconceitos e em seu pouco apreço
pelo sagrado dom de existir...
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