Por Daniel Lélis
(publicado originalmente na Revista Jfashion Chic E Essencial)
Não faz muito tempo,
tocar violão era tido como coisa de vagabundo, malandro,
irresponsável. Atrizes eram tidas como prostitutas. As mulheres
viviam sob o julgo masculino. Tidas como menos inteligentes, nem
mesmo podiam votar. Casamentos eram arranjados e o sexo, vejam só,
era somente para procriação. Houve uma época em que negros eram
vistos como coisas; animais a serem domesticados; seres sem alma,
cuja única finalidade para existir era servir os brancos. Século
XXI. Ainda hoje homossexuais são vistos por muitos como anormais,
libertinos, pecadores. Em nome da literalidade de um livro escrito há
mais de dois milênios, julga-se e condena-se a pessoa que ama outro
do mesmo sexo. Amar. É por este direito que lutam milhões de
pessoas. É contra este direito que batalham tantas outras.
Na atualidade, se eu
depreciar alguém por causa da cor da pele, posso ser preso por
racismo. Chamar o outro de “negrinho fedido”, “macaco queimado”
é crime, definido em lei como imprescritível e inafiançável.
Contudo, se eu chamo um gay de “pecador nojento”, “promíscuo
sujo”, “viadinho”, “mulherzinha”, em vez de ser punido,
posso ser coroado por defender os bons costumes e a moralidade.
Crimes de ódio contra homossexuais não são punidos como tal, uma
vez que não há respaldo legal para tanto. Fanáticos religiosos, a
maioria evangélicos, não aceitam a ideia de não poderem exclamar,
incitar, propagar o ódio aos quatro cantos. A lei que pretende
tornar crime a violência homofóbica, tipificando-a como aconteceu
com o racismo, encontra resistência de parlamentares
fundamentalistas, que não aceitam a ideia, puramente humana e
generosa, de que se deve aceitar e respeitar o próximo do jeito que
ele é.
Acham os conservadores
que a liberdade de expressão é um valor absoluto, capaz de
absolvê-los das barbaridades ditas em suas congregações. Usam como
escudo a liberdade religiosa, a quem chamam de sagrada e
inquestionável. Ignoram o fato de que a pregação feita por líderes
religiosos contra gays reforça o preconceito e abençoa a prática
discriminatória. Fecham os olhos para a realidade de milhares de
homossexuais, que são violentados todos os dias somente por serem
homossexuais. Negam-se a perceber que muitas vidas são ceifadas por
conta do discurso anti-gay. Que liberdade é essa que dá
legitimidade a atos covardes, cruéis, desumanos, contra quem,
sabe-se lá porque, ama o igual? Que liberdade é essa que dá razão
para o agressor e que faz da vítima o culpado?
Lembro-me do dia em que
um colega confessou algo que me marcou profundamente. Ele disse que
tinha relevado ao seu “melhor” amigo que era homossexual. Sua
esperança era de encontrar alguém com quem pudesse contar num
momento difícil de descobertas. A resposta não poderia ser pior. O
“melhor” amigo disse: “nunca mais chegue perto de mim, ou eu
prometo que vou te queimar vivo”. Na hora que ele me contou, fiquei
sem palavras, e me perguntei em silêncio: “até quando?”. É o
que pergunto agora a você, querido leitor: até quando usarão o
nome de deus para justificar a própria hipocrisia? Até quando o
amor será motivo de deboche, de chacota? Finalmente, até quando
amar será pecado?
Sobre o autor
Daniel Lélis tem 23
anos, mora em Araguaína (TO), é Bacharel em Direito, comunicador e
escritor.
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