Por Paulo Stekel
“Não acredite em
algo simplesmente porque ouviu. Não acredite em algo simplesmente
porque todos falam a respeito. Não acredite em algo simplesmente
porque esta escrito em seus livros religiosos. Não acredite em algo
só porque seus professores e mestres dizem que é verdade. Não
acredite em tradições só porque foram passadas de geração em
geração. Mas depois de muita análise e observação, se você vê
que algo concorda com a razão, e que conduz ao bem e beneficio de
todos, aceite-o e viva-o.” [O Buda]
“A presença da
homossexualidade não parece ser uma questão de escolha; sua
expressão é uma questão de escolha.” [David Hawkins]
Assim que o Movimento
Espiritualidade Inclusiva foi criado, vários amigos, apoiadores e
curiosos passaram a pedir um artigo profundo sobre a homossexualidade
na visão budista. Fiquei alguns meses pesquisando tudo o que havia
sobre o assunto em websites budistas e afins, e encontrei uma certa
quantidade de material que posso considerar de alta qualidade sobre o
assunto. São 12 links em Português e 24 links em Inglês (os mais
relevantes), todos disponíveis na lista ao final deste artigo.
Unindo minhas
experiências pessoais como budista à leitura atenta destes 36 links
que, juntos, equivalem a quase 120 páginas de texto, consegui formar
uma ideia bem clara da visão que o Budismo apresenta da
homossexualidade e das orientações sexuais LGBT em geral. Citarei
várias vezes os textos presentes nestes links e, no caso do material
em Inglês, eu mesmo fiz as traduções para a Língua Portuguesa.
Quanto ao título
aparentemente provocativo deste artigo – O Buda Gay –, foi
inspirado numa das referências adiante, onde fica claro que um
homossexual pode, sim, atingir a Iluminação. Para o Budismo,
portanto, a expressão “Buda Gay” é bem menos impactante que
“Cristo Gay”, uma vez que o Cristianismo tem se demonstrado
controverso quanto à homossexualidade.
Deixo claro que, apesar
de ser budista desde 1995, escrevi este texto de maneira crítica,
sem meias palavras, pois meu compromisso é com a verdade e com os
direitos humanos das pessoas LGBT, independente da religião que
pratiquem, ou nenhuma. Não pouparei mestres hipócritas, instrutores
homofóbicos ou opiniões equivocadas, pois, ao fazer isso, tenho
certeza de não estar quebrando nenhum preceito budista.
Orientação Sexual
A relação entre
Budismo e orientação sexual varia conforme a tradição e o
instrutor. Para alguns especialistas, o Budismo mais antigo parece
não ter professado qualquer condenação especial às relações
homossexuais, já que o assunto não foi sequer mencionado. Algumas
tradições mais recentes apresentam sanções à conduta
homossexual. O próprio Dalai Lama é acusado, em certa medida, de
preconceito contra a homossexualidade, como veremos mais adiante.
Nos antigos sutras
do Budismo, a conduta sexual humana aceita ou não-aceita no caso de
leigos não é mencionada de forma específica. “Má conduta
sexual” é um termo amplo, sujeito a interpretações de acordo com
as normas sociais dos praticantes. O Budismo primitivo parece não
ter tido qualquer problema com as relações homossexuais. Todos os
preceitos sobre relações sexuais encaixam-se tanto nas relações
hetero quanto homossexuais.
No caso dos monges, a
situação muda. O Vinaya
(código de disciplina monástica) proíbe a eles toda a atividade
sexual, mas só em termos fisiológicos, sem distinções morais
entre as muitas formas possíveis de relações.
Entre os praticantes budistas, há uma grande diversidade de opinião
sobre a homossexualidade. Isso ocorre porque o Budismo, de uma
maneira geral, ensina que o prazer sensual e desejo, e em particular,
o prazer sexual, são obstáculos à Iluminação ou Despertar
Último, devendo ser de certa forma dominados ou até eliminados.
Mas, como a maioria dos budistas não busca habilidade em meditação
ou a Iluminação, e sim uma vida agradável e, após a morte, um
renascimento agradável, para estes, desfrutar de prazeres sensuais
de uma maneira não-prejudicial é algo normal.
No caso dos transexuais, os primeiros textos
mencionam a possibilidade de uma pessoa mudar de sexo, de modo que
tais pessoas não estão impedidas de ordenação. O próprio Buda é
muitas vezes retratado como uma figura andrógina e assexuada, como
em várias pinturas nos mosteiros.
Nos primeiros textos monásticos, como o Vinaya
(Séc. IV a.C.), os monges do sexo masculino estão expressamente
proibidos de ter relações sexuais com qualquer um dos quatro
gêneros: masculino, feminino, ubhatovyanjañaka
e pandaka.
Mais tarde, o Buda permitiu a ordenação de mulheres, mas proibiu a
ordenação para os dois últimos tipos de pessoas. Os motivos de
tais proscrições do Buda contra certos tipos de pessoas que se
juntam à comunidade de ordenados são uma questão de interpretação,
mas podem ter a ver com uma preocupação com a manutenção da
imagem pública de virtuosidade da comunidade. Em alguns casos, isso
é explicitamente indicado. A aceitabilidade social foi fundamental
para a comunidade monástica primitiva, que precisava do apoio
material da sociedade leiga para sobreviver.
Mas,
a quem os textos se referem com os termos ubhatovyanjañaka
e pandaka?
A palavra ubhatovyanjañaka
geralmente descreve pessoas que têm características sexuais
masculinas e femininas, ou seja, os hermafroditas. O Vinaya,
diz que os hermafroditas não devem ser ordenados porque poderiam
seduzir um monge ou monja companheiro, levando-os a ter relações
sexuais. O Pandaka
é uma categoria complexa. Nos primeiros textos, a palavra parece
referir-se a uma classe socialmente estigmatizada de homossexuais
promíscuos, passivos, provavelmente travestis, que eram
possivelmente prostitutas.
O termo Pandaka
também serve para classificar outros que também estão excluídos
da ordenação: pessoas com anormalidades físicas (surdez, nanismo,
etc) ou que cometeram crimes. “A
História da Proibição da ordenação de Pandakas”
do Vinaya
explica que a proibição é uma resposta ao exemplo de um monge que
tinha um desejo insaciável de ser penetrado sexualmente por homens,
de modo que solicitou isso e recebeu de alguns manipuladores de
animais, que, em seguida, relataram o incidente para a comunidade em
geral, trazendo desgraça para a sangha
(comunidade de ordenados).
Alguns comentaristas modernos interpretam a
palavra ubhatovyanjañaka
como incluindo aqueles que não são hermafroditas físicos, mas que
apresentam características comportamentais e psicológicas de ambos
os sexos, como uma mulher que se sente atraída por outras mulheres.
O escritor budista Buddhaghosa
(Séc. V d.C.) descreve ubhatovyanjañaka
como sendo pessoas com o corpo de um dos gêneros, mas a “potência”
do outro. Há quem pense que Buddhaghosa
aqui não descreve, de fato, o hermafroditismo, mas a bissexualidade
ou a homossexualidade, o que é controverso.
Em outros textos, o termo Pandaka
pode incluir os nascidos sexualmente indeterminados ou sem sexo,
eunucos, aqueles cuja sexualidade muda a cada mês e meio, homens que
ganham a satisfação sexual através de sexo oral em outros homens,
e voyeurs.
Às vezes, inclui homens e mulheres com qualquer disfunção sexual,
como impotência ou ciclos menstruais irregulares. No geral, o termo
parece se referir a pessoas cuja sexualidade é limitada quer
fisiologicamente, ou que têm uma sexualidade “perversa” ou
extra. Este “terceiro sexo” é quase sempre retratado
negativamente como uma classe pária, especialmente nos primeiros
textos. Em contextos modernos, Pandaka
é muitas vezes interpretado de modo equivocado para incluir
lésbicas, gays e pessoas trans e intersexuais, embora em tempos
antigos, um homem que penetrasse sexualmente outro homem ou um
Pandaka
não era ele mesmo considerado um Pandaka.
No Samantapasadika,
uma obra do Séc. V d.C., os Pandaka
são descritos como estando cheios de paixões contaminantes
(ussanakilesa),
luxúria inextinguível (avapasantaparilaha)
e sendo dominados por sua libido (parilahavegabhibhuta).
Vasubandhu
(Séc. IV d.C.) afirma que os Pandaka
não têm disciplina para a prática espiritual, devido às suas
paixões contaminantes de ambos os sexos masculino e feminino. Eles
não têm a coragem moral para conter essas paixões, porque não têm
pudor e vergonha. Incapazes de mostrar contenção, esses seres são
abandonados por seus pais e sem tais laços são incapazes de manter
opiniões fortes.
Essa opinião de
Vasubandhu nos faz lembrar do moderno preconceito familiar
para com LGBTs, levando ao abandono, a uma formação de
personalidade deficiente e a tendências depressivas. Hoje, buscamos
mudar este quadro pela conscientização, mas nos tempos antigos,
isso era apenas mais um motivo para exclusão. A prova disso é que o
Abhidharma (um
dos textos contendo as palavras do Buda) afirma que um Pandaka
não pode atingir a iluminação em sua própria vida, tendo que
esperar o renascimento como um homem ou uma mulher normal. Ananda
– primo e discípulo do Buda – se diz ter sido um Pandaka
numa de suas vidas passadas, o mesmo sendo dito da monja budista
Isidâsî.
Em ambos os casos o nascimento como um Pandaka
seria resultado de carma ruim, e a idéia de que ser um Pandaka
decorre de mau comportamento numa vida anterior é comum na
literatura budista.
Só
podemos especular que esta visão do Pandaka
como lascivo, desavergonhado e vacilante transmitida pelos antigos
mestres budistas é baseada nas deficiências sociais ocasionadas
pelo Pandaka
como membro de um grupo estigmatizado e pária, tal como acontece com
seus atuais colegas, as hijras,
bem como sobre a incapacidade ou falta de vontade de trazer
satisfação aos seus pais através da produção de crianças nesta
vida, ou devido à sua desqualificação para os ritos funerários e
de pós-morte.
A
origem do termo Pandaka
ainda é debatida por acadêmicos budistas e ainda é desconhecido o
que e que isso significava durante o tempo de Buda. Alguns comentam
que significava um eunuco e ainda listam 5 tipos de Pandaka,
sendo que apenas os últimos 3 foram considerados impedidos de ser
ordenados.
(1) asittakapandaka:
Um homem que ganha a satisfação ao
realizar sexo oral em outro homem e ingerir seu sêmen, ou que só se
torna sexualmente excitado depois de ingerir o sêmen de outro
homem.
(2) ussuyapandaka:
Um voyeur,
um homem que ganha a satisfação sexual em assistir a um homem e uma
mulher fazendo sexo.
(3)
opakkamikapandaka: Eunucos, isto é,
homens castrados faltando os órgãos sexuais completos. Ao contrário
dos outros quatro tipos de Pandaka,
Bunmi descreve que estes homens atingem sua condição após o
nascimento e não nascem como Pandaka.
Leonard Zwilling não chama a esse tipo de Pandaka
um eunuco, mas diz que o termo descreve um homem que “atinge
a ejaculação através de algum esforço especial ou
artifício”.
(4)
pakkhapandaka: As pessoas que tornam-se
sexualmente excitadas em paralelo com as fases da lua, ou excitam-se
durante a quinzena da lua minguante e cessam a excitação durante a
quinzena da lua crescente ou, ao contrário, tornando-se sexualmente
excitadas durante o período da lua crescente e deixando de ser
excitadas durante o período da lua minguante.
(5)
napumsakapandaka (às vezes também chamado simplesmente napumsaka):
Uma pessoa sem órgãos genitais claramente definidos, seja homem ou
mulher, tendo apenas um trato urinário. Outra definição de
napumsaka
dada por Bunmi é “um [> macho]
pessoa que não é capaz de se envolver em atividades como um homem”.
Em outros lugares, Bunmi acrescenta que napumsakapandaka
nasce sem os órgãos genitais, como punição cármica.
As proscrições do Buda contra certos tipos de
pessoas que se juntam a comunidade monástica parecem ter a ver com
um “resguardo” da imagem pública da mesma como virtuosa. Seria
uma espécie de “conveniência”, o que hoje seria visto como puro
preconceito. Não sabemos se foi o Buda que prescreveu tais regras ou
isso se deve às “conveniências” de seus discípulos após sua
morte. Para pesquisadores como Peter
Jackson, estudioso de política sexual
e do Budismo na Tailândia, o Buda era inicialmente relutante em
permitir que as mulheres se juntassem à comunidade monástica
(sangha)
pelo mesmo motivo. Jackson
explica (ver
http://en.wikipedia.org/wiki/Buddhism_and_sexual_orientation):
“O Budismo, o caminho do meio, sempre foi
preocupado com a manutenção da ordem social e, desde o tempo do
Buda a sangha
nunca pretendeu fornecer um veículo universal para a libertação
espiritual de todos os indivíduos na sociedade, excluindo
explicitamente aqueles que se considera um mau reflexo sobre a vida
monástica em termos de normas e atitudes sociais vigentes.”
O “terceiro sexo” é excluído de uma variedade de práticas
budistas, além da ordenação:
atuar como
preceptor em cerimônias de ordenação, fazer doações aos monges
mendicantes, pregar, meditar e habilidade de compreender o Dharma
(o conjunto de ensinamentos do Buda). Qualquer paralelo aqui
com a afirmação cristã de que gays não podem ser salvos, não é
forçado, pois as religiões, em sua origem, são amplamente
intolerantes com o diverso, o diferente e o que não se encaixa no
perfil da maioria. Aliás, uma das tendências mais comuns das
religiões em sua formação é uma padronização pela maioria, uma
“normatização” e “normalização”. Quem não se encaixa
(impedimento moral) ou não tem como se encaixar (impedimento
fisiológico), é simplesmente excluído.
Em contraste, textos posteriores, especialmente
budistas tibetanos, ocasionalmente dão um valor positivo ao pandaka
por seu “meio termo” e equilíbrio. Nestes textos tibetanos,
pandaka é
traduzido com o termo ma ning,
“sem gênero” ou “sem genitália”. Gyalwa
Yang Gonpa (monge tibetano do Séc.
XIII), uma das figuras significativas no início da escola Drukpa
Kagyu, escreve sobre ma
ning como sendo um estado de equilíbrio
entre a masculinidade e a feminilidade, como “o
sopro permanente entre a expiração masculina e a inalação
feminina” e “o
canal equilibrado do Yoga, em oposição ao canal muito apertado do
sexo masculino, e o muito solto do sexo feminino”.
Há, inclusive, na prática tibetana,
o Mahakala
Ma Ning, uma deidade irada reverenciada
sob esta visão, especialmente na escola Nyingma,
como um defensor do Dharma.
Nas imagens, o macabro Ma Ning tem um coração humano em sua mão, e
também uma guirlanda de corações ao redor de sua cintura.
Poderíamos dizer que se trata de uma espécie de “deidade gay”
ou “queer” no Budismo Tibetano? Quem sabe... um alento para os
LGBTs e a possibilidade de um Buda Gay...
O Tripitaka
(textos budistas mais antigos) referem-se a casos de homossexualidade
e transexualidade. Especificamente, o Tripitaka destaca o caso
de um monge, Wakkali, que se tornou monge simplesmente porque
estava fisicamente atraído pela beleza do Buda. O Tripitaka
também destaca um incidente transexual em que um homem casado, com
filhos, foi fisicamente atraído por um monge, depois do qual o homem
passou por metamorfose e se tornou uma mulher, e se casou com alguém
do mesmo sexo. Outra seção do Tripitaka refere-se a um
incidente em que um monge novato masturbou um elevado monge ordenado.
A referência mais importante para praticantes
leigos quanto à homossexualidade ou comportamento sexual no Budismo
está contida no terceiro preceito que se refere à má conduta
sexual. No entanto, este preceito em si é um guia insuficiente, uma
vez que não faz distinção em relação a orientação ou prática
sexual. A fim de aplicar o princípio dentro do terceiro preceito à
homossexualidade, deve-se voltar para o princípio budista mais amplo
de “não causar sofrimento” e considerar este preceito em uma
interpretação holística.
Ao considerar o preceito de má conduta sexual
pode-se tirar algumas especificidades para o que é permitido ou não.
Questões de estupro, adultério e pedofilia pode ser consideradas
como incompatíveis com os ensinamentos budistas, já que causam
danos a outros.
A visão do Budismo
Tibetano e a polêmica do Dalai Lama anti-LGBT
Padmasambhava
(730-805) foi o Buda que levou o Budismo para o Tibete. Ele passou 55
anos transmitindo ensinamentos avançados e secretos a seus alunos.
Muitos desses alunos (tertons)
foram destinados a renascer para revelar certos ensinamentos (termas)
em momentos posteriores para as gerações futuras. Yeshe
Tsogyal, uma princesa, era sua
principal discípula e consorte de práticas sexuais tântricas –
apesar de ser esposa de um rei, ele permitiu esta relação no mínimo
incomum! Padmasambhava
deu algumas instruções pontuais para Yeshe
Tsogyal sobre sexo e homossexualidade.
As seguintes citações são tiradas de uma das termas
mais importantes transmitidas por Guru
Rinpoche ou Padmasambhava.
É conhecido como os “Ensinamentos de
Dakini” (ver
http://www.reversespins.com/buddhismandgays.html):
“Má
Conduta Sexual ...
Há também ocasiões em que não é
adequado ter relações sexuais mesmo com o seu companheiro de
direito. ...
3. Não é adequado o intercâmbio em um orifício
inapropriado, tais como envolvimento em formas de animais.Tsogyal,
... Como antes, o ato de má conduta sexual é consumado por meio dos
quatro aspectos completos, e novamente há três tipos de resultados.
1.
Através do resultado da consumação, você vai renascer nos três
reinos inferiores. Mesmo se você vir a renascer nos reinos
superiores, você vai ter brigas com seu cônjuge e assim por
diante.
2. O resultado dominante é que, mesmo em vidas futuras,
seus ajudantes, cônjuge e assim por diante serão irresponsáveis e
mostrarão vários atos de ingratidão.
3. O resultado
correspondente à causa é que suas tendências habituais
prejudiciais farão com que você tenha prazer na má conduta
sexual.
Tsogyal,
se você desistir estes actos e se abstiver deles, você vai obter os
opostos de seus resultados, por isso abandoná-los é de grande
importância. ...”
(Ensinamentos de Dakini, pp 39-40)
Gampopa (Séc. XII), um dos principais mestres da escola
Kagyu
do Budismo Tibetano, seguiu a tradição budista indiana, vinda desde
Vasubandhu (Séc. III), segundo a qual sexo oral e anal, se
com um homem ou uma mulher, são violações do terceiro preceito em
relação ao comportamento sexual inadequado.
Longchenpa (Séc.
XIII), fundador da escola
Nyingma, citando textos
Mahayana
do mestre indiano
Asanga (Séc. III), deduziu que no
comportamento sexual inadequado incluem-se também as mãos entre as
partes inadequadas do corpo para a atividade sexual. Mestres
posteriores de todas as escolas do Budismo Tibetano aceitam todas
estas especificações.
Sangharakshita,
dando uma interpretação moderna para budistas ocidentais, vê o
terceiro preceito como referindo-se a evitar a atividade sexual, que
é exploradora de qualquer modo ou machuca os outros. Isso significa
que seria antiético ter sexo com a esposa ou o marido de alguém se
isto é suscetível de perturbar-lhes, como seria antiético ter sexo
com o namorado/namorada de alguém, onde isso teria efeitos ruins.
Sangharakshita
não tem nenhum problema com a homossexualidade, e de fato, às vezes
tem sido acusado de favorecer a homossexualidade sobre outras formas
de sexualidade. Mas, ele é uma exceção entre os mestres do
Budismo Tibetano.
Na
prática, as atitudes para com o sexo variam muito entre as
diferentes culturas budistas. Por exemplo, em algumas partes do
Tibete a poliandria
(uma mulher com vários maridos) foi livremente tolerada. Em outras,
o Budismo é utilizado para apoiar uma forte condenação à
homossexualidade, que parece ser em grande parte cultural. No Tantra
da antiga Índia (ensinamento pertencente ao Budismo Vajrayana
ou Tibetano), havia algumas práticas de meditação avançada que
envolviam um acoplamento sexual em um estado de meditação
profundamente absorvido, visualizando um parceiro como uma dakini
(uma deidade simbólica). Novamente, isto tem sido tolerado dentro de
certas circunstâncias muito restritas, especialmente na Escola
Nyingma. A
relação de Padmasambhava
com Yeshe Tsogyal
seria desta natureza.
O atual Dalai Lama
segue a afirmação tradicional budista tibetana de que o
comportamento sexual inapropriado inclui sexo lésbico e gay, e mesmo
qualquer outro sexo envolvendo pênis-vagina em relações sexuais
com o próprio parceiro monogâmico, quando incluindo sexo oral, anal
e masturbação.
Numa entrevista de 1994, ele afirmou: "Se
alguém vem a mim e pergunta se a homossexualidade é boa ou não,
vou perguntar: 'Qual é a opinião do seu companheiro?' Se ambos
concordam, então eu acho que eu diria 'se dois machos ou duas fêmeas
concordam voluntariamente em ter satisfação mútua sem implicação
de prejudicar outros, então é bom'."
No entanto, em seu livro de 1996, Além
do Dogma, ele afirma: "Um
ato sexual é considerado adequado quando os casais usam os órgãos
destinados à relação sexual e nada mais... a homossexualidade,
seja entre homens ou entre mulheres, não é imprópria em si mesma.
O que é impróprio é o uso de órgãos já definidos como
impróprios para o contato sexual."
O que o
Dalai Lama propõe? Que gays podem estar juntos, mas não
podem ter relações sexuais? Uma hipocrisia tamanha! Na verdade, sua
opinião está fundamentalmente atrelada a esta doutrina dos órgãos
adequados ao sexo. Resumindo, para quem acha que os mestres budistas
estão imunes ao preconceito, é uma opinião fundamentalista vinda
de um budista que é considerado um “Buda Vivo”!
Contudo, o tema controverso é a conduta sexual
inadequada para um praticante budista, já que o Dalai
Lama repetidamente "expressou
seu apoio ao pleno reconhecimento dos direitos humanos para todas as
pessoas, independentemente da orientação sexual".
Ele explicou, em 1997: "Isso é
parte do que nós budistas chamamos de má conduta sexual. Órgãos
sexuais foram criados para a reprodução entre o elemento masculino
e o elemento feminino – e tudo o que se desvia disso não é
aceitável do ponto de vista budista",
enquanto o sexo não-procriativo pênis-vagina não é considerado má
conduta sexual. Mais um fundamento hipócrita? O Dalai
Lama admite que "do
ponto de vista da sociedade, relações homossexuais de acordo mútuo
podem ser de benefício mútuo, agradáveis e inócuas." Inócuas
por ocorrerem entre não-budistas? Quem disse que o Dalai
Lama representa a palavra budista sobre
o assunto? Nem sobre o Tibete invadido ele é unanimidade!
O Dalai Lama
declarou que antes, esteve incerto sobre se uma relação de mesmo
sexo não-abusiva e de acordo mútuo seria aceitável dentro dos
princípios gerais do Budismo. Ao ter dificuldades em imaginar os
mecanismos de sexo homossexual, dizendo que a natureza tinha
arranjado órgãos masculinos e femininos "de
tal maneira que é muito apropriado... órgãos do mesmo sexo não
podem funcionar bem", o Dalai Lama
tem dito repetidamente aos grupos LGBT que ele não pode reescrever
os textos. O mesmo dizem padres e pastores cristãos fundamentalistas
sobre os textos bíblicos. A diferença é que o Dalai
Lama pensa que este é o tipo de
questão que precisa ser discutida por um conselho de anciãos
budistas de todas as tradições. Apenas um tal conselho poderia
alterar questões relativas ao Vinaya
e à ética. Contudo, o Dalai Lama
também recomenda a questão da igualdade das mulheres, especialmente
em rituais e cerimônias monásticas, sendo algo a ser reconsiderado
e revisado. Isso tem acontecido na prática, mas a questão LGBT
permanece polêmica e sem “reconsideração” ou “revisão”...
Em 1999, numa entrevista com Alice
Thompson, ele declarou de modo
enfático, demonstrando seu fundamentalismo anti-LGBT: "Eles
querem que eu tolere a homossexualidade. Mas, eu sou um budista e,
para um budista, um relacionamento entre dois homens é errado.
Algumas condutas sexuais no casamento também são erradas.",
falando sobre masturbação e sexo oral. Também disse que "Se
uma pessoa não tem fé, é uma questão diferente"... "Se
dois homens realmente se amam e não são religiosos, então, está
OK para mim." Um discurso moderno
de exclusão? Afinal, o que o Dalai Lama
deixa claro é que, se os LGBTs querem ser como são, mas não forem
religiosos budistas, tudo OK. Isso é exclusão pura e abominável!
Um discurso anti-inclusivo feito por um Nobel da Paz! Inaceitável!!!
O alento é que ele não representa MESMO a palavra de todos os
budistas – mestres, monges e leigos – no mundo.
Numa entrevista com Wikinews,
Tashi Wangdi,
representante do Dalai Lama,
tentou elaborar melhor a questão, mas só evidenciou mais
fundamentalismo, ao dizer que se uma pessoa se envolveu com
homossexualidade, "não seria
considerada como seguindo todos os preceitos dos princípios
budistas. Pessoas não seguem todos os princípios. Muito poucas
pessoas podem alegar que seguem todos os princípios. Por exemplo,
contar uma mentira. Em qualquer religião, se você perguntar se
contar uma mentira é um pecado – dizem os cristãos – , eles vão
dizer que sim. Mas você encontra muito poucas pessoas que em algum
momento não contam uma mentira. Homossexualidade é um ato, mas você
não pode dizer [a pessoa que é homossexual que ela] não é um
budista. Ou que alguém que diz uma mentira não é um budista. Ou
que alguém que mata um inseto não é um budista, porque há uma
forte proibição contra isso."
Muito sutil...
Certa vez, o monge budista Theravada
Ajahn Brahmavamso
escreveu para o Jornal West Australian,
respondendo a um artigo publicado ali, em que o Dalai
Lama foi citado como tendo dito que a
homossexualidade era imoral. Eis o que ele escreveu ao jornal:
"Caro senhor/senhora, o Dalai
Lama estava fora de sintonia
quando disse (de acordo com o seu artigo no West, 15 de abril, página
7) 'se você é um budista, a homossexualidade é errada. Ponto
final.' O Dalai Lama
não é o 'papa' do Budismo e, encantador como ele muitas vezes é,
às vezes ele erra. Ele é apenas a cabeça de um das quatro
principais seitas do Vajrayana
(Budismo Tibetano) e ele fala apenas para o seu grupo.
A
grande maioria dos budistas em todo o mundo moderno são inspirados a
aprender que o Buda certamente não discriminou a homossexualidade.
Os ensinamentos fundamentais do Budismo original mostram claramente
que não é se a pessoa é heterossexual, homossexual ou celibatária
que é boa ou ruim, mas é como uma pessoa usa a sua orientação
sexual que contribui para bom ou mau karma.
Portanto,
o fato é que o Buda, e, portanto, o Budismo, abraça gays e lésbicas
e transexuais com equidade e respeito. Por muito tempo o fanatismo
religioso tem causado sofrimento a grupos minoritários em nossa
sociedade. Todas as religiões devem ser mais amorosas. Ponto final!"
- Ajahn
Brahm
Agora é a
opinião de um outro monge budista confrontando o Dalai Lama
(que também é monge) em seu argumento de autoridade, colocando-o em
seu devido lugar.
A verdade
é que, embora o Dalai Lama seja uma das pessoas mais amáveis
que se possa imaginar, um Nobel da Paz, é também um tibetano muito
tradicional sob vários aspectos - e a cultura tibetana tradicional,
como a maioria das culturas, tem idéias muito confusas e enviesadas
sobre a homossexualidade. O Budismo Tibetano não deriva suas idéias
sobre a homossexualidade dos primeiros ensinamentos do Buda, mas a
partir de sutras e shastras Mahayana, o mais
antigo dos quais data de cerca de 500 anos depois de Buda. Nesta
época, budistas indianos estavam sendo influenciados por várias
noções populares indianas, incorporando-as em sua compreensão do
Dharma, às vezes com resultados não muito felizes. Uma
dessas noções era a idéia de que atos sexuais podem ser julgados
certos ou errados dependendo do “lugar, pessoa e orifício”.
Como,
exatamente, a lei do Carma pode distinguir um orifício de outro?
Outros problemas surgem quando percebemos que muitos homossexuais
masculinos praticam sexo entre as coxas e masturbação mútua, em
vez de sexo com penetração. E, exatamente qual o órgão sexual que
uma lésbica usa para penetrar a vagina de sua parceira? Mais uma vez
fica claro que o Dalai Lama (e a tradição responsável por
sua opinião equivocada) não tem a mínima noção do que está
afirmando.
Segundo
as informações dadas por Jeff Wilson
no blogue Gay Tibet
(ver
http://gaytibet.blogspot.com.br/2009/08/homosexuality-marriage-and-religion-in.html),
monges gays eram comuns no Tibete tradicional e em outras culturas
budistas, e foram aceitos como parte da sociedade, mesmo sem uma
existência do moderno conceito de “orientação homossexual”.
Tanto que há um termo tibetano, drombo,
que se refere a um parceiro homossexual passivo, muitas vezes alguém
em uma relação estreita com um monge. As posturas sócio-religiosas
tibetanas consideram a penetração como uma inaceitável violação
das regras monásticas de celibato, independente de se as pessoas
envolvidas são do mesmo sexo ou de sexos opostos. Assim, a
alternativa comumente aceita para um monge foi formar um
relacionamento com um drombo,
que poderia ser um jovem monge ou alguém da sociedade em geral. Em
vez de sexo oral ou anal à moda ocidental, um drombo
e seus patronos monásticos ficavam em uma posição agachada - o
drombo
deitado de costas com suas pernas cruzadas, e o monge ejaculando
movendo seu pênis para trás e para frente entre elas. Sem
penetração, portanto, nenhuma violação das regras.
E, só
para provar que a homossexualidade, o casamento e a religião no
Tibete são infinitamente complicados: o sexto Dalai Lama, que
se acredita ter renascido como o atual décimo quarto Dalai Lama,
foi muito famoso por ser um bissexual extravagante. Apesar disso, o
atual Dalai Lama insiste em dizer que relações sexuais com
alguém do mesmo sexo é conduta inadequada... Contudo, o fato de que
monges pagam drombos muito jovens para manter relações com
eles não parece ser um problema na hipócrita condenação do Dalai
Lama aos LGBT. Parece o mesmo caso da hipocrisia do Vaticano que
condena gays, mas defende padres pedófilos... O próprio Heinrich
Harrer, no livro “Sete Anos no Tibet”, afirma
categoricamente que os monges no Potala eram homossexuais...
Ninguém precisa ser ingênuo e achar que nos mosteiros tibetanos a
situação é diferente dos mosteiros católicos. Lá também há
relações entre os mais velhos e os mais novos, e isso já foi
denunciado na imprensa internacional algumas vezes.
A visão polarizada
do Budismo Theravada atual
Uma das
razões para uma certa homofobia contra gays masculinos em países
predominantemente budistas como a Tailândia tem a ver com a
misoginia e o desejo esmagador por descendentes masculinos em grande
parte da cultura asiática. A misoginia muitas vezes se manifesta
como um medo quase patológico de que algo num homem possa apontar
traços femininos. Assim, para muitos, homens homossexuais parecem
excessivamente femininos, e assim, são odiados ou temidos, ou ambos.
Em muitas culturas asiáticas a continuação da linhagem é de suma
importância, de modo que uniões sexuais que não possam produzir
filhos são vistas como pervertidas.
Na Tailândia, alguns setores budistas
tradicionais propõem que a homossexualidade surge como uma
consequência cármica pela violação de proibições budistas
contra a má conduta heterossexual. Estas visões cármicas descrevem
a homossexualidade como uma condição congênita que não pode ser
alterada, pelo menos, na vida atual de uma pessoa homossexual, e têm
sido associadas com apelos por compaixão e compreensão por parte da
população que não é homossexual. Mas, a partir do final dos anos
de 1980, alguns setores budistas tailandeses mais recentes passaram a
considerar a homossexualidade como uma violação intencional da
conduta heterossexual “natural” resultante da falta de controle
ético sobre os impulsos sexuais. Peter
Jackson, estudioso australiano de
política sexual e do budismo na Tailândia, escreve que estas
posições representam “duas escolas
de pensamento amplas sobre a homossexualidade que estão em curso
entre os escritores contemporâneos budistas tailandeses, uma de
aceitação, a outra de não-aceitação”.
O
fator-chave de diferenciação destas posições divergentes é a
conceitualização do autor da origem da homossexualidade. Os
liberais sustentam que é uma condição que está fora do controle
consciente dos homossexuais, tendo origens em erros do passado. Isso
se assemelha à visão de alguns espíritas no Ocidente. Os
não-liberais defendem que a homossexualidade é uma violação
intencional de princípios éticos e naturais. Esta é a visão
do Cristianismo fundamentalista. Para Peter Jackson, o fator
que causou a mudança na visão budista tailandesa, aumentando o
preconceito, foi o surgimento da AIDS e sua equivocada associação
aos gays como causadores da síndrome.
“A
primeira coisa que eu gostaria de dizer a partir da perspectiva
budista é que, sempre que temos uma decisão ou uma escolha difícil
de fazer, temos de olhar para as nossas mentes para ver se temos o
que o Buda chama de 'perversões do pensamento' (…). E,
particularmente, as atitudes para com os homossexuais, se seus
amigos, filhos ou outras pessoas da sociedade, não devem ser
pensadas a partir da posição de medo.
Tendo confrontado a homossexualidade só por
estar em um país ocidental, esse assunto tem que vir à tona, os
monges e monjas e todo mundo tem de enfrentar. Porque há algumas
pessoas que vão se tornar seus discípulos e até mesmo querer se
tornar monges e monjas e fazer parte da Sangha.
Algumas delas são homossexuais, ou alguns dos filhos de seus
discípulos são homossexuais.
Muitas vezes, elas fazem a pergunta: 'A
homossexualidade quebra os 5 preceitos?' Particularmente, isso diz
respeito ao 3º preceito, que diz respeito a má conduta sexual. No
entanto, os estudos do significado budista da expressão má conduta
sexual certamente não inclui atividades homossexuais. E, é
fascinante que o Buda foi certamente consciente sobre a
homossexualidade em seu tempo. Havia muitos casos mencionados nas
escrituras antigas, especialmente o Vinaya
(o código de ética para os monges e monjas), dos atos homossexuais
e daqueles que eram dessa forma inclinados, e ele certamente nunca os
incluiu sob os 5 preceitos.
Quando falamos sobre o 3º preceito, de má
conduta sexual, isso literalmente se refere a adultério ou sexo
ilícito, especialmente entre um homem ou uma mulher que não se
casaram e cujas relações sexuais foram consideradas inadequadas na
época, mas certamente não inclui atividades homossexuais e
lésbicas.
Assim, quando olhamos para as questões éticas
da homossexualidade, não podemos usar os 5 preceitos, uma vez que
eles não se aplicam. O fato de que isso não foi mencionado é uma
indicação de que o Buda não achou, no final das contas, que fosse
tão ruim, ou uma atividade a ser incluída nos 5 preceitos. E, por
isso, temos de tratar logicamente relações homossexuais e lésbicas
na mesma categoria do relacionamento heterossexual. Em outras
palavras, a lei do carma, o entendimento de bondade e o que traz a
felicidade na vida futura e a felicidade nesta vida... o que
significa que temos de olhar para a homossexualidade na mesma luz que
vemos a heterossexualidade. Em outras palavras, se é uma relação
amorosa, de carinho, não-exploradora, com adultos responsáveis em
idade apropriada, não parece haver nada de moralmente errado com
ela. (...)
Pergunta: Como podemos ajudar pessoas com
homofobia a superar seus medos, especialmente os pais de filhos ou
filhas gays?
Por minha própria
experiência, eu aprendi a superar esses medos reunindo-me com os
gays para conhecê-los e ser amigo deles. E, por favor, você não
tem que ser gay para ser amigo de uma pessoa homossexual! E, como
tal, você pode aprender a partir de suas experiências.
E, de
como podemos ajudar os pais a compreender os gays, eu me lembro de
algum tempo atrás, um pai estava muito chateado que seu filho era
gay e veio me pedir conselhos. E eu lhe disse: 'Quando você entoa a
bondade amorosa (na tradição Theravada), você diria: 'Que todos os
seres possam estar felizes e bem. Que todos os seres possam estar
livres do sofrimento.' Não é o seu filho um desses seres? Por que
você distingue as pessoas que são gays, e você odeia seu filho,
mas daria amor a animais e vacas e seria um vegetariano? Certamente,
você pode estender a sua bondade a todos os seres, incluindo o seu
filho?
Pergunta: É um
carma ruim nascer homossexual?
No Budismo, se diz que seu carma ruim é ter
que nascer de novo [risos e aplausos].
Não
é como nós nascemos, os cingapurianos ou ingleses, ou onde, é o
que vamos fazer com este nascimento que é importante. Então, se
você nasceu com essas tendências, aceite essas tendências e
aprenda com elas e, certamente, certifique-se de que suas atividades
homossexuais são gentis, acolhedoras e amorosas, e que você não
abusa dos impulsos sexuais. Eu acho que o maior perigo da
homossexualidade é o abuso de sua sexualidade, assim como, por
vezes, a sexualidade masculina é abusada com prostitutas.”
Em suma, “seja sua
própria lâmpada”, um ensinamento dos mais libertadores deixado
pelo Buda...
A tradição
homossexual no Budismo japonês
Vários escritores já notaram a forte tradição histórica da
bissexualidade e homossexualidade aberta em instituições budistas
masculinas no Japão. Segundo
Chigo Monogatari , as chamadas
“histórias de acólito” de amor entre monges e seus
Chigo
eram populares, e essas relações parecem ter sido comuns, ao lado
de sexo com mulheres.
Viajantes cristãos ocidentais que foram ao Japão
a partir do Séc. XVI têm notado, escandalizados, a prevalência e
aceitação de formas de homossexualidade entre os budistas
japoneses. O padre jesuíta Francisco
Cabral escreveu em 1596 que
"abominações da carne" e
"hábitos viciosos" eram
"considerados no Japão como muito
honrados; homens de posição confiam seus filhos para os bonzos
para ser instruídos em tais coisas, e ao mesmo tempo servir a sua
luxúria".
Um estudioso budista japonês do Séc. XVII,
Kitamura Kigin,
afirmou que o Buda teria defendido a homossexualidade sobre a
heterossexualidade para os sacerdotes. Uma lenda popular japonesa
atribui a introdução da homossexualidade no Japão a Shingon,
fundador Kukai,
embora estudiosos agora descartem a veracidade dessa afirmação. No
entanto, a lenda serviu para afirmar a relação de mesmo sexo entre
homens e meninos no Japão do século XVII.
Não
há discriminação contra os homossexuais ou repúdio da
homossexualidade no Budismo Shin,
fundado no Japão no Séc. XIII, ou de fato, a outras práticas
sexuais.
Até o surgimento do Mestre
Shinran, fundador do Budismo
Shin, havia a crença geral de que você
poderia purificar-se através de rituais próprios e abstendo-se de
comportamento proibido. Por causa de sua experiência, Shinran
era mais realista, entendendo que não podemos simplesmente nos
purificar de paixão e desejos humanos. Ele viu que o Buda
Amida (Amitabha) nos abraça, apesar
destes problemas, e nos permite chegar a um meio ambiente - a Terra
Pura - onde podemos deixar essas paixões que não são mais
eficazes.
No Hino Shoshinge,
Shinran afirma “Fudan bonno toku
nehan”, o que significa que
atingimos o nirvana
sem cortar paixões. Este é um importante reconhecimento. Em outra
passagem, ele indica que a quantidade de impurezas não é problema
para receber o abraço do voto do Buda
Amida e o dom da verdadeira confiança.
O Budismo Shin
é uma fé de afirmação, aceitando as pessoas como elas são e
ajudando-as a desenvolver a espiritualidade profunda para vitalizar a
vida. O que elas fazem é uma questão de sua própria consciência,
mantendo a intenção do Buda Amida
em suas mentes.
Em suma, do ponto de vista do ensinamento
budista Shin,
geralmente, não há nenhum problema com as relações do mesmo
sexo.
Homossexualidade no Budismo
chinês
A atitude quanto à homossexualidade entre os
praticantes do Budismo na China, segundo o estudioso A.
L. de Silva, tem sido de tolerância.
Matteo Ricci,
missionário jesuíta que viveu na China por vinte e sete anos a
partir de 1583, já tinha expressado isso através de seu horror à
atitude aberta e tolerante dos sacerdotes budistas chineses à
homossexualidade.
O Venerável Hsing
Yun, uma das primeiras figuras no
Budismo chinês contemporâneo, afirmou belamente que o Budismo nunca
deveria ensinar intolerância contra a homossexualidade, e que as
pessoas deveriam expandir suas mentes:
“
O casamento é uma instituição que reflete
os valores da sociedade que a sustenta. Se as pessoas de uma
sociedade já não acreditam que é importante se casar, então não
há nenhuma razão para que eles não possam mudar a instituição do
casamento. O casamento é um costume. Costumes sempre podem ser
alterados. (…) a verdade suprema da questão é que as pessoas
podem e devem decidir por si mesmas o que é certo. Enquanto elas não
estão violando os outros ou violando as leis da sociedade em que
vivem, então, são livres para fazer o que acreditam que é
certo.
(…)
A mesma análise poderá ser aplicada a homossexualidade. Muitas
vezes as pessoas me perguntam o que eu penso sobre a
homossexualidade. Eles se perguntam, é certo, é errado? A resposta
é, não é nem certo nem errado. É apenas algo que as pessoas
fazem. Se as pessoas não estão prejudicando o outro, suas vidas
privadas são o seu próprio negócio, devemos ser tolerantes com
eles e não rejeitá-los.
No entanto, ainda vai levar algum
tempo para o mundo aceitar plenamente a homossexualidade. Todos nós
devemos aprender a tolerar o comportamento dos outros. Assim como
esperamos expandir nossas mentes para incluir todo o universo, do
mesmo modo também deveríamos procurar expandir nossas mentes para
incluir todas as muitas formas de comportamento humano.
Tolerância
é uma forma de generosidade e uma forma de sabedoria. Não há nada
em qualquer lugar do Dharma que devesse levar alguém a se tornar
intolerante. Nosso objetivo como budistas é aprender a aceitar todos
os tipos de pessoas e ajudar a todos os tipos de pessoas a descobrir
a sabedoria dos ensinamentos do Buda Sakyamuni.”
(Hsing Yun, Buddhism Pure and Simple, pp. 137–138)
Hsing Yun é um
autor best-seller e um defensor do Budismo Humanista, uma abordagem à
reforma do budismo chinês para corresponder às necessidades
contemporâneas dos leigos. Mas, há quem se oponha sua visão, como
o mestre tradicional Hsuan Hua,
que afirmou que a homossexualidade “plantas
as sementes que levam ao renascimento nos reinos inferiores de
existência”.
A visão da
homossexualidade no Budismo Ocidental
Em contraste com o Budismo na Ásia, o moderno
Budismo no mundo ocidental é tipicamente associado a uma preocupação
com igualdade social, em parte como resultado de sua base de membros
vinda da classe média intelectual e suas raízes filosóficas no
livre-pensamento e no humanismo secular. Ao aplicar a filosofia
budista à questão da homossexualidade, os budistas ocidentais
enfatizam a importância que o Buda colocou sobre a tolerância, a
compaixão e a busca de respostas dentro de si mesmo, salientando
estes valores fundamentais, em vez de examinar passagens específicas
ou textos. Por isso, o Budismo ocidental é relativamente
gay-friendly,
especialmente desde os anos 1990. Como a interpretação do que é má
conduta sexual é uma decisão individual e não algo sujeito a
julgamento por uma autoridade central, uma visão de aceitar todos os
povos, mas rejeitando certos tipos de atos sexuais é mais
predominante. Vários LGBT já foram ordenados monges e leigos
budistas (Issan Dorsey, Caitriona Reed, Pat Enkyo O'Hara, Soeng
Hyang).
Segundo o estudioso ocidental Alexander
Berzin: “Os
textos em tradições budistas foram escritos a partir do ponto de
vista de um homem heterossexual. Precisamos explorar a intenção dos
ensinamentos sobre má conduta sexual, o que em última análise é
eliminar o apego, desejo obsessivo e insatisfação. Se um homem
heterossexual não encontra limites para essas emoções
perturbadoras, ele poderia ter relações sexuais com mais um outro
parceiro, assim como outros homens. Podemos aplicar a mesma lógica e
explorar o que constitui apego sem limites e insatisfação para
homens ou mulheres homossexuais e bissexuais. Por exemplo, ter
relações sexuais com mais parceiros e assim por diante pode ser
destrutivo para estes tipos de pessoas também.”
O
Dzogchen Ponlop Rinpoche, titular das linhagens
tibetanas
Karma Kagyu e
Nyingma, em uma palestra de
2008, em Nova York, destacou que para os praticantes leigos do
Budismo Tibetano, as relações homossexuais não são melhores ou
piores do que as relações heterossexuais, e que apenas
relacionamentos não-saudáveis em geral, devem ser evitados. Tanto a
sangha Nalandabodhi (fundada pelo
Dzogchen
Ponlop Rinpoche), como as
sanghas Shambhala
(fundadas por
Chögyam Trungpa Rinpoche) declaram estar
acolhendo pessoas de todas as orientações sexuais. O
Shambhala
Meditation Center, de Nova York, hospeda um grupo de prática
semanal, o
Queer Dharma, especificamente para atender às
necessidades da comunidade budista LGBT.
Nesta
mesma linha de visão ocidental do assunto, muito útil é
transcrevermos alguns trechos de uma entrevista dada pela Lama
norte-americana Chagdud Khadro
(dirigente espiritual do Chagdud Gonpa,
um importante centro do Budismo Tibetano, hoje com sede no sul do
Brasil), que chega a contrastar com a própria opinião do Dalai
Lama (ver
http://bossazen.blogspot.com.br/2008/11/budismo-x-homossexualidade.html):
“Como o budismo
encara e explica a homossexualidade?
O budismo prega a
plena igualdade entre as pessoas. A sexualidade é apenas uma das
diferenças que caracterizam as pessoas. De acordo com Chagdud
Rinpoche, qualquer relacionamento pode ser um espaço para se
cultivar as seis perfeições do ideal budista. Em uma relação
entre pessoas do mesmo sexo, se houver o cultivo de generosidade,
disciplina moral, paciência, perseverança, concentração
meditativa, sabedoria e manutenção de uma visão pura, então esta
é uma relação benéfica para o desenvolvimento da mente. Em termos
da homossexualidade, ele apenas prevenia contra o desenvolvimento de
aversão ao sexo oposto, porque isto dificulta a obtenção de um
corpo humano durante o ‘bardo’ - estado intermediário entre esta
vida e a próxima. De acordo com os ensinamentos, no ‘bardo’
alguém que renascerá como uma mulher sente-se atraída por aquele
que será seu pai, alguém que renascerá como homem, sente-se
atraído pela que será a sua mãe no momento em que presencia a sua
própria concepção, então é preciso que haja esta atração para
que aquela consciência se junte à união do esperma e do óvulo. Se
há aversão ao sexo oposto, naturalmente não há esta atração e
isto causaria dificuldades, fora isto, ele não via qualquer
problema.
Um casal
homossexual poderia livremente freqüentar e seguir o budismo?
Essa situação não
interfere na prática do budismo.
O indivíduo
homossexual deve se assumir? Ou isso não é recomendado?
Essa é uma questão
que a própria pessoa deve julgar e ter a capacidade de decidir. Não
deve ser necessariamente de um modo ou de outro. O necessário é
viver com integridade. Se a pessoa está ‘no armário’, não se
assume, e isto a deixa dividida, em conflito consigo mesma, com seu
ser e sua sexualidade, fica difícil manter a integridade. Por outro
lado, se a pessoa decide que é homossexual, mas não quer se assumir
publicamente e prefere levar uma vida de abstinência ou ser discreta
em sua vida sexual, sendo ao mesmo tempo muito honesta consigo mesma,
acho que não há problema.
(…) O
homossexual está em uma escala inferior ao indivíduo heterossexual?
Os dois são
igualmente seres humanos, portanto, não há superior nem inferior
entre os humanos. Há apenas esta questão de não se desenvolver
aversão ao sexo oposto. Isto parece ser realmente necessário para
que haja uma continuidade integrada daquele fluxo mental, ou
consciência, na experiência que surge após a morte.”
Realmente, este
discurso pode dar margem a dúvidas. Deve-se diferenciar orientação
para o mesmo sexo de “aversão” pelo sexo oposto. Se uma pessoa é
heterossexual, significa que tem “aversão” ao seu próprio sexo
ou simplesmente está orientada para o sexo oposto? Claro que a
segunda alternativa é a correta. Então, no caso homossexual também.
Ele está simplesmente orientado para o mesmo sexo, não significando
isso uma “aversão” ao sexo oposto. Devemos ter cuidado com estas
explicações para que não se passe a falsa mensagem de que um
homossexual é igual a ter aversão ao sexo oposto.
De qualquer modo, é
importante pontuar o fato de que o Chagdud Gonpa, dirigido por
Chagdud Khadro desde a morte de seu mestre, Chagdud Tulku
Rinpoche, tem realizado cerimônias de casamento entre pessoas do
mesmo sexo no Brasil. O termo “casamento” talvez não seja o mais
adequado, pois se trata de um ritual de bênção do casal e
ratificação dos seus votos budistas, bem como a formalização do
desejo auspicioso de ambos de viver juntos e numa base dármica.
Contudo, estas cerimônias não são anunciadas publicamente e tudo
tem corrido de um modo muito escondido, numa espécie de
“templo-armário” budista... Contudo, sei que tais cerimônias
ocorrem porque ouvi os relatos diretamente de praticantes do Gonpa.
A propósito, há uma grande quantidade de gays e lésbicas entre os
praticantes do Chagdud Gonpa, e há rumores de uma lama já ordenada
que seria lésbica... Uma visão bem diferente do quadro pintado pelo
Dalai Lama em seus comentários ignorantes sobre a sexualidade
humana. Isso me faz crer mais uma vez que um Buda Gay é possível...
Não enquanto praticante de atos homossexuais, mas enquanto alguém
que começou a praticar sendo homossexual e atingiu o estado de Buda,
no qual ser heterossexual ou homossexual é irrelevante, já que
nesta condição há o completo abandono dos apegos sensoriais e
sexuais.
A homossexualidade
nos países budistas
Nas
escrituras budistas homens homossexuais são chamados asittapandaka
e as mulheres são chamadas mulheres de feminilidade incerta
(sambhinna)
ou mulheres masculinas (vepurisikâ,
Vin.II, 271). De acordo com o entendimento da Índia antiga, os
homossexuais eram considerados simplesmente como “a terceira
natureza” (trtîya Prakrti),
ao invés de pervertidos, desviantes ou doentes.
Do ponto
de vista budista mais aberto, se um homossexual evita a sensualidade
e a licenciosidade da chamada “cena gay” e entra em uma relação
amorosa com outra pessoa, não há razão para que ele ou ela não
possa ser um budista praticante sincero e desfrutar de todas as
bênçãos da vida budista.
Nenhum
dos códigos legais dos países budistas tradicionais criminaliza a
homossexualidade em si, embora, é claro, hajam penalidades contra
estupro homossexual e atos homossexuais com menores assim como há
por crimes semelhantes cometidos por heterossexuais. Na maioria dos
países budistas hoje, a homossexualidade é geralmente considerada
estranha, embora não má ou um mal em si. Tailândia, Laos, Camboja,
China, Vietnã, Mongólia, Japão e Coréia do Sul não têm leis
contra a homossexualidade entre adultos conscientes. A
homossexualidade é ilegal na Birmânia e no Sri Lanka,
principalmente porque seus códigos legais foram, em parte,
elaborados durante a era colonial, evidenciando uma “contaminação”
pelo fundamentalismo cristão. Recentemente, no Sri Lanka, a pena foi
aumentada para a homossexualidade em uma resposta irrefletida para o
crescente problema do turismo sexual no país.
A visão
do Budismo de Nitiren
“No
Budismo de Nitiren Daishonin
não há julgamentos sobre a sexualidade ser boa ou má – somente
ela existe, nem imposições para que seus praticantes manifestem um
comportamento sexual em particular, deixando a decisão para o
próprio indivíduo. Em uma de suas viagens para a Europa, o
presidente Ikeda
proferiu uma orientação sobre o tema, em Paris: 'O Budismo não
considera a homossexualidade nem como um mal, nem como um bem. Como
todos os senhores sabem, o Budismo é a filosofia da vida e, mais
precisamente, a filosofia da vida humana. Quanto à
homossexualidade, esta é uma questão que deve ser colocada em outra
categoria. Consequentemente, o budismo não considera como um
distúrbio ou vício. Como todos os seres humanos são considerados
iguais, qualquer que seja a sua condição de vida, todos apresentam
a natureza do Buda e podem evidenciá-la através da recitação do
Nam-myoho-rengue-kyo. Por isso, é de suprema
importância tomar cuidado para não considerar a homossexualidade
como um desequilíbrio e absolutamente não pensar que seja um sinal
de uma prática incorreta ou fraca.'
(…) Outro ponto a
ser destacado é quando a própria homossexualidade é vista como um
sofrimento. Neste caso, o budismo ensina a luta para ultrapassar esta
manifestação cármica, como qualquer outro desafio a ser
enfrentado. Caso o indivíduo se sinta satisfeito com a sua opção
sexual, não existe motivos para que modifique o seu comportamento.
Finalizando,
ele cita: 'O Budismo concentra-se na iluminação para a vida
universal e no auto-aperfeiçoamento de acordo com tal iluminação.
A conduta ética e moral naturalmente evolui como conseqüência do
auto-aperfeiçoamento, mas não é a preocupação principal. Mas,
isto não quer dizer que o budismo defenda a licenciosidade sexual.
Moralidade é coisa relativa, que varia de uma cultura para outra. A
tentativa de qualquer religião de impor a outra cultura, padrões
morais estranhos só pode estimular a rejeição da mesma e a negação
do seu poder em praticar o bem. Por essa razão, ensinar a verdade
básica, universal e dar apenas ênfase secundária a questões de
códigos de ética – como o budismo geralmente procedeu – parece
prometer maiores vantagens a todos os interessados, do que dar
excessivo destaque a pontos de moralidade que, na melhor das
hipóteses, são apenas relativos.'”
O ramo
norte-americano da Soka Gakkai International, um novo
movimento religioso influenciado pelo Budismo Nitiren, com
sede no Japão, desde 1995 começou a realizar cerimônias de
casamento para casais do mesmo sexo. Um templo budista em Salt Lake
City conectado com a Jodo Shinshu, outra escola budista
japonesa, também detém os ritos religiosos para casais do mesmo
sexo.
Equivalência
do sexo LGBT e heterossexual no Budismo
Na
atualidade há várias visões distintas sobre o sexo. São as
chamadas “culturas sexuais”. Essas culturas interferem, de certo
modo, na visão que as religiões têm do assunto. Algumas religiões
se modernizam, adaptando-se às novas noções sobre sexo, enquanto
outras mantém sua visão arcaica, fundamentalista. Conforme cada
“cultura sexual”, o sexo pode ser considerado: algo bom;
depravado e pecaminoso; expressão de amor; expressão da paixão; só
para reprodução; o resultado final de um encontro; algo a ser
comprado e vendido; algo de que não se deve falar; algo de que se
deve sempre falar; a queda da sociedade como a conhecemos; dom de
Deus; maldição de Deus; um caminho para a iluminação; um caminho
para o inferno; só para ser praticado entre mulheres e homens; para
ser praticado entre adultos de qualquer sexo.
No meio de todas
essas visões há a “cultura gay”, que inclui lésbicas,
transexuais, homossexuais masculinos e bissexuais. Para praticantes
budistas pode parecer estranho que um determinado
grupo de pessoas
tenha sua própria cultura sexual. LGBTs têm sua própria cultura
sexual provavelmente por causa da pressão social, do preconceito e
da homofobia, tendo se unido para fins de apoio mútuo, criando assim
uma “cultura”. É com essa “cultura” crescente que as várias
escolas budistas espalhadas pelo mundo tem que conviver cada vez
mais. E, para essa convivência ser mais pacífica e menos desastrada
que a convivência do Dalai Lama com os LGBTs, há a
necessidade de ampliar os horizontes budistas sobre a sexualidade
humana.
As primeiras comunidades monásticas (
Sangha) do Budismo foram
divididas em uma comunidade para homens e uma para mulheres, pois o
entendimento era o de que, pelo impulso sexual dos seres humanos ser
tão forte, uma atitude celibatária teria como resultado que tal
impulso não interferiria na busca pela iluminação. Então, muitas
regras de conduta foram definidas. Entre os vários comportamentos
proscritos estava a homossexualidade, mas ela foi incluída
simplesmente
porque era um tipo de comportamento sexual, não
porque seria inerentemente errado.
No caso da regra que dizia que uma pessoa em
particular conhecida como Pandaka
não poderia ser ordenada, ainda que Pandakas
fossem homens homossexuais, o problema com eles não era sua
orientação sexual, e sim a sua exuberância, uma indisciplina
sexual e tendência a não refrear suas paixões, o que seria um caos
para uma comunidade monástica. Então, o termo Pandaka
não se refere a todos os homossexuais masculinos, mas apenas aos que
não conseguiriam adotar a vida monástica por causa de sua
sexualidade desenfreada. Pessoas heterossexuais com sexualidade
desenfreada também estavam interditas à ordenação e as regras
valiam para todos, como a proibição de adultério, promiscuidade,
estupro, abuso sexual infantil, sexo com menores de idade, sexo com
alguém impotente ou em cativeiro, assédio sexual, sexo com animais,
masturbação, etc.
Segundo os ensinamentos do Buda, há três fatores que devemos levar
em conta ao fazer julgamentos morais: se agimos com os outros como
gostaríamos que os outros agissem para conosco; se nossos atos são
causa de sofrimento ou de felicidade para os outros; se nossos atos
nos levam mais perto de nosso objetivo pessoal de transcender o
sofrimento e atingir o Nirvana. Nenhuma outra consideração deve ser
feita ao analisar a moral própria ou alheia. Não há mandamentos
divinos a ser seguidos, mas a própria consciência que busca
discernir com equanimidade.
No caso
das relações sexuais, elas seriam permitidas aos leigos desde que
não ferissem um dos quatro princípios: haver consentimento mútuo;
não causar nenhum dano; não envolver quebra de um compromisso para
com outra pessoa; estar envolvido em carinho e respeito, para a
satisfação mútua. Assim, sexo homossexual, desde que cumpra tais
recomendações, não pode ser considerado inadequado pelos
ensinamentos do Buda. No Budismo nem mesmo existe para leigos a
recomendação de que o sexo deva ser somente para reprodução!
Na
tradição budista mais antiga há várias histórias de homens
homossexuais que atingiram o grau de Arhat (um elevado estado
de despertar que permite atingir o Nirvana) da mesma forma que
heterossexuais. É o caso da história de Soreyya, Vakkali
e Ananda. Eles atingiram tal estado sem renunciar a sua
sexualidade, mas renunciando a seus desejos, o que os Arhats
heterossexuais também tiveram que fazer.
Segundo o Budismo, a homossexualidade, assim
como a heterossexualidade e a bissexualidade, é uma condição
natural e tem algo a ver com uma certa escolha consciente. A
combinação de escolhas conscientes, os desejos enraizados que estas
escolhas ajudam a criar e eventos traumáticos que contribuíram para
nossas preferências sexuais em muitas vidas anteriores resultam no
nascimento de uma pessoa que possui o agregado dessas preferências.
Então, mesmo nascendo no gênero masculino, ela pode ter uma
orientação para o mesmo sexo ou para os dois, ao invés do sexo
oposto. Tem a ver mais com tendências, preferências e agregados de
vidas anteriores que com um carma ou um fardo condenatório a ser
carregado. Mesmo porque, não é quem você foi em existências
anteriores, mas quem você é agora que é mais importante. E,
meditando, fazendo o bem e adquirindo compaixão por todos os seres,
seja gay, lésbica, bissexual, transgênero ou heterossexual, todos
possuem as mesma chances de chegar ao Despertar Último, o estado de
Buda. Então, o “Buda Gay” é uma realidade! Não há necessidade
de ser monge para isso. Não há necessidade de abdicar do sexo. Mas,
se o sexo for feito com amor, compaixão e sem causar prejuízos,
seja sexo gay ou heterossexual, será conduzente ao Despertar.
Então,
a “cultura gay” não está em oposição às regras budistas
sobre a conduta sexual, desde que não fira as mesmas recomendações
dadas a pessoas heterossexuais.
“1. Há algum
tipo de prática sexual rejeitada pelo Budismo?
Em primeiro lugar é
necessário fazer a distinção entre os praticantes Budistas que
adotam o monasticismo e aqueles que seguem a vida leiga. O código de
disciplina monástica prescreve o celibato para os monges e monjas.
Para os leigos há um conjunto de cinco preceitos éticos que devem
ser observados, sendo que o terceiro preceito determina que a pessoa
deve evitar o comportamento sexual impróprio. (...)
2. O que é um
comportamento sexual impróprio?
(…) No caso de
duas pessoas leigas que agem com base no consentimento mútuo, onde
não há adultério, e onde o ato sexual é uma expressão de amor,
respeito, lealdade e calor humano, esse seria um comportamento sexual
hábil. E o mesmo critério vale se as duas pessoas forem do mesmo
sexo. Do mesmo modo, a promiscuidade, libertinagem e a
desconsideração dos sentimentos dos outros fazem com que um ato
sexual seja inábil quer seja heterossexual ou homossexual. Todos os
princípios empregados para avaliar uma relação heterossexual
também são válidos para avaliar uma relação homossexual.
No Budismo podemos
dizer que não é o objeto do desejo sexual que determina se um ato
sexual é inábil ou não, mas na verdade, a qualidade das emoções
e intenções envolvidas.
3. Há alguma
objeção do Buda com relação ao casamento do mesmo sexo?
A resposta é “Não.”
Na coleção de discursos do Buda não há nenhuma objeção desse
tipo. Para ser mais exato, o Buda nem apoiava e tampouco se opunha ao
casamento entre pessoas do mesmo sexo.
4. Isso então
quer dizer que o Budismo é mais tolerante em relação aos
homossexuais?
Algumas vezes o Buda
aconselhava evitar um certo tipo de comportamento não porque fosse
inábil do ponto de vista ético mas porque colocaria a pessoa em
divergência com as normas sociais ou porque poderiam sujeitá-la a
sanções legais. Nesses casos, o Buda dizia que evitar esse tipo de
comportamento livraria a pessoa da ansiedade e embaraço causado pela
desaprovação social e o medo de ações punitivas. Em determinadas
situações sociais, esse seria o caso em relação à
homossexualidade. Nesses casos, o homossexual tem que decidir se irá
se submeter àquilo que a sociedade espera ou se irá tentar mudar os
valores sociais.”
Em
http://tzal.org/5-3-homossexualismo/,
o budista
Padma Dorje (Eduardo Pinheiro), tradutor e
programador que vive em Porto Alegre, ainda que também se valha do
termo inadequado “homossexualismo”, traz mais luz a essa
polêmica, respondendo a diversas perguntas:
“Qual
a posição do budismo sobre a homossexualidade?
Monges não devem se
engajar em qualquer ação sexual. Porém, na medida em que tiverem
atração pelo mesmo sexo, serão homossexuais. 'Homossexuais não
praticantes', porque não devem fazer qualquer tipo de sexo. Com
relação ao desejo pelo mesmo ou por outro sexo, não há diferença
alguma. Ambos são problemas e obstáculos para a vida do monge. Com
relação a leigos, vai de acordo com a cultura onde esse leigo está
imerso. Em culturas onde a homossexualidade é vista como um
problema, apenas o fato do leigo estar em desacordo com o que é
socialmente aceitável pode trazer tensões desnecessárias e
problemas para este leigo. Se ele vai conseguir praticar ou não em
meio a essas tensões, depende só dele. Em todo o caso, seu refúgio
no Buda deve ser mais forte do que qualquer de suas inclinações.
(…)
É possível um
homossexual se tornar iluminado?
Isso já aconteceu,
pelo menos um dos 84 mahasiddhas de Chimpu era
homossexual. Embora isso fique subentendido no texto e não esteja
dito de forma direta, é a interpretação que qualquer professor
budista atual daria.
O homossexual que
supostamente alcançou a iluminação mencionado por você era um
homossexual “praticante” ou vivia em castidade?
O mahasiddha
não era um monge. Por outro lado, pensando melhor a respeito, embora
ele fosse um homossexual no caminho, ele não poderia ser um 'Buda
homossexual'. Isso porque o homossexualismo é uma propensão, um
hábito. As doutrinas eternalistas vão querer dizer que uma pessoa
'é' alguma coisa. Mas, segundo o budismo, todos nós já fomos todas
as coisas, inclusive homossexuais, e hoje talvez alguns de nós não
somos mais, nessa vida. Isso algumas vezes ofende algumas pessoas,
porque em geral se acredita que alguém 'é' alguma coisa. No máximo
a pessoa está, e um Buda nem mesmo 'está', para si próprio. Um
Buda não tem preferência de gênero, e se ele se engaja em
atividade sexual, é só para trazer benefício aos seres. Kukuripa,
outro mahasiddha, tinha uma cadela por namorada,
e seu amor por ela foi parte da prática espiritual que o levou a
iluminação. O mahasiddha gay tinha um namorado
também, mesmo depois de iluminado. Mas ele de forma alguma estava
preso ao arco-íris do sonho, que é totalmente impermanente. Em
outras palavras, não existe Buda com inclinações pessoais, apenas
inclinações em nome das necessidades dos seres. Portanto, tornou-se
um display
para ensinar pessoas com a mesma inclinação, para dar um exemplo
para elas, mas não algo que ele mantinha como um 'eu'. Da mesma
forma, se diz que o bodisatva Manjushri se
manifestou como uma mulher para seduzir um homem e dar um
ensinamento. Se o gênero ou a preferência sexual são hábitos mais
ou menos arraigados um que o outro, isso é difícil dizer. Mas, de
toda forma, são meros adornos num Buda—o que significa que ele só
manifesta qualquer coisa que ele manifesta, pelo outro, e não por
algo que ele possui em si como característica sua – o Buda é
vazio, portanto ele não pode ser inerentemente gay. Aliás, não só
o Buda, mas nenhum de nós. Isso tem uma implicação que
horrorizaria muitos gays e a maioria dos que erguem a bandeira gay.
Não que seja desejável, bom ou correto – mas alguém pode
deliberadamente, segundo o budismo, deixar de ser qualquer coisa,
inclusive homossexual. É preciso dizer isso não porque, repito,
seja algo louvável de qualquer forma uma 'terapia' que promova uma
mudança, mas porque a vacuidade, e a impermanência, são
realidades. Vamos colocar em outros termos: alguém pode também
deliberadamente se tornar homossexual, mesmo que isso não surja
naturalmente. É só criar os hábitos. Do ponto de vista de uma
identificação do eu com um hábito, a heterossexualidade é tão
ruim como o homossexualidade. Apenas apego e desejo, em sua maior
parte egoísta. É extremamente difícil, em qualquer dos mundos,
praticar a virtude – não é impossível, mas é difícil. O
homossexualismo tem um carma adicional, não tanto nesses tempos, mas
ainda em certa medida, de ser uma propensão que não segue o que os
outros esperam, em geral, da pessoa – daí o sofrimento, algumas
vezes tanta tensão até a pessoa assumir para si própria e para os
outros essa propensão sua. Mas isso de forma alguma é motivo de
recriminação com relação a alguém, é apenas para lembrar que,
se há maior dificuldade, essa propensão foi criada, possui
interdependência, com uma causa não-virtuosa – ainda que seja por
algum egoísmo, ainda que seja por uma mera identificação do eu. O
que não quer dizer que as propensões de heterossexuais não levem
também ao sofrimento. Todas as propensões são sofrimento. Com
certeza há homossexuais que sofrem menos com sua homossexualidade do
que heterossexuais sofrem com sua heterossexualidade – eu diria que
é mais raro – mas essa é uma mera circunstância – e que com
certeza todos que possuem uma propensão, sofrem com ela,
independente de que tipo de propensão seja. No entanto, mesmo
praticantes antigos gays que eu conheço tem dificuldade em
compreender suas propensões (um termo técnico, outra propensão é
o que nos fez nos conectar com a língua portuguesa e nascer num país
onde ela é falada, por exemplo) como impermanentes. Por isso as
propensões, principalmente se reificadas, são um obstáculo a
iluminação, porque há tamanha identificação do eu com algo. Eu
SOU isso, ou aquilo, não vai produzir a iluminação da pessoa.”
A resposta a esta
última pergunta pode ser entendida de modo equivocado por quem,
sendo LGBT e ativista, não seja um praticante budista. Ainda que ela
não tenha sido apresentada num modo mais sofisticado e contenha
algumas ideias contestáveis, representa a visão tibetana do
mecanismo mental que leva às muitas vidas que temos tido, onde uma
personalidade se desagrega após a morte, e outra passa a agregar-se
num novo renascimento. O Buda Gay que propomos, está mais de acordo
com o pensamento de Padma Dorje: um homossexual pode se tornar um
praticante, iluminar-se e não ter mais qualquer conexão com sua
sexualidade antes do Despertar Último (o Nirvana). É antes um gay
que se tornou um Buda mais do que a possibilidade de um Buda Gay. A
mesma construção mental vale para a ideia de um Buda Mulher, e há!
“O texto de
disciplina moral adotado pela Tradição Tendai, o Brahmajala-Sutra,
quando trata do terceiro preceito maior (Conduta Sexual Imprópria),
fala em 'engajar-se de forma promíscua em atos sexuais, incluindo
com animais, suas mães, filhas, irmãs e outras parentes próximas'.
Também diz que o bodhisattva não deve 'engajar-se em conduta
sexual imprópria com ninguém'. O que é conduta sexual imprópria?
O sutra não especifica.
Uma das
especificações mais claras vai aparecer na obra Suhrillekha
(Carta a um amigo) de Nagarjuna. Este texto, composto no
século II da Era Cristã era endereçado a Gautamiputra
Shatakarni da dinastia Shatavahana do Sul da Índia. No
sub-tópico sobre “Má Conduta Sexual” Nagarjuna escreve:
'O objeto da má
conduta sexual pode ser quaisquer dos seguintes: uma mulher com a
qual seja impróprio realizar atividade sexual; uma mulher com a qual
a atividade sexual seria permissível, mas a parte do corpo, o lugar
ou a ocasião sejam impróprios; outro homem ou pessoa sexualmente
deficiente.'
Realizando a
adequada exegese desse texto temos:
Mulher com a qual
seja impróprio realizar atividade sexual é toda mulher, no caso dos
celibatários, ou outra mulher que não sua esposa, no caso do
não-celibatário.
Mulher com a qual a
atividade sexual seja permissível mas a parte do corpo, o lugar ou a
ocasião sejam impróprios, se refere ao sexo anal (visto como uma
'imundície' no pensamento indiano ), ao sexo em público, em
templos, monastérios ou em momentos como o luto, práticas
religiosas, sexo não consentido, etc.
Outro homem, se
refere especificamente à prática homossexual e aqui não há
distinção entre celibatários e não-celibatários.
Pessoa sexualmente
deficiente são os hermafroditas, crianças cujo aparelho sexual não
tem a maturidade necessária para o ato, pessoas sem capacidade de
escolha, pessoas com problemas de deficiência nos órgãos sexuais,
más-formações, etc.
Aparentemente, temos
uma condenação explícita à homossexualidade, mas, a sequência do
texto derruba essa idéia:
'A concepção é o
reconhecimento, de forma não equivocada de qualquer dos objetos
entre os mencionados como tal.'
O 'reconhecimento de
forma não equivocada' é uma ‘concepção’ que, por sua vez,
pode ser de quatro tipos: conceber corretamente o objeto como sendo
aquilo que ele é; conceber aquilo que não é o objeto como sendo
tal; conceber aquilo que é o objeto como não sendo tal e; conceber
aquilo que não é o objeto como não sendo tal.
O homossexual não
concebe a alguém do mesmo sexo como o heterossexual. Concebe a
alguém do mesmo sexo como o heterossexual concebe a alguém de outro
sexo. Ou seja, do ponto de vista de Nagarjuna, heterossexual,
o homossexual concebe o objeto (alguém do mesmo sexo) como não
sendo tal.
Dessa maneira das
duas partes da intenção (concepção e motivação), a primeira já
exclui a semente volitiva da quebra de preceito.
Sendo assim, a
quebra de preceito referida por Nagarjuna ao rei Gautamiputra,
se refere ao heterossexual que, possuindo a concepção de que é o
objeto aquilo que ele é (ou seja, alguém do mesmo sexo), tem com
ele relações sexuais para aliviar sua lascívia. Esse é o caso de
presidiários ou outros indivíduos confinados que, sendo
heterossexuais e, na ausência do sexo oposto, mantêm relações
homossexuais tentando, às vezes, afeminar o parceiro, tendo plena
consciência de que ele é outro homem e, portanto, tendo a correta
concepção em relação ao objeto.”
Conclusão
Ainda que tenhamos
encontrado algumas discrepâncias e visões preconceituosas pontuais
em algumas escolas budistas, podemos dizer que, de maneira geral, o
Budismo é uma religião bastante amigável aos LGBT, e tende a
aumentar esta visão inclusiva nas próximas décadas, especialmente
no Ocidente, onde os direitos dos LGBT estão sendo cada vez mais
reconhecidos.
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Sobre o autor
Paulo Stekel é
jornalista, escritor, músico, poliglota, especialista em religiões,
tradições espirituais e línguas sagradas. Ativista LGBT focado na
relação entre homofobia e religião, é o criador do Movimento
Espiritualidade Inclusiva e possui quase uma centena de artigos sobre
espiritualidade, orientação sexual, homofobia religiosa e
espiritualidade inclusiva. É praticante budista desde 1995. Começou
praticando o Budismo Tibetano, mas hoje se considera um budista
independente, não atrelado a uma escola em especial. Contatos:
espiritualidadeinclusiva@gmail.com
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Referências da
web citadas no artigo e sugestões para consulta (Português e
Inglês):
"According
to Buddhist Tradition" - Gays, Lesbians and the Definition of
Sexual Misconduct: