terça-feira, 14 de agosto de 2012

A visão da Homossexualidade na Fé Bahá'í


Por Paulo Stekel


Sempre tive alguma simpatia pela Fé Bahá'í. Mas, depois de alguma pesquisa, seguiu-se a decepção. Como ela mesma se define em seu website oficial em Português (http://www.bahai.org.br):

“É uma religião mundial, independente, com suas próprias leis e escrituras sagradas, surgida na antiga Pérsia, atual Irã em 1844. A Fé Bahá’í foi fundada por Bahá’u’lláh, título de Mirzá Husayn Ali (1817-1892) e não possui dogmas, rituais, clero ou sacerdócio.

A Comunidade Bahá’í, com aproximadamente 7 milhões de adeptos, é a segunda religião mais difundida no mundo, superada apenas pelo Cristianismo, conforme afirma a Enciclopédia Britânica. Os bahá’ís residem em 178 países do mundo, em praticamente todos os territórios e ilhas do globo.

A Comunidade Bahá’í está estabelecida no Brasil desde fevereiro de 1921, com a vinda da Sra. Leonora Holsapple Armstrong.

Mas, o que ensina a Fé Bahá'í? O mesmo website esclarece:

A Unidade da Humanidade: "... hoje todos os horizontes do mundo estão iluminados com a luz da unidade... fomos criados para levar avante uma civilização em constante evolução..."

A livre e independente busca da verdade: "A luz é boa, não importa em que lâmpada brilhe... uma flor é bela, não importa em que jardim floresça..."

A eliminação de todas as formas de preconceitos e discriminação: "...somos as folhas e os ramos de uma mesma árvore... as gotas de um único mar..."

A igualdade de direitos e oportunidades para o homem e a mulher: "A humanidade assemelha-se a um pássaro, uma asa é o homem e a outra, a mulher. O pássaro não pode alçar vôo sem o equilíbrio dessas duas asas..."

A harmonia essencial entre a religião, a razão e a ciência: "A verdade é uma só e é indivisível... o progresso da humanidade depende desses fatores..."

Educação compulsória universal: "O homem é uma mina rica em jóias de inestimável valor, a educação, tão somente, poderá fazê-la revelar seus tesouros..."

A revelação divina é progressiva: "Deus é um, a religião é uma, a humanidade é uma... o objetivo da criação humana é conhecer e adorar a Deus... Todas as religiões provêm de um mesmo Deus..."

(Todas as frases entre aspas citadas nesta página, são Sagradas Escrituras Bahá'ís)

Com toda esta proposta praticamente “universalista” seria de imaginar que a Fé Bahá'í seja uma religião inclusiva para LGBTs. Correto? Não.

Eu mesmo fiz um curso de oração com os Bahá'í há cerca de 20 anos, e percebi que não se tratava de uma religião inclusiva. Apesar de ter corrigido em sua doutrina muitos erros que as demais religiões insistem em manter, no tocante aos gays a Fé Bahá'í mantém a tendência judaico-cristã-islâmica de considerar a prática homossexual um pecado ou um ato reprovável, ainda que se “ame o pecador”, clichê típico dos fundamentalistas cristãos brasileiros.

Não é muito difícil provar que a visão Bahá'í da homossexualidade é tão preconceituosa quanto a cristã, e o faremos citando trechos de vários links Bahá'ís disponíveis.

Comecemos pelo que diz a Wikipédia, a enciclopédia livre, no link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homossexualidade_e_a_F%C3%A9_Bah%C3%A1%27%C3%AD:

“A Fé Bahá'í define que a expressão sexual é aceitável somente dentro do casamento, e os escritos Bahá'ís relativos ao casamento definem exclusivamente o casamento entre um homem e uma mulher. Reforça ainda a importância da castidade absoluta para qualquer pessoa solteira.

Referências sobre a homossexualidade na Fé Bahá'í descrevem como uma condição em que um indivíduo deve controlar e superar. Os Bahá'ís são livres para ensinar da maneira que achar melhor, e é reconhecido ser condenada a discriminação contra qualquer pessoa para abraçar a Causa Bahá'í, sejam homossexuais, alcoólatras ou agente de outras trangressões, mas serem apenas avisados que, ao se tornarem Bahá'ís, estão automaticamente procurando se adaptar ao padrão de vida 'designado por Deus'.

(…) Quando um indivíduo homossexual se torna Bahá'í ou se é descoberto posteriormente que um indivíduo Bahá'í é homossexual, esse assunto é tratado em particular com as Assembléias Espirituais Locais. As AELs irão procurar ajudar o indivíduo a superar suas dificuldades, entretanto, nem os indivíduos, nem as instituições podem investigar a vida de outra pessoa. Somente quando alguma trangressão aos ensinamentos Bahá'ís estiver exposta ou prejudicar de alguma forma as instituições ou outros indivíduos, é que a AEL deve tomar alguma providência. É comumente deixado à consciência individual em relação aos seus atos e espera-se que com o tempo Deus possa ajudá-la a superar alguma dificuldade.

(…) A Fé Bahá'í muitas vezes recebe críticas de pessoas que defendem ou consideram a prática da homossexualidade moralmente correta.

(…) Os Bahá'ís costumam expressar que a prática homossexual é condenável, não o homossexual ou a homossexualidade.

"Não obstante quão belo e devotado o amor entre pessoas do mesmo sexo possa ser, permitir que ele se expresse através de atos sexuais é errado. Afirmar que esse amor é ideal não é desculpa. Bahá'u'lláh efetivamente proíbe toda a sorte de imoralidade, e Ele assim considera as relações homossexuais." (Resposta de Shoghi Effendi para um indivíduo, 26 de março de 1950, citado em Lights of Guidance)”

Aqui, já teríamos a tônica da visão Bahá'í da homossexualidade. O ato homossexual é considerado LITERALMENTE errado nas Escrituras Bahá'ís.

No website Vida Bahá'í, no link http://www.vidabahai.com/homossexualismo, lemos sobre a homossexualidade e a transexualidade:

“Hoje existe uma consciência mundial quanto à importância da preservação do meio ambiente e dos recursos naturais. Entendermos que o maior recurso da natureza é o próprio homem. Ele, também, precisa ser preservado contra uma série de agressões e distorções e, relação a sua própria essência. A homossexualidade é uma das distorções que afeta milhões de pessoas no mundo. Homossexualismo é um ato contra a natureza humana, e qualquer atitude contra a natureza, seja natureza mineral, vegetal, animal ou humano causa desequilíbrio no eco-sistema.

De acordo com as escrituras da Fé Bahá'í "homossexualidade não é uma condição com qual alguém se deva reconciliar, mas, sim, é uma distorção da natureza dele ou dela, que deveria ser controlada e superada". Com essa visão "muitos problemas sexuais, tais como homossexualidade e transsexualidade, e, em tais casos, certamente se deveria recorrer à melhor assistência médica".

Uma pessoa pode apresentar um comportamento homossexual, devido às alterações na produção de hormônios controladores das características sexuais do indivíduo; ou, quando a pessoa o adquire como um hábito, através das pessoas de seu contato. Neste caso, "os estados de sentimentos são, forçadamente, mal direcionados". Existem tratamentos para cada uma das modalidades do problema. O objetivo é aproximar a solução e o tratamento mais correto. O ideal é que o tratamento seja feito sob dois aspectos - clínico e espiritual. Segundo Dr. G. S. Larimer, no tratamento clínico a maioria dos psicoterapeutas considera o homossexualismo como um distúrbio de caráter e não uma doença emocional. Assim, a modalidade padrão de tratamento para a maioria dos profissionais é meramente ajudar o homossexual a se ajustar aos comportamentos existentes nele ou nela. Contudo, tal meta para o tratamento é inadequada.

O objetivo deve ser a modificação do comportamento, e não simplesmente ajudar a pessoa a se adaptar a sua situação. Ele confirma que atualmente existem várias terapias que produzem resultados aceitáveis, entre elas, a Análises Transacional e Terapia de Atuação.

(…) O homossexual deve ser compreendido, aconselhado e modificado. E para isso os pais, os educadores e os médicos têm maior responsabilidades, para livrarem a sociedade deste mal e ajudarem as pessoas a superarem esse obstáculo.”

[Texto de autoria de Felora Daliri Sherafat]

Observem os termos relacionados a homossexualidade e transexualidade: “agressões”, “distorções”, “ato contra a natureza humana”, “problemas sexuais”, “mal”, “obstáculo”.

Pasmem! Uma religião pacífica que tem sido perseguida há décadas no Irã, com milhares de mártires desde sua fundação, usa termos deste tipo para se referir a uma categoria de seres humanos? É, realmente, uma decepção! Vemos que, no final da contas, a visão Bahá'í da sexualidade LGBT é a mesma do Islamismo, faltando apenas a perseguição e a morte de gays... Inadmissível sob o ponto de vista da inclusão que defendemos!

Em outro artigo (http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_15877/artigo_sobre_homossexualismo_-_como_a_tendencia_homossexual_se_desenvolve?), a Bahá'í Felora Daliri Sherafat, que ao final é citada como pertencendo ao Instituto de Desenvolvimento da Nobreza Humana (homossexuais não são nobres, então?), pretende demonstrar como alguém se torna homossexual:

“(...) Uma pessoa não desenvolve o sentimento de homossexualidade do nada. Vários fatores desde o nascimento colaboram para formação de sentimentos sobre o sexo e do estado mental de definição sexual. A questão do sexo e da atração sexual se constrói pela experiência emocional que a pessoa viveu desde o momento do nascimento. Vamos ver alguns exemplos.

Tem muitas mães que brincam com o pinto de seu filho pequeno, na maior inocência, mesmo assim, isso afeta a sensualidade do bebê. Nesse caso, a sensualidade se confunde com a afetividade materna. Normalmente, tal criança quando se torna um adolescente terá problemas, se tornando às vezes muito obsessivo por sexo, e em outras vezes contra o sexo feminino. Tem mães que elogiam muito seu filho e o seu órgão masculino. Esta criança também terá problemas. Existem muitas distorções na natureza da criança causadas inconscientemente pelas mães, resultando em pessoas com uma variedade de problemas de ordem sexual.

Outra situação muito comum: as crianças, quando pequenas, gostam de mexer com seu órgão sexual, especialmente os meninos. Caso se deixe dois meninos juntos, eles podem sem perceber começar a brincarem juntos. Acontece que o sentimento e a emoção que gozam, suas mentes gravam. A mente cria a memória sexual e registra as primeiras sensações do prazer sexual, que foi feito junto com outro menino, isso é, com uma pessoa do mesmo sexo. Sendo assim, e com repetição de experiências semelhantes, estes dois meninos terão grandes chances de se tornarem homossexuais, por força desta memória.

(…) Existe outra categoria de atitudes erradas dos pais que indiretamente concorre para a má formação sexual dos adolescentes. São os casos que interferem na mente da criança e podem gerar um sentimento homossexual.

Por exemplo, a mãe que se produz muito, fala da sua beleza e de suas conquistas a parir desta, sem saber que pode criar na pequena cabeça de sua filhinha uma atração por beleza da mulher e sua memória gravar estes momentos da glória da mãe. Portanto, esta menina eventualmente ao crescer pode sentir atração por beleza feminina. As atitudes desta natureza de uma mãe também podem afetar a mente de um menino. O menino poder gostar do jeitinho da mãe e querer se produzir como ela, e assim ao crescer esta fantasia o acompanha e se desenvolve no seu interior.

(…) A agressividade do pai também pode causar o sentimento de fragilidade dos meninos pequenos, de modo que estes passem a se sentir dominados por sexo masculino, e mais tarde, ao crescer, assumirem o mesmo sentimento pelo sexo masculino e se colocarem à disposição de outros homens.”

Não lhes parece quase um discurso de Bolsonaro??? Foi a primeira impressão que tive ao ler estes absurdos recheados de conclusões infantis sobre a sexualidade humana.

No FAQ do website Bahá'í em Portugal, mais uma vez a palavra oficial (http://www.bahai.pt/faqs/home#FAQ20):

Qual a atitude dos Bahá’ís face à homossexualidade?

A lei Bahá'í define que as relações sexuais apenas devem realizar-se entre um homem e uma mulher, unidos pelo casamento. Os crentes devem abster-se de sexo fora do casamento. Os Bahá'ís não tentam impor os seus padrões morais sobre aqueles que não aceitarem a Revelação de Bahá'u'lláh. Apesar de exigirem rectidão em todas as questões de moralidade, seja sexual ou outra, os ensinamentos Bahá'ís também têm em conta a fragilidade humana e apelam à tolerância e compreensão em relação às falhas humanas. Neste contexto, olhar para os homossexuais com preconceito seria contrário ao espírito dos ensinamentos Bahá'ís.”

Ah, sim. Se, referir-se à homossexualidade com os termos usados pela Bahá'í Felora (“agressões”, “distorções”, “ato contra a natureza humana”, “problemas sexuais”, “mal”, “obstáculo”) não é preconceito, é o que, então??? Jogo de palavras que tenta desviar o foco do homossexual para o ato homossexual, como se ato e indivíduo pudessem ser separados, quando estamos tratando de uma condição de identidade, e não de moralidade!

Mas, a sutileza vai mais longe. Na Bahaikipedia (http://pt.bahaikipedia.org/Leis) é dito o seguinte sobre o casamento homossexual:

“No Kitáb-i-Aqdas o casamento é fortemente recomendado, porém não obrigatório. De acordo com os ensinamentos Bahá'ís, a sexualidade é tida como natural e uma extensão do casamento. Entretanto, as relações sexuais são permitidas somente entre homens e mulheres casados. Isto infere a proibição do casamento homossexual ou a poligamia ou qualquer outra relação sexual fora do casamento. Entretanto, o preconceito contra não-bahá'ís que optam pelo homossexualismo é considerado crime.

Os Bahá'ís podem casar quando atingem a idade da maturidade (que se fixou em 15 anos), sendo que as leis civis de cada país devem ser obedecidas. É necessário também o consenso dos pais biológicos de ambos os nubentes para que se casem. Para que se realize o casamento, é também requisitado que se pague um dote (do noivo para a noiva) de 19 mithqáls em puro ouro, o mesmo valor se fixa para os habitantes das aldeias, mas em prata. O casamento inter-religioso é permitido e incentivado. O divórcio é permitido, embora desencorajado, é concedido após um ano de separação, se o par for incapaz de reconciliar suas diferenças.”

Mais semelhanças com o Islamismo, inclusive na interdição ao casamento homossexual...

No final das contas, chegamos à conclusão de que praticamente todas as religiões teístas, antigas ou modernas, guardam um preconceito intrínseco quanto à diversidade de orientações sexuais, o diferente, o não-heteronormativo e qualquer padrão de comportamento não alinhado com o velho machismo patriarcal. O Bahaísmo tem uma inegável conexão doutrinária com o Islamismo, e vemos que o preconceito patriarcal contra a diversidade LGBT se mantém de maneira intocada, a despeito da inexistência da agressão física contra gays... Uma lástima para uma religião que, não fosse isso, teria boas condições de levar a humanidade a uma unidade definitiva...

3 comentários:

Conselho dos Sábios disse...

Nossa.. um monte de baboseiras.. uma psicologia de botequim e lugar comum, como "a mãe brinca com o pênis do filho e logo a sexualidade se distorce". Chorei com essa....

Os iranianos estão muito mal servidos!

Já conhecia a visão dos Bahai... Isso só prova que essa coisa de "amamos toda a humanidade" é PURA BALELA

Espiritualidade Inclusiva disse...

Pois é, Revolucionário!

Muito me admira uma religião que tem uma proposta universalista e é atacada com pena de morte no Irã ser tão preconceituosa para com outros seres humanos por conta da orientação sexual com a qual nasceram e a qual não podem mudar, porque é algo tão natural quanto a heterossexualidade.

Os Bahá'í são mortos no Irã simplesmente por professarem sua religião, e eles chamam os gays dos adjetivos que você leu no artigo também simplesmente por serem gays, por terem nascido gays, embora a doutrina Bahá'í ache que é algo que possa ser mudado ou abafado por técnicas autoflagelantes que só são aceitas por quem acredita na "cura gay", a falácia sexual do século!

Nosso repúdio ao obscurantismo medieval ainda presente nas religiões teístas!

Eraldo disse...

Realmente vcs acham que o ato homossexual normal? Essa desculpa que qualquer forma de amor, seja ela entre homem e mulher e pessoas do mesmo sexo é valido, não cola! Podemos e devemos amar a todos mas não podemos resumir o amor ao ato de fazer sexo. Eu amo minha mãe, meu pai, meu irmão e irmã, meus amigos, conhecidos, primos mas, isso não quer dizer que para demostrar esse amor tenho que praticar sexo com eles. Se o relacionamento sexual entre pessoas do mesmo sexo fosse normal nós teríamos nascido com os dois órgãos genitais! Temos o dever de respeitar o outro independentemente da orientação sexual!