quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

[Editorial] Ser Gay: o peso da discriminação


Por Paulo Stekel


Nestes últimos meses, em especial em novembro e dezembro, estive um tanto afastado das atividades do Movimento Espiritualidade Inclusiva e, mais ainda, das atualizações do blogue. O motivo foi familiar, já que perdi um irmão muito querido em uma tragédia. Depois disso, alguns ajustes foram necessários, o que me tomou mais tempo, sem contar a assimilação do que ocorreu. A morte, por mais que saibamos ser a única coisa certa após o nascimento, sempre desestabiliza a todos nós em alguma medida.

A propósito, a homofobia – discreta ou declarada – também tem a propriedade de desestabilizar qualquer um, por mais firme que alguém esteja em sua identidade e dignidade. Vejo isso a todo o tempo com meus amigos e amigas da comunidade LGBT, e mesmo na própria pele pude sentir isso ultimamente...

O processo do “ser gay” passa por várias fases: o descobrir-se, o aceitar-se, o identificar-se e o sentir-se digno, apesar do preconceito da sociedade. Cada pessoa LGBT passa por estas fases de um modo muito particular, e muita gente nunca chega à última.

A descoberta tem a ver com comparações de si mesmo e de seus desejos e sensações com os de outras pessoas do mesmo sexo. A aceitação tem a ver com um não poder mais negar a si mesmo que algo diferente da maioria acontece. A identificação com outros semelhantes ajuda a gerar a identidade “gay”, não padronizada, mas peculiar, ainda que LGBT na essência. A dignidade, por fim, tem a ver com o entendimento de que se é um ser humano como qualquer outro, não se justificando aceitar qualquer tipo de discriminação.

Passei por mais um teste desta última fase nas últimas semanas. Percebi a sutileza guardada pela homofobia familiar, instigada por doutrinas diabólicas de fundamentalistas evangélicos. O mais interessante é que, em todos os casos, o indivíduo gay é considerado impuro, sujo, pecaminoso, mas seu dinheiro é aceito de muito bom grado... Hipocrisia infernal! Nas famílias, em geral, por saber-se naturalmente o quanto os filhos gays cuidam de seus pais com responsabilidade, muitos se aproveitam disso e, nas horas mais graves, somem-se os filhos heterossexuais e restam apenas os gays para garantir a dignidade aos pais. Dignidade, aliás, que a estes filhos mesmos é negada... Não há nada de divino nesta relação de interesse. Por isso, a abomino e a desmantelo colocando todos os pingos nos “is” e exigindo minha dignidade por direito. Parece estar funcionando... mas ainda resta o peso da discriminação, que podemos sentir nas palavras não ditas e nos desvios calculados...

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No dia 13 de dezembro nosso blogue completou seu primeiro ano, bem como o próprio Movimento Espiritualidade Inclusiva. Fizemos muita coisa neste tempo. Vamos a uma pequena retrospectiva:

Em janeiro, tivemos duas atividades inseridas no Fórum Social Temático, uma em Porto Alegre e outra em Canoas, no RS (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/01/evento-palestra-sobre-espiritualidade.html).

Em fevereiro, fomos os primeiros a noticiar um caso de homofobia em Minas Gerais, e nosso artigo foi reproduzido por várias mídias LGBT de lá (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/02/homofobia-me-machuca-ou-mais-uma.html).

Em março, o Movimento Espiritualidade Inclusiva participou da 1ª Marcha das Mulheres em Eldorado do Sul – RS (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/03/evento-palestra-de-espiritualidade.html).

Em maio, o Movimento Espiritualidade Inclusiva entrou em processo de instalação de coordenadorias estaduais e municipais; participou como debatedor no Cine LGBT na 28ª Feira do Livro de Canoas – RS; foi recebido pelo representante da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual, uma coordenadoria recente ligada à Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos e criada pelo atual governo gaúcho (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/05/noticia-movimento-espiritualidade.html).


Em agosto, o jornalista e coordenador do Movimento Espiritualidade Inclusiva, Paulo Stekel, debateu o tema “Saúde Espiritual da Pessoa LGBT através da Inclusão”, dentro da 8ª Semana do Orgulho de Ser, no auditório da Faculdade Santo Agostinho (Teresina – Piauí) – ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/08/saude-espiritual-religiao-e-cidadania.html.

Em setembro, foi criado o Grupo de Encontro em Porto Alegre – RS (ver: http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/09/evento-participe-do-primeiro-grupo-de.html).

Em dezembro, o Movimento foi uma das três entidades da sociedade civil envolvidas na organização da 4ª Parada Livre de Canoas.

Em 2013, queremos continuar ampliando o número de Grupos de Encontro e o ativismo pró-LGBT, especialmente através de ações de enfrentamento da homofobia religiosa, que parece ter aumentado consideravelmente em 2012.

Um de nossos objetivos para o próximo ano é o lançamento de um livro sobre Espiritualidade Inclusiva, aliás, o primeiro sobre o assunto em Língua Portuguesa. Aguardem!

Outro objetivo importante, é a realização do 1° Seminário de Espiritualidade Inclusiva, que ocorrerá provavelmente em Porto Alegre – RS, mas ainda sem data definida.

Então, só nos resta dizer que estamos de volta e... Feliz Ano Novo a todos e a todas!!!!


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

2012 - o ano em que o mundo acabará. Mesmo!


Por Marcelo Moraes Caetano

Stanley Kubrick ficou famoso por “2001, uma odisseia no espaço”, seu filme antológico com um quê de apocalíptico, tântrico, alucinatório, profético.

O homem sempre teve afeição pela previsão do futuro. Todas as religiões, sem nenhuma exceção (das que eu conheço no mundo, naturalmente), possuem profetas, vates, leitores do futuro.

Os maias e os egípcios, segundo está na mais alta voga comentar agora, previram o fim do planeta Terra no ano 2012, com uma precisão – ao que consta – assustadoramente milimétrica, chegando a dizer, segundo os mais vorazes defensores do vaticínio maia-egípcio, além do ano 2012, também o mês, o dia, a hora e os segundos em que o armagedon teria lugar.

Profetas e profecias à parte, farei algo mais simples: ao invés de olhar para a frente e tentar dizer o futuro, olharei para trás, e profetizarei, no passado, o fim do mundo.

O mundo que todas as pessoas com pelo menos dez anos de idade viram já acabou, e veio acabando não num grande e abrupto apocalipse de dimensões dantescas, mas em sub-reptícias e homeopáticas hecatombes nossas de cada dia.

2001 – ei-lo de novo – foi o “marco zero” do povo americano, por exemplo. O atentado às torres gêmeas, no entanto, não foi, como alguns propalam, o início do fim, mas, inversamente, foi a comprovação da fragilidade do neo-império romano que vinha ruindo há décadas. A onipotência estadunidense, assim como outrora fora a do Senatus Populus Que Romanus, o SPQR, nome oficial do império de Júlio César, Calígula, Nero, Constantino et alii, tal onipotência, nos dois casos, “como tudo o que começa, um dia chega ao fim”, no famoso aforismo de Tales, da Escola de Mileto.

Esse é o conceito de “entropia”, segundo o qual, repito, “tudo aquilo que nasce deve morrer”. Não é diferente com as nações e os impérios. Sou professor de filosofia grega, filologia e gramática. Muitos alunos, nas universidades, me perguntam por que a grande Grécia Ático-Jônica, ou Grécia Clássica, acabou. Eu respondo sempre: por uma razão muito simples. Assim como ela nasceu, do mesmo modo teve de morrer. A entropia não é privilégio ou exclusividade dos corpos biológicos; ela também está presente nas corporações (a literatura de Administração me confirma), nas instituições, nos países, nos planetas, no próprio universo, se ele realmente teve um início, algo de que os astrofísicos ainda não têm muita certeza.

A crise do “2001”, o “11 de setembro”, não foi o início do fim, digo mais uma vez. E faço isso porque, se retrocedermos – não muito, não é preciso – veremos que a derrocada da economia estadunidense se deu quando um certo continente (Europa) resolveu unificar sua moeda (para atual desespero dos mais fracos, e até dos mais fortes, que se viram esmagados pelo desequilíbrio monetário); unificada a moeda, algo que nem assustou tanto a superpotência norte-americana, um certo Sadam Hussein resolveu vender petróleo para a Europa – até aí, nenhuma novidade -, mas – eis o início da vertiginosa queda americana – esse tal senhor Hussein vendeu o “precioso líquido”, o “ouro negro”, o “sangue do planeta” (e todos esses epítetos hilariantes do petróleo), enfim, Sadam decidiu-se a vender o petróleo para os europeus EM EURO!

Paralisia em Wall Street. Dois muros caíram. O muro de Berlim e o muro da “wall” (“parede” ou “muro”, em inglês) street... Comunismo e capitalismo, dois sistemas baseados em totalitarismos (um, do dinheiro; o outro, do Estado) caíram, “coincidentemente”, juntos em uníssono, entoando a mesma cantilena fúnebre.

A venda do petróleo em euro tornou a moeda norte-americana vulnerável porque comprovou o que o Fort Knox só nos fazia suspeitar: o dólar não tinha lastro. Era papel inócuo. Folhas ao vento.

Não foi por outra razão que Bush não pôde descansar, certamente pressionado pelos especuladores da economia da época, enquanto não teve, literalmente, a cabeça de Hussein, fingindo que estava procurando armas químicas, nucleares, de quasares, magnetares, pulsares, supernovas e outras tantas de mera ficção científica que, até hoje, não foram encontradas. Simplesmente porque não existiam. Procurá-las foi um pretexto para caçar a cabeça do homem que arrancou a maquiagem do dólar a marretadas.

Quero dizer algo muito simples, para cujo preâmbulo me vali da nação estadunidense: o mundo já acabou. O mundo como o conhecíamos em 2000 acabou completamente. É outro totalmente distinto.

Ainda nas plagas dos E.U.A., ora cantando as merecidas loas de um povo, afinal, com História de democracia e conquistas importantes, a chefia da Casa Branca ser exercida por um homem negro descendente de médio-orientais é uma façanha que nenhum Kubrick ousaria colocar em seus roteiros mirabolantes.

Além disso, vários líderes de grandes potências, como o Brasil e a Alemanha, são mulheres. Precisamos reconhecer que Tatcher foi uma precursora nesse quesito.

“O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão” – gritou Antônio Conselheiro na pena magistral do nosso Euclides da Cunha, em 1902, no seu épico “Os sertões”. Pois essa reviravolta já ocorreu.

Além dos negros e das mulheres, por tantos e tantos séculos ultrajados, outros grupos ganharam voz e vez. O povo do Oriente Médio repudiou seus ditadores e os tirou de cena. Os homossexuais no mundo inteiro vêm, pouco a pouco, rasgando livros fundamentalistas X, Y ou Z e fazendo valer seus direitos de cidadãos que se consubstanciam nos seus deveres de cidadãos. Voltamos, pois, à era napoleônica, à era da lei civil laica. Ela está gritando cada vez mais alto, e cada vez angariando mais pessoas de bom senso que não aceitam que um cidadão tenha sua vida íntima remexida como se o Estado, a igreja ou o que quer que seja possuísse o condão, a vara de Armida de cobrar impostos iguais, mas dar direitos diferentes.

Victor Hugo e Castro Alves sentiriam náuseas.

Napoleão falou, quando estava em Santa Helena: “De todos os meus feitos, o que mais será útil à humanidade será o meu código civil”. Por isso o código civil recebe o codinome de “código Napoleão”. O corso estava certo: é preciso dar aos cidadãos a força da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, e não tratar pessoas de modo diferente pelo que elas fazem entre quatro paredes.

Sempre que se toca nesse assunto surge a antiga litania: "Mas e a liberdade de expressão?" Queridíssimos, Adolph Hitler teve liberdade de expressão, em nome do Estado, e evocando as forças do Asgard, para trucidar judeus, homossexuais, testemunhas de Jeová, ciganos e deficientes. Essa liberdade de expressão é legítima? Estava escrita na lei (as leis de Nuremberg), portanto era respaldada por um "direito" positivo ao gosto de Kelsen. Mas pergunto de novo: foi uma liberdade de expressão legítima? Queremos ou devemos repetir um erro tão grosseiro incorrendo na mesma exata estupidez de forjar uma pretensa liberdade de expressão que não passa de eufemismo para autoritarismo, insanidade, loucura e demência?

Bem, bem, bem, mas, para desespero das ortodoxias fundamentalistas e dementes supracitadas, o mundo já está enxergando isto: "gente é para brilhar", como canta o belo baiano Caetano Veloso. Os que são contra negros, mulheres ou homossexuais, por exemplo, são vistos, pela maioria da população global, como tiranossauros rex, como seres jurássicos, como subprodutos de uma comédia mal-ajambrada e de um simulacro de um dogma esmaecido pela ferrugem da estupidez.

Hoje, a maioria de nós não é mais manipulada pela mídia, impressa ou televisiva ou radiofônica. Temos acesso às informações VERDADEIRAS pelas redes sociais, pelos Wikileaks, sediada na forte Suécia – viva a Suécia do meu queridíssimo Carl Philip Edmund Bertil Bernadotte! Hoje, sabemos o que queremos saber. Se quisermos saber as verdades, sabê-las-emos. Hoje, não ficamos mais como navios a bel-prazer dos ventos que a mídia de outrora quisesse soprar. Hoje, fazemos nossos próprios Zéfiros, e sopramos para onde queremos. A mídia, inversamente do que acontecia há cerca de 10 anos, hoje se curva a nós, que de “espectadores” não temos muito a não ser o velho “título”. Somos agentes. Viemos, vimos, vencemos. Derrubamos a mídia com um belo “V”, de vingança, naturalmente...

Essas mudanças de que falei não são perfunctórias, superficiais. Pelo contrário: são profundas, se enraízam no cerne da questão de que o mundo que conhecíamos há 10 anos, o “marco zero”, o “2001” de Kubrick e de Bin Laden, aquele mundo acabou. O mundo acabou e muita gente não percebeu.

Os maias e os egípcios teriam dito que o mundo acabaria em 2012. Eles foram incrivelmente precisos, erraram por poucos anos. Talvez nem tenham errado. Com a mudança do calendário juliano para o gregoriano, muitas datas foram alteradas. Ademais, o ano lunar possui 13 meses, e não 12, e os maias se baseavam no ano lunar, então, seus cálculos são diferentes. Os egípcios usavam o calendário solar, de 12 meses exatos, de 30 dias exatamente cada um. Os hebreus, que nos legaram nosso atual calendário, usavam uma mescla dos dois calendários, o chamado calendário lunissolar, de 12 meses com 28, 30 ou 31 dias, e, a cada 4 anos, havendo a necessidade do ajuste de um mês com 29 dias (aliás, o povo hebreu também tem uma profecia na Torá: “A mil chegarás, de dois mil não passarás”).

Enfim, não passamos de 2000. O “2001”, tão emblemático, foi o fim do mundo, mas um fim lento...

Como gostamos de dar datas específicas aos acontecimentos, do mesmo modo que gostamos tanto de profetizar o futuro (e o passado...), que o dia 31 de dezembro de 2012 seja considerado como histórico. Que seja “2012: o ano em que o mundo acabou”. O mundo azinhavrado acabou. Jaz inerte e e incônscio.

O mundo novo que nós próprios fomos construindo (e tenho muito orgulho, modéstia à parte, da minha geração, que não teve vergonha de pintar a cara e derrubar onipotentes presidentes, igualar direitos), esse mundo que nós fizemos é um mundo novo. Não um “admirável mundo novo”, nem um “big brother” de “1984” de George Orwell. Embora seja um pouco disso também.

Mas entre perdas e ganhos, houve mais ganhos. Um mundo em que a mente e o raciocínio claro e justo estão finalmente vencendo o obscurantismo de livros velhos e mofados. Um mundo em que as pessoas estão vendo que o dinheiro é relativo e não compra as hipotecas estadunidenses especulativas e falaciosas, assim como não compra o que há de fundamental na vida: amizade, amor, fraternidade e ternura.

Um mundo em que as pessoas não têm vergonha de dizer “eu te amo”. Eu, pelo menos, escuto e falo essa frase diariamente, com pessoas diferentes envolvidas no meu diálogo. E creio que eu não seja o único. E creio, ainda, que quem não escuta e não fala não sabe o que está perdendo.

O mundo acabou. Viva o fim daquele mundo arranhado por milênios de descomunicação! Graças a nós! Viva o ser humano e todas as espécies benéficas que convivem conosco nesta nave-mãe que nos adotou e que singra o universo conosco numa linda odisseia no espaço!

Vivam os seres humanos que com brio e destemor fazem acabar o mundo das angústias e ausências de diálogos para fazer nascer a flor: do impossível chão.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Homossexualidade, Catolicismo e Liberdade

Por Marcelo Moraes Caetano


Sou católico por formação e por tendência, universalista e agregador por vocação, e, exatamente por isso, parece-me extremamente necessário apontar falhas nas folhas (o trocadilho dos significantes não é fortuito) da árvore que integra o rol da religiosidade humana.

Em recente leitura publicada em site católico, em texto homônimo ao título deste, escrito por Pe. Dr. Helio Luciano (em: http://www.catedralflorianopolis.com/site/noticia.php?cod=186), eu vi-me premido ao esclarecimento de inúmeras falácias, que pretendo enumerar gradativamente, apontando-lhes os pontos falhos.

Em primeiríssimo lugar, no segundo parágrafo, erra gravemente o articulista quando afirma: “Por outro lado, da parte dos que defendem a homossexualidade, não pode existir uma ditadura que condene de imediato as opiniões contrárias àquelas que eles defendem”. O fato é que homossexualidade não é uma “opinião”, não se trata de uma ideologia, mas de um elemento intrínseco à natureza da pessoa. Não se pode dizer que ser negro, indígena, mulher, por exemplo, sejam “opiniões” que a pessoa tem, porque, em vez disso, trata-se de maneiras como a natureza quis que o ser humano se manifestasse na diversidade, não no unitarismo. “Ditadura” seria, isso sim, querer obscurecer essas e outras manifestações da pluralidade no mundo.

Em segundo lugar, o senhor articulista pretende defender “racionalmente” que o comportamento homossexual é contrário ao “modo próprio de ser” (sic). E arremata: “Sem nenhuma intenção de ofender às pessoas que tenham essa tendência, parece-me claro que o que sentem é uma atração sexual – quase sempre reduzida apenas a essa dimensão. Acaso o amor não é mais que a mera sexualidade?” Antes de tudo, o uso da racionalidade para distinguir amor de atração sexual é, no mínimo, pândego, uma piada das mais jocosas de que se já teve notícia. Ora, o senhor doutor Helio, teólogo que é, deve saber (ou deveria) que há searas humanas para cujo discernimento a racionalidade não é, nem de longe, a fonte de melhor clareza. A fé, por exemplo, é suprarracional, e o amor, certamente, também o é. Como pode esse senhor achar-se conhecedor do que é e do que não é amor? O próprio Blaise Pascal tem um aforismo célebre: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Não lhe parece, senhor, um pouco de soberba excessiva arrogar para si o conhecimento “racional” do que é e do que não é amor? O senhor acha mesmo que julgará com “razão”, unicamente, um assunto do coração? Imagine quão hilariante seria se alguém tentasse descrever a fé única e exclusivamente por meio da “razão”.

Quando o senhor parte à tentativa de conceituação da homossexualidade tendo como premissa a atração sexual, então, está incorrendo no maior dos irracionalismos, pois, inclusive, há amor sem atração sexual, e isso, portanto, também ocorre no amor entre pessoas do mesmo sexo, que são pessoas como outras quaisquer, “sujeitas às mesmas alegrias, dores e gozos de todo e qualquer ser humano”, parafraseando Simone de Beauvoir a respeito da homossexualidade, em seu livro célebre “O segundo sexo”.

Continuando seu amontoado de falácias e sofismas, o doutor teólogo afirma que sua tese é correta baseada no seguinte “raciocínio”: “Uma prova do que disse antes, é que existem apenas 60 mil pessoas no Brasil que se “casaram” com pessoas do seu mesmo sexo. Não chega a 0,04% da população brasileira. Perdoem-me a ironia, mas existem mais pessoas com a “unha encravada” que casais homossexuais e nem por isso temos leis que defendam as pessoas com “unha encravada”.

Senhor, se há tão poucos casais homossexuais no Brasil, não será exatamente por causa da proibição e do preconceito? Não estará o senhor incorrendo (propositada ou inocentemente) na falácia primária da inversão da relação de causa e consequência? E, quanto a dizer que “não temos leis que defendam as pessoas com unha encravada” (sic), como não?! Acaso elas não têm direito, como em qualquer outra enfermidade, pelo menos constitucionalmente, pelo Artigo V da CRFB/88, a tratamento médico gratuito subsidiado inteiramente pelo Estado na figura do SUS?

Ademais, ainda que o número de homossexuais (ou de pessoas com unha encravada) seja pequeno, toda pessoa que tem os mesmos deveres de qualquer cidadão deve, por racionalidade, possuir os mesmos direitos. Há também uma minoria de índios no Brasil (em grande parte quase erradicada pela própria igreja católica), e nem por isso eles deixam de possuir direitos.

Uma democracia não se restringe ao direito das maiorias. Isso é o maior erro de quem supõe saber o que é democracia. A democracia deve possuir dispositivos para atender, também, as minorias. “É preciso tratar os iguais de maneira igual e os desiguais de maneira desigual, na medida em que se desigualam”, lembrou Rui Barbosa, ao instaurar o Princípio da Proporcionalidade na Constituição Brasileira e no seu modus operandi de democracia JUSTA. Não há nada mais injusto do que tratar de maneira igual os desiguais. Isso diz respeito, inclusive, às minorias, que precisam, sim, ser contempladas. Democracia SÓ das maiorias tem outro nome: fascismo. Foi nessa esteira que já se quis erradicar índios, escravizar negros, promover o genocídio de judeus, mulheres, protestantes, candomblecistas etc.

Não é a primeira vez que a igreja, apocalipticamente, grita que o fim da família ocorrerá e que os legisladores são arautos de Sodoma e Gomorra. Quem estudar o movimento que houve quando da implantação do divórcio no Brasil o verá. E a família acabou? A instituição deixou de existir? Ou será que o divórcio deu às pessoas a liberdade e a possibilidade de reconstruírem suas vidas, não precisando se autoflagelar (e flagelar aos filhos e ao cônjuge) por um erro que, muitas vezes, foi cometido no calor da puberdade?

Quando o senhor afirma que 62% da população é contrária à união civil, eu faço duas perguntas: 1) segundo qual fonte? 2) 38% não é uma parcela muito significativa para ser desprezada? Se antes o senhor partia de 0,04% para alardear a “ilegitimidade” da união civil (o que já era falacioso, como se mostrou acima, pois até a mais mínima minoria tem direitos iguais se seus deveres lhe competem igualmente). Pergunto isso porque, numa democracia, qualquer fonte de informação que não seja o escrutínio – plebiscito, referendo, votação – é ilegítima. Qualquer órgão de pesquisa, mesmo oficial, que não sejam as urnas, não está apto a dizer a porcentagem da população que quer ou não quer algo. Só as urnas.

Ademais, parece haver um problema que está sendo pouco discutido, até pelas mentes realmente racionais: o Brasil, na própria Constituição, é uma república federativa. O que quer isso dizer? Que os estados e municípios têm autonomia de criar leis regionais. Será que esses seus duvidosos e/ou ilegítimos 62%, senhor teólogo, são uniformes em todo e qualquer estado brasileiro? Por que, então, o Brasil não propugna por um federativismo mais forte? Certamente há estados no Brasil em que a maioria absoluta da população será a favor da união estável entre pessoas do mesmo sexo.

Ademais, por que se deve ouvir apenas as religiões cristãs, se há, no Brasil, um Estado laico e, mesmo em termos religiosos, muitas outras religiões que não são contra a homossexualidade?

Sobre a alegada “inconstitucionalidade” que o senhor apregoa, é bom lembrar que na Constituição monárquica a escravidão era cláusula pétrea, e que, portanto, aboli-la foi, sim, um ato inconstitucional. Inconstitucionalíssimo! Mas legítimo, porque a escravidão é um vilipêndio à dignidade humana, assim como querer que homossexuais se restrinjam a guetos e esconderijos também o é. Vive-se em guetos quando não se pagam impostos: traficantes, bandidos vivem em gueto. Homossexuais têm direito à luz da sociedade, porque seus deveres idênticos aos de qualquer outra pessoa lhes dão as prerrogativas inerentes aos direitos que esses deveres geram. O Estado nazista, por seu turno, era completamente baseado em leis, e escritas, e nem por isso possuía legitimidade. Terei de citar, uma única e loquaz vez, a frase de Jesus: “A lei foi feita para o homem, não foi o homem que foi feito para a lei” – e curou em dia de sábado (o que era proibido), assim como outro profeta (creio que o Rei Davi) comeu, quando teve fome, dos pães do templo que eram resguardados para as proposições sacerdotais, descumprindo a lei escrita. Porque a lei foi feita para o homem, não foi o homem que foi feito para a lei.

Sobre o que o senhor fala de educação “pró-homossexual”, prefiro não emitir opinião, porque a sua própria afirmação se derruba a si mesma, tamanho o despautério que ela contém. Comentá-la seria até um atentado à racionalidade que o senhor procura esboçar. Seria como tentar “justificar” porque é preciso libertar os escravos. Victor Hugo, sobre isso, tem a famosa frase: “É preciso libertar porque é preciso libertar”. Não vou falar sobre a “educação pró-homossexual” que o senhor diz existir, porque o senhor precisaria (certamente sem sucesso) comprovar o que diz.

Por fim, sobre a “LIBERDADE!!!” (sic) que o senhor cita, com letras maiúsculas e três (três!!!) pontos de exclamação, como se gritar encobrisse a irracionalidade explícita, enfim, sobre a liberdade que o senhor cita querer ter em relação a expressar sua opinião, é bom lembrar que, em democracia, os seus direitos TERMINAM onde COMEÇAM o do outro. O senhor tem liberdade de “xingar” uma pessoa de negra, mas terá de arcar com essa liberdade. Ninguém vedará a sua boca, mas o direito à não-discriminação e ao não-preconceito, que assistem ao negro, e que também são direitos de LIBERDADE!!!, farão com que os ofendidos, direta ou indiretamente, exerçam seus direitos sobre o senhor, e lhe façam aprender a lição número 1 de democracia: a liberdade de expressão tem como limite o momento em que se torna incitação ao ódio, convite à discriminação.

Não é racional, nem democrático, querer infligir o gueto às partes da população que são minorias. Isso é irracional e despótico, para usar eufemismos.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Espiritismo e Homossexualidade


Por Rafael Nova (publicado originalmente em http://ponto0.wordpress.com/2012/07/29/espiritismo-e-homossexualidade)


Gostaria de dedicar este texto a todos os jovens que, cheios de dúvidas, tentam chegar à compreensão do que pode ser certo ou errado. Espero que estas palavras os ajudem.

Recentemente li um excelente livro chamado "O Preço de Ser Diferente", ditado pelo Espírito Leonel a Mônica de Castro. A história tem por tema central a história de um garoto que se descobre homossexual e tem de lidar com os problemas que isso traz na década de 70 no Brasil. Diferente de outras obras espíritas, talvez esteja seja a que mais se aprofunda no que se refere a situações de abuso, a explicar realmente o que é “causa e efeito”, e a colocar a homossexualidade como uma manifestação da diversidade do nosso planeta.

O Livro dos Espíritos, codificado por Allan Kardec, não aborda diretamente a questão da homossexualidade ou da bissexualidade. Contudo, uma das questões pergunta se os espíritos em sua natureza espiritual têm sexo; a resposta é “não“. Isso significa que homem e mulher são definições subjetivas ao nosso planeta, e mesmo nele, não se restringem ao sexo biológico. Tendo isso em vista, o espírito pode na Terra se manifestar de muitas maneiras de acordo com sua necessidade, com aquilo que precisa para sua evolução.

Alguns anos atrás quando iniciei no Espiritismo, não procurei exatamente obras que falassem sobre sexualidade, mas tive contato com algumas. Conheci obras “espíritas” que tanto insinuavam que o homossexual deveria se abster de qualquer tipo de relação afetiva ou sexual com outras pessoas, como outras que recomendavam o tratamento com passes e água fluidificada, além daquelas que salientavam que uma pessoa nestas condições não poderia de modo algum vir a trabalhar com sua mediunidade.

Embora não se fale sobre isso, a verdade é que alguns dos maiores médiuns da nossa história eram ou são homossexuais. Isso só mostra que Allan Kardec estava certo quando dizia que não se deveria aceitar tudo que se diz vir dos espíritos ou dos médiuns, e que era preferível rejeitar mil verdades do que aceitar uma mentira.

Hoje em dia, com base na razão e na ciência, sabemos que a homossexualidade e o comportamento bissexual se apresentam em diversas espécies na natureza como por exemplo entre os pinguins que chegam a constituir relações monogâmicas sólidas. Se o planeta Terra teve essa constituição, se Deus permitiu essas manifestações mesmo em nossa própria natureza humana, é porque elas têm em si algum tipo de funcionalidade que hoje pode não estar clara, mas que servem a um propósito maior no grande plano. Portanto, não há nada de opção aqui ao contrário do que muitos pensam… Ser homossexual é possuir uma tendência que fala a instintos naturais da pessoa.

Ao nascer homossexual, bissexual, ou em qualquer manifestação de orientação sexual incluindo a heterossexualidade, o que acontece é que seu espírito está manifestando aquilo que é melhor para sua evolução. Somente nascendo assim você terá os tipos de experiências, contatos, desafios, que te ajudarão a pensar e a firmar seus propósitos. Não há nada melhor ou pior aqui, existe apenas o que é o melhor para cada um individualmente. O importante é dar conta do recado, entender as mensagens que chegam para que possamos evoluir, e fazer de nossas vidas um marco de amor e de prática no bem.

Portanto, se você é homossexual ou identifica em si algo diferente de ser exclusivamente heterossexual, não se sinta culpado. Também, saiba que o importante é ter uma vida emocional saudável, livre da promiscuidade, cultivando valores e principalmente o amor e o valor por si mesmo. Ame a si muito, todos os dias, porque você é uma das mais perfeitas Obras da Criação.

Se você é pai, mãe, amigo, ou familiar de alguém que é diferente, também não se sinta culpado ou tente curar ou consertar essa pessoa. Como está dito, existe uma gama de intensa diversidade em nosso mundo… Todos temos nosso jeito, nossas particularidades. Aprender a respeitar e a acolher essas diferenças é o que nos aproxima e torna a convivência melhor. Ser diferente não é um castigo, às vezes pode ser até mesmo uma bênção!

Se em algum momento você ouvir em algum grupo de estudos ou leitura que a homossexualidade é desequilíbrio, castigo, doença da alma, ou qualquer outra conotação negativa, pense se aquela opinião não vem em primeiro lugar das próprias pessoas. O Espiritismo se baseia na razão, e não faz sentido diante das evidências científicas e do avanço no campo da diversidade que se continue dizendo o contrário.

Que estas palavras possam iluminar seus corações e que Deus esteja sempre conosco!


Sobre o autor


Rafael Nova é gaúcho, tem 27 anos, é bacharel em Naturologia Aplicada formado pela Unisul, estudante de especialização em Arteterapia no Contexto Social e Institucional pelo Infapa. Atende com terapias naturais numa visão de saúde holística em Camaquã/RS. Mantém um site sobre saúde, comportamento, livros, filmes: www.rafaelnova.com. Desde a adolescência estuda o Espiritismo e a mediunidade - onde aprendeu a reconhecer e a lidar com o seu lado sensitivo. Escreve sobre o assunto em ponto0.wordpress.com. Atualmente tem um livro recém publicado na área da homoafetividade e que também tem toques de espiritualidade: Cidade do Anjo (Editora Escândalo) - fb.com/cidadedoanjo.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Nova Espiritualidade: A Homossexualidade


Por “Jesus Cristo” (mensagem canalizada através de Pamela Kribbe – ver www.jeshua.net)


Nota de Espiritualidade Inclusiva: Há algum tempo pessoas nos têm indagado sobre a opinião dos praticantes da “Nova Espiritualidade” a respeito da homossexualidade. A “Nova Espiritualidade” tem a ver com práticas dissociadas das grandes religiões históricas e inclui crenças como Teosofia, Ufologia, Canalização, Grande Fraternidade Branca, Consciências Índigo, além da prática de muitas terapias holísticas (Reiki, Florais, Apometria, Cromoterapia, etc). Realmente, há pouco material vindo destas fontes sobre a homossexualidade e, quando aparecem, geralmente guardam algum tipo de preconceito: ou a homossexualidade é entendida como “carma” de vidas passadas, ou como uma inadequação ao se nascer em um gênero diferente do vivido em encarnações recentes, ou disfunções nos chacras. Tudo preconceito puro e desconhecimento da realidade homossexual e, antes ainda, da realidade da sexualidade humana. O texto abaixo reproduzido é uma rara exceção. Apresenta a homossexualidade como natural e critica o preconceito, não a pessoa homossexual. É uma “canalização” (channeling), uma mensagem de tipo mediúnico recebida por uma canalizadora (médium) que vive na Holanda. Independente de acreditarmos ou não na origem espiritual da mensagem, o que é importante enaltecer é seu teor inclusivo, propósito principal do nosso blogue e do Movimento Espiritualidade Inclusiva.

A mensagem:

Meus amados Filhos,

Não há nada de errado com a homossexualidade. A homossexualidade é perfeitamente respeitável; a forma em que ela vem sendo retratada por várias tradições religiosas, como pecaminosa e prejudicial, origina-se do medo e do preconceito. Não há nada de errado em se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo. Na verdade, a preferência pelo mesmo sexo ou pelo outro sexo não é tão fixa e rigidamente dividida como muitas pessoas pensam. Você pode ser heterossexual e, ao mesmo tempo, ser atraído por pessoas do seu próprio sexo. Você pode sentir uma conexão de alma que transcende a forma física. Em outras palavras: você pode ser heterossexual no geral, mas sentir-se atraído por alguém do mesmo sexo porque existe uma conexão profunda no nível da alma. Existe uma escala móvel entre heterossexualidade e homossexualidade, e não uma fronteira fixa.

Do ponto de vista espiritual, o que importa nos relacionamentos sexuais é como um se conecta com o outro de alma para alma. Sempre que existe uma conexão profunda, marcada por uma parceria verdadeira e respeito mútuo, o fato do relacionamento entre homem-mulher, homem-homem ou mulher-mulher realmente não importa.

É lógico que é importante para o mundo se você é homossexual. Em muitos lugares ao redor do mundo ainda existe preconceito e hostilidade contra a homossexualidade. Muitas almas que encarnam como homossexuais são bastante corajosas, porque sabem que enfrentarão a questão da marginalização, de ser diferente dos outros e ter que lidar com hostilidade e incompreensão. A alma pode ter decidido conscientemente passar por essa experiência para enfrentar e superar a dor emocional de ser rejeitada e, com isto, tornar-se forte e independente, ou para elevar a consciência na Terra, fazendo as pessoas refletirem sobre as definições tradicionais mesquinhas e limitadas sobre a identidade sexual. Os homens homossexuais, por exemplo, podem mostrar como de ser do sexo masculino pode facilmente combinar com ser sensível e artístico. Homens e mulheres homossexuais encorajam as pessoas a pensarem de modo diferente sobre o que significa ser do sexo masculino ou feminino.

Para os homossexuais que se sentem dilacerados e em conflito sobre sua natureza sexual, eu diria:

Não julgue o seu modo natural de sentir; respeite sua natureza e sinta-se livre para ser quem você é. Seja fiel a si mesmo, não se esconda. Outras pessoas podem aprender alguma coisa com você. Cônjuges ou pais, que se sentem chocados e ofendidos quando você lhes conta sobre a sua natureza, serão tocados, de alguma forma, pela sua coragem e honestidade, mesmo que não demonstrem isso abertamente. A verdade sempre liberta as pessoas. Ao permanecer fiel a si mesmo, você se curará e será uma luz para os outros.

JESUS CRISTO


Mensagem de Jesus Cristo, através de Pamela Kribbe.

© Pamela Kribbe 2011

Tradução de Vera Corrêa veracorrea46@ig.com.br

Direitos Autorais Pamela Kribbe - A permissão é concedida para cópia e distribuição deste artigo na condição de que o endereço www.jeshua.net , esteja incluído como recurso e que ele seja distribuído livremente. E-mail: aurelia@jeshua.net


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Inclusão na Espiritualidade


Por Jéferson Cristian Guterres de Carvalho


Recebi um desafio de compartilhar neste espaço uma difícil, mas não impossível missão: espiritualidade inclusiva. Sim, digo difícil por que somos hipócritas ao dizer que adoramos um Deus que une os povos e ama a todos e a todas sem distinção de classe social, etnia, sexualidade ou religiosidade, mas continuamos “inundados” em pré-conceitos que atravessaram o tempo desde a era medieval na Europa e vêm em pleno século XXI em uma sociedade que se diz mais politizada e compreensiva. Fico imaginando a indignação de Deus ao enviar seu filho à Terra, entregando seu corpo e sangue por nós para que não maltratássemos o próximo e a próxima, e de repente vemos nos noticiários pessoas assassinadas por falsos movimentos ideológicos porque sua orientação sexual era diferentes destes. Quando penso em espiritualidade, melhor, quando a vivencio em meu dia-a-dia, vejo um mundo onde a felicidade é para todos e todas e onde ninguém critica o modo de pensar ou agir de cada um e cada uma.

Vivemos em um país que foi construído por diversas nacionalidades, tendo uma incrível e bela miscigenação que constitui um povo de múltipla beleza. E, como podemos ter esta riqueza genética em nosso povo e continuar matando uns aos outros, ou umas às outras, por coloração de pele ou modo de agir? Acredito que no início dos tempos, ou melhor, na pré-história, quando o(a) primata que deu origem à primeira espécie humana em nosso planeta, por não ter uma racionalidade como temos nos dias de hoje, provavelmente não compreendia que a ação sexual deveria ser hétero, a deve ter consumado com seres de mesmo sexo, e para eles e elas isso era normal. Temos também exemplos durante nossa história de autoridades políticas gregas, romanas, egípcias, e demais períodos em que se consumava o ato sexual com pessoas do mesmo sexo e não era considerado alguma agressão a moral e bons costumes, valores este criados por uma sociedade, ou melhor, por um governo que temia uma revolta do povo, e que criou certas regras de etiqueta a partir de uma imposição religiosa para que tivessem sempre o controle da situação. É fácil uma religião se utilizar de Deus, ou outro tipo de divindade, para favorecer seus interesses e de seu governo.

A liberdade religiosa deve ser uma dádiva não apenas de poucos, mas de todos, independente de sua orientação sexual, pois conheci um Jesus humano que vivia no meio dos(as) excluídos(as) sentado ao chão, comendo de pão puro e bebendo apenas água em copo de barro sujo, abraçando leprosos, perdoando falsos pecados impostos pela sociedade da época e amando seu próximo e sua próxima. Os templos religiosos não podem mais a renunciar seus fiéis, pois se assim o fizerem, deixarão de ser religiões e serão instituições homofóbicas e preconceituosas. E, digo com toda a veracidade que ao ler e pesquisar sobre as religiões em diferentes continentes para escrever este artigo não encontrei nenhuma DIVINDADE que seja contra a pessoa que tem sua orientação sexual definida: independente se é heterossexual ou se é homossexual, pois conforme a filosofia de cada religião, seita, doutrina ou sociedade, o importante é viver na paz e no amor se beneficiando de suas atitudes mais do que de seus pensamentos.


Sobre o autor


Jéferson Cristian Guterres de Carvalho é vice-presidente do Conselho Municipal de Juventude do município de Canoas – RS; militante da Pastoral da Juventude do Rio Grande do Sul (Vicariato Episcopal de Canoas no grupo de jovens JOCRE); graduando em bacharel em História na Universidade Luterana do Brasil – Campus Canoas; militar da Força Aérea Brasileira; colaborador da Coordenadoria Municipal de Políticas de Diversidade do município de Canoas.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Os gays de Ahmadinejad


Por Paulo Stekel



Não há gays no Irã!” Esta teria sido a frase dita pelo presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, em setembro de 2007, nos EUA, e que desde então tem causado tanto protesto por parte do Movimento LGBT e pelos defensores dos Direitos Humanos. Mas, o que exatamente ele disse na ocasião? Ele disse (ver fonte): “No Irã, nós não temos homossexuais COMO em seu país. No Irã, nós não temos este fenômeno; eu nem sei quem lhes disse que o temos.”

Leiamos as palavras originais (ver fonte): “In Iran we don't have homosexuals like in your country. In Iran we do not have this phenomenon, I don't know who has told you that we have it.”

Fica claro que Ahmadinejad quis dizer que no Irã não há homossexuais “da mesma maneira” (like) que no Ocidente. Ele se referia a toda a visibilidade LGBT ocidental, ao orgulho e à dignidade da pessoa gay, do “ser gay”, algo que, definitivamente, o Irã não possui. Em certa medida, ele disse a verdade: não há gays visíveis, pleiteando direitos e se reunindo em grupos porque são todos assassinados por seu regime totalitário! Assim, os gays lá existentes – e, existem, sim! - estão todos acuados, trancafiados no armário, com medo da morte. Estes são os gays de Ahmadinejad: uma comunidade inteira sem reconhecimento, sem existência, sem cidadania, sem direitos, sem expressão, sem felicidade, mesmo sendo cerca de 10% da sociedade iraniana – neste país de 75 milhões de habitantes, os LGBT são cerca de 7,5 milhões.

Ahmadinejad é conhecido por sua negação do Holocausto judeu, mas promove um verdadeiro holocausto gay – um “homocausto”, nas palavras de Luiz Mott – em seu país. E, bem aos olhos da ONU e das organizações internacionais de defesa dos Direitos Humanos. A coisa é muito mais séria do que se imagina! Fora isso, ele ainda afirma mentirosamente que há direitos humanos no Irã, que seu povo é muito feliz e livre para expressar o que pensa. Balela! O mesmo discurso de outra ditadura, a Chinesa, para ludibriar os organismos internacionais de defesa dos Direitos Humanos.

Mas, ninguém mais se engana! Salvo alguns poucos marxistas-leninistas dinossauros de uma época utópica que ainda defendem regimes como o da China, Cuba e Irã (todos profundamente homofóbicos), a maior parte da humanidade esclarecida percebe a manipulação e a mentira destes regimes. O que há nestes países é ditadura com todas as letras, e os LGBT ali não têm voz nem vez! Não se trata de uma crítica ao Comunismo ou ao Islamismo, mas o reconhecimento de que nestes países nem sequer o regime é comunista ou republicanismo islamita. São governos corruptos e assassinos. O Capitalismo não é melhor, pois a corrupção também é evidente em muitas democracias capitalistas. Não estamos tratando de preferência política, mas de defesa da vida, de defesa da dignidade humana e de direitos LGBT.

Aliás, há poucos dias, em Nova Iorque, durante uma entrevista para a CNN, Ahmadinejad voltou a ser polêmico ao dizer que apoiar gays é coisa de capitalistas de linha dura, que não se importam com os autênticos valores humanos (ver fonte). “Autênticos valores humanos”? Por acaso, nós, gays, não somos seres humanos? Não temos valores? E, valores autênticos? Quanto discurso nazistoide embasado numa visão religiosa medieval e cruel contra as minorias, mulheres e os de fora da fé (os “infieis”)! E, associar apoio à causa LGBT ao Capitalismo é de uma boçalidade sem tamanho. É fazer dos gays um joguete para atingir o regime capitalista ocidental sem se importar com a dignidade das pessoas. É isso que ensina o Islamismo? Tenho certeza de que a imensa maioria da comunidade islâmica brasileira discorda! Tenho todo o respeito pelas religiões em geral, e pelo Islamismo em particular, mas não posso concordar de forma alguma com a redução da dignidade e do valor da vida humana por conta das diversas orientações sexuais possíveis, algo natural, não anormal, já que 10 a 20% da humanidade manifesta desde a terna idade comportamentos não-heteronormativos. Se a quase totalidade dos livros sagrados não percebeu essa naturalidade, devemos aceitar passivamente ou devemos contra-argumentar, buscando a correção do erro, lutando pelo que temos defendido através do Movimento Espiritualidade Inclusiva – a Inclusão?

Ahmadinejad chamou a homossexualidade de comportamento “muito desagradável” e proibido por “todos os profetas de todas as religiões e todas as fés”. Sim, ser gay sempre é muito desagradável para pessoas que guardam preconceitos hediondos. Mas, ele está errado! Nem todas as religiões proibiram as relações homossexuais. As religiões de matriz africana tratam a questão com bastante naturalidade; as diversas escolas budistas, ainda que apresentem situações pontuais de preconceito, não possuem proibições à sexualidade LGBT; as práticas neo-pagãs são mais abertas ao assunto. E, mesmo que todas as religiões proibissem a homossexualidade, não significaria que estivessem corretas. Apenas evidenciaria que a ignorância é geral no meio religioso.

No final, a grande batalha a ser vencida é a conquista do reconhecimento da naturalidade das diversas orientações sexuais possíveis para um ser humano, de modo que isso interfira definitivamente na obtenção da cidadania plena, do direito igualitário e da inclusão no meio religioso-espiritual.

Na mesma entrevista à CNN, Ahmadinejad ridicularizou os políticos que apoiam os LGBT “apenas para ganhar quatro ou cinco votos a mais”. Também os ridicularizamos, mas com outras intenções, pois sabemos que muitos políticos no mundo ocidental – e, no Brasil, há centenas deles – passam anos atacando gays ou se eximindo de apoiá-los, mas em períodos eleitorais surgem do nada como baluartes dos direitos LGBT e da diversidade. Isso, realmente, é deplorável. Devemos aprender a identificá-los, denunciá-los, não votar neles e defenestrá-los de uma vez por todas da política através da mais poderosa arma que temos: o voto!

Para Ahmadinejad, as pessoas “viram homossexuais” e não nascem assim. Não é o que a experiência tem demonstrado. Ora, 100% dos gays e lésbicas nascem de um homem e de uma mulher. A maioria esmagadora destes pais é heterossexual e educa seus filhos com suas referências heterossexuais. Nenhum pai heterossexual educa seu filho para ser homossexual. Então, como 10% da humanidade é homossexual? Todos nós já vimos crianças de tenríssima idade apresentando sinais de uma sexualidade diversa da heterossexual, com uma orientação diferente da maioria dos seus iguais de gênero. E, isso não é incentivado pelos pais heterossexuais. Pelo contrário, frequentemente isso é motivo de agressividade parental para com o filho LGBT.

O que acontece no mundo islâmico, em maior ou menor grau, é um patrulhamento moral intenso das mulheres, das crianças e das pessoas que pareçam não encaixar-se no modelo “santo” pregado pelas escrituras. Isso, em muitos casos, acaba oprimindo as mulheres, inferiorizando-as e causando enorme depressão e infelicidade, por causa do medo constante da falsa acusação de adultério que possa redundar em apedrejamento. As crianças são tratadas como continuadoras de um sistema predeterminado de opressão (masculina) e submissão (feminina). Quem discorda, só tem duas opções: ou foge, ou aguenta as consequências da lei, que consegue forçar a barra mesmo em locais onde a sharia (a lei islâmica) não é oficial.

O que sobra para gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais? A morte certa! A única exceção no Irã é o caso dos transexuais, aos quais se permite uma vida um pouco menos humilhante, uma vez que as cirurgias de adequação de gênero são permitidas naquele país. O motivo disto é muito simples: o machismo fundamentalista iraniano prefere ver um homem “convertendo-se” oficialmente em mulher, passando a obedecer às regras para mulheres (podendo, inclusive, casar-se normalmente com um homem), do que vê-lo continuar um homem fisicamente, e ver este manter relações com outro homem.

Ahmadinejad defendeu hipocritamente em sua entrevista a resolução dos males da humanidade e a promoção da liberdade e dignidade humanas. Mas, declarou que tal liberdade não pode ser aplicada aos homossexuais porque “a homossexualidade cessa a procriação”. Ora essa, quem disse que os LGBT são estéreis???? Mais uma vez o fundamentalismo generalizante tentando amedrontar a humanidade com o “mal gay”.

Ahmadinejad tem tanto medo dos gays de seu país que os nega até a morte... ou antes, os nega PELA pena de morte... E, os clérigos muçulmanos iranianos são os maiores responsáveis por esta chacina chamada de “ordenamento divino”, que tem a capacidade de condenar ao enforcamento meninos de 12 anos acusados de homossexualidade, e cuja única prova é o fato de terem sido encontrados vestindo calções curtos... A bestialidade humana que mata nossas crianças em nome de um Deus – que se existe, deve estar muito irado – aumenta a cada dia neste mundo caótico e tão carente de amor, compreensão, compaixão e aceitação do outro.

Vamos aproveitar para refletir o quanto nós, aqui no Brasil, também estamos sendo cruéis com pessoas por conta de sua orientação sexual, de seu gênero e de sua identidade sexual. O verdadeiro valor da vida humana está sendo esquecido em nome de supostos princípios religiosos arcaicos e medievais, por pessoas de alma embrutecida que se auto-intitulam arautos de Deus, mas que nada mais são que os mensageiros do Mal na Terra...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Homofobia Internalizada: O câncer que mata o meu Povo


Por Rev. Márcio Retamero (publicado originalmente em http://pastormarcioretamero.blogspot.com.br/2012/09/homofobia-internalizada-o-cancer-que.html)


Tudo nesta vida pode ser usado para o nosso bem ou para o nosso mal. A Rede Social mais famosa usada no mundo não foge à regra.

Foi no Facebook que ontem eu li uma manifestação muito contundente, vinda de um homossexual “cristão inclusivo” que era misoginia e homofobia internalizada 100%! Pura. Puríssima.

Misoginia é a aversão às mulheres ou a tudo o que é feminino, mesmo que essa aversão seja inconsciente. Contudo, ela manifesta-se na rejeição da feminilidade que pode ser expressa, por exemplo, num homossexual masculino cheio de trejeitos, ou seja, a famosa “pintosa” ou numa travesti.

Nossa sociedade é patriarcal e machista. Não é preciso ir muito longe para estarmos cientes disto. Basta lermos os jornais de todos os dias, assistirmos aos canais de televisão, ouvirmos as rádios ou acompanhar online as notícias. Podemos nos aprofundar e comparar o “valor de mercado” do homem e da mulher, muitas vezes na mesma área do conhecimento ou categoria trabalhista.

Geralmente, encontramos a homofobia internalizada nos/nas homossexuais egodistônicos (as), ou seja, aqueles e aquelas que ainda não se respeitam, não se amam e detestam sua orientação sexual. Homofobia Internalizada é acompanhada pela misoginia e pelo machismo e patriarcalismo.

A Homofobia Internalizada, num certo grau, atinge a todos e todas homossexuais, posto que, desde crianças, como diz Rubem Alves, a sociedade e a família, escrevem em nossos corpos, mentes e corações, suas falácias, preconceitos e todo tipo de injustiça e má interpretação da vida. Crescemos ouvindo que “azul é cor de homem; rosa, de mulher”; que “homem não chora”; que lugar de mulher é na cozinha ou é a auxiliadora do homem; inúmeras vezes presenciamos mães machistas, escravas do patriarcalismo ensinando as suas filhas a esconderem “as pererecas e não tocá-las”, enquanto ensinam aos meninos a botar o piru pra fora, mijar na rua e até mesmo acariciá-lo. Sim, eu fui criado assim!

A Homofobia Internalizada para ser curada é um longo processo, pois arrancar todo este lixo de dentro dos nossos corpos, mentes e corações, é doloroso e exige esforço para querermos nos libertar disso através da via do conhecimento. Portanto, aqui, ler, estudar é imprescindível. Contudo, tal qual os tóxicos-dependentes, é preciso querer, em primeiro lugar, ser liberto desse câncer que tem matado tantos e tantas homossexuais chamada “homofobia internalizada”.

Este câncer nos leva a rejeitar as “bichas pintosas”, as travestis, as transexuais, as “caminhoneiras”... e por aí vai... Leva-nos a querer enquadrar essa gente dentro do que chamamos de heteronormatividade, ou seja, o padrão social vigente: homem se comportando, sendo, vestindo, andando e falando como homem (ainda que gay) e mulher a mesma coisa (ainda que lésbica). A homofobia internalizada exclui, maltrata e faz das e dos homossexuais que não seguem a heteronormatividade alvos de preconceito até mesmo pelos seus pares homossexuais. Quando alguma “bicha pintosa” ou “sapatão caminhoneira” leva uma surra na rua dos homofóbicos ou quando atacados por lâmpadas na Avenida Paulista, as pessoas que sofrem de homofobia internalizada reproduzem o senso comum imbecil de culpar as vítimas, pois “mereceram”, “desrespeitaram a sociedade”, “se comportaram mal”.

A homofobia internalizada diz que a travesti é uma aberração, um monstro, pois não precisa um homem colocar peito, deixar crescer os cabelos, tomar hormônios femininos e falar igual a mulher. Logo, se a travesti é violentada na rua, vítima da homofobia social e religiosa, ela “mereceu”, pois para ser gay, não é preciso “se montar”.

Transexuais são alvos também dos que sofrem de homofobia internalizada; pois os que sofrem deste câncer dizem que é um absurdo um homem “extirpar o pênis” e a mulher “fazer crescer um pênis e arrancar os peitos”!

A homofobia internalizada divide a comunidade LGBT. Desune. Traz o sentimento de não pertencimento e joga à margem e às sombras, portanto, ao perigo dos homofóbicos que matam, as pessoas doentes deste câncer. Politicamente, a homofobia internalizada coloca o sujeito doente deste câncer contra os objetivos do Movimento Gay como o casamento civil igualitário e o PLC 122, que coíbe a manifestação homofóbica.

A homofobia internalizada leva gays e lésbicas cristãos a frequentarem igrejas convencionais na surdina, igrejas que não os aceitam, mas estão prontas e abertas para receberem seus fartos dízimos e ofertas. Tais igrejas fingem que não veem que entre eles existe uma lésbica, um gay, posto que estes se vestem como meninos e meninas “normais”, enquanto aguardam e oram para que sejam curados da “doença do homossexualismo (sic)”.

Lamentável é quando lemos as coisas que eu li ontem no Facebook, vindo de um homossexual membro de uma igreja dita inclusiva, ou seja, de uma igreja onde a homofobia internalizada deveria ser trabalhada a fim de ser exorcizada dos corpos e mentes destes doentes. Uma igreja que aceita calada manifestações homofóbicas vindas de homossexuais, não pode ser considerada inclusiva, mas, no mínimo, uma igreja gay heteronormatizada, ou seja, uma coisa que não presta serviço algum à inclusão, à libertação da pessoa homossexual cristã.

Devemos, em primeiro lugar, exercer o dom da misericórdia, do amor, da longanimidade e do perdão para com as pessoas homossexuais que sofrem do câncer da homofobia internalizada, mas não podemos parar por aí. Líderes eclesiásticos das igrejas ditas inclusivas devem trabalhar, em momentos oportunos, seja na escola dominical, seja em encontros e palestras o tema. É necessário, por exemplo, a ajuda profissional de psicólogos e psiquiatras; a leitura de textos sobre o assunto; as trocas de experiências como numa “terapia de grupo”, além de exibição de filmes como “Meninos não choram” e debates acerca desses filmes. Acima de tudo, a oração pela libertação e cura deste câncer chamado homofobia internalizada que atinge nosso povo.

Finalizando, não basta ser uma igreja que aceita homossexuais e que os/as enquadram na heteronormatividade para ser chamada de “igreja inclusiva”. Isso não é ser igreja inclusiva, mas igreja gay heteronormativa, uma “cangalhice” que reproduz o que temos de pior na nossa sociedade, que não liberta a pessoa homossexual, mas só reforça seus preconceitos inúteis, além de letais posturas.

Minha oração e desejo é que todas as igrejas que aceitam homossexuais abertamente trabalhem seriamente os corpos, mentes e corações das pessoas cancerosas da homofobia internalizada, libertando-as e curando-as, tornando-se assim, lugares seguros e saudáveis de adoração ao Senhor Uno e Trino, promovendo o Evangelho da Inclusão, sendo RADICALMENTE Inclusiva, como acontece, pela graça de Deus, nas Igrejas da Comunidade Metropolitana nos quatro cantos da Terra. Se assim não for, tais comunidades de fé não passarão de “igrejas gays heteronormativas”, lugar de gente doente, lugar de não libertação, lugar de exclusão, enfim, inferno existencial.


Deus nos abençoe e nos cure da homofobia internalizada todos os dias! Amém.


Sobre o autor


Márcio Retamero, 36 anos, é pastor da Comunidade Betel/ICM -RJ e da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo. As reuniões ocorrem na Praia de Botafogo, nº 430, 2º andar, próximo ao Botafogo Praia Shopping e à estação Botafogo do Metrô Rio. E-mail: revretamero@betelrj.com

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

[Evento] Participe do Primeiro Grupo de Encontro em Porto Alegre – RS


Por Espiritualidade Inclusiva


Um convite a toda a comunidade LGBT e simpatizantes da região metropolitana de Porto Alegre!

A primeira reunião do Grupo de Encontro do Movimento Espiritualidade Inclusiva em Porto Alegre – RS, ocorrerá no próximo dia 25 de setembro, uma terça-feira, a partir das 19h30min. O local será o auditório do Instituto Equilibrium (R. Coronel Vicente, 382 – sobreloja – sala 05 – centro), mais recente parceiro do Movimento.

Este reunião não será apenas a reunião de Porto Alegre, mas uma reunião estadual, pois estão sendo convidados interessados de toda a região metropolitana de Porto Alegre e de outras cidades do RS.

Esta primeira reunião será conduzida por Paulo Stekel, coordenador geral do Movimento, e terá a seguinte pauta:
  • Apresentação do Movimento Espiritualidade Inclusiva;
  • Apresentação dos presentes e/ou entidade que representam;
  • Compartilhamento de experiências sobre homofobia e inclusividade;
  • Apresentação da camiseta oficial do Movimento;
  • Definição de propostas específicas de ação para Porto Alegre e RS;
  • Formação do núcleo de representantes do Grupo de Encontro de Porto Alegre;
  • Assuntos gerais propostos;
  • Considerações finais.
Todos são convidados: LGBTs, simpatizantes, representantes de ONGs, religiosos em geral, ativistas, coordenadores de diversidade municipais e estaduais, espiritualistas, terapeutas holísticos, assistentes sociais e defensores dos direitos humanos.

Aproveite para encomendar sua camiseta com a logomarca oficial do Movimento Espiritualidade Inclusiva (clique aqui para ler os detalhes da promoção de lançamento, tamanhos e valores).

Então, agende-se:

Reunião do Grupo de Encontro do Movimento Espiritualidade Inclusiva de Porto Alegre, em parceria com o Instituto Equilibrium (http://equilibriumsite.com.br).

Horário: 19h30min

Local: Rua Coronel Vicente, 382 – sobreloja – sala 05 – centro – Porto Alegre – RS

Informações: (51) 9217-5164 (Stekel) e (51) 3084-5225 (Alexandre)


IMPORTANTE: A participação nos Grupos de Encontro é totalmente gratuita, livre e espontânea. Todos têm direito a voz. O Movimento é suprapartidário e defende a inclusividade em todas as religiões, sem apoiar apenas uma em detrimento das demais. Religiosos e ateus humanistas são bem vindos, bem como todos os que desejam contribuir para um Brasil sem homofobia.

Se você quer saber mais sobre o Movimento Espiritualidade Inclusiva, leia o texto abaixo e, se sentir afinidade, participe da reunião do dia 25:


O Movimento Espiritualidade Inclusiva possui 2 objetivos principais:

1º – Enfrentamento, crítica e denúncia da homofobia em geral e da homofobia religiosa em especial, por entender que a “demonização” do outro por conta de sua religião, sexo, gênero, raça ou orientação sexual é inadmissível num país laico que aceite a Declaração Universal dos Direitos do Homem;

2º – Enaltecimento, visibilidade e apoio às ações inclusivas advindas do meio religioso-espiritual, sejam as advindas de religiões/espiritualidade consideradas inclusivas, sejam ações pontuais advindas de religiões historicamente homofóbicas.


O trabalho dos Grupos de Encontro do Movimento se baseia em 5 propostas: Inclusividade ou inclusão (Inclusão dos LGBT em todas as áreas da sociedade em condições de igualdade, em especial no meio religioso e espiritual); Combate à Homofobia (especialmente a homofobia religiosa); Formação do Cidadão LGBT (um cidadão LGBT consciente de seu lugar no mundo saberá lutar por seus direitos com muito mais propriedade); Movimento LGBT Amplo (Crítica, auto-crítica e afinação do discurso sempre que possível e lógico no que concerne às deliberações do que chamamos de Movimento LGBT amplo nacional e internacional); Cultura LGBT (a Cultura LGBT é a cultura comum partilhada por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Ela varia, naturalmente, de acordo com o espaço geográfico e a identidade do indivíduo em questão, no entanto, há certos elementos que são encontrados na maioria das comunidades LGBT).

Quanto ao mecanismo de ação, os Grupos de Encontro sempre consideram as 3 atividades principais a ser desenvolvidas dentro e fora das reuniões:

1ª – Produção de material teórico para efeitos práticos: artigos, debates, ensaios,teses, etc. Tudo isso deve ser compartilhado em nosso blogue oficial para acesso de toda a sociedade e para melhorar a argumentação da comunidade LGBT. Todos aqueles que possuem o dom da palavra e da escrita são chamados a contribuir com o movimento.

2ª –Compartilhamento de experiências a respeito de inclusão, homofobia, descobrir-se LGBT, assumir-se, anseios espirituais, etc. Este compartilhamento pode ocorrer por escrito e publicado no blogue oficial na forma de relato e também durante as reuniões dos Grupos de Encontro, seminários municipais, regionais ou estaduais e outros eventos que venham a ser organizados.

3ª – Ações próprias ou em caráter de apoio do tipo organização de ou participação em palestras, seminários, encontros, intervenções, protestos, passeatas, auxílio a LGBTs em situação de perigo ou conflito de natureza religiosa, engajamento em políticas públicas ou campanhas do terceiro setor (ONGs LGBTs ou não) que tenham afinidade com as propostas do movimento, etc.



Camiseta oficial do Movimento Espiritualidade Inclusiva

Por Espiritualidade Inclusiva


No dia 25 de setembro será lançada em nível nacional a camiseta oficial do Movimento Espiritualidade Inclusiva. Nas cores preta e branca e nos tamanhos M e G, a camiseta terá como preço de lançamento apenas R$ 30,00 (+ R$ 05,00 de correios para qualquer lugar do Brasil).

Você já pode fazer seu pedido antecipado solicitando maiores informações pelo email espiritualidadeinclusiva@gmail.com


sábado, 1 de setembro de 2012

[Notícia] Atividades do Movimento Espiritualidade Inclusiva no Piauí


Por Espiritualidade Inclusiva


O jornalista e coordenador do Movimento Espiritualidade Inclusiva (MEI), Paulo Stekel (Canoas – RS), apresentou a palestra “Saúde Espiritual da Pessoa LGBT através da Inclusão”, como parte das atividades da 8ª Semana do Orgulho de Ser, promovida pelo Grupo Matizes*, em Teresina - Piauí. A atividade ocorreu em 28/08, às 20h, no auditório da Faculdade Santo Agostinho.

A presença do Movimento Espiritualidade Inclusiva em Teresina, através de seu coordenador geral, foi um convite do Grupo Matizes, entidade reconhecidamente importante no trabalho de conscientização, promoção da dignidade e na luta pelos direitos LGBT no Piauí. É um grupo que não se deixa influenciar por forças políticas e mantém sua independência e neutralidade com muita veemência, algo que o Movimento Espiritualidade Inclusiva também tem como princípio.

O público que compareceu à palestra de Stekel foi muito participativo. O tema apresentado é uma novidade no Brasil, e foi apresentado pela primeira vez, sendo Teresina a cidade agraciada. A noção de Saúde Espiritual é bastante recente, e quando aplicada à Saúde Espiritual da comunidade LGBT, é mais recente ainda. O Movimento Espiritualidade Inclusiva tem por objetivo introduzir este tema com mais aprofundamento em nosso país. Confira aqui o arquivo com as principais ideias apresentadas na palestra.

Na abertura da palestra, Stekel cantou o seu single "Iguais", uma música com temática LGBT. Assista o clipe abaixo:



No dia 29/08, Stekel participou da Carreata da Diversidade pelas ruas do centro de Teresina. A carreata encerrou junto ao local onde depois se realizou o Show Boca da Noite “O mar de Teresina fica no céu da boca das meninas”, no Espaço Osório Jr. O show foi uma homenagem aos 160 anos de Teresina, no Dia da Visibilidade Lésbica.

Deixamos nossos agradecimentos ao Grupo Matizes, em especial a Herbert Medeiros e Marinalva Santana, que foram ótimos anfitriões.

Confira algumas fotos das atividades em Teresina:



























* O Grupo Matizes é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, cuja missão principal é a defesa dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Foi fundado em 18 de maio de 2002 e tem sua sede em Teresina, Piauí.