Por Marcelo Moraes Caetano
Na minha muito humilde opinião, o problema de pseudorreligiosos que atacam tão vilipendiosamente um grupo cujo único delito é o fato de sentir atração por um tipo específico de pessoas reside, antes de tudo, numa questão de educação.
Quando digo “educação”, falo dela em todo o seu amplo conteúdo: a educação não apenas formal (a das escolas e universidades), que é importante, sim, mas não suficiente nem sequer pré-requisito para formar a personalidade e o caráter de uma pessoa; falo da educação humanista, aquela que, como se diz, “vem de casa”; da educação no sentido de saber viver e conviver numa sociedade complexa, baseada antes em diferenças do que em semelhanças; falo da educação, enfim, que poderíamos, metaforicamente, chamar de uma bela elegância de espírito.
Não pretendo nomear as pseudorreligiões dos pseudorreligiosos − deixarei, elegantemente, que a carapuça lhes sirva − porque tenho a mais absoluta certeza de que uma verdadeira Religião, assim como verdadeiros Religiosos, nunca, em tempo algum, seriam capazes de perder tanto tempo de prática de caridade e amor fraterno destilando tanto ódio (!) contra seres humanos, despejando ironias, sarcasmos, ameaças, sátiras, deboches, brandindo, como espadas, livros que usam violentamente como se esses livros, em suas pseudointerpretações deselegantes e cheias de animosidade e ira, contivessem, da maneira como esses nada inocentes os leem, a lógica mais pura e beatífica da justificativa para uma chacina encomendada, segundo eles, por seu próprio Deus. Quaisquer Deuses que mandassem uma pessoa pregar aos gritos o extermínio de outras pessoas, pelo “motivo” que for, pertencem ao campo do delírio e do surto esquizofrênico (ouvir vozes, ver coisas...), não de uma verdadeira Religião.
Já ouvi dizerem que se trata de paranoia. Eu não consigo ver assim. Não vejo isso como paranoia. Não, não é. Não vejo, tampouco, como fanatismo. Paranoia é um sentimento em que a pessoa se vê perseguida a todo momento. A ira desses pseudos não se baseia num medo, num sentimento de perseguição: até porque o paranoico não seria capaz de juntar-se e formar, tão racionalmente, grupos de outros supostos paranoicos a fim de atacarem com destemor (o paranoico tem medo até da própria sombra...) seus supostos “perseguidores” úberes. Isso é contrário à paranoia. Grupos de “paranoicos racionalmente reunidos” para combaterem seus infinitos perseguidores é algo, até, hilariante. Essa organização tão racionalizada e fria desses pseudocivilizados estaria, mais, para um “surto coletivo de psicóticos”, seja isso lá o que for. Bem, já que é para atentar co0ntra a psicologia, que seja para nomeá-los de psicóticos reunidos, o que é mais verossímil, no caso deles, do que nomeá-los de paranoicos reunidos.
Dizer que se trata de fanatismo, a meu ver, muito humildemente, é, também, um eufemismo. É passar a mão na cabeça de pessoas em quem não existe uma vontade “fanática” de se defender coisa alguma, ideia alguma com fundo de verdade, mas, sim, uma pulsão assassina e sociopata de destruir um grupo que, seja lá pelo motivo que for, agride suas frágeis autoimagens pseudorreligiosas e seus frágeis interesse$$$.
Ora, o fanatismo caracteriza-se, antes do mais, por um desejo verdadeiro de se defender alguma causa, e não por uma insanidade descontrolada de se destruir um tipo de comportamento − que sequer é uma “causa” − gratuitamente. Quer dizer, “gratuitamente” foi só um ato-falho, porque o que eles fazem não tem nada de gratuito, e nem tampouco visa a atingir um seráfico e apolíneo ideal gratuito. Tem muita grana por trás dessa ira. E tem muita sombra em muitos lugares de origem dessa grana. Basta vermos que, quando alguém começa a mexer nela, só sai devassidão e podridão.
Entre chamá-los de fanáticos (pessoas que, mesmo ingenuamente, lutam de fato por algo nobre em que acreditam) e chamá-los de cínicos (pessoas que usam pretextos para lutarem por causas sórdidas), certamente “cínicos” é um adjetivo adequado. “Fanáticos”, repito, é passar a mão sobre as cabeças deles.
É impressionante como eles conseguem uma proeza que, sem ironia nenhuma, é uma façanha extraordinária, porque une um paradoxo. Quero dizer que eles conseguem ser simulados e dissimulados − ao mesmo tempo. Ora, o simulado é aquele que finge ser o que não é; já o dissimulado, como o próprio prefixo de negação (dis) indica, é aquele que finge não ser o que é. São simulados porque fingem lutar por uma causa nobre, e são dissimulados porque fingem não lutar por uma causa sórdida. E assim se “equilibram”, entre dois tipos que, filosoficamente, são contraditórios no que tange à conduta: simulação e dissimulação.
O que são eles, afinal? Por que será que só conseguem enxergar o mundo com um único olho, e que esse único olho de ciclope no meio de suas testas lhes gera tanto furor?
Simplesmente eles são desequilibrados. Fica difícil saber se, neles, foi o desequilíbrio que gerou a falta de educação (como eu concebo “educação”, acima explicitado), ou se foi a falta de educação que gerou o desequilíbrio. Propendo a pensar que ambos os caminhos se retroalimentam. A gera B e B gera A, num moto-perpétuo. O que tenho certeza que é uma consquência dessa dicotomia inseperável − falta de educação/desequilíbrio − é a terrível e horrorosa deselegância que eles carregam sobre as costas e os semblantes de ódio com a beleza de um sanguinolento carrasco furioso.
O problema da deselegância, da horrível máscara e da horrível mortalha que ela gera em quem a veste nem é o fato de ela ser horrível. Isso porque cada um escolhe vestir a máscara e a roupa que bem lhe aporuver. Se esses pseudos simplesmente resolvessem usar essa indumentária monstruosa, seria um direito deles, e, afinal, o mau-gosto nunca foi crime...
O problema é que a deselegância é usada como mais uma das despudoradas armas contra grupos humanos − tão humanos quanto eles − cuja defesa, portanto, não pode e não deve ser baseada na mesma deselegância.
Não precisei dar nome a nada. Nem aos desequilibrados e desvairados, nem aos grupos martirizados por motivo torpe e fútil. Mas tenho certeza de que o bom entendedor entenderá.
Só gostaria mesmo de dizer que não se combate a grosseria, o escárnio e a máscara do sarcasmo iracundo com grosseria, escárnio e máscara do sarcasmo iracundo. Deve-se combater o desequilíbrio e a falta de educação desses grupos com muito equilíbrio e, sobretudo, com muita educação.
Em poucas palavras, deve-se combater a horrenda deselegância das pseudodoutrinas pseudorreligiosas com extrema elegância.
Digo isso sem NENHUM medo de estar ferindo às pessoas de boa índole, ou às religiões de verdade; porque pessoas de boa índole e religiões de verdade jamais agem com ódio, rancor, maledicência, sarcasmo, irracionalidade (a racionalidade das pseudorreligiões é apenas para se unirem em torno de uma “ideia” insana e irracional); pessoas com boa índole e religiões de verdade − e, felizmente, elas são a maioria − procuram compreender as diferenças e, se não as compreendem, não formam exércitos de soldados mercenários, com sede de sange, pagos pelo “dinheiro” da ira.
No fundo, os mártires e as pessoas de boa índole provenientes das verdadeiras religiões estamos, todos, do mesmo lado e temos, todos nós, o mesmo inimigo: a pseudorreligião deseducada, deselegante, desequilibrada, simulada, dissimulada, cínica, sarcástica, sórdida, mercenária.
Unamo-nos, com elegância e com a educação que, afinal, nós sim trazemos de casa.
Afinal, como diz um ditado grego antiquíssimo: o Sol não se incomoda com uma chama de vela.
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