Assim, espero! O ano de 2011 foi particularmente interessante. Algumas conquistas, muita oposição dos fanáticos, a mesma violência de sempre contra gays pelo Brasil afora, uma atitude apática (quando não evasiva) do governo federal (diga-se, executivo!) fazendo de conta que apoia os LGBT e que estes merecem consideração NA MESMA MEDIDA que qualquer outro cidadão brasileiro, mas não agindo para que isto ocorra de modo definitivo... Se a nosso próprio governo a questão de trazer aos LGBT a cidadania plena parece secundária, o que podemos esperar dos demais? Contudo, nossos impostos e nosso voto devem ser considerados de primeira, não é mesmo? Até para os corruptos políticos da frente evangélica nosso voto é divino! Mas, do diabólico dinheiro corrupto deles não quero um só centavo!
Penso que 2012 é um
ótimo ano para exercermos nossos direitos de cidadãos, independente
de leis especiais que ratifiquem o óbvio declarado na Constituição
Federal de 1988 de que somos todos iguais e temos os mesmos direitos
e deveres. Na verdade, já estamos em todos os lugares da sociedade,
mas muitas vezes, escondidos, no armário, acuados por vários
fatores determinantes (medo de familiares, dos amigos, do patrão, do
pastor da igreja...), fatores estes que devem ser eliminados para que
possamos exercer nossa cidadania de modo pleno. E, isso, depende de
nossas atitudes individuais no dia-a-dia, não de atitudes
necessariamente coletivas. Impor-se como indivíduo pode ser mais
efetivo que uma parada gay!
Então, meu anseio para
2012 é que, dentro do possível, todos os cidadãos LGBT possam sair
do armário e impor-se nesta sociedade com toda a força de suas
almas. Há riscos? Sim, claro que há! E, muitos! Mas, os resultados
compensam os riscos. Os resultados de se perceber quem são os
verdadeiros amigos, os familiares que realmente nos amam, os colegas
de trabalho que nos consideram, os pastores ou padres que superam a
homofobia implícita em seus livros sagrados... Só com estes temos
algo a partilhar mais do que a ganhar. Com os demais, não temos nada
a ver. Se dizem que “não somos de Deus”, dizemos: “Não
queremos ser do Deus de vocês, preconceituoso e que se compraz na
infelicidade de filhos gays que ele mesmo fez nascerem assim! Na
verdade, com este Deus não temos qualquer contrato!”
Desde que me dispus a
não me esconder de quem quer que fosse – família, amigos,
trabalho, religião, etc. – posso dizer que venci barreiras antes
intransponíveis. No meu trabalho todos sabem de minha natureza
(pois, penso ser natural a diversidade de orientação sexual!) e,
pelo menos ao que vejo, aceitam sem qualquer condição. De quem não
aceita já me afastei faz tempo. Nas redes sociais não escondo que
tenho um relacionamento com alguém do mesmo sexo – relação de
dez anos já! Portanto, quem me adiciona, já sabe, pois isso é
público. Mesmo assim, raramente recebo algum email ou post
ofensivo ou do tipo trollagem. Dizem que é porque “tenho
atitude”, embora tenha dúvidas sobre o que querem dizer com isso.
Eu apenas sou como sou, não me escondo, não nego a mim mesmo, sei
do meu valor, dos meus direitos, não tento impôr nada a ninguém e
não deixo imporem nada a mim, não vivo em guetos e não os
incentivo, sei que o mundo é diverso e me agrada que assim seja...
Quanto à religião,
sou de origem católica, me tornei espírita aos 15 anos e budista
aos 25. Aliás, no Budismo encontrei uma visão não preconceituosa
que me agrada. A outros amigos, lhes agrada a visão inclusiva do
Candomblé, da Umbanda, do Santo Daime ou das Religiões Neo-Pagãs
(Wicca). Sem esquecer, é claro, os amigos pertencentes a
Igrejas evangélicas inclusivas! Sou budista desde 1995 –
especificamente o Budismo Tibetano –, e descobri que no templo onde
estive em retiro no sul do Brasil realizam-se, por vezes, casamentos
budistas entre casais gays. Estas cerimônias são restritas por
causa do preconceito dos membros de outras religiões na região, o
que não impressiona pela obviedade! Já cobrei um pouco mais de
coragem dos lamas deste centro budista, lembrando que em centros de
umbanda e candomblé é comum a realização de casamentos religiosos
públicos, até televisionados. Afinal, um centro budista comandado
por uma lama dos EUA cujo séquito quase exclusivo de mulheres é
composto por 99% de lésbicas (palavras de quem as viu na intimidade)
não pode continuar no armário para evitar problemas. É um centro
budista inclusivo de fato e ainda quer esconder-se? O Buda não
ensinou o esquivar-se, mas a coragem indômita para defender a
verdade, o direito dos seres vivos à felicidade e ao amor pleno.
Assim, também penso...
Na família, não há
mais o que considerar. No momento em que se conta para os mais
próximos e estes contam a “especialistas”, diga-se, aquelas
“tias” nascidas para o “jornalismo de sacada”, todos os
demais familiares ficam sabendo tão rápido quanto espalhar notícias
pelo Twitter. Rsrs. Na verdade, quanto aos mais próximos –
familiares e amigos – percebi que, geralmente, contada a verdade,
cessam as curiosidades. Escondida a verdade, parece que a curiosidade
é insaciável. Rsrs. Portanto, eis meu conselho (gratuito): contem o
mais rápido possível para as pessoas certas, as que mais os amam.
Se não conseguem distinguir quais são as pessoas que mais os amam,
não contem até terem certeza, pois neste caso, ou realmente não os
amam ou vocês é que são insensíveis a ponto de não perceberem o
amor que lhes é dispensado.
Um dos objetivos da
criação deste blogue Espiritualidade Inclusiva foi exatamente o de
poder compartilhar com vocês experiências gays ligadas à
espiritualidade. E, não só as minhas, mas as de todos os que
quiserem colaborar com este projeto. Quero que seja algo de toda a
comunidade LGBT e não de uma só pessoa. Aos poucos as sugestões,
críticas e colaborações estão chegando. Queremos mais, precisamos
mais, e faremos mais! Uma saída do armário no campo espiritual é o
que nos propomos por aqui. Houve, há e sempre haverá gays nas
tradições espirituais, em todas elas. Tenho certeza de que há
santos gays, padres gays, imames gays, rabinos gays, pastores gays,
profetas gays, brâmanes gays... Queremos ajudar a todos os LGBT que
querem buscar uma espiritualidade, um caminho viável sem preconceito
embutido. E, conseguiremos, com a ajuda de todos vocês!
Um Feliz 2012 a todos
os que respeitam a diversidade!
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