Hoje, 13 de fevereiro
de 2012, nosso blogue Espiritualidade Inclusiva completa dois meses
de um trabalho intenso e reconhecido pela comunidade LGBT, tanto
aquela parcela interessada em religião e espiritualidade quanto
aquela formada por ateus e ativistas político-sociais. As
estatísticas atualizadas mostram o que já conquistamos: 44
postagens de diversos autores, mais de 4300 visitantes, quase 6 mil
visualizações de página e diversos comentários muito inteligentes
e com argumentos profundos.
Até o momento, a
postagem mais lida é o artigo “A visão espírita da união
estável homossexual segundo Divaldo Pereira Franco”, que recebeu
vários comentários no blogue e no Facebook exatamente por envolver
a figura de um dos mais famosos médiuns espíritas do Brasil.
O segundo artigo mais
lido até agora é “[Notícia] Uma lição (cristã) de amor ao
próximo LGBT...”, referente a uma foto em que um grupo cristão
aparece a um desfile do Orgulho Gay em Chicago segurando cartazes
apologéticos, incluindo "Eu sinto muito de como a Igreja tratou
vocês". Atitudes inclusivas desta natureza sempre encontram um
apelo positivo junto à comunidade LGBT.
O terceiro artigo mais
lido até o momento é “[Evento] Palestra sobre Espiritualidade
Inclusiva no Fórum Social Temático – Porto Alegre – RS”. Se
trata do convite para nossas atividades junto ao Fórum Social
Temático (FST), ocorrido em Porto Alegre entre os dias 24 e 29 de
janeiro.
As atividades que
promovemos durante FST foram coroadas de êxito. A primeira delas foi
uma palestra intitulada “Espiritualidade Inclusiva – a aceitação
da comunidade LGBT pelas religiões no Brasil”, realizada no dia 25
de janeiro, na Usina do Gasômetro, centro de Porto Alegre. Foi nosso
primeiro contato oficial com o público LGBT fora da Internet. Quem
esteve presente gostou da proposta de inclusão dos LGBT nas diversas
organizações religiosas/espirituais sem qualquer demonização ou
preconceito. A segunda atividade foi uma oficina chamada “Diversidade
Intercultural e Espiritualidade Inclusiva” realizada no FST –
Canoas no dia 26 de janeiro, no Galpão da Diversidade montado pela
Coordenadoria de Políticas de Diversidade, coordenada por Paulo
Rogerio Ambieda (Paulinho de Odé). O público desta atividade era
formado principalmente por afro-umbandistas, membros de uma das
religiões mais demonizadas pelo neo-pentecostalismo radical
brasileiro.
A propósito, os dois
conceitos de “inclusão” e “demonização” se opõem. A
inclusão se refere a entender a diferença e a diversidade do outro,
compreendê-lo e amá-lo, acolhê-lo e vê-lo como parte de um
universo natural, social, religioso/espiritual e político tanto
quanto a si mesmo.
A demonização –
termo que se refere a um preconceito vindo de religiosos para com o
diverso – anda em sentido oposto, tendendo à normatização de
crenças e dogmas, incompreensão da diferença e diversidade do
outro, estranheza pelas características do outro, negação de um
caráter natural (não doentio, não esdrúxulo, não aberrativo) à
existência do outro, redundando em não reconhecimento de seus
direitos sociais, religiosos/espirituais e políticos. Ou seja, ao
demonizar o outro, os fanáticos religiosos se consideram o summum
bonum de Deus e os demais como decadentes, endemoninhados e
aberrações.
A hipocrisia, a
intolerância e a ignorância a respeito do outro, além de se achar
a “última bolacha do pacote divino” são as tônicas da
demonização. As grandes religiões instituídas, falemos
francamente, sempre caem nesta tendência a se acharem melhores que
as demais, a pregarem uma ideia de que são o único caminho viável
para uma salvação, felicidade, perfeição ou iluminação. Faz
mesmo parte das características das religiões. Se elas são
sistemas fechados, “prontos”, com respostas para (quase) todas as
questões mundanas, é natural que se considerem aptas a contrapor
qualquer outro sistema fechado, pois sistemas fechados não
conversam, não interagem. Algumas religiões, que podemos
classificar mais como “filosofias religiosas”, talvez consigam
ser mais abertas e dialogar com o outro (religioso ou não). Mas, as
religiões patriarcais teístas em geral, são muito incompetentes
neste diálogo. Por isso, o diálogo inter-religioso esbarra em
tantas dificuldades quando os temas debatidos são muito polêmicos.
A inclusão dos LGBT é um destes temas “tabu”.
De qualquer forma,
continuamos o nosso trabalho de conscientização quanto a dois
fatos: os LGBT possuem uma espiritualidade e um anseio por questões
transcendentais tanto quanto qualquer outro ser humano; os LGBT
merecem, por conta de sua existência não voluntária (não decidem
ser LGBT!), ser reconhecidos como naturais, normais (numa natureza
não plenamente conhecida sequer pela ciência) e dignos de todos os
direitos dos outros seres humanos, entre eles, o de não serem
demonizados, apartados como leprosos, considerados doentes,
aberrações ou desviantes.
Continuamos abertos a
críticas, sugestões, artigos e notícias de colaboração, dicas e
depoimentos de quem queira passar aos leitores do blogue suas
experiências com a religião e a espiritualidade. O formato do
blogue não é fechado e podemos melhorá-lo ou modificá-lo sempre
que for útil e necessário. Aos poucos estão chegando alguns
relatos interessantes que virarão artigos em breve. Há uma
multiplicidade de experiências que precisam chegar ao grande
público, para nortear nossas ações em prol da inclusão e da
diversidade.
Contamos com nossos
leitores nesta tarefa de fazer esta proposta se expandir por todos os
cantos e liberar pessoas de angústias internas e da sensação de
não serem dignas de qualquer benefício divino, espiritual ou
transcendental. São dignas e, em breve, serão plenamente
reconhecidas como tais!
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