segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

[Editorial] Inclusão X Demonização

Por Paulo Stekel

Hoje, 13 de fevereiro de 2012, nosso blogue Espiritualidade Inclusiva completa dois meses de um trabalho intenso e reconhecido pela comunidade LGBT, tanto aquela parcela interessada em religião e espiritualidade quanto aquela formada por ateus e ativistas político-sociais. As estatísticas atualizadas mostram o que já conquistamos: 44 postagens de diversos autores, mais de 4300 visitantes, quase 6 mil visualizações de página e diversos comentários muito inteligentes e com argumentos profundos.

Até o momento, a postagem mais lida é o artigo “A visão espírita da união estável homossexual segundo Divaldo Pereira Franco”, que recebeu vários comentários no blogue e no Facebook exatamente por envolver a figura de um dos mais famosos médiuns espíritas do Brasil.

O segundo artigo mais lido até agora é “[Notícia] Uma lição (cristã) de amor ao próximo LGBT...”, referente a uma foto em que um grupo cristão aparece a um desfile do Orgulho Gay em Chicago segurando cartazes apologéticos, incluindo "Eu sinto muito de como a Igreja tratou vocês". Atitudes inclusivas desta natureza sempre encontram um apelo positivo junto à comunidade LGBT.

O terceiro artigo mais lido até o momento é “[Evento] Palestra sobre Espiritualidade Inclusiva no Fórum Social Temático – Porto Alegre – RS”. Se trata do convite para nossas atividades junto ao Fórum Social Temático (FST), ocorrido em Porto Alegre entre os dias 24 e 29 de janeiro.

As atividades que promovemos durante FST foram coroadas de êxito. A primeira delas foi uma palestra intitulada “Espiritualidade Inclusiva – a aceitação da comunidade LGBT pelas religiões no Brasil”, realizada no dia 25 de janeiro, na Usina do Gasômetro, centro de Porto Alegre. Foi nosso primeiro contato oficial com o público LGBT fora da Internet. Quem esteve presente gostou da proposta de inclusão dos LGBT nas diversas organizações religiosas/espirituais sem qualquer demonização ou preconceito. A segunda atividade foi uma oficina chamada “Diversidade Intercultural e Espiritualidade Inclusiva” realizada no FST – Canoas no dia 26 de janeiro, no Galpão da Diversidade montado pela Coordenadoria de Políticas de Diversidade, coordenada por Paulo Rogerio Ambieda (Paulinho de Odé). O público desta atividade era formado principalmente por afro-umbandistas, membros de uma das religiões mais demonizadas pelo neo-pentecostalismo radical brasileiro.

A propósito, os dois conceitos de “inclusão” e “demonização” se opõem. A inclusão se refere a entender a diferença e a diversidade do outro, compreendê-lo e amá-lo, acolhê-lo e vê-lo como parte de um universo natural, social, religioso/espiritual e político tanto quanto a si mesmo.

A demonização – termo que se refere a um preconceito vindo de religiosos para com o diverso – anda em sentido oposto, tendendo à normatização de crenças e dogmas, incompreensão da diferença e diversidade do outro, estranheza pelas características do outro, negação de um caráter natural (não doentio, não esdrúxulo, não aberrativo) à existência do outro, redundando em não reconhecimento de seus direitos sociais, religiosos/espirituais e políticos. Ou seja, ao demonizar o outro, os fanáticos religiosos se consideram o summum bonum de Deus e os demais como decadentes, endemoninhados e aberrações.

A hipocrisia, a intolerância e a ignorância a respeito do outro, além de se achar a “última bolacha do pacote divino” são as tônicas da demonização. As grandes religiões instituídas, falemos francamente, sempre caem nesta tendência a se acharem melhores que as demais, a pregarem uma ideia de que são o único caminho viável para uma salvação, felicidade, perfeição ou iluminação. Faz mesmo parte das características das religiões. Se elas são sistemas fechados, “prontos”, com respostas para (quase) todas as questões mundanas, é natural que se considerem aptas a contrapor qualquer outro sistema fechado, pois sistemas fechados não conversam, não interagem. Algumas religiões, que podemos classificar mais como “filosofias religiosas”, talvez consigam ser mais abertas e dialogar com o outro (religioso ou não). Mas, as religiões patriarcais teístas em geral, são muito incompetentes neste diálogo. Por isso, o diálogo inter-religioso esbarra em tantas dificuldades quando os temas debatidos são muito polêmicos. A inclusão dos LGBT é um destes temas “tabu”.

De qualquer forma, continuamos o nosso trabalho de conscientização quanto a dois fatos: os LGBT possuem uma espiritualidade e um anseio por questões transcendentais tanto quanto qualquer outro ser humano; os LGBT merecem, por conta de sua existência não voluntária (não decidem ser LGBT!), ser reconhecidos como naturais, normais (numa natureza não plenamente conhecida sequer pela ciência) e dignos de todos os direitos dos outros seres humanos, entre eles, o de não serem demonizados, apartados como leprosos, considerados doentes, aberrações ou desviantes.

Continuamos abertos a críticas, sugestões, artigos e notícias de colaboração, dicas e depoimentos de quem queira passar aos leitores do blogue suas experiências com a religião e a espiritualidade. O formato do blogue não é fechado e podemos melhorá-lo ou modificá-lo sempre que for útil e necessário. Aos poucos estão chegando alguns relatos interessantes que virarão artigos em breve. Há uma multiplicidade de experiências que precisam chegar ao grande público, para nortear nossas ações em prol da inclusão e da diversidade.

Contamos com nossos leitores nesta tarefa de fazer esta proposta se expandir por todos os cantos e liberar pessoas de angústias internas e da sensação de não serem dignas de qualquer benefício divino, espiritual ou transcendental. São dignas e, em breve, serão plenamente reconhecidas como tais!

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