segunda-feira, 12 de março de 2012

O papel da mulher numa espiritualidade inclusiva

Por Paulo Stekel

[Este artigo traz a essência da palestra de mesmo nome ministrada por ocasião do Dia Internacional da Mulher, em 08 de março, na Câmara de Vereadores de Eldorado do Sul – RS. Neste dia, ocorreu a 1ª Marcha das Mulheres, promovida pela AME – Associação das Mulheres Eldoradenses, da qual Stekel participou e tirou algumas fotos, que ilustram este artigo. O convite foi feito pela Presidenta da AME, Adriana “Drika” Viegas. Fotos de Paulo Stekel]



Usando uma expressão popular, podemos dizer que as mulheres “estão em todas”, e cada vez mais. Depois de muita luta (direito a uma alma, direito a voto, divórcio, trabalhar fora, etc.), as mulheres estão presentes em todos os setores de nossa sociedade.

(Drika Viegas, presidenta da AME - Associação das Mulheres Eldoradenses)

Ao mesmo tempo, ainda temos setores onde a presença feminina é menor, pelo menos na representatividade. É o caso da política. Ali, uma grande quantidade de mulheres milita em todas as siglas partidárias, mas só uma parcela mínima (às vezes nem chega a isso) acaba concorrendo aos cargos eletivos em todas as esferas. Destas, poucas são as eleitas, apesar disto estar se modificando lentamente.

(Aladar e Guanaíra, do CEMAS - Centro Municipal de Apoio ao Soropositivo - Santa Cruz do Sul, que também participaram das atividades em Eldorado do Sul - RS)
Considerando que espiritualidade/religiosidade tem a ver com um anseio natural do ser humano pelo transcendente, independente das religiões instituídas, e que “espiritualidade inclusiva” se refere a uma busca espiritual que não exclui ninguém, seja por raça, cor, etnia, cultura, religião, gênero ou orientação sexual, o que isso tem a ver com a mulher? Tudo, pois a experiência mostra que, em geral, as mulheres são mais tolerantes e menos preconceituosas que os homens. Na verdade, as mães são mais abertas que os pais.

(Paulo Stekel, em entrevista à Rádio Comunitária de Eldorado do Sul, antes de sua palestra)
Quando levamos isso para a questão LGBT, as estatísticas nacionais e mundiais mostram que as mães aceitam muito mais facilmente seus filhos gays, lésbicas, transexuais, etc, do que os pais, geralmente mais fechados e ligados a um machismo introjetado muito prejudicial à saúde psicológica e mental de seus filhos.


Posto isto, dizemos que o principal papel da mulher na promoção de uma espiritualidade inclusiva tem a ver com sua maior facilidade em demonstrar um amor incondicional por seus filhos, independente de como eles se apresentem. E, isso, as mães conseguem estender aos filhos dos outros. Mesmo que as mães não consigam ver seus filhos gays como sendo normais, como tendo nascido com esta orientação, elas conseguem seguir amando-os, apoiando-os e defendendo-os do preconceito do mundo heteronormativo. Não há como negar que de cada dez mães que aceitam seus filhos gays, apenas um pai parece fazer o mesmo. Tanto que as exceções chegam a ser surpreendentes.

(Paulo Stekel, representando o Movimento Espiritualidade Inclusiva, em palestra para as mulheres na Câmara de Vereadores de Eldorado do Sul - RS)
Nosso blogue Espiritualidade Inclusiva, por exemplo, tem uma grande quantidade de leitoras, maioria, com certeza, e em geral são as pessoas mais atentas, mais participativas e, muito importante, as mais respeitosas e com argumento. Já tivemos duas colaboradoras nas matérias do blogue que são heterossexuais e outras que já enviaram material inclusivo para avaliação. A participação feminina em nosso movimento já se faz sentir e é de ótima qualidade.

Contudo, ainda é lastimável o preconceito que a mulher sofre no Brasil. Se ela for mulher, negra, lésbica e pobre, sofrerá um quádruplo preconceito, muito angustiante. Na mente machista, a mulher é considera um ser inferior ao homem e subordinada a ele, sem possibilidade de argumentação. Os fanáticos parecem lembrar das palavras misóginas do Apóstolo Paulo sobre as mulheres serem submissas aos maridos para destilar sua tirania patriarcal. Somando-se a isso o preconceito racial que existe, sim, no Brasil, fica muito difícil para a mulher negra encontrar colocação profissional adequada mesmo quando preenche todos os requisitos técnicos. Se ela for lésbica, então, nem pensar! Se for pobre, melhor a morte! Mas, não é assim que o país vai crescer e incluir a todos os cidadãos numa prosperidade equitativa. Não adianta o Brasil tornar-se a sexta economia do mundo, mas manter suas mulheres na miséria e sob um preconceito indignante.

Por isso, digo: todos os movimentos sociais de mulheres e para as mulheres (incluindo os da comunidade LGBT) devem ser fortalecidos cada vez mais. Fortalecendo os movimentos das mulheres, pela natureza delas, já estaremos reforçando outros movimentos que venham a beneficiar a todos, homens e mulheres, heterossexuais ou LGBTs.

(Drika Viegas e Isabel, da AME - Associação das Mulheres Eldoradenses)

Então, amadas mulheres, continuemos a luta!

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