quinta-feira, 17 de maio de 2012

[Dia Internacional de Combate à Homofobia] Confrontando a Homofobia Religiosa

Por Paulo Stekel


“Não se vive apenas de esperança, mas sem esperança não vale a pena viver.” (Harvey Milk)

“Sempre que a moralidade se baseia na teologia, sempre que o correto se torna dependente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser justificadas e estabelecidas.” (Ludwig Feuerbach)

Quantas formas de homofobia existem? Muitas. Uma para cada mente pensante... Cada um expressa seu preconceito de uma maneira particularmente vil e criativa. Os homofóbicos de carteirinha buscam todos os subterfúgios possíveis para destilar veneno contra a comunidade LGBT sem parecerem estar fazendo o óbvio: rebaixando seres humano a uma categoria inferior unicamente por causa de sua orientação sexual.

Hoje, 17 de maio, é o Dia Internacional de Combate à Homofobia. É um dia de luta, mais do que de comemoração. O status da homofobia varia de lugar para lugar, de país para país, mas no final das contas, tem sempre a mesma motivação: o medo do diferente, a intolerância com o que parece “fugir” da norma que se pretende ser a ideal e estatisticamente maioria. Nem mesmo a Ciência pode confirmar isso, uma vez que já foram identificados comportamentos sexuais diversos em muitas espécies animais, especialmente em mamíferos.

No dia 17 de maio de 1990 a OMS (Organização Mundial da Saúde) finalmente deixou de incluir a homossexualidade no rol dos transtornos mentais, retirando-a da lista de doenças internacionais. Hoje, no âmbito dos direitos humanos internacionais e da Ciência não somos mais chamados de “doentes”, “mentalmente perturbados” ou “pervertidos”, entre outros “elogios”. Contudo, a homofobia persiste e continua fazendo vítimas, especialmente no Brasil, agora a sexta economia mundial, mas também o país onde mais se assassina homossexuais no planeta, superando de longe os países islâmicos mais radicais, como o Irã, por exemplo. A Bahia parece ser o estado mais homofóbico do Brasil, mas o preconceito violento se mostra em toda a nação.

Dentro desta conta não podemos desconsiderar o potencial violento de uma forma específica de homofobia que parece estar fomentando, direta ou indiretamente, um aumento significativo do ódio contra a comunidade LGBT: a homofobia religiosa.

A homofobia religiosa é um tipo de fundamentalismo religioso no qual o vilão, o sujeito pecador, o próprio demônio, é o diferente, o diverso, o LGBT! Através de textos religiosos (Bíblia, Torah, Alcorão, etc.) e não por evidências científicas, o homofóbico religioso pretende demonstrar o caráter não-natural das orientações não exclusivamente heterossexuais, lançando, a partir daí, uma série de argumentos para manter a comunidade LGBT no gueto da invisibilidade, no limbo dos não-direitos e no inferno da própria existência.

Para o terapeuta norte-americano James Guay, a homofobia religiosa: “É uma forma de opressão utilizada por algumas pessoas e instituições religiosas para motivar pessoas a mudar sua orientação ou comportamento sexual. Em sua forma mais extrema, a homofobia religiosa pode contribuir para aumentar as taxas de suicídio, depressão, ansiedade, dificuldades com a intimidade, auto-ódio, a polarização das famílias e comunidades, e motivação para tentar mudar a orientação sexual.”

Para entendermos como a homofobia religiosa funciona, listemos apenas algumas ações promovidas por seus partidários intolerantes:

- Discursos abertamente preconceituosos e demonizantes em rede nacional valendo-se da mídia, internet, jornais, TV, emails, etc.

- “Exorcismos” hilários para retirar o “demônio do homossexualismo”, produtos de puro charlatanismo que ocorre sob a vista grossa do Judiciário e do Poder Público. Mais que assédio moral, um crime bárbaro!

- Terapias de reversão de orientação sexual, já comprovadamente contraproducentes, constituindo-se numa verdadeira auto-flagelação comparável aos métodos nazistas.

- Campanhas caluniosas com o objetivo de inserir um medo generalizado na população heterossexual de que os gays venham a constituir um verdadeiro “império”, ameaçando a reprodução e a existência das famílias (como se gays não viessem de famílias heterossexuais ou fossem filhos de chocadeira).

- Tentativas e lobby político no sentido de impedir a conquista ou mesmo de retirar direitos da comunidade LGBT, pretendendo que o comportamento não-heterossexual fique restrito à vida privada, sem reconhecimento jurídico e, assim, sem quaisquer consequências jurídicas naturalmente atribuídas a qualquer família heterossexual.

Casos de suicídio motivados por homofobia religiosa não são isolados. O problema, na verdade, é global. Em maio de 2011, a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, declarou: “Em última análise, a homofobia e a transfobia não são diferentes do sexismo, da misoginia, do racismo ou da xenofobia. Mas enquanto essas últimas formas de preconceito são universalmente condenadas pelos governos, a homofobia e a transfobia são muitas vezes negligenciadas. A história nos mostra o terrível preço humano da discriminação e do preconceito. Ninguém tem o direito de tratar um grupo de pessoas como sendo de menor valor, menos merecedores ou menos dignos de respeito.”

Este ano temos eleições municipais. É o momento de exigirmos de todos os candidatos a prefeito e vereador um posicionamento quanto à questão da homofobia e dos direitos humanos LGBT, independentemente do partido ao qual estejam ligados. Da mesma forma, é crucial que venhamos a exigir destes candidatos um posicionamento quanto à homofobia religiosa, que tem sido um agravante substancial no ódio irracional de alguns setores da sociedade contra os homossexuais. Por fim, devemos exigir deles uma atitude de ratificação do Estado Laico, sob pena do o vermos ameaçado por “talibãs cristãos” da pior espécie, que manipulam a sociedade e a jogam contra a comunidade LGBT sem qualquer arrependimento, utilizando Deus como escudo, algoz e cúmplice! Isso é inadmissível num país laico. A religião, que é uma instância particular que cada cidadão decide professar ou não, jamais pode se sobrepor num estado laico às demandas de toda a sociedade, interferindo com sua particularidade dogmática na vida de todos os cidadãos de uma nação. Isso é ilógico, medieval e desumano! Vamos combater esta tendência com todas as nossas forças no campo das ideias, da argumentação, do direito, da lei e da política social.

Celebremos mais um Dia Internacional de Combate à Homofobia lutando muito, avançando sempre, sem recuar, sem olhar para trás, mas cuidando de nossas próprias vidas, pois elas correm perigo a todo instante...

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