“Não se vive apenas
de esperança, mas sem esperança não vale a pena viver.” (Harvey
Milk)
“Sempre que a
moralidade se baseia na teologia, sempre que o correto se torna
dependente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e
infames podem ser justificadas e estabelecidas.” (Ludwig Feuerbach)
Quantas formas de
homofobia existem? Muitas. Uma para cada mente pensante... Cada um
expressa seu preconceito de uma maneira particularmente vil e
criativa. Os homofóbicos de carteirinha buscam todos os subterfúgios
possíveis para destilar veneno contra a comunidade LGBT sem
parecerem estar fazendo o óbvio: rebaixando seres humano a uma
categoria inferior unicamente por causa de sua orientação sexual.
Hoje, 17 de maio, é o
Dia Internacional de Combate à Homofobia. É um dia de luta, mais do
que de comemoração. O status da homofobia varia de lugar para
lugar, de país para país, mas no final das contas, tem sempre a
mesma motivação: o medo do diferente, a intolerância com o que
parece “fugir” da norma que se pretende ser a ideal e
estatisticamente maioria. Nem mesmo a Ciência pode confirmar isso,
uma vez que já foram identificados comportamentos sexuais diversos
em muitas espécies animais, especialmente em mamíferos.
No dia 17 de maio de
1990 a OMS (Organização Mundial da Saúde) finalmente deixou de
incluir a homossexualidade no rol dos transtornos mentais,
retirando-a da lista de doenças internacionais. Hoje, no âmbito dos
direitos humanos internacionais e da Ciência não somos mais
chamados de “doentes”, “mentalmente perturbados” ou
“pervertidos”, entre outros “elogios”. Contudo, a homofobia
persiste e continua fazendo vítimas, especialmente no Brasil, agora
a sexta economia mundial, mas também o país onde mais se assassina
homossexuais no planeta, superando de longe os países islâmicos
mais radicais, como o Irã, por exemplo. A Bahia parece ser o estado
mais homofóbico do Brasil, mas o preconceito violento se mostra em
toda a nação.
Dentro desta conta não
podemos desconsiderar o potencial violento de uma forma específica
de homofobia que parece estar fomentando, direta ou indiretamente, um
aumento significativo do ódio contra a comunidade LGBT: a homofobia
religiosa.
A homofobia religiosa é
um tipo de fundamentalismo religioso no qual o vilão, o sujeito
pecador, o próprio demônio, é o diferente, o diverso, o LGBT!
Através de textos religiosos (Bíblia, Torah, Alcorão, etc.) e não
por evidências científicas, o homofóbico religioso pretende
demonstrar o caráter não-natural das orientações não
exclusivamente heterossexuais, lançando, a partir daí, uma série
de argumentos para manter a comunidade LGBT no gueto da
invisibilidade, no limbo dos não-direitos e no inferno da própria
existência.
Para o terapeuta
norte-americano James Guay, a homofobia religiosa: “É uma forma de
opressão utilizada por algumas pessoas e instituições religiosas
para motivar pessoas a mudar sua orientação ou comportamento
sexual. Em sua forma mais extrema, a homofobia religiosa pode
contribuir para aumentar as taxas de suicídio, depressão,
ansiedade, dificuldades com a intimidade, auto-ódio, a polarização
das famílias e comunidades, e motivação para tentar mudar a
orientação sexual.”
Para entendermos como a
homofobia religiosa funciona, listemos apenas algumas ações
promovidas por seus partidários intolerantes:
- Discursos abertamente preconceituosos e demonizantes em rede nacional valendo-se da mídia, internet, jornais, TV, emails, etc.
- “Exorcismos” hilários para retirar o “demônio do homossexualismo”, produtos de puro charlatanismo que ocorre sob a vista grossa do Judiciário e do Poder Público. Mais que assédio moral, um crime bárbaro!
- Terapias de reversão de orientação sexual, já comprovadamente contraproducentes, constituindo-se numa verdadeira auto-flagelação comparável aos métodos nazistas.
- Campanhas caluniosas com o objetivo de inserir um medo generalizado na população heterossexual de que os gays venham a constituir um verdadeiro “império”, ameaçando a reprodução e a existência das famílias (como se gays não viessem de famílias heterossexuais ou fossem filhos de chocadeira).
- Tentativas e lobby político no sentido de impedir a conquista ou mesmo de retirar direitos da comunidade LGBT, pretendendo que o comportamento não-heterossexual fique restrito à vida privada, sem reconhecimento jurídico e, assim, sem quaisquer consequências jurídicas naturalmente atribuídas a qualquer família heterossexual.
Casos de suicídio
motivados por homofobia religiosa não são isolados. O problema, na
verdade, é global. Em maio de 2011, a Alta Comissária das Nações
Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, declarou: “Em última
análise, a homofobia e a transfobia não são diferentes do sexismo,
da misoginia, do racismo ou da xenofobia. Mas enquanto essas últimas
formas de preconceito são universalmente condenadas pelos governos,
a homofobia e a transfobia são muitas vezes negligenciadas. A
história nos mostra o terrível preço humano da discriminação e
do preconceito. Ninguém tem o direito de tratar um grupo de pessoas
como sendo de menor valor, menos merecedores ou menos dignos de
respeito.”
Este ano temos eleições
municipais. É o momento de exigirmos de todos os candidatos a
prefeito e vereador um posicionamento quanto à questão da homofobia
e dos direitos humanos LGBT, independentemente do partido ao qual
estejam ligados. Da mesma forma, é crucial que venhamos a exigir
destes candidatos um posicionamento quanto à homofobia religiosa,
que tem sido um agravante substancial no ódio irracional de alguns
setores da sociedade contra os homossexuais. Por fim, devemos exigir
deles uma atitude de ratificação do Estado Laico, sob pena do o
vermos ameaçado por “talibãs cristãos” da pior espécie, que
manipulam a sociedade e a jogam contra a comunidade LGBT sem qualquer
arrependimento, utilizando Deus como escudo, algoz e cúmplice! Isso
é inadmissível num país laico. A religião, que é uma instância
particular que cada cidadão decide professar ou não, jamais pode se
sobrepor num estado laico às demandas de toda a sociedade,
interferindo com sua particularidade dogmática na vida de todos os
cidadãos de uma nação. Isso é ilógico, medieval e desumano!
Vamos combater esta tendência com todas as nossas forças no campo
das ideias, da argumentação, do direito, da lei e da política social.
Celebremos mais um Dia
Internacional de Combate à Homofobia lutando muito, avançando
sempre, sem recuar, sem olhar para trás, mas cuidando de nossas
próprias vidas, pois elas correm perigo a todo instante...
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