terça-feira, 17 de janeiro de 2012

[Notícia] O exemplo da Coordenadoria de Diversidade em Canoas – RS

Por Paulo Stekel

No dia de ontem, 16 de janeiro, na qualidade de editor do blogue e idealizador do Movimento “Espiritualidade Inclusiva” (sim, já somos um movimento, e ele está crescendo diariamente!), fomos a uma reunião na Coordenadoria de Políticas de Diversidade, ligada diretamente ao Gabinete do Prefeito de Canoas – RS, o Sr. Jairo Jorge.

A reunião teve por objetivo apresentarmos ao responsável pela Coordenadoria, o sr. Paulo Rogério Ambieda (Paulinho de Odé) [ver foto abaixo], a nossa proposta como Movimento Espiritualidade Inclusiva e como podemos trabalhar em parceria com a Coordenadoria e as ações da Prefeitura de Canoas em prol da diversidade de orientação sexual, do diálogo inter-religioso e da visão inclusiva.
(Paulo Rogério Ambieda, o Paulinho de Odé, à frente da Coordenadoria de Políticas de Diversidade em Canoas - RS)
Inicialmente, o sr. Paulinho de Odé apresentou o trabalho desenvolvido pela Coordenadoria e revelou que esta é a primeira Coordenadoria de Políticas de Diversidade com status de secretaria do Estado do Rio Grande do Sul e, muito provavelmente, uma das únicas com esse status no Brasil inteiro. Foi criada na atual administração com a missão de promover a dignidade, garantir os direitos humanos e o acesso à justiça, mediante o combate à discriminação e a proteção aos grupos vulneráveis com geração de oportunidades e inclusão social. Ela tem poder de voto em ações do executivo que possam interferir na parcela dos cidadãos relacionados às políticas da Coordenadoria. Na verdade, esta foi a primeira Coordenadoria de Diversidades de uma Prefeitura no RS. A Coordenadoria de Diversidade de Canoas tem um caráter bem mais político-social que político-partidário, já que o objetivo é chegar a todas as camadas da sociedade e cumprir seus vários objetivos, definidos pelos focos principais de ação:

- Diálogo inter-religioso (vários eventos de diálogo entre as religiões já foram realizados, especialmente entre as religiões de matriz africana e as correntes do Cristianismo, frequentemente envolvidas em ações discriminatórias contra os africanistas);

- Inclusão das religiões historicamente excluídas (estas religiões são a umbanda, o candomblé – e correntes similares, e o espiritismo – várias ações de inclusão destas religiões no meio social, cultural e educacional);

- Diversidade de orientação sexual (ações no campo da saúde, segurança e cultura – a Coordenadoria já realizou três Paradas Livres, sendo que a Parada de Canoas já é a terceira maior do RS e, provavelmente, a mais bem organizada de todas – a ideia é que a partir deste ano venha a ser a maior parada do RS – realização de palestras em empresas, seminários e encontros regionais, alertando sobre os riscos e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis);

- Diversidade cultural (apoio a ONGs com propostas de inclusão social, ações de promoção da diversidade cultural em comunidades carentes);

- Diversidade étnica (trabalhada basicamente nos terreiros africanistas, onde se pode encontrar a maior diversidade étnica convivendo harmonicamente no Brasil).
Para o Coordenador, Paulinho de Odé, que já participou de vários movimentos LGBT no RS, a homofobia começa dentro da família (agressões, expulsão de casa) e depois vem a estender-se à escola (bullying homofóbico, evasão escolar). Segundo ele, a Coordenadoria de Diversidade é uma ferramenta do movimento social. Ele defende o protagonismo compartilhado entre o poder público e o movimento da diversidade.

Numa conversa muito agradável que durou cerca de duas horas, o Coordenador revelou-nos as dificuldades em trabalhar a inclusão da diversidade de orientação sexual entre alguns grupos religiosos mais fundamentalistas. Realmente, esta é uma das tarefas mais difíceis de se realizar quando um dos lados não está disposto a dialogar e a inserir-se no todo da sociedade de um modo pleno. Contudo, a impressão que tivemos ao vermos a equipe da Coordenadoria, foi a mais positiva possível. Entre os parceiros da Coordenadoria estão sacerdotes africanistas e integrantes de movimentos ligados à Igreja Católica. É um trabalho louvável e necessário que deveria ser multiplicado pelo Brasil todo.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Segurança e Cidadania, o índice de violência contra os LGBT teve uma diminuição considerável desde a implantação da Coordenadoria de Diversidade.

Ao final da reunião, tivemos o compromisso de apoio por parte da Coordenadoria de Políticas de Diversidade ao Movimento Espiritualidade Inclusiva. Desta forma, teremos participação em atividades realizadas pela Coordenadoria no Fórum Social Temático em Canoas, que se realizará entre 25 e 29 de janeiro. Além disso, o coordenador colocou a nossa disposição o espaço físico da Coordenadoria para realizarmos reuniões e propormos atividades e novas ações, numa parceria que será claramente de um enorme sucesso.

Para saber mais sobre a Coordenadoria de Políticas de Diversidade de Canoas – RS, acesse: http://www.canoas.rs.gov.br/site/departamento/index/id/44


2 comentários:

José Silva disse...

Ué? Mas o Estado não deveria ser laico? Que história é essa de gastar dinheiro público pra promover determinadas religiões? Onde está a coerência?

Espiritualidade Inclusiva disse...

Sr. José Silva!

Se o sr. ler novamente o texto da postagem perceberá que não se trata do Estado, que é laico sim (e assim deve continuar sendo), estar PROMOVENDO determinadas religiões. Promover tem a ver com proselitismo ou prospectar adeptos, o que não é feito pelo Estado brasileiro em nenhuma das esferas (municipal, estadual, federal) por impedimento de cláusula constitucional. Ou seja, nem que se quisesse isso poderia ser feito. Sendo assim, o que a Coordenadoria de Diversidades de Canoas e outros órgãos semelhantes no Brasil fazem é PROMOVER A DIVERSIDADE religiosa, cultural, étcnica e de orientação. Neste caso, se está defendendo o direito de TODOS e não de alguns. Se está buscando corrigir o erro da EXCLUSÃO. E isto é, com toda a certeza, a única atitude coerente dentro de um país laico que pretende a IGUALDADE de condições a seus cidadãos em todos os sentidos. O discurso contrário a isso é, no mínimo, desconhecimento da lei e, no máximo, preconceito consciente e fundamentalista que rebaixa cidadãos e minimiza seus direitos, em especial gays, negros, mulheres, deficientes, idosos, etc. Então, mais uma vez reiteramos nosso elogio a Canoas e ao ótimo trabalho pela Diversidade realizado nesta cidade.