sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

[Tradução] Espiritualidade Gay - Identidade Gay e a transformação da consciência humana

Espiritualidade Gay
Identidade Gay e a transformação da consciência humana

A questão do porque os gays estão aqui!


(Tradução de partes da Introdução do livro "Gay Spirituality", de Toby Johnson - White crane Institute, 2000 - tradução de Paulo Stekel)

Existe um esclarecimento que acompanha o ser gay, uma compreensão do real significado e mensagem da religião. Nem todos os gays aproveitam-se deste esclarecimento. Alguns estão fechados a isto por atrações momentâneas da carne e pelo glamour de uma vida gay liberada. Alguns estão cegados pela culpa e confusão inseridas neles por uma sociedade homofóbica. E, alguns estão cegados pela desinformação perpetuada pela religião institucionalizada. No entanto, este esclarecimento espiritual está aqui para nós, se abrirmos nossos olhos.

A percepção dos gays vem, em parte, do fato de verem o mundo da perspectiva de um estranho. Ela advém também de se trazer um diferente e menos polarizado conjunto de suposições ao processo de se observar o mundo. E ela vem, para a maioria de nós, de eles não serem pais, portanto, não chegando ao ponto de criar prole ou manter as expectativas futuras de suas vidas. As várias formas do que é chamado "espiritualidade gay" nascem - e são facilitadas - a partir desta postura de percepção.

Uma vez que os gays estão condicionados a sair dos pressupostos da sociedade para verem a sexualidade de um modo mais expansivo, nós somos abençoados - e, por vezes, amaldiçoados - com esta visão de vanguarda. Se pudermos tratar desta visão satisfatoriamente, podemos cuidar de cada um na compreensão da real mensagem da religião.

De fato, é através de nossos questionamentos que os religiosos estão sendo testados na real mensagem de suas fés: Eles devem obedecer o mandamento de amar seu próximo ou devem ceder ao preconceito e à homofobia? A mentalidade religiosa pode acompanhar a mudança cultural?

É no que diz respeito a estes questionamentos que as Igrejas têm se afastado. Apelando para a homofobia, baseada em uma visão fora de moda da natureza humana - em vez de ajudar a curá-la para o bem de TODOS - elas demonstram sua falha no cumprimento dos ensinamentos básicos que proclamam sobre amor e compaixão, exemplificam a inabilidade para lidar com o mundo moderno, e demonstram (para nós, ao menos) que não estão sendo levados pela Orientação Divina.

O mundo mudou

A religião popular não faz mais qualquer sentido. Os mitos tradicionais descreviam o universo como um disco pequeno, não muito maior que a bacia do Mediterrâneo e com cerca de 4 mil anos, flutuando no centro de um firmamento aquoso, comandado por deidades personificadas com traços distintivamente humanos. A observação científica nos mostra um universo que se estende bilhões de anos-luz no espaço-tempo em expansão. Não há firmamento de águas, e os deuses míticos não poderiam ter começado a sondar o cosmos moderno. E nós só o estamos observando com instrumentos sofisticados há poucas décadas. Nós apenas começamos a ver que ele realmente é.

Os velhos mitos não abordam muitas das questões que impulsionam a consciência moderna: superpopulação, poluição, dinamismo ecológico, o bem-estar dos oceanos e florestas, armas de destruição em massa, exploração do espaço, câncer, televisão, automóveis, biotecnologia, computadores, globalização, evolução, liberdade, democracia, sofisticação psicológica, igualdade racial e, claro, orientação sexual.

Espera-se que a religião seja o condutor da sabedoria. Seus mitos se imagina serem descrições - metafóricas e simbólicas - de como a consciência opera. Mas, as operações da consciência se tornaram muito mais complexas para serem faladas pelos velhos mitos. Algumas coisas - coisas antes importantes, como sacrifício humano e pureza ritualística - nem sequer nos interessam hoje em dia.

O modo de reabilitar os aspectos positivos da religião - às vezes citados por religiosos revolucionários contemporâneos como "espiritualidade" - consiste em ascender a uma perspectiva mais elevada a partir da qual se compreenda a sabedoria escondida sob os mitos religiosos.

A consciência gay e o real significado da religião

Nos últimos 100 anos um novo modo de expressar e entender a identidade sexual se desenvolveu entre os seres humanos. Agora usamos palavras como "homossexual" e "heterossexual". Enquanto as pessoas obviamente tinham sexo homossexual no passado e formavam círculos de amizade e panelinhas sociais com outras pessoas como elas, até recentemente apenas alguns raros identificaram-se assim, ou experimentaram esse fato como uma fonte de traços de personalidade distintivos e positivos. Isso é algo novo. Isso nos conduz a uma nova perspectiva de vida.

A consciência gay está treinada desde a tenra idade para ver a vida de uma perspectiva de distância crítica. Os gays são hábeis em ver a mais, e além, e no exterior. Podemos tirar isso como modelo para o restante da humanidade sobre como entender a real sabedoria da religião.

Homossexualidade e religião são inextricavelmente entrelaçadas. A principal objeção à homossexualidade entre as correntes de pensamento nos EUA continua a ser a tradição religiosa e as prescrições bíblicas. Todavia, muitos homossexuais naturalmente incorporam os traços de sensibilidade e gentileza que a religião pretende ensinar. Os homens gays geralmente levam uma vida santa e moralmente exemplar. Apesar dos exemplos em contraposição que possam ser oferecidos, há uma bondade e virtude inerente à vida dos gays, além de uma demonstração de espiritualidade real que em muitos de nós resolve o problema de se dar sentido à religião no mundo moderno.

O conflito entre os ensinamentos da Igreja e a realidade dos sentimentos gays pode criar uma crise espiritual que leva os homossexuais a reavaliarem a religião e o significado de suas vidas. Esta crise espiritual conduz algumas pessoas a rejeitarem suas sensações religiosas/espirituais, muitas vezes fora da indignação com a cegueira e estupidez da religião convencional. Enquanto isso pode ser um ato de integridade espiritual, pode custar a estas pessoas uma parte importante da vida. Afinal de contas, a espiritualidade pode oferecer uma visão de esperança e sentido em um mundo que às vezes parecer estar em um miasma sem esperança de dor e sofrimento. No seu melhor, a espiritualidade concede visão e amor pela vida. Isso amplia nossa perspectiva. Isso nos sensibiliza para a beleza e a vitalidade - as mesmas coisas em que os gays se sobressaem.

Muitos gays, contudo, não rejeitam nem sua religiosidade - eles são bons, gentis e honestos em seu interesse nas coisas espirituais - nem sua homossexualidade e satisfação na sua vida gay.

O homem gay como um adepto espiritual

O estereótipo do homem gay é só isso - um estereótipo, não mais real do que qualquer outro. Ele se aplica somente a alguns homens gays. Outros homens gays podem sentir que nem mesmo entendem o que significa o estereótipo/arquétipo. Tudo ok. Articular e promover o arquétipo espiritual gay cria a profecia auto-realizável de que assim é como os homens gays são. Nesse sentido, a noção cria o que tenta descrever.

Todo o possível

Esta oportuna atitude de solução de problemas é baseada no modelo da psicoterapia gay. Central para esta orientação gay, ou centrada nos gays, a disciplina é a crença de que a maioria dos problemas que os homossexuais enfrentam está enraizada em "homofobia internalizada". Transformando o modo como pensamos a respeito de nossa homossexualidade, permitimo-nos descobrir que a culpa e a vergonha que sentimos são uma sombra que pertence ao conjunto da sociedade. Isso nos permite ver que os homossexuais são os bodes expiatórios para a vergonha e os pecados secretos da cultura. Descobrir que somos fundamentalmente inocentes nos permite superar a deformação de caráter, a auto-flagelação, as atitudes erradas que geram muitos de nossos problemas pessoais. Isso permite à personalidade gay saudável e adaptativa brilhar através disso.

Isto é o que a religião deveria estar fazendo - tanto para homossexuais que estão descobrindo sua verdadeira identidade quanto para heterossexuais que estão atormentados com ansiedades por causa de sua própria orientação sexual -, mas não faz. A religião tradicional, em geral, não está ajudando as pessoas a lidar com a realidade moderna. Isto é em parte o motivo da psicologia estar tomando para si uma função que a religião teria que preencher.

A música "Everything Possible" (Todo o possível), composta pelo cantor e pastor Unitário-Universalista não-gay Fred Small e popularizada pelo grupo gay de canto à capela, The Flirtations, expressa lindamente esta crença de que o amor e a aceitação da homossexualidade poderia mudar positivamente a vida das pessoas. A música é uma canção de ninar, e se cantada pelos pais para suas crianças visivelmente gays, poderia mudar seu mundo - e, talvez, o mundo de todos.

Veja o vídeo e escute a música:

http://www.youtube.com/watch?v=kIQikcYOm5w

You can be anybody that you want to be
You can love whomever you will.
You can travel any country where your heart leads
and know I will love you still.


You can live by yourself,
You can gather friends around,
You can choose one special one.


And the only measure of your words and your deeds
Will be the love you leave behind when you're gone.


Some girls grow up strong and bold,
Some boys are quiet and kind.
Some race on ahead, some follow behind.
Some grow in their own space and time.
Some women love women and some men love men.
Some raise children, and some never do.


You can dream all the day,
never reaching the end
of everything possible for you.


Don't be rattled by names,
By taunts or games,
but seek out spirits true.


If you give your friends the best part of yourself,
they will give the same back to you...


And the only measure of your words and your deeds
Will be the love you leave behind when you're gone.

("Everything Possible" Copyright 1993 letra e música de Fred Small)


Tradução:

Você pode ser qualquer pessoa que desejar ser
Você pode amar quem você quiser.
Você pode viajar a qualquer país onde o seu coração levar
e sei que vou te amar ainda.

Você pode viver por si mesmo,
Você pode reunir amigos à volta,
Você pode escolher uma pessoa especial.

E a única medida de suas palavras e seus atos
Será o amor que você deixar para trás quando você tiver ido.

Algumas meninas crescem fortes e corajosas,
Alguns meninos são calmos e gentis.
Alguns correm na frente, alguns seguem para trás.
Alguns crescem em seu próprio espaço e tempo.
Algumas mulheres amam mulheres e alguns homens amam homens.
Algumas criam filhos, e alguns nunca o fazem.

Você pode sonhar o dia todo,
nunca chegar ao fim
de todo o possível para você.

Não ser abalado por nomes,
Por insultos ou jogos,
mas procure espíritos de verdade.

Se você der a seus amigos a melhor parte de si mesmo,
eles vão dar o mesmo de volta a você ...

E a única medida de suas palavras e seus atos
Será o amor que você deixar para trás quando você tiver ido.

(Tradução de Paulo Stekel)

2 comentários:

L TRIBUNA disse...

OREM LABOREM AMEM
SALVE OS REIS MAGOS

Equipe Diversidade Católica disse...

Mto bom! A esse propósito, temos uma "Carta de um padre católico a um jovem homossexual" que fala justamente sobre essa questão de os gays serem colocados - e se colocarem - como estranhos no ninho, como alguem de fora.

E, num dos nossos posts de hoje, uma entrevista com um monge beneditino sobre ecumenismo e diálogo inter-religioso, ele fala sobre a questão de identidade - "A identidade pessoal ou grupal não se dá por contraposição, mas sim pela capacidade de sermos nós mesmos/as na relação e no permanente aprendizado com os outros com os quais convivemos e interagimos." Mto interessante pra gente tb nao cair na tentação de ficarmos presos ao ressentimento e forjarmos nossa identidade por oposição ao "sistema heteronormativo", o que nos impediria de superar o ressentimento e ir além, ao encontro de nós mesmos. :-)))

Aliás, isto tb é mto legal: "Fé além do ressentimento: fragmentos católicos em voz gay".

Obrigado pela dica, vamos divulgar! :-)))))

Beijos!